Zé Nigro: Görjeios

Nesta segunda-feira, Zé Nigro começa sua temporada Görjeios no Centro da Terra, quando expande o conceito de seu primeiro disco solo, Apocalip Se, pelas quatro segundas de abril. Nas três primeiras apresentações ele vem acompanhado de uma banda da pesada: Saulo Duarte na guitarra, Meno Del Pichia no baixo e Thomas Harres na batera. Na primeira apresentação, dia 4, ele convida as poetas convida Anna Zepa, Eveline Sin e Dandara Azvedo para acompanhá-lo em investigações líricas a partir de suas próprias músicas. Na segunda, ele recebe Annaïs Syllas e coloca Saulo Duarte como coautor de várias faixas. Na terceira, é a vez de receber Beto Villares, Alessandra Leão e uma convidada-surpresa. A quarta apresentação será uma instalação criada a partir da faixa que batiza a temporada. Os shows começam sempre às 20h, pontualmente, e os ingressos podem ser comprados antecipadamente aqui.

A faísca do encontro

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Quando a YB perdeu sua clássica sede na Vila Madalena, em São Paulo, um de seus sócios, o músico, produtor e compositor Maurício Tagliari deu a sorte de encontrar uma outra casa prontinha pra receber um estúdio de gravação no bairro de Higienópolis. Depois de transferir o equipamento para o novo imóvel, era hora de testar a acústica do local e no final do ano passado, Tagliari convidou alguns amigos para sessões de improviso no novo endereço. “Na sessão número 1 eu queria ouvir o resultado dos timbres de bateria e sopro, por isso reservei uma tarde e chamei o Thomas Garres e o Guizado. Chamei mais gente, mas como era final de ano, muita gente não podia. E eu não pensava em lotar a sala, até para entender melhor a acústica. O propósito era meramente técnico, mas com esses parceiros a probabilidade de sair algo muito bom era altíssima”, conta o guitarrista, que além de Harres e Guizado, também convidou o baixista pernambucano Pedro Dantas. Gravaram duas sessões com o nome de Tanino, trabalho que vem a público na próxima sexta. Uma destas, “Romã”, você ouve em primeira mão no Trabalho Sujo.

Não hove planejamento nem regras pré-estabelecidas. “Foi passar o som e gravar. O que acontece é que houve uma confluência enorme de referências e uma capacidade de audição de cada um que foi bem mágica”, continua Maurício. “Você percebe que não tem ego, as notas vêm e vão, os timbres dialogam. um inspira o outro. E o Thomas é o grande motor da dinâmica. Eu me concentrei em timbres, o Pedro acha as pulsações escondidas e o Guizado borda as melodias. Tudo muito intuitivo.”

Comento que há uma tendência recente a se registrar em discos sessões de improviso, algo que, mesmo em pequena escala, tem tornado-se comum em São Paulo. “É um tipo de música para poucos. infelizmente. só tem rolado em espaços pequenos e alternativos. Fora disso não vejo muita gente aqui no Brasil apostando nisso. No Centro da Terra, no Leviatã, Estúdio Bixiga e um poucos em outros lugares, os malucos se encontram. Mas é algo restrito. Pra mim é mais um exercício estético do que uma onda. Cresci musicalmente ouvindo free jazz. mas tem um ponto: improvisação muitas vezes é um enorme prazer para quem toca mas nem sempre para quem ouve! há vários tipos de som que podem entrar nessa categoria. Sou muito influenciado por Miles Davis e Art Ensemble of Chicago. Toquei e produzi muita coisa na vida, mas só de uns tempos para cá tenho projetos de improvisação lançados. Já tinha feito isso na Universal Mauricio Orchestra e mais recentemente no projeto Dúvidas da Juliana Perdigão. Eu gosto muito do resultado, queria que essa onda chegasse em mais gente. Mas somos os mais underground dos independentes.”

