1° de março de 1973 – O Pink Floyd lança The Dark Side of the Moon
2 de março de 1996 – Morrem os Mamonas Assassinas
3 de março de 1989 –Madonna lança o polêmico clipe de “Like a Prayer”
4 de março de 1989- TimeWarner torna-se a maior empresa de mídia do mundo
5 de março de 1969 –É lançada a revista Creem
6 de março de 2013 –Morre Chorão
7 de março de 1983 –New Order lança “Blue Monday”
8 de março de 1965 –Bob Dylan lança “Subterranean Homesick Blues”
9 de março de 1997 –Notorious B.I.G. é assassinado
10 de março de 1977 –Os Sex Pistols anunciam “God Save the Queen” em frente ao palácio de Buckingham
11 de março de 1970 –Crosby Stills Nash & Young lançam Déjà-Vu
12 de março de 1967 –Velvet Underground lança seu primeiro disco
13 de março de 1961 –Os Temptations fazem teste para entrar na Motown
14 de março de 1989 –De La Soul lança o clássico 3-Feet High and Rising
15 de março de 1998 –Morre Tim Maia
16 de março de 1968 –“(Sittin’ On) The Dock of the Bay” é o primeiro hit póstumo
17 de março de 1958 –É lançada a primeira coletânea chamada “Greatest Hits”
18 de março de 2017 –Morre Chuck Berry
19 de março de 1870 –Carlos Gomes estreia a ópera O Guarani na Itália
20 de março de 1936 –Nasce Lee “Scratch” Perry
21 de março de 1956 –O filme Rock Around the Clock estreia nos cinemas
22 de março de 2018 –Morre Miranda
23 de março de 2003 –“Lose Yourself” é o primeiro rap a ganhar o Oscar de melhor canção
24 de março de 1958 –Elvis se alista no exército
25 de março de 1958 –John e Yoko realizam o primeiro bed-in
26 de março de 1991 –Bob Dylan começa a oficializar seus discos pirata
27 de março de 1960 –Nasce Renato Russo
28 de março de 1981 –O primeiro rap a chegar no topo das paradas é do Blondie
29 de março de 1980 –Brian Johnson entra no lugar de Bon Scott no AC/DC
30 de março de 1967 –A capa de Sgt. Pepper’s é fotografada
31 de março de 1967 –Hendrix incendeia sua guitarra pela primeira vez
1° de dezembro – Os Sex Pistols falam “fuck” pela primeira vez na TV, Neil Young é processado pela gravadora por mudar seu som e Kenny G segura uma nota por 45 minutos
2 de dezembro – Rod Stewart chega ao topo plagiando Jorge Ben, Bowie lança seu primeiro single e o porco inflável do Pink Floyd escapa
3 de dezembro – Os Beatles conhecem Brian Epstein, é exibido o 1968 Comeback Special de Elvis e Bono recupera seu laptop perdido – com o disco novo do U2
4 de dezembro – Um incêndio inspira a faixa-símbolo do Deep Purple, o Led Zepellin anuncia seu fim e morre Frank Zappa
5 de dezembro – Bob Marley faz show dois dias depois de ser vítima de um atentado, Black Flag lança o primeiro disco e Adele ultrapassa Amy Winehouse
6 de dezembro – O festival de Altamont encerra os anos 60 de forma trágica, morre Leadbelly e Elvis Costello se casa com Diana Krall
7 de dezembro – Otis Redding finaliza sua faixa-símbolo, os Beatles fecham sua Apple Store e Bowie aparece em público pela última vez
8 de dezembro – Nasce Sargentelli, morre John Lennon e o Metallica toca na Antártida
9 de dezembro – Vince Guaraldi põe jazz na trilha de Charlie Brown, o Chic chega ao topo das paradas e Ozzy sofre um acidente
10 de dezembro – A fundação do CBGB’s, a morte de Otis Redding e a queda que quase matou Frank Zappa
