Finalmente, o Wilco!

, por Alexandre Matias

wilcotour

Depois de anos de negociações, finalmente o Lucio conseguiu trazer o Wilco para seu Popload Festival, que este ano acontece dia 8 de outubro e conta com outras duas atrações confirmadas, a banda Battles e a cantora Ava Rocha (mais informações aqui). É a segunda vez que a banda de Jeff Tweedy vem ao Brasil – a primeira foi em 2005, num showzaço durante o Tim Festival, que só aconteceu no Rio de Janeiro. A vinda para São Paulo finalmente encerra uma novela que já foi parar até no Sesc e consagra o festival do jornalista como uma das principais atrações anuais em São Paulo. Aproveitei a deixa para conversar com ele sobre o festival (que vai ter mais atrações, anunciadas em breve) – como é o local, que outras atrações ele pretende trazer esse ano, o preço dos ingressos e quem é o novo santo graal do Popload Festival.

Há quanto tempo você vem negociando a vinda do Wilco?
Para essa vinda específica há muitos anos. Diria que há uns cinco, seis anos, pra virar agora. Toda vez era mantida uma conversa, esperando a banda divulgar os planos dela para ver se encaixávamos uma vinda para a América do Sul, sempre com um receio de um produtor maior ou festival grande levar. Mas nosso contato com eles foi anual, de uns anos para cá. Segundo minha sócia, a Paola Wescher, que fica à frente das negociações infindáveis, ela sonha em trazer o Wilco há 12 anos. O Wilco é a banda favorita da vida dela. Não é a minha, mas curto demais.

Por que o Wilco? A banda nunca teve um hype maior do que algumas bandas que você já trouxe nem tem uma audiência tão grande no Brasil. Explica por que o Wilco pra quem não conhece o Wilco.
“Hype”… Quando a gente trouxe o Tame Impala pela primeira vez não tinha hype. Nem Metronomy, nem Friendly Fires. Wilco é uma dessas bandas naturais que a gente sempre sonhou trazer, porque a gente procura trazer o que a gente gosta, o que a gente acha ter a ver com nosso mundo, uma banda que eu acho já ter visto umas seis vezes na vida e minha sócia um outro tanto. A gente adora Battles e está trazendo e o hype deles é zero. Iggy Pop é mais um “velho punk” cheio de história do que um artista que quem está atrás de hype poderia imaginar ver num Popload Gig ou Festival.
A aproximação com o Wilco se explica sozinha. Eu adorava Uncle Tupelo, a banda do Jeff Tweedy antes do Wilco, mas era mais impressionado com o Jay Farrar do que com o Tweedy. Uncle Tupelo era o “rock alternativo” gostoso e melódico, mais próximo de REM e bem mais country, uma “alternativa” à ferocidade do Nirvana e do grunge, que era o “alternativo” deixando de ser “alternativo”. A brincadeira com o termo “alternativo” é proposital. Quando o Farrar saiu e formou o Son Volt e o Tweedy o Wilco, eu achei que ia gostar mais, seguir mais, o Son Volt. Mas o Tweedy assumiu a porra toda e foi me provando o contrário. Não teve um só show do Wilco dos muitos que eu vi que eu tenha achado médio. Nem o confuso show no Rio de Janeiro, no Tim Festival. E sempre achávamos que São Paulo merecia ver o Wilco aqui.

É um festival que você já anunciou três bandas. Quantas outras atrações terão? Acontecerá em apenas um dia? Quando você anunciará os novos nomes?
O número certo ainda não está fechado. É uma matemática mutante que envolve dinheiro e oportunidades. E mais quatro meses para correr atrás das coisas. Obviamente já temos algumas bandas em contato, estamos vendo se conseguimos mais grana para investir em mais, tem a resposta dos ingressos. Se tudo der certo, anunciaremos mais duas bandas. Estamos trabalhando nisso ainda.

Sobre o lugar, o que dá pra esperar do Urban Stage? A maioria do público do Wilco e do Popload não conhece o local, presumo.
Por não conhecer o local, ele já vira um atrativo a mais, uma nova experiência. É um espaço grande e moldável que tentaremos deixar com nossa cara. A gente sempre gastou muito em estrutura, até em lugares “prontos” como o Audio. Não será diferente com o Urban Stage. É um lugar na Zona Norte, no outro lado da Marginal, pertinho de metrô, bom acesso de carro, perto de shopping, vários estacionamentos, hoteis. O ir e vir ali é fácil. E é um lugar quase que espartano. Cabe à gente deixá-lo bonito e confortável. Mas isso acho que a gente fez bem nas edições passadas do Popload Festival, espero que consigamos fazer neste ano também.

E, é inevitável, claro, falar sobre o preço: por que o ingresso custa tão caro?
Não é difícil entender. E sempre tem a ver com a famigerada “planilha de custo”. Bandas caras + estrutura cara + uma iniciativa diferente de não se preocupar em fazer um festival pra mais de 30 mil pessoas, e sim para 6, 8 mil. Você joga esses preços numa planilha besta de excel, mais os 500 outros custos, e voilà. Teve gente no Facebook que questionou isso de um modo bem tosco e eu respondi quaaaase ironicamente. Mas é a real e é ilustrativo, então vou copiar e colar aqui, se você me permite, para não ficar falando de modo diferente a mesma coisa. .