O trabalho são apenas duas músicas, “Romã”, de oito minutos, e “Cravo”, com dezesseis. “Não gastamos mais do que duas horas no estúdio, entramos para brincar. Passamos o som, gravamos a primeira, fomos ouvir e gravamos a segunda. Dali foi sair para comemorar o resultado. Inicialmente era só um teste mas gostamos tanto que decidimos lançar.” E agora fica a dúvida sobre o futuro próximo do grupo, que ainda não tocou ao vivo com público. “Um pouco antes da pandemia atacar a gente se reuniu para uma sessão de fotos de divulgação e decidiu que iria tentar uma residência semanal em algum lugar. Pelo simples prazer de tocar. Mas agora tudo parou, vamos nos contentar em ouvir o disco, por enquanto. É um som muito orgânico. Não dá vontade, ao menos para mim, de tentar algo online ou seja la o que for. tem que ser olho no olho.”

Trabalho Sujo apresenta: Soños

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Maior satisfação receber o querido Thomas Harres na segunda sessão da série Trabalho Sujo Apresenta na Unibes Cultural, nesta sexta-feira, dia 19 de julho, a partir das 20h. O espetáculo Soños é um mergulho interior simbólico, um espelho dos céus, uma reverência à lua e ao tempo, em que Thomas Harres, músico e produtor musical, convida ritmistas para uma imersão coletiva percussiva no universo dos tambores das mais diversas origens. Na noite do dia 19 a Lua adentra o reino das águas em Peixes e Júpiter e Marte incendeiam os céus no fogo sagitariano e ariano respectivamente. Essa noite vamos mergulhar de encontro aos abismos vulcânicos submarinos, que criam a terra fresca e recém nascida da lava vulcânica que pulsa no coração da terra. Os tambores anunciam esse nascimento lento e poderoso do planeta que leva o nome de sua carne! Com a participação de Larissa Braga, Fumaça, Pablo Carvalho, Pacato e Thiago Silva, além de visuais de Alberto Harres. Os ingressos estão sendo vendidos neste link e você pode confirmar a presença no evento aqui.

Lulina: Onde é Onde?

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Imensa satisfação receber a querida Lulina com seu espetáculo em construção Onde é Onde? nesta terça-feira, 21 de maio de 2019, no Centro da Terra. A cantora e compositora pernambucana está prestes a lançar seu próximo álbum, o primeiro desde Pantim, de 2013, e chama parte dos músicos que a acompanharam neste processo – o tecladista Dudu Tsuda, o baterista Thomas Harres, o guitarrista Maurício Tagliari, o percussionista Igor Caracas e o baixista Bubu – para maturarem este novo repertório no pequeno palco do Sumaré. Conversei com ela sobre este espetáculo feito sob medida para o Centro da Terra, quando mostra suas novas canções que estarão em um seu próximo disco (mais informações aqui).

Jards Macalé no centro da conexão Rio-São Paulo

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Bati um papo com Rômulo Froes, Thomas Harres e Kiko Dinucci, produtores do disco Besta Fera de Jards Macalé, sobre a antiga aproximação das cenas mais instigadoras do Rio de Janeiro e de São Paulo, materializada nesta conexão – confere lá na Trip.

Thomas Harres: Soños

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Maior prazer em ter como dono das segundas-feiras de maio o baterista e percussionista carioca Thomas Harres, que sempre me instigou como um autor, mesmo estando ao fundo, segurando a batida ou esmerilhando o ritmo em diferentes cenários da atual cena contemporânea brasileira, tocando com nomes como Gal Costa, Gilberto Gil, Céu, Anelis Assumpção, Ava Rocha e Jards Macalé, além de ter colaborado com Metá Metá, JosyAra, Rodrigo Ogi, Saulo Duarte, entre outros. Filho do mítico astrólogo Antonio Carlos Bola, ele deixou as ciências ocultas guiarem a temporada ao misturar música e astrologia, evocando os quatro elementos em cada segunda-feira a partir do desenho do céu daquela noite, nesta temporada que chamou de Soños. Na primeira segunda-feira, dia 6, que ele chamou de A Pele, ele se reúne a outros sete percussionistas (Kastrup, Fumaça, Victória dos Santos, Rodrigo Maré, Pablo Carvalho e Pacato) e Negro Leo nos vocais e Manuela Eichner fazendo colagens ao vivo. Na segunda segunda-feira, dia 13, ele vai ao oriente com uma caravana cigana formada por Ava Rocha (dançando), Thiago França (sopros), Fabio Sá (baixo e sampler), Dudu Tsuda (bacias e piesos), Klaus Sena (baixo cigano) e Igor Caracas (percussão), numa noite que chama de A Manifestação. No dia 20, ele se reúne com a vocalista Lenna Bahule e a percussionista Sthe Araujo para a noite Água Ardente, encerrando a temporada no dia 27, ao lado de Kiko Dinucci e Juçara Marçal, revivendo a única colaboração do trio, Abismo, gravada em estúdio e nunca mais reproduzida, com artes feitas por Lucas Pires. Durante toda a temporada, o irmão de Thomas, Alberto Harres, trabalha com a parte visual do espetáculo, misturando projeções, colagens e algoritmos de computador. Conversei com Thomas sobre esta temporada e abaixo ele detalha a vibração de cada segunda-feira (mais informações aqui).