11 de dezembro – O primeiro show do Velvet Underground, Jerry Lee Lewis casa-se com prima de 13 anos e Mariah Carey leva o ringtone de ouro
12 de dezembro – O último show dos Doors, Ace Frehley quase morre eletrocutado num show e Mick Jagger vira Sir
13 de dezembro – Patti Smith lança Horses, o semanário inglês Melody Maker acaba e Beyoncé lança um disco-surpresa
14 de dezembro</strong> – O Clash lança London Calling, Os Embalos de Sábado à Noite estreia no cinema e morre Ahmet Ertegun
15 de dezembro – Dr. Dre lança The Chronic, morre Glenn Miller e Taylor Swift chega ao topo com seu 1989
16 de dezembro – O fim do The Who, o hit de Billy Paul e o seguro na língua de Miley Cyrus
17 de dezembro – Elvis Costello é banido do Saturday Night Live, Dylan chega à Inglaterra pela primeira vez e morre Captain Beefheart
18 de dezembro – Nasce Keith Richards, os Beatles iniciam sua última temporada em Hamburgo e Rod Stewart toca para 35 milhões de pessoas
19 de dezembro – Madonna ultrapassa Coldplay, Lady Gaga, Jay-Z e Kanye West, o roadie de Henry Rollins morre assassinado e Elton John emplaca seu primeiro hit nos EUA
20 de dezembro – Adele chega ao topo de 2012, Joan Baez é presa por protestar contra a guerra e morre Reginaldo Rossi
21 de dezembro – “Gangnam Style” é o primeiro clipe a bater um bilhão de views no YouTube, Elvis se encontra com Nixon e morre Júpiter Maçã
22 de dezembro – Morre o sambista e pesquisador Almirante, o pensamento vivo de Ronald Reagan em disco e a quase morte de um Motley Crue
23 de dezembro – É inaugurada a rádio pirata mais conhecida da história, Brian Wilson sofre um colapso nervoso e Ice Cube é expulso do N.W.A.
24 de dezembro – O último show dos Sex Pistols na Inglaterra, o primeiro show dos New York Dolls e o Nirvana começa a gravar seu primeiro disco
25 de dezembro – “White Christmas”, o single mais vendido de todos os tempos volta ao topo das paradas e morrem Dean Martin, James Brown e George Michael
26 de dezembro – Paul McCartney “morre” em um acidente de carro e os Beatles o trocam por um sósia, The Wall chega ao topo das paradas de discos e morre Curtis Mayfield
27 de dezembro – Show Boat inaugura o musical moderno, Leonard Cohen lança seu primeiro álbum e o Led Zeppelin, seu segundo
28 de dezembro – Dennis Wilson, dos Beach Boys, morre afogado no mar, Elvis Presley toma LSD e um câncer violento mata Lemmy
29 de dezembro – Morre Cássia Eller, o casal do Jefferson Airplane se separa e Aimee Mann casa-se com Michael Penn
30 de dezembro – Sinatra torna-se o primeiro ícone adolescente do mundo, o fim do Emerson Lake & Palmer e George Harrison é esfaqueado
31 de dezembro – Rod Stewart faz o maior show ao ar livre do mundo, o fim do Max’s Kansas City e Paul McCartney torna-se Sir
1° de novembro – O lançamento da revista Billboard, o dia que o mundo conheceu o disco Abbey Road, a morte de Yma Sumac e o aniversário de Pabllo Vittar
2 de novembro – Carly Simon lança “You’re So Vain”, a primeira vez do termo “Beatlemania” é a prisão do pai de Marvin Gaye
3 de novembro – “Ice Ice Baby” levando o rap ao topo das paradas pela primeira vez, a volta dos Righteous Brothers e censura a shows de rock!
