Impressão digital #121: Gina Indelicada

, por Alexandre Matias

Nesta edição do Link, escrevi sobre a tal Gina Indelicada

Gina Indelicada e os novos dilemas de um novo século
Menos direito autoral e originalidade e sim marketing pessoal

Os diálogos são curtos e aparecem no chat do Facebook. As conversas usam a informalidade típica da web, usando ‘q’, ‘vc’ e palavras sem acentuação. A imagem da pessoa é um avatar com um rosto conhecido. Identificada por Gina, ela é questionada por um usuário: “Gina, dá uma dica pras meninas q procuram um menino romantico, sensivel, atento, amoroso, bonito…” E responde: “Olha, a dica é que esse tipo de menino tbm está a procura de meninos”.

O rosto de Gina é o de uma loira de beleza publicitária clássica bastante conhecida por brasileiros ao adornar a caixa de palitos da marca que leva seu nome. Mas, online, virou a Gina Indelicada, uma página no Facebook disposta a responder perguntas com gracinhas e grosserias. Ela foi criada em 14 de agosto e na sexta-feira já se aproximava dos 2 milhões de fãs.

Seu criador, o mineiro Henrique Lopes – que assina Ricck Lopes –, de 19 anos, se tornou uma celebridade-relâmpago. Seu nome ganhou mais destaque depois de a fábrica de palitos da Gina original manifestar surpresa com o sucesso inusitado de sua garota-propaganda. Especulou-se a possibilidade de processo, mas logo a empresa disse que consideraria falar com o rapaz para pensar na estratégia digital da marca.

O contato entre uma empresa de 65 anos e um garoto de 19 logo foi notado. Ricck foi entrevistado tanto pela revista norte-americana Forbes em seu site quanto pelo humorista Danilo Gentilli no programa Agora é Tarde.

Ricck aparenta um bad boy dos anos 50, jeans, jaqueta, barba por fazer, topetão, e fala como um publicitário monótono. Diz mais de uma vez que Gina Indelicada é o resultado de pesquisas que faz na internet e que seu sucesso não é puro acaso. “Como estou no início da minha faculdade e, logicamente, da minha carreira, eu preciso ter cases (pronuncia-se “queises”) pra que isso me dê credibilidade”, disse ele a Gentilli, monocordicamente, como se estivesse recitando um texto decorado, numa fala sem graça e previsível.

A seu favor, Ricck tem outros “queises” no currículo: o perfil no Twitter @VouConfessarQue (onde se apresenta como “o segundo Twitter mais retuitado do mundo, perdendo só pro Justin”) e a página no Facebook Muito Tédio, que tem quase 800 mil fãs. O sucesso de Gina Indelicada é um passo natural nessa escalada.

Mas logo vieram críticas sobre a originalidade das piadas grosseiras de Gina No Facebook, a página Gina Kibadora Indelicada lista tweets de pessoas desconhecidas que escreveram as mesmas respostas atravessadas da personagem (a frase citada no início do texto é uma delas). “Kibar”, na internet, é copiar sem dar a autoria, e tem origem nas acusações contra as piadas de Antonio Tabet, do Kibe Loco, que assume piadas alheias com a marca de seu site.

Ricck se desculpou no Twitter usando a pior das justificativas. “Eu contratei uma pessoa e ela fez isso. A maioria sem eu saber. Eu cuidei da parte de criação e estratégia”, escreveu. A discussão sobre autoria e humor não é nova. Falamos do tema no Link em junho, na reportagem “Piada tem dono?”, da repórter Tatiana de Mello Dias. Mas, se a marca de palitos tivesse contratado os préstimos de Ricck, assumiria a derrapada?

Pois no fim das contas, a questão em relação a esse caso é menos de direito autoral e originalidade e mais sobre marketing pessoal e oportunidade de trabalho, podendo ser resumida num curto momento da entrevista de Ricck a Gentilli: “Depois cê dá as dicas pro meu Facebook?”, sugere Gentilli, 500 mil fãs em sua página oficial. “É nóis!”, responde Ricck, sorrindo.

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