Katze e a dor que cura

, por Alexandre Matias

Foto: Leticiah F.

“Na minha perspectiva, antes de chegar na cura tem todo esse processo horrendo de passar pela dor”, me explica por email, a curitibana Katze, que está lançando seu primeiro álbum, Fratura Exposta, nesta quinta-feira, que pode ser ouvido em primeira mão aqui no Trabalho Sujo. Em algum lugar entre o rap, o trip hop, a música eletrônica, a canção e misticismo, ela surge com um trabalho firme, direto e, por que não, terapêutico. “O disco acaba é mais esse processo do que sobre a cura em si. A cura é o objetivo, mas o caminho é longo e o passo é lento”, ri. “Esse processo abarca minha persistência, quase inevitável, em me quebrar o tempo todo e aí lidar com as in-consequências. E aí o nome do disco vem nesse sentido quase literal: ao expor o que está quebrado, reconheço o que e onde dói e acolho o que sinto. então acredito que reconhecer a dor e seja o primeiro passo pra cura.” E suas canções sussurradas sobre beats introspectivos acabam funcionando como o ambiente para curtir – e superar – a dor.

Ex-integrante da banda Cora, ela já tinha lançado um primeiro EP há seis anos, quando começou a assumir a nova personalidade, “lá por 2010, quando voltei a tocar e comecei a gostar de rap e derivados”. “Então em 2013 decidi fazer um curso de produção musical porque não tinha como tocar, tampouco compor, as coisas que eu gostava de ouvir. Eram coisas que precisavam ser produzidas no PC e aí entrei nesse rolê todo de sample e música eletrônica. Naquela época já saía uns proto Katze e em 2015 já tava compondo o EP Moon Phases of a Relationship e em 2016 o projeto já tinha nome, CPF e RG, mas só agora, com esse disco novo, sinto que me encontrei nesse universo, bem na ponte que liga as adjacências do rap e adjacências do rock.”

Ela cita as referências que a trouxeram até aqui. “As referências em maioria são gringas: Killstation, o coletivo Spider Gang, Rooftops, Suicideboys, Tommy Genesis, Love Ghost – e isso é muito chato, especialmente pq as letras são, geralmente, muito bobas. Mas o lance de juntar emo com trap, com new metal, grunge, gritaria e o escambau foi o que me conquistou. Aí teve o Inaki a.k.a Ice Neve que mudou a minha vida no que se refere a compor em português, foi ouvindo muito os trabalhos dele que a minha chave virou e internalizei um possível flow brazuca que faz sentido nessa coisa toda, mas nunca imaginei que isso acabaria vindo de um argentino”, ri.

Ela lamenta não conseguir conectar-se com diferentes cenas brasileiras, mesmo que esteticamente. Acho que posso fazer sentido em vários lugares, mas não pertenço a nenhum. Vejo que o som dialoga com os rolês hc/punk, de bandas como Lupe de Lupe, Molho Negro, Violet Soda até Rakta, com os indies introspectivos, como Tuyo, Terno Rei, Raça, Luiza Lian, Tarda, Viratempo, Papisa, e os trap alterna, como o Inaki, Davzera, Flora Matos, Rodrigo Zin, Yung Buda, Dragonboys. Mas tudo meio solto. Além destes, ela cita outras referências, que chama de clássicas, como Warpaint, Grimes, Lana del Rey e Hole – além de Ivete Sangalo (“possa crer”, diverte-se).

Ela, como todos os artistas atualmente, cogita as possibilidades de levar sua música para os palcos. “Já estou desenhando três possibilidades de gig: sozinha, ou mais uma pessoa na guitarra e synth ou banda, com bateria e tudo que tiver direito. Fico delirando com essas formações, mas a verdade é que durante a pandemia vou gravar umas lives sozinha e tentar desenrolar uma com a Marina Vello, que era do Madrid e do Bonde do Rolê. Mas também já tem um monte de música nova no pente, então se não der as lives, vou continuar lançando singles, que acho que é o que dá pra fazer…”

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