Guitar hero tropical

, por Alexandre Matias
Lanny, na boate Stardust, tocando com Hermeto Pascoal (de costas) (Divulgação)

Lanny, na boate Stardust, tocando com Hermeto Pascoal (de costas) (Divulgação)

Conversei com o Guilherme Held sobre o show tributo que ele está organizando para celebrar a importância de Lanny Gordin, o mago guitarrista do tropicalismo. O show deve dar início às comemorações do centenário de sua carreira, que está completando cinquenta anos e ainda terá dois filmes sobre sua importância – falei sobre tudo isso no meu blog no UOL.

Por mais que Lanny Gordin seja festejado como um dos grandes músicos brasileiros e um dos principais personagens da psicodelia brasileira, tal reconhecimento não está à altura de sua importância. Guitarrista de timbre e frases ímpares, Lanny não só é um dos principais temperos do tropicalismo como esteve envolvido com artistas, discos e canções que estão na fundação da música brasileira da segunda metade do século passado. Esteve presente em discos como Expresso 2222 de Gilberto Gil, Carlos, Erasmo de Erasmmo Carlos, Araçá Azul de Caetano Veloso, Fa-tal de Gal Costa, além de ter tocado com Rita Lee, Elis Regina, Jair Rodrigues, Antonio Carlos e Jocafi (é sua a guitarra de “Kabaluerê”) e Itamar Assumpção, entre outros.

Mas um fiel escudeiro do guitarrista quer resolver essa pendência com o mestre e reuniu-se com outros dois discípulos. “Acredito que o merecido reconhecimento, à altura da genialidade do Lanny, ainda não aconteceu”, explica o guitarrista Guilherme Held, que gravou dois discos ao lado de Lanny numa banda chamada Projeto Alfa, no início do século. “Porém ele influencia diversas gerações da música brasileira deixando uma discografia respeitada no mundo todo”, continua o músico, que se reuniu aos irmãos Tulipa e Gustavo Ruiz para agendar um show que celebra a importância do guitarrista.

O espetáculo deve acontecer no próximo mês e reunirá grandes nomes da música brasileira para cantar sua obra em dois shows, nos dias 2 e 3 de fevereiro, na Comedoria do Sesc Pompeia, em São Paulo. “Vamos formar uma banda com direção musical minha e do Gustavo Ruiz para acompanhar artistas que tiveram ligação ou tem afinidade com o mestre. A banda será formada por mim e Gustavo tocando guitarra, Sérgio Machado na bateria), Fábio Sá no baixo, Pepe Cisneros no teclado, Mauricio Badé e José Aurélio na percussão e o DJ Nuts”, conta o guitarrista, em primeira mão. Fábio e José Aurélio também integraram o Projeto Alfa ao lado de Held. O show ainda deve contar com participações especiais de nomes como Jards Macalé, Tulipa Ruiz, Chico César, Rodrigo Amarante e o grupo Metá Metá.

Lanny Gordin e Gui Held

Lanny Gordin e Gui Held

Lanny – Alexandre é seu nome de batismo – começou sua carreira tocando na casa noturna Stardust, que era de seu pai, em São Paulo, e com isso pode tocar, ainda adolescente, ao lado de feras como Hermeto Pascoal e Heraldo do Monte, com quem gravou o mítico disco instrumental Brazilian Octopus. Ele é sempre referido como “o Jimi Hendrix brasileiro”, um título injusto por limitar suas influências musicais ao rock e ao rhythm’n’blues norte-americano. Diferente de Hendrix, Lanny bebia tanto no jazz mais experimental quanto na música erudita e entre seus guitarristas favoritos estão nomes como Jeff Beck, Syd Barrett e Jimmy Page. A cancha de músico de noite elevou sua musicalidade a um patamar que ia muito além da melodia e da canção.

“Lanny é um músico com muita personalidade artística e muito desprendimento de regras” coninua Held, “esta busca dele pelo transe musical influencia quando você o ouve tocar e isto com certeza faz parte da minha busca também”. Os dois músicos compartilham a mesma data de aniversário (28 de novembro) e moraram juntos por quatro anos, primeiro em um apartamento na Vila Mariana e depois numa casa em Perdizes, em São Paulo. Entre os discípulos diretos e indiretos do guitarrista, Held cita nomes como Sergio Serra, Toninho Horta, Luiz Chagas, Fábio Sameshima, Kassin, Pedro Sá, além do próprio Gustavo. Irmão e produtor dos discos de Tulipa, Gustavo pode trazer Lanny para o estúdio, quando o guitarrista participou da música “Expirou”, do disco Dancê, de 2015.

Lanny Gordin

Lanny Gordin

Além dos shows, ainda há dois documentários que falam da importância do guitarrista nascido em Xangai, na China. “São dois projetos diferentes”, continua Held. “Participei do longa Herois da Guitarra, no qual me encontro com o Lanny em uma cena, foi muito especial. Foi um dos dias mais marcante e especiais da minha vida. Já o filme Inaudito: Com/Por Lanny Gordin, de Gregorio Gananian, é um filme/ensaio com Lanny que estimula o lado criativo dele hoje. Metade do filme foi rodado em Xangai e metade em Sao Paulo. Fui consultor no Inaudito, o que deu origem a uma amizade com Greg, que inclusive será responsável pelo kinografia – o projeto de projeção e luz – do show comemorativo.”

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