Manifesto ½ 171 – De Leve

, por Alexandre Matias

Essa eu não lembro se saiu na Bizz 200 ou na 201

Nem enfant terrible da nova escola do hip hop nacional, nem cronista da sociedade do espetáculo ou Eminem à brasileira. Todos estes rótulos acabam reduzindo o impacto que De Leve deveria ter com seu público-alvo. Bem-definido, ele foi descrito com precisão em “Largado” de seu disco de estréia (O Estilo Foda-se, de 2003) e é aquele moleque pós-adolescente que ainda mora com os pais, vive de bicos aqui e ali, fuma um e ouve hip hop, tem uma certa consciência política e está de saco cheio com tudo, até com a própria apatia – um recorte social parecido com o loser de Beck, o espírito juvenil de Kurt Cobain, a farra dos Beastie Boys ou a geração Coca-Cola de Renato Russo, embora mais autocrítico e sem pretensões estéticas. Ao sair do Segundo Mundo de Dudu Marote e voltar para o terceiro mundo dos discos lançados pelos próprios artistas, ele não deixa de botar o dedo na ferida da indústria de entretenimento brasileira, como gosta. “É um caô fudido, tudo aquilo que eu faço e em que eu tô metido”, diz, sem se poupar com metáforas ou dar mole de dar nome aos bois, deixando a carapuça no alto (“por que que não adianta só com vontade e trabalho?/ Tem que ter algo a mais pra ser enfiado/ Babar ovo e comer uns viados/ E disso eu tou fora que nem gandula/ Isso é que dá tomar remédio sem ler receita nem a bula”, “esse negócio de música só é bom quando/ Teu pai já era famoso quando tu tava engatinhando/ Aí as portas se abrem que nem perna na zona/ Sempre cabem mais talentos quando esse vem à tona”, escarniça a letra). Mas pisa em calos doídos do brasileiro em geral, como a paranóia de emprego (“Assalariado”, “Se Liga”, “Diploma”) e a política (“Isso Sim É uma Piada” e “Pode Queimar”, incitando à fogueira). Ainda há momentos para candura familiar (“Magali, Carol, Bisteca e Chuleta”, suas cachorras – rá!), gozação generalizada (“Feipa”, uma ode às avessas à feiúra) e a contemplação (“Rolé de Camelim”). Pronto para seu público (aliás, desde o primeiro), resta saber se De Leve chegará nele.