4 de novembro – Os Beach Boys lançam “Good Vibrations”, My Bloody Valentine lança o Loveless e morre Fred “Sonic” Smith
5 de novembro – Aniversário de D2, Thaíde e Mr. Catra, a estreia do programa de Nat King Cole e a morte de Link Wray
6 de dezembro – Taylor Swift lança 1989, os Sex Pistols estreiam ao vivo (por dez minutos!) e os Monkees lançam um filme lóki
7 de novembro – O nascimento de Ary Barroso, o último show de Aretha Franklin e a morte de Leonard Cohen
8 de novembro – O lançamento do quarto disco do Led Zeppelin, David Bowie no programa da Cher e o filme que deu um Oscar pro Eminem
9 de novembro – É lançada a revista Rolling Stone, o disco 36 Chambers do Wu-Tang Clan, John conhece Yoko e Bowie toca ao vivo pela última vez
10 de novembro – A gravação do clipe de “Bohemian Rhapsody”, o primeiro rap a entrar na lista dos mais vendidos e Chaka Khan com Prince, Stevie Wonder e Melle Mel
11 de novembro – John & Yoko lançam Two Virgins, Bill Haley chega ao topo das paradas e Dylan lança seu primeiro livro
12 de novembro – Madonna lança o disco Like a Virgin, o estúdio Abbey Road é fundado e o Velvet Underground faz seu primeiro show
13 de novembro – Atentado terrorista no show do Eagles of Death Metal, “Feelings” ganha o disco de ouro e morre Ol’ Dirty Bastard
14 de novembro – Michael Jackson lança o clipe de “Black Or White”, Ray Charles chega pela primeira vez ao topo e Pete Townshend assume que é bissexual
15 de novembro – Empresário do Milli Vanilli assume que dupla é uma fraude, Janis Joplin é presa por xingar um guarda e os Dire Straits dominam as paradas
16 de novembro – A morte de Candeia, a prisão do baterista do Clash e os Stones tocam na festa privê de um bilionário
17 de novembro – Morre o maestro Heitor Villa-Lobos, o primeiro disco das Spice Girls e Patti Smith ganha o National Book Award
18 de novembro – Genesis lança o clássico The Lamb Lies Down on Broadway, morre Danny Whitten da Crazy Horse de Neil Young e o Nirvana grava seu Acústico MTV
19 de novembro – Michael Jackson pendura o filho bebê na varanda, Carl Perkins grava “Blue Suede Shoes” e Zappa conclui sua ópera Joe’s Garage
20 de novembro – Keith Moon passa mal e fã termina o show tocando bateria com o Who, Isaac Hayes chega ao topo e Bo Diddley é banido da TV
21 de novembro – A morte de Peter Grant, o empresário que fez o Led Zeppelin acontecer, Olivia Newton John emplaca “Physical” e os Beatles lançam Anthology
22 de novembro – A morte acidental do líder do INXS, Michael Hutchence, o início da carreira de Simon & Garfunkel e Pearl Jam apenas em vinil
23 de novembro – Jerry Lee Lewis é preso após baixar armado na casa de Elvis Presley, Pink Floyd nas paradas de sucesso e morre Adoniran Barbosa
24 de novembro – Morre Freddie Mercury, Howlin’ Wolf toca na Inglaterra e o Crowded House encerra suas atividades
25 de novembro – Estreia Guarda-Costas o filme que catapultou a carreira de Whitney Houston, surge a primeira gravadora online e morre Nick Drake
26 de novembro – O clube Haçienda é leiloado, o Cream faz seu último show e Richey Edwards, dos Manic Street Preachers, é declarado morto
27 de novembro – O clipe de “Justify My Love” é banido da MTV, Hendrix comemora aniversário num show dos Stones e o Pavement termina ao vivo
28 de novembro – John Lennon toca pela última vez ao vivo (ao lado de Elton John), Kurt Cobain zoa o Top of the Pops e Britney dá a volta por cima
29 de novembro – O fenômeno Susan Boyle cumpre a promessa em seu primeiro álbum, morre George Harrison e Taylor Swift substitui a si mesma no topo
30 de novembro – Morre Cartola, Michael Jackson lança Thriller, Madchester chega ao Top of the Pops e Joey Ramone vira um quarteirão em NY
28 de outubro – Lorde chegava ao topo da parada britânica, Stevie Wonder lança Talking Book e Afroman emplaca “Because I Get High”.