O Fogo, a Terra, a Água e o Ar estarão presentes. Um pacto com a calma de ouvir o outro quando a mente insiste em partir. Olhar para dentro e acordar!

6.5 | A Pele
Lua e Marte em Gêmeos, os tambores elevam a mensagem com os céus. Um palco geminado por peles que tocam peles e ressoam seus sonhos em forma de ritmo.

Uma conversa inconsciente, profunda, sincera.

Uma mensagem carregada pelas gerações dos antigos ao mais novos pelo tambor.

A voz rasga e talha a carne das almas.

Manuela Eichner: colagens ao vivo
Alberto Harres: intervenção visual
Negro Leo: voz
Kastrup: percussão
Fumaça: percussão
Victória dos Santos: percussão
Rodrigo Maré: percussão
Pablo Carvalho: percussão
Pacato: percussão
Thomas Harres: percussão

13.5 | A Manifestação
Lua e Lilith em Virgem, o sonho do corpo em movimento, entidades se manifestam e celebram os corpos que sustentam seus símbolos. O barro da onde a vida fez seu berço.

A roda que na lama nada carrega o comboio, leva seu ritmo e gira tranquilo.

Ava Rocha: dança
Alberto Harres: intervenção visual
Thiago França: sopros
Fabio Sá: baixo e sampler
Dudu Tsuda: bacias e piesos
Klaus Sena: baixo cigano
Igor Caracas: percussão
Thomas Harres: percussão

20.5 | Água Ardente
Lua e Júpiter em Sagitário, destilar a voz, reduzir o sonho e o sumo da alma. Lavar a alma. A água que queima a garganta, traz o absurdo e expulsa a angústia.

Um mergulho do canto de dor e amor, natureza canta e ruge.

Lenna Bahule: voz
Sthe Araujo: voz e percussão
Thomas Harres: voz e percussão

27.5 | O Abismo
O Abismo. O Vazio.

Juçara Marçal: voz e synth
Kiko Dinucci: guitarra e sampler
Thomas Harres: bateria
Lucas Pires: arte

Marcelo Cabral: Influxo Cabralha

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Quando Marcelo Cabral avisou que estava voltando da Alemanha para passar um tempo de volta no Brasil, cogitamos rapidammente uma temporada ao redor do universo musical do baixista e de sua recente experiência artística na Alemanha. Próximo à cena de improviso livre de Berlim, Cabral foi descobrindo um método de criação artística que permite fluir por outras linguagens, incluindo literatura, teatro e spoken word e entender como isso influencia diretamente o resultado musical. E assim ele pensou em Influxo Cabralha, uma reunião de amigos e magos da música instrumental que atravessa quatro segundas-feiras de abril no Centro da Terra. Na primeira, dia 8, ele toca ao lado de Mauricio Takara, Thomas Rohrer e Mariá Portugal. No dia 15 ele chama Guilherme Held, Thiago França, Juliana Perdigão e Angélica Freitas. Dia 22 é dia de Kiko Dinucci, Rodrigo Brandão e Juçara Marçal. E a temporada termina no dia 29, com as participações de Thomas Harres, Bella, Patrícia Bergantin, Maria Beraldo e Ná Ozzetti (mais informações aqui). Bati um papo com o Cabral sobre esta safra de shows e a influência de sua estada na Alemanha neste novo projeto.

