China 2014: “Ocupe-se transformando a sua área”

, por Alexandre Matias

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China está aos poucos finalizando seu novo disco e aos poucos começa a mandar notícias. Uma delas, a faixa “Arquitetura da Vertigem”, chega em forma de clipe, com imagens da Ocupação Estelita.

A ocupação foi um eco tardio dos protestos de junho do ano passado que tomou corpo no Recife entre maio e junho deste ano, quando a especulação imobiliária foi rumo a uma área chamada Cais José Estelita disposta a erguer 12 arranha-céus de até 40 andares na região central da capital pernambucana. China explica o que está acontecendo:

“Existe um projeto das construtoras e da prefeitura chamado Novo Recife, em que a idéia é subir prédios altos em áreas ‘abandonadas’ ou ‘em desuso’. A venda da área do Estelita foi facilitada para construtoras e, como foi averiguado, esse leilão não poderia ter sido feito, pois está todo irregular – inclusive porque naquela área do Estelita passa a Ferrovia Transnordestina, que ainda está ativa. Nem o Iphan foi consultado.

Um grupo de pessoas dos direitos urbanos ficou sabendo desse esquema e começou a divulgar isso. As pessoas se identificaram com o lance e aderiram ao protesto. De início, as pessoas iam aos domingos, levar as famílias para curtir… Daí começaram a destelhar de derrubar alguns galpões, e um grupo achou por bem ocupar a área. E durante mais de 50 dias essas pessoas ficaram lá. Artistas, advogados, gente das mais variadas profissões. No dia que fui lá, haviam dois advogados acampados, que estavam de olho no que governo e construtoras resolviam. Tem muita gente envolvida no Ocupe Estelita.

Pra você ter uma ideia, a grande maioria dos pernambucanos não sabe o tamanho daquela área nem o que tem lá dentro. É um lugar gigante, man… Bonito pra caralho, que poderia ser um monte de coisa, menos espigões que vão beneficiar apenas alguns.

Agora a parada tá ‘teoricamente’ embargada e os órgãos competentes só tomarão alguma decisão depois das eleições. Mas, velho, fiquei um dia lá na ocupação e vi umas coisas muito legais. A galera que tava ocupada começou a dar cursos e oficinas pra turma de comunidade carente que mora lá perto. Acho que isso ajudou a criar a consciência nas pessoas. Porra, o espaço público é nosso, a cidade é nossa, também queremos ser consultados e dar pitacos nos rumos dela.

Desde o manguebeat eu não tinha visto uma concentração tão forte de pessoas em prol de algo tão bacana, você ia chapar se tivesse ido lá.

Eu já tinha soltado a música antes. Daí Pedro Escobar e Pedro Vitor, diretores do clipe, tiveram a ideia de pedir imagens pra todo mundo que tinha registrado a ocupação: artistas, ativistas, cineastas… e todos colaboraram. Queria que o vídeo mostrasse o que de fato aconteceu nos 50 dias da turma acampada. Mostrar o lance pra quem não foi la, ou pra quem achava que no Estelita so tinha vagabundo. Pelo contrário: a turma que tava lá fez oficinas, cursos – eram super ativos e todos afim de mudar o contexto das coisas.”

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