29 de outubro – Bob Dylan aceita o Nobel de literatura, o Who lança “My Generation” e Enya chega ao topo das paradas.
30 de outubro – George Michael lança o disco Faith, Jim Morrison é multado por por o pau pra fora e vem aí Beatles Rock Band
31 de outubro – O início do Acústico da MTV, a batalha judicial pelo nome Pink Floyd e Flea assistindo à morte de River Phoenix
Esperando entrar setembro…
Erasmo Carlos – “26 Anos de Vida Normal”
Cramps – “Human Fly”
Blood Orange – “Charcoal Baby”
Bolerinho – “Necrópsia do Nosso Caso de Amor”
Memory Tapes – “Green Knight”
Letuce – “Fio Solto”
JJ – “Things Will Never Be the Same”
Paul McCartney – “Ram On”
Rockers Control – “Soltinho Dub”
Gilberto Gil – “OK OK OK”
Tim Maia – “João Coragem”
Pink Floyd – “Sheep”
Alphabeat – “Digital Love”
Cidadão Instigado – “Contando Estrelas”
Of Montreal – “Spoonful Of Sugar”
Caetano Veloso – “Trem das Cores”
Teenage Fanclub – “Neil Jung”
Transformei minha viagem para a Inglaterra no meio do ano (com direito a Beatles, Velvet e Pink Floyd) num ensaio que escrevi para a ótima revista Helena, da Biblioteca Pública do Paraná. O texto pode ser lido online e há uma versão estendida que deverá ser publicada dia desses… As ilustrações são do Dahmer.
O disco de estreia do Pink Floyd completa meio século de vida e eu escrevi sobre sua importância lá no meu blog no UOL.
Quando o Pink Floyd lançou seu disco de estreia, The Piper at the Gates of Dawn, há exatos cinquenta anos, no dia 5 de agosto de 1967, a cultura mundial estava em pleno processo de transformação. O amadurecimento da primeira geração das bandas de rock e a consolidação da indústria fonográfica e da cultura pop coincidiu com a afirmação de diversas tendências comportamentais que corriam mundialmente no underground – os beats norte-americanos, a nouvelle vague francesa, a ascensão do feminismo e dos movimentos pelos direitos civis em todo o mundo, o uso recreativo de drogas alucinógenas, a causa hippie, o orgulho negro, o free jazz e a pop art. O mágico ano de 1967 prenunciava uma era de renovação, uma revolução cultural que nos levaria a um novo estágio – um novo nível de consciência, a idade espacial ou a era de Aquário. E o Pink Floyd apontava os rumos a serem seguidos.
Em apenas dois anos, o grupo inglês formado por três ex-estudantes de arquitetura e um estudante de arte ultrapassou a fase de blues elétrico que dominava a Londres do meio dos anos 60 em busca de horizontes que nunca haviam sido explorados pela música pop. Liderados pelo único não-arquiteto da banda, o carismático Roger “Syd” Barrett, que pouco a pouco se transformava em guru de uma geração, o grupo formado pelo baixista Roger Waters, o tecladista Rick Wright e o baterista Nick Mason aos poucos abandonou a estrutura básica do rhythm’n’blues norte-americano para usar e abusar de novos formatos de composição.
Syd foi um dos primeiros entusiastas do LSD na Inglaterra, substância descoberta por acaso pelo cientista suíço Albert Hoffmann em uma tarde de 1943 que ficou restrita ao círculo farmacêutico até ser descoberta e utilizada pelo cientista norte-americano Timothy Leary no início dos anos 60. Os efeitos da dietilamida do ácido lisérgico, que ainda era uma droga legal, na mente criativa de Syd fez que ele levasse o rock para outra dimensão em todos os sentidos: não só a estrutura das canções mudava drasticamente (bebendo de fontes alternativas – e inglesas) bem como o tema e suas apresentações ao vivo. E embora os outros integrantes da banda não fosse usuários aficionados como Syd, todos eles deixavam-se levar pela onda alucinógena que o vocalista e guitarrista emanava. O próprio nome da banda era uma prova de como estes limites poderiam ser explorados. Syd sugeriu batizá-los de Pink Floyd a partir de uma explicação lisérgica, mas ele apenas reuniu o prenome de dois de seus bluesmen favoritos, Pink Anderson e Floyd Council.