Um pacto de sangue com Jards Macalé

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O bardo torto do samba carioca Jards Macalé segue atiçando a expectativa para seu novo disco, produzido por Kiko Dinucci, Thomas Harres e Rômulo Froes. Ainda sem título e com previsão de lançamento para fevereiro, seu disco foi introduzido pela pesada “Trevas” e que agora vem com uma face mais ensolarada e melódica com a faixa que compôs com Tim Bernardes, o samba-canção “Buraco da Consolação”, inspirado pela afinidade que os dois descobriram que tinham pelo disco Jamelão interpreta Lupicínio Rodrigues, gravado com a Orquestra Tabajara. Os arranjos de cordas são feitos por Thiago França.

Além da faixa nova, o resto do disco é descortinado num faixa a faixa feito exclusivamente para o Trabalho Sujo. Ele fala sobre as músicas que fez ao lado de Kiko (“Vampiro de Copacabana”), Tim (“Buraco da Consolação”), Rômulo, Kiko e Thomas (“Meu Amor, Meu Cansaço”), Kiko e Rodrigo Campos (“Peixe”, que conta com Juçara Marçal), Kiko, Thomas e Clima (“Longo Caminho do Sol”, dueto com Rômulo Froes), além das adaptações de poemas de Gregório de Mattos (“Aos Vícios” virou “Besta Fera”), Ezra Pound (“Canto I” que virou “Trevas”), Helio Oiticica (“Obstáculos”) e Capinam (“Pacto de Sangue”), esta última minha faixa favorita do novo álbum. Fala Jards!

Grassmass: Coisas2018

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É com imensa satisfação que anuncio que o último show do Centro da Terra em 2018 é a primeira apresentação paulistana de um ousado projeto que finalmente é lançado. Depois de anos recriando em estúdio Coisas, disco clássico que o músico e arranjador pernambucano Moacir Santos lançou em 1965, o produtor conterrâneo Rodrigo Coelho, que apresenta-se sob a alcunha de Grassmass, por fim lança seu Coisas2018, em que revisita uma das mais importantes obras do jazz brasileiro à luz da música contemporânea, injetando elementos de música eletrônica e de pós-produção. Nesta primeira apresentação, que acontece nesta terça-feira, dia 4 (mais informações aqui), ele contará com as presenças de Bruno Bruni e Thomas Harres para transpor este monumento a um dos maiores – e infelizmente ainda pouco conhecido do grande público – nomes da música brasileira para o palco. Conversei com Coelho sobre este projeto e a primeira incursão ao vivo no ano de seu lançamento – e ele antecipa uma das faixas em primeira mão para o Trabalho Sujo.

https://soundcloud.com/uivorecords/grassmass-coisa-n-5/

Como você conheceu o Coisas?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/rodrigo-coelho-como-voce-conheceu-o-coisas

Como surgiu a ideia de fazer um tributo a este disco?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/rodrigo-coelho-como-surgiu-a-ideia-de-fazer-um-tributo-a-este-disco

Como foi o desafio de recriar o Coisas neste outro contexto?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/rodrigo-coelho-como-foi-o-desafio-de-recriar-o-coisas-neste-outro-contexto

Como é o Coisas2018 ao vivo?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/rodrigo-coelho-como-e-o-coisas2018-ao-vivo

Tudo Tanto #016: Um 2015 espetacular

tudotanto2015

Na edição de janeiro da minha coluna na revista Caros Amigos, eu escrevi sobre o grande ano que foi 2015 para a música brasileira.

A consagração de 2015
O ano firmou toda uma safra de artistas que lançou discos que reverberarão pelos próximos anos

Alguma coisa aconteceu na música brasileira em 2015. Uma conjunção de fatores diferentes fez que vários artistas, cenas musicais, produtores e ouvintes se unissem para tornar públicos trabalhos de diferentes tempos de gestação que desembocaram coincidentemente neste mesmo período de doze meses e é fácil notar que esta produção terá um impacto duradouro pelos próximos anos. O melhor termômetro para estas transformações são os discos lançados durante este ano.