“Nossa ideia era fazer um ingresso de um só tipo, custando R$ 1. Mas daí o Wilco não topou não receber seu cachê pleno. Nenhuma das outras bandas topou, aliás. A gente insistiu, mostramos a situação da economia brasileira, que tá foda, falamos do golpe e tudo. Não rolou. As companhias aéreas não toparam fazer as passagens de graça, os hotéis bons não liberaram os quartos para a gente botar os caras todos de graça, escrevemos para o Temer e ele não liberou os impostos absurdos que pagamos para erguer um evento assim, os advogados que contratamos para cuidar dos vistos de entrada dos gringos – é uma trabalheira e você não tem ideia quanto custa… – já disseram que querem receber os deles, a galera do transporte de instrumentos não arreda pé para carregar tudo na faixa, mesmo para um festival tão bacana com bandas tão legais. O Urban Stage não cedeu de graça todo o seu espaço e a estrutura e o cenário que montaremos vai nos tirar vários dinheiros. Por fim, entre umas 60, 70 pessoas que trabalham direta ou indieretamente – indie-retamente? – para o Popload Festival, que acaba gerando um bom número de empregos e movimentando essa nossa economia quase falida, não aceitaram trabalhar meses de graça para você conseguir assistir ao festival tão legal e caprichado por R$ 1… Ou R$ 10… Ou R$ 100.”

Nem vou falar o que a meia-entrada, do jeito como ela é, e o que causa aos produtores de eventos do Brasil-il-il. Nem dos amigos e quase-amigos mais todas as “personalidades” e os 25 mil jornalistas que querem cortesia e nem pensam em botar a mão no bolso para ajudar um evento desses a continuar de pé, trazendo bandas para cá, para o nosso mundinho.

Daí que, levando tudo isso em consideração, metemos as contas todas numa planilha de custos. E saem aqueles preços dos ingressos que divulgamos. E aí pensamos: “Nessas condições, fazemos ou não o festival, os shows todos, os eventos? Ainda estamos na fase de fazer, de acreditar na gente, na galera que curte o que a gente curte, de contribuir de alguma forma para agitar a cena da cidade onde vivemos. Ainda que a chance de se ferrar financeiramente, estruturalmente e mentalmente seja muuuuuuito grande”. E, por mais um ano, resolvemos fazer. E tamos aí, segurando as broncas, inclusive para o tipo de comentário e “análises” de Facebook diversas de “entendedores de economia”.

Muita gente acha o preço do ingresso alto para um festival que tem o patrocínio da Heineken. Mas o maravilhoso dinheiro da Heineken só serve para atenuar parte das contas. A gente samba em várias outras frentes para montar um evento do jeito que a gente se propõe a fazer, com a experiência que a gente acha que tem que criar, com o preço mais “justo” (ou seja, menor) possível para botá-lo de pé. É uma variante sem fim de contas e estratégias.

Até a história da famosa área vip, que eu acho em si um princípio besta, mas que serve para cobrar mais de quem pode mais, para aliviar a conta para quem pode menos. Estamos fazendo uso dela pela primeira vez, é um incômodo, mas fazer o quê se ela serve para deixar o ingresso comum mais barato… Ela ocupará metade da “linha de frente” do palco. Poderia ocupar inteira, toda a frente, e com isso baixaríamos o ticket comum. Mas aí já seria demais. De novo, e sempre, é a tal da matemática.

Além do festival, você ainda anunciou dois Popload Gigs seguidos (Air e Courtney Barnett com Magnetic Zeros) com apenas uma semana de diferença. Vem mais show ainda no segundo semestre?
A ideia é ter mais alguma coisa sim. Temos muitas conversas e, agora, pouco dinheiro para arriscar o pescoço. Mas quando oportunidades aparecerem e a gente se debruça na planilha e vê o que rola. “Hey boys… hey girls…”

E shows nacionais? Você não vai começar a explorar esse mercado com mais força – tanto fazendo artistas que você aposta circular no Brasil quanto levar artistas brasileiros pro exterior?
Nunca tivemos tempo/espaço/chance para pensar seriamente nessas coisas. Pode ser que uma hora aconteça.

Como você se refere ao trabalho que você faz, misturando jornalismo com curadoria e produção? O quanto o jornalismo está mudando nesse início de século? O que você acha do jornalismo cultural brasileiro?
Generalizar jornalismo cultural é muito difícil, mas não gosto muito do que vejo e leio. Acho opinativo demais e bem sacado de menos. É muito tipo “eu acho” do que traz histórias boas e perspectivas diferentes. Jornalismo cultural, seja em jornal, revista e blogs, tá um grande facebook.
Não sei mais como me refiro a meu trabalho e o que sou. Ando tendo que virar várias chavinhas no meu dia a dia. Mas seja com a Popload, escrevendo para a Folha e editando a Harper’s Bazaar, jornalismo é o terreno que eu mais me sinto “verdadeiro”, digamos.

E depois do Wilco, qual o próximo santo graal da Popload?
A volta do Oasis no Popload Festival.

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