Ao vivo, a banda, vestidas com roupas coloridas, camisas bufantes, chapéus, franjas e botas, entregava-se ao improviso e às divagações musicais de Syd, que graças às inéditas fórmulas de iluminação no palco, quando projeções gelatinosas eram miradas sobre a banda, parecia tornar-se um sacerdote místico. Exímio guitarrista, ele também levava seu instrumento a paisagens distantes da primeira geração do rock ou do movimento mod que dominava a Londres do período. Em shows que duravam horas, o Pink Floyd aos poucos foi construindo sua reputação como um dos principais faróis de um novo movimento: a psicodelia.
Era uma transformação comportamental que inevitavelmente caía sobre o rock. Os ecos destas mudanças aconteciam em vários lugares do mundo, principalmente na Califórnia e na Inglaterra, e o Pink Floyd era o principal motor deste movimento, que contava com outros ícones bem próximos, como o guitarrista norte-americano Jimi Hendrix (que foi criar seu Experience em Londres) e, claro, os Beatles.
O grupo de Liverpool estava trancado no estúdio 2 de Abbey Road desde o início de 1967 e já haviam lançado o compacto com as faixas “Strawberry Fields Forever” e “Penny Lane” quando o Pink Floyd assinou com a EMI para gravar seu disco de estreia no estúdio 1, vizinho ao que os Beatles gravaram Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. O disco do Pink Floyd foi produzido pelo engenheiro Norman Smith., que já vinha trabalhando com os Beatles há tempos. A troca de informações entre os dois discos e as duas bandas ainda são um assunto intocado, bem como quem influenciou quem. O disco dos Beatles foi lançado dois meses antes da estreia do Pink Floyd, mas os dois discos ficaram prontos praticamente ao mesmo tempo.
E o disco do Pink Floyd era muito mais ousado que o dos Beatles. Embora Sgt. Pepper’s tenha causado ao reunir uma orquestra inteira para tocar o crescendo de “A Day in the Life”, costurado o carrossel de colagens de “Being for the Benefit of Mr. Kite!”, citado a sigla de LSD em “Lucy in the Sky with Diamonds” e posto oriente e ocidente para duelar em “Within You Without You”, The Piper at the Gates of Dawn (título tirado de um capítulo do clássico infantil Vento nos Salgueiros, de Kenneth Grahame, sobre o deus grego Pan) ia além.
Talvez não tivessem os recursos que os Beatles tinham, mas isso não tornava suas viagens mais tímidas. Ia do espaço sideral (com a faixa de abertura “Astronomy Domine” e o longo improviso instrumental de “Interstellar Overdrive”) ao I Ching (“Chapter 24”), da visita de seres míticos (“The Gnome”) à infância (“Bike”), sempre ao som de progressões de acordes incomuns, solos melancólicos, riffs destrambelhados, fractais em teclados elétricos, bateria desenfreada, baixo melódico e duro, efeitos eletrônicos e sonoplastia. The Piper at the Gates of Dawn é quase um OVNI que pousa no meio daquilo que hoje conhecemos como rock clássico, acendendo luzes que apontam para rumos que nunca haviam sido cogitados.
