A feira Inception

, por Alexandre Matias


Eis a feira, olha como ela é torta. A foto também é do meu Flickr velho e eu tinha tirado no meu aniversário do ano passado

Toda quarta tem feira aqui do lado de casa e toda quarta desço pra comer um pastel (tenho a sorte de ter uma filial do pastel da Maria bem no início da feira). E entre devaneios sobre como o ambiente feira funciona como uma droga lisérgica pra mulheres de todas as idades (repare, algumas são objetivas, a maioria caminha como se estivesse chapada ou como se fosse zumbi), do inevitável encontro entre a roda do carrinho e o dedinho do pé na sandália e o leque de aromas aleatórios típicos de qualquer feira, o que mais me aflige nessa perto aqui de casa é seu aspecto Inception. Não que ela pareça um sonho dentro de um sonho (tem horas que sim, mas não é esse caso), mas, como quase tudo que envolve rua e o bairro do Sumaré, onde moro, lembrao aspecto antigravitacional do filme do Nolan.

Explico melhor: nasci em Brasília, terra plana, reta, sem declive, mas quis o destino que eu viesse morar em uma cidade construída sobre morros, dona de ladeiras terríveis, escaladas tristes para quem tem que subi-las a pé. E, mais especificamente, em um dos bairros com mais ladeiras da cidade, o Sumaré. Me dói a alma. Na infância, tais ladeiras seriam sonhos dentro de sonhos – imagino que a rua Paris seja o Six Flags do rolimã -, mas hoje em dia, basta apenas vê-las para me estristecer. E a feira aqui perto de casa fica num cruzamento de duas ladeiras. Nem são tão drásticas – mas o chão é torto o suficiente pra que você perca a noção da gravidade e passe por alguns segundos de labirintite involuntária.

Sempre um bom passeio – e o chão torto ajuda.


A feira hoje

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