Ellen Page: “Esse mundo seria bem melhor se fizermos o esforço de sermos menos horríveis uns com os outros”

, por Alexandre Matias

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A atriz Ellen Page saiu do armário em um evento da Human Rights Campaign Foundation na sexta passada – mas muito mais do que uma fofoca sobre preferência sexual de uma celebridade hollywoodiana, a notícia é o discurso que a atriz deu na abertura deste evento, em que ponderou sobre sua situação a partir de um ponto de vista puramente humanitário. Veja abaixo o discurso e a transcrição do mesmo, em português, feita pelo Eric (valeu!)inglês, a seguir. Se alguém quiser traduzir para o português, basta postar nos comentários desse post que eu atualizo o mesmo em seguida. E apareceu uma versão do vídeo já com legenda em português:

“Olá! Uau. Obrigado.

Obrigado Chad, por essas palavras gentis e pelo trabalho ainda mais gentil que você e a Human Rights Campaign Foundation fazem todo dia – especialmente em nome dos jovens gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros aqui e em toda a América.

É uma honra estar aqui na conferência inaugural Time to THRIVE (Tempo de Crescer). Mas é um pouco estranho, também. Aqui estou, nessa sala por causa do trabalho de uma organização que eu admiro profundamente. E cercada de pessoas que fizeram que o trabalho de suas vidas fosse tornar a vida de outras pessoas melhor – profundamente melhor. Alguns de vocês ensinam jovens – pessoas como eu.

Alguns de vocês ajudam esses jovens a curar suas cicatrizes e encontrar sua própria voz. Alguns de vocês ouvem. Alguns de vocês agem. Alguns de vocês são jovens também… e nese caso, é ainda mais estranho pra uma pessoa como eu estar falando com vocês.

É estranho porque aqui estou eu, uma atriz, representando – de alguma maneira – uma indústria que impõe padrões opressivos a todos nós. Não apenas aos jovens, mas a todos. Padrões de beleza. De uma vida boa. De sucesso. Padrões que, eu odeio admitir, me afetaram. Você tem ideias plantadas na sua cabeça, pensamentos que você nunca teve antes, que te dizem como agir, como você tem que se vestir e quem você deve ser. Eu tenho tentado afastar esses pensamentos, ser autêntica, seguir meu coração, mas isso pode ser difícil.

Mas é por isso que estou aqui. Nesta sala, todos vocês, todos nós, podemos fazer muito mais juntos do que qualquer pessoa pode fazer sozinha. E eu espero que esse pensamento auxilie tanto vocês quanto ele fez por mim. Espero que os workshops que vocês visitarão nos próximos dias lhes dêem força. Porque eu só posso imaginar que existem dias, quando você trabalhou mais horas do que o seu chefe percebeu ou se importou, só pra ajudar um garoto que você conhece passar por isso. Dias em que você se sente completamente sozinho. Debilitado. Ou sem esperança.

Eu sei que existem pessoas nessa sala que vão pra escola todo dia e são tratados como merda sem nenhuma razão. Ou vocês vão pra casa e sentem que não podem contar aos seus pais toda a verdade sobre vocês mesmos. Além de tentar se encaixar em uma ou outra caixa, vocês se preocupam com o futuro. Sobre a faculdade ou trabalho e até mesmo na sua segurança física. Criando essa imagem mental da sua vida, de que o que quer que aconteça nesse mundo com você, pode te oprimir mais um pouco todo dia. É tóxico, doloroso e profundamente injusto.

Às vezes, são pequenas e insignificantes as coisas que podem te derrubar. Eu tento não ler fofoca como uma regra, mas outro dia um site publicou um artigo com uma foto minha vestindo moletom no caminho pra academia. O escritor perguntou: “Por que [essa] belezinha insiste em se vestir como um homem disforme?”

Porque eu gosto de me sentir confortável.

Há estereótipos difundidos sobre a masculinidade e feminilidade que definem como todos nós supostamente deveríamos agir, vestir e falar. Eles não servem a ninguém. Qualquer um que desafia essas ditas ‘normas’ tornam-se alvos de comentário e análises profundas. A comunidade LGBT sabe disso muito bem.

No entanto, há coragem ao nosso redor. O herói do futebol, Michael Sam. A atriz, Laverne Cox. As musicistas Tegan and Sara Quinn. A família que apoia sua filha ou filho que saiu do armário. E há coragem nesta sala. Em todos vocês .

Estou inspirada por estar nesta sala porque cada um de vocês está aqui pelo mesmo motivo. Vocês estão aqui porque vocês adotaram como motivação principal o simples fato de que este mundo seria muito melhor se nós apenas fizéssemos o esforço de sermos menos horríveis uns aos outros. Se tomássemos apenas 5 minutos para reconhecer a beleza de cada um, em vez de atacarmos uns aos outros por nossas diferenças. Isso não é difícil. É realmente uma maneira mais fácil e melhor para se viver. E, no fim das contas, ela salva vidas. De novo, não é nada fácil mesmo. Pode ser a coisa mais difícil , porque amar outras pessoas começa quando nos amamos e nos aceitamos. Eu sei que muitos de vocês têm lutado com isso. Eu recorro a força e o apoio de vocês, e as consigo, de maneiras que vocês nunca vão saber.

Eu estou aqui hoje porque eu sou gay. E porque… talvez eu possa fazer a diferença. Para ajudar outros a terem épocas mais fáceis e esperançosas. De qualquer maneira, pra mim, sinto que era uma obrigação pessoal e uma responsabilidade social.