Parte de seu brilho talvez venha de sua velocidade. Do mesmo jeito que ascendeu, Syd Barrett pifou. O mesmo LSD que o fez visionário, o cegou de forma brutal, transformando-o em um Ícaro psicodélico, a primeira vítima séria da era hippie, que mesmo que não tivesse sido fatal, transformou-se em um peso morto que constrangia a banda ao vivo. Por diversas vezes ficava imóvel no palco, não dublava a própria voz em programas de TV e o grupo teve de chamar um quinto músico para que a banda pudesse funcionar – e em pouco tempo David Gilmour o substituiu, levando a banda para um limbo estético que durou vários discos – e que forjou uma das principais lendas da história do rock.
Mas a influência de Syd sempre esteve presente. O próprio clássico Dark Side of the Moon é uma ode à loucura e funciona como um questionamento em relação ao que aconteceu com o amigo do grupo – que batizou o álbum de forma que a palavra “Side” ecoasse o nome do fundador da banda. O disco seguinte, Wish You Were Here, foi mais direto – e além da descarada declaração de amizade da faixa-título (“Queria que você estivesse aqui”) dedicava a longa suíte “Shine On You Crazy Diamond” ao pai da psicodelia inglesa. Mas seu recado já estava dado em The Piper at the Gates of Dawn – e ecoa firme até hoje. Brilha muito.
Visitei a inacreditável exposição em homenagem aos 50 anos do Pink Floyd em Londres e contei o que vi lá no meu blog no UOL.
O mesmo museu que mergulhou na vida e obra de David Bowie na excelente exposição David Bowie Is em 2013 agora convida para uma viagem pela carreira de uma das bandas mais influentes da cultura contemporânea. A exposição Their Mortal Remains, organizada pelo museu londrino Victoria & Albert ao lado dos três remanescentes do grupo (David Gilmour, Nick Mason e Roger Waters), disseca 50 anos de carreira do Pink Floyd em várias dimensões, levando em consideração todo o impacto cultural – e não apenas musical – exercido pelo grupo desde seus primeiros anos. Em uma visita que durou algumas horas, fui transportado para um documentário cronológico sobre a história da banda em que os principais artefatos de sua existência eram exibidos um a um.
Um dos grandes trunfos de Their Mortal Remains é a forma como os fones de ouvido distribuídos à entrada ajudam na imersão na exposição. Como são aparelhos sensíveis aos movimentos, eles sintonizam músicas do grupo de acordo com a parte do museu em que você está, além de se conectarem automaticamente ao som de monitores de TV que exibem entrevistas com os integrantes do grupo e seus contemporâneos quando chegamos a poucos metros de distância. É um recurso incrível, que torna o didatismo da exposição ainda mais intenso.
A mostra começa com o tom psicodélico do início da carreira do grupo. A opção por contar a história a partir do momento em que a banda assume o nome que a tornou famosa elimina da história os anos de formação do grupo, quando, altamente influenciado pelo rhythm’n’blues norte-americano, teve encarnações com nomes como Sigma 6, The Meggadeaths, The Abdabs, The Screaming Abdabs, Leonard’s Lodgers, The Spectrum Five e Tea Set. Mas ao definir o ano de 1967 como ponto de partida, a exposição acerta ao mostrar o momento em que o grupo também começa a se preocupar com o impacto visual de suas apresentações. Liderado pelo ícone da psicodelia londrina, Syd Barrett, o Pink Floyd mostra-se extramusical desde seus primeiros registros fonográficos.
Outra opção curiosa da exposição é usar cabines telefônicas como marcos temporais. A cada início de década, surge uma cabine telefônica inglesa típica, com recortes de jornais da época e caracterizada com cores e desenhos do período que demarca.
A cada vitrine nos deparamos com itens pessoais de cada um dos integrantes do Pink Floyd, desde diários escritos à mão a cartas enviadas para os pais contando os primeiros dias como músicos profissionais, além de peças de roupas, equipamentos e instrumentos musicais. Na primeira fase da exposição, cada fase é definida em um disco e cada disco funciona como uma vitrine exibindo itens pessoais do grupo ao mesmo tempo em que contam suas histórias.