Os treze anos de espera do disco novo do Instituto, o terceiro disco pelo terceiro ano seguido do Bixiga 70, os seis anos de espera do disco novo do Cidadão Instigado, o disco que Emicida gravou na África, um disco que BNegão e seus Seletores de Frequência nem estavam pensando em fazer, o surgimento inesperado da carreira solo de Ava Rocha, o disco mais político de Siba, o espetacular segundo disco do grupo goiano Boogarins, os discos pop de Tulipa Ruiz e Barbara Eugênia, a década à espera do segundo disco solo de Black Alien, o majestoso disco primeiro disco de inéditas de Elza Soares, os quase seis anos de espera pelo disco novo do rapper Rodrigo Ogi, dos Supercordas e do grupo Letuce e um projeto paralelo de Mariana Aydar que tornou-se seu melhor disco. Mais que um ano de revelação de novos talentos (o que também aconteceu), 2015 marcou a consolidação de uma nova cara da música brasileira, bem típica desta década.

São álbuns lançados às dezenas, semanalmente, que deixam até o mais empenhado completista atordoado de tanta produção. É inevitável que entre as centenas de discos lançados no Brasil este ano haja uma enorme quantidade de material irrelevante, genérico, sem graça ou simplesmente ruim. Mas também impressiona a enorme quantidade de discos que são pelo menos bons – consigo citar quase uma centena sem me esforçar demais – e que foram feitos por artistas jovens, ainda buscando seu lugar no cenário, o que apenas é uma tradução desta que talvez seja a geração mais rica da música brasileira. A quantidade de produção – reflexo da qualidade das novas tecnologias tanto para gravação e divulgação dos trabalhos – não é mais meramente quantitativa. O salto de qualidade aos poucos vem acompanhando a curva de ascensão dos números de produção.

Outro diferencial desta nova geração é sua transversalidade. São músicos, compositores, intérpretes e produtores que atravessam diferentes gêneros, colaboram entre si, dialogam, trocam experiências. Não é apenas uma cena local, um encontro geográfico num bar, numa garagem, numa casa noturna, num apartamento. É uma troca constante de informações e ideias que, graças à internet, transforma os bastidores da vida de cada um em um imenso reality show divulgado pelas redes sociais, em clipes feitos para web, registros amadores de shows, MP3 inéditos, discussões e textões posts dos outros.

A lista de melhores discos que acompanha este texto não é, de forma alguma, uma lista definitiva, mesmo porque ela passa pelo meu recorte editorial, humano, que contempla uma série de fatores e dispensa outros. Qualquer outro observador da produção nacional pode criar uma lista de discos tão importantes e variada quanto estes 25 que separei no meu recorte. Dezenas de ótimos discos ficaram de fora, fora artistas que não chegaram a lançar discos de fato – e sim existem na internet apenas pelo registros dos outros de seus próprios trabalhos. E em qualquer recorte feito é inevitável perceber a teia de contatos e referências pessoais que todo artista cria hoje em dia. Poucos trabalham sozinhos ou num núcleo muito fechado. A maioria abre sua obra em movimento para parcerias, colaborações, participações especiais, duetos, jam sessions.

E não é uma panelinha. Não são poucos amigos que se conhecem faz tempo e podem se dar ao luxo de fazer isso por serem bem nascidos. É gente que vem de todos os extratos sociais e luta ferrenhamente para sobreviver fazendo apenas música. Gente que conhece cada vez mais gente que está do seu lado – e quer materializar essa aliança num palco, numa faixa, num mesmo momento. Esse é o diferencial desta geração: ela vai lá e faz.

Desligue o rádio e a TV para procurar o que há de melhor na música brasileira deste ano.

Ava Rocha – Ava Patrya Yndia Yracema
BNegão e os Seletores de Frequência – TransmutAção
Barbara Eugênia – Frou Frou
Bixiga 70 – III
Boogarins – Manual ou Guia Prático de Livre Dissolução de Sonhos
Cidadão Instigado – Fortaleza
Diogo Strauss – Spectrum
Elza Soares – Mulher do Fim do Mundo
Emicida – Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa
Guizado – O Vôo do Dragão
Ian Ramil – Derivacivilização
Instituto – Violar
Juçara Marçal & Cadu Tenório – Anganga
Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thomas Harres – Abismu
Karina Buhr – Selvática
Letuce – Estilhaça
Mariana Aydar – Pedaço Duma Asa
Negro Leo – Niños Heroes
Passo Torto e Ná Ozzeti – Thiago França
Rodrigo Campos – Conversas com Toshiro
Rodrigo Ogi – Rá!
Siba – De Baile Solto
Space Charanga – R.A.N.
Supercordas – A Terceira Terra
Tulipa Ruiz – Dancê