Também faço isso de maneira egoísta, porque estou cansada de me esconder e estou cansada de mentir por omissão. Sofri por anos, porque estava com medo de sair do armário. Meu espírito sofreu, minha saúde mental sofreu e meus relacionamentos sofreram. E eu estou aqui hoje, com todos vocês, do outro lado de toda essa dor. Eu sou jovem, sim, mas o que eu aprendi é que o amor, sua beleza, sua alegria e, sim, até mesmo sua dor, é o presente mais incrível que um ser humano pode dar e receber. E nós merecemos viver o amor plenamente, igualmente, sem vergonha e sem prejuízo.

Há muitas crianças lá fora que sofrem bullying, rejeição, ou simplesmente são maltratadas por serem quem são. Muitas desistências. Muitos maus tratos. Muitos desabrigados. Muitos suicídios. Vocês podem mudar isso e vocês estão mudando isso.

Mas vocês nunca precisaram de mim para saber disso. É o porque disso ser um pouco estranho. A única coisa que eu posso realmente dizer é o que eu tenho desenvolvido nos últimos cinco minutos.

Obrigado. Obrigado por me inspirar. Obrigado por me dar esperança, e por favor continuem a mudar o mundo para pessoas como eu.

Feliz Dia dos Namorados. Eu amo vocês”

A íntegra em inglês segue abaixo:

“Hello! Wow. Thank you.

Thank you Chad, for those kind words and for the even kinder work that you and the Human Rights Campaign Foundation do every day—especially on behalf of the lesbian, gay, bisexual and transgender young people here and across America.

It’s such an honor to be here at the inaugural Time to THRIVE conference. But it’s a little weird, too. Here I am, in this room because of an organization whose work I deeply admire. And I’m surrounded by people who make it their life’s work to make other people’s lives better—profoundly better. Some of you teach young people—people like me. Some of you help young people heal and to find their voice. Some of you listen. Some of you take action. Some of you are young people yourselves…in which case, it’s even weirder for a person like me to be speaking to you.

It’s weird because here I am, an actress, representing—at least in some sense—an industry that places crushing standards on all of us. Not just young people, but everyone. Standards of beauty. Of a good life. Of success. Standards that, I hate to admit, have affected me. You have ideas planted in your head, thoughts you never had before, that tell you how you have to act, how you have to dress and who you have to be. I have been trying to push back, to be authentic, to follow my heart, but it can be hard.

But that’s why I’m here. In this room, all of you, all of us, can do so much more together than any one person can do alone. And I hope that thought bolsters you as much as it does me. I hope the workshops you’ll go to over the next few days give you strength. Because I can only imagine that there are days—when you’ve worked longer hours than your boss realizes or cares about, just to help a kid you know can make it. Days where you feel completely alone. Undermined. Or hopeless.

I know there are people in this room who go to school every day and get treated like shit for no reason. Or you go home and you feel like you can’t tell your parents the whole truth about yourself. Beyond putting yourself in one box or another, you worry about the future. About college or work or even your physical safety. Trying to create that mental picture of your life—of what on earth is going to happen to you—can crush you a little bit every day. It is toxic and painful and deeply unfair.

Sometimes it’s the little, insignificant stuff that can tear you down. I try not to read gossip as a rule, but the other day a website ran an article with a picture of me wearing sweatpants on the way to the gym. The writer asked, “Why does [this] petite beauty insist upon dressing like a massive man?”

Because I like to be comfortable.

There are pervasive stereotypes about masculinity and femininity that define how we are all supposed to act, dress and speak. They serve no one. Anyone who defies these so-called ‘norms’ becomes worthy of comment and scrutiny. The LGBT community knows this all too well.

Yet there is courage all around us. The football hero, Michael Sam. The actress, Laverne Cox. The musicians Tegan and Sara Quinn. The family that supports their daughter or son who has come out. And there is courage in this room. All of you.

I’m inspired to be in this room because every single one of you is here for the same reason. You’re here because you’ve adopted as a core motivation the simple fact that this world would be a whole lot better if we just made an effort to be less horrible to one another. If we took just 5 minutes to recognize each other’s beauty, instead of attacking each other for our differences. That’s not hard. It’s really an easier and better way to live. And ultimately, it saves lives. Then again, it’s not easy at all. It can be the hardest thing, because loving other people starts with loving ourselves and accepting ourselves. I know many of you have struggled with this. I draw upon your strength and your support, and have, in ways you will never know.

I’m here today because I am gay. And because… maybe I can make a difference. To help others have an easier and more hopeful time. Regardless, for me, I feel a personal obligation and a social responsibility.

I also do it selfishly, because I am tired of hiding and I am tired of lying by omission. I suffered for years because I was scared to be out. My spirit suffered, my mental health suffered and my relationships suffered. And I’m standing here today, with all of you, on the other side of all that pain. I am young, yes, but what I have learned is that love, the beauty of it, the joy of it and yes, even the pain of it, is the most incredible gift to give and to receive as a human being. And we deserve to experience love fully, equally, without shame and without compromise.

There are too many kids out there suffering from bullying, rejection, or simply being mistreated because of who they are. Too many dropouts. Too much abuse. Too many homeless. Too many suicides. You can change that and you are changing it.

But you never needed me to tell you that. That’s why this was a little bit weird. The only thing I can really say is what I’ve been building up to for the past five minutes. Thank you. Thank for inspiring me. Thank you for giving me hope, and please keep changing the world for people like me.

Happy Valentine’s Day. I love you”

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