Nesta primeira fase o que impressionam são os instrumentos modificados por Syd Barrett, bem como suas próprias pinturas, os teclados analógicos de Rick Wright, fotos alternativas de capas de discos e outras relíquias, como a bicicleta que Syd Barrett tinha aos nove anos de idade. A cada vitrine a exposição vai mostrando como o grupo superou a saída do líder, como a entrada de David Gilmour aos poucos foi mexendo no som da banda, abrindo espaço para viagens instrumentais que favoreciam a cozinha formada pelo baixista Roger Waters e o baterista Nick Mason.
A exposição muda de tom a partir do mítico Dark Side of the Moon, o disco de 1973 que eternizou a importância do grupo e os transformou em popstars de primeira grandeza. A parte da exposição dedicada ao disco inclui desde rascunhos da capa do disco a instrumentos pouco convencionais usados em sua gravação (como o chocalho de moedas tocado em “Money”) até um holograma em 3D com a capa do disco girando ao som de “The Great Gig in the Sky”. A parte seguinte à do disco mostra como o grupo se aventurava no estúdio e usa um recurso simples e genial para mostrar como o grupo produzia seus discos, a espalhar pequenas mesas de som onde é possível manipular os canais da música “Money” ouvindo os instrumentos separadamente.
A partir daí há uma parte inteira da exposição dedicadas a equipamentos e instrumentos musicais, mostrando peças que foram partes importantes tanto na criação dos discos quanto na divulgação em turnês.
A exposição retorna ao ritmo dos discos a partir de Wish You Were Here, de 1975, e também vai mostrando como o Pink Floyd foi crescendo para se tornar um dos maiores nomes do showbusiness. O uso de telão e de infláveis no show, novidades inventadas pela banda, aliam-se aos temas cada vez mais polêmicos e controversos do grupo, culminando com o épico egotrip The Wall, de 1979. Neste período o grupo alcance uma escala que o torna um dos maiores nomes da história do pop moderno até hoje.
Embora Roger Waters tenha desfeito o grupo no início dos anos 80 e David Gilmour, ao lado de Mason e Wright, tenham conseguido seguir com o nome do grupo, a discografia a partir dos anos 80 segue sendo detalhada mas, naturalmente, sem a importância das fases anteriores. A exposição termina com o disco The Endless River, de 2014, feito com sobras de gravações do disco The Division Bell, lançado duas décadas antes. E embora o fim seja melancólico – principalmente ao nos depararmos com a enorme loja de souvenirs do grupo e do museu -, a exposição é um sonho para todo fã do grupo. Ela fica em cartaz em Londres até o início de outubro (mais informações no site do museu) e seus organizadores tem a intenção de fazer que ela viaje pelo mundo. Vamos torcer para, que como a de David Bowie, ela também venha para o Brasil.
O episódio mais recente de Twin Peaks levou a série para perto de Júpiter, como nos lembram esses mashups que eu publiquei no meu blog no UOL.
Ainda estamos sentindo os primeiros tremores do espasmo sensorial que foi o oitavo episódio da terceira temporada de Twin Peaks – enquanto alguns tentam decifrar os códigos deixados nas entrelinhas e outros buscam o sentido metafísico em relação ao resto do seriado, muitos deixam-se levar pelo simples aspecto lúdico da exposição ao imaginário sombrio e transcendental de David Lynch e os primeiros filhotes já começam a surgir em forma de paródias, remixes e memes. Um dos melhores até agora é esse incrível mashup entre a deslumbrante cena da primeira bomba atômica ao som de “Echoes”, do Pink Floyd, na versão que o grupo tocou ao vivo em um teatro de arena nas ruínas da cidade de Pompéia, na Itália. Preciso dizer que há spoilers da série para quem não viu o episódio? Tudo bem, está dito:
Não é a primeira vez que “Echoes” se mistura a uma cena imediatamente clássica, deslumbrante e psicodélica. Os fãs do Pink Floyd devem reconhecer essa superposição genial entre a música que ocupa todo o lado B do disco Meddle e o terceiro ato do épico existencial de Stanley Kubrick, 2001 – Uma Odisséia no Espaço.
