Bom saber #009: Karen Armstrong e a religião além da igreja

, por Alexandre Matias

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Na minha coluna do site da Galileu falei sobre a passagem de Karen Armstrong pelo palco do Fronteiras do Pensamento.

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Karen Armstrong e a religião além da igreja
A escritora inglesa deu uma aula sobre compaixão sem mencionar dogmas

Inspiradora a segunda apresentação da edição 2013 do Fronteiras do Pensamento, que aconteceu nesta quarta-feira, 8 de maio, em São Paulo. A noite era da escritora inglesa Karen Armstrong, uma das principais historiadoras da religião em atividade .Ela foi freira e viveu em um convento por sete anos, quando abandonou a igreja para estudá-la, passando a escrever livros sobre judaísmo, cristianismo e budismo. Ela também criou a entidade Charter for Compassion, que ganhou o prêmio TED em 2008, e falou sobre a importância da religião hoje em dia. E como é bom ouvir falar em religião sem cair em dogmas ou debates sobre a existência ou não de deus.

Karen, agnóstica, preferiu deixar essas controvérsias em segundo plano para falar do papel da religião em nossas vidas. E criticou aqueles que acham que religião é apenas seguir uma série de ensinamentos sem refletir sobre os mesmos, louvando o judaísmo por sempre exigir uma nova interpretação a cada nova leitura da palavra sagrada. “O conceito de mito não é estático”, disse, explicando que os mitos devem ser tomados como portas de entrada para a vivência da religião. “Estamos vivendo a época em que mais se tomam as escrituras sagradas literalmente” e reforçou que seguir uma religião sem vivê-la é o mesmo que aprender a dirigir ou a nadar na teoria, sem entrar num carro ou numa piscina. “Você não pode achar que basta ler o manual de instruções do carro e ter noções de como o trânsito funciona para se considerar um motorista. A religião pressupõe a prática.”

Ressaltou os pontos em comum entre as grande religiões para concluir que todas criam, basicamente, acessórios específicos para a mesma verdade, que é a Regra de Ouro: “Não faça aos outros o que não quer que façam com você”, repetiu diversas vezes, ressaltando que a palavra-chave neste caso é a compaixão. “E não é ter pena do outro, é colocar-se no lugar dele”, ressaltou, antes de citar um trecho da Ilíada, de Homero, em que o Aquiles e o pai de Hector – que havia sido morto pelo primeiro – se encontram e choram, juntos, a morte dos queridos que perderam na guerra. “Compaixão é reconhecer que o outro sente dor”, disse, citando que, durante a renascença da Grécia Antiga, 5 séculos antes de Cristo, aconteceu a criação do gênero tragédia, em que peças eram encenadas para que os espectadores pudessem chorar juntos – reconhecendo-se nos personagens e compartilhando o sentimento comum. “Naquela época, havia o líder do coro, que virava para a plateia e diziam: ‘Agora vocês podem chorar’”, liberando o público grego para o êxtase coletivo em forma de choro.

Falou bastante da etimologia das palavras ligadas à crença e como todas elas convergem para o aspecto da compaixão e do compromisso. E também frisou o quão importante é desprender-se do ego para atingir o estado máximo da fé, que transcende as religiões a ponto destas reconhecerem o ponto comum entre si mesmas. Disse que vivemos numa cultura em que a primeira pessoa é muito importante, por isso o maior desafio de qualquer religião é fazer as pessoas aprenderem a parar de pensar em si próprias para sentir o outro.

Terminou a palestra comentando sobre seu novo livro, que falará sobre violência e religião, explicando que não era a religião que era mais violenta no passado, mas que ela permeava todo aspecto da vida das pessoas, inclusive políticos e militares. E celebrou a religião como uma forma de arte, explicando que a iluminação religiosa é semelhante à artística – e que, por muito tempo, era a própria religião quem dava arte e cultura – de outra forma restritas a elites – para a população em geral.

Uma aula de história que provou que religião, fé e compaixão são temas que fazem sentido inclusive fora da igreja.

Foto: Divulgação / Fronteiras do Pensamento

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