E é claro que iriam fazer o caminho de volta, recriando a cena do episódio histórico de Twin Peaks com a trilha sonora do clássico da ficção científica de Kubrick, “Réquiem para Soprano, Mezzo-Soprano, Dois Corais Mistos e Orquestra”, do compositor húngaro György Ligeti:
Já foi comentado o grau de parenteso entre as duas cenas e a trilha sonora utilizada por Lynch em sua cena original, a tensa “Threnody to The Victims of Hiroshima” do compositor polonês Krzysztof Penderecki já havia sido usada pelo próprio Kubrick em outro de seus clássicos, o filme de horror psicológico O Iluminado, de 1980. É uma composição de tirar o fôlego:
Ainda estou digerindo o episódio e devo escrever sobre seu significado em relação ao resto da série em breve.
A partir deste mês retomamos no Centro Cultural São Paulo a série Concertos de Discos, idealizada pela diretora original da discoteca pública que hoje batiza a instituição, a pesquisadora Oneyda Alvarenga, em que pesquisadores e especialistas dissecam discos clássicos em audições comentadas. Como estamos nas comemorações dos 50 anos do ano de 1967 (dentro do projeto Invenção 67), iniciamos os trabalhos com oito aulas sobre oito discos essenciais lançados naquele ano – das estréias do Pink Floyd, Doors, Velvet Underground e Jimi Hendrix, a discos cruciais nas carreiras de Tom Jobim, Roberto Carlos, Aretha Franklin e dos Beatles. O time de especialistas reunidos é da pesada e as audições acontecem na própria Discoteca Oneyda Alvarenga, no CCSP, durante as terças e quintas de junho, gratuitamente, a partir das 18h30. Veja a programação completa deste primeiro mês abaixo (mais informações aqui):
Concertos de Discos
de 6 a 29/6 – terças e quintas – 18h30
O Invenção 67 ressuscita os célebres Concertos de Discos, que a primeira diretora da Discoteca do Centro Cultural São Paulo, Oneyda Alvarenga, ministrou entre 1938 e 1958. Os Concertos de Discos voltam focados em música popular e realizados na própria Discoteca Oneyda Alvarenga, convidando o público a uma audição comentada. Programe-se: as audições são limitadas a 30 pessoas. Todos os concertos começam pontualmente às 18h30.60min – livre – Discoteca Oneyda Alvarenga
grátis – sem necessidade de retirada de ingressosSgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band
dia 6/6 – terça – 18h30
Pai e filho, Maurício Pereira (Os Mulheres Negras) e Tim Bernardes (O Terno) falam sobre o clássico dos Beatles: Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.The Piper at the Gates of Dawn
dia 8/6 – quinta – 18h30
O crítico e músico Alex Antunes (Akira S, Shiva Las Vegas) trata do disco de estreia do Pink Floyd, The Piper at the Gates of Dawn.Wave e Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim
dia 13/6 – terça – 18h30
O músico e historiador Cacá Machado analisa os álbuns Wave, de Tom Jobim, e Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, parceria com Sinatra e Jobim que marcou a inserção da bossa nova no contexto internacional.The Doors
dia 15/6 – quinta – 18h30
O jornalista Jotabê Medeiros mergulha no álbum de estreia da banda The Doors, que juntou de modo dramático jazz, blues, lisergia e poesia.I Never Loved a Man the Way I Love You
dia 20/6 – terça – 18h30
Especialista em hip hop, soul e funk, a jornalista Mayra Maldjian analisa I Never Loved a Man the Way I Love You, turning point na carreira de Aretha Franklin – e do rythmn’n’blues.Are You Experienced?
dia 22/6 – quinta – 18h30
Músico e jornalista, Rodrigo Carneiro (Mickey Junkies) surfa em Are You Experienced?, disco em que estreou a banda Experience, de certo guitarrista canhoto chamado Jimi Hendrix.Em Ritmo de Aventura
dia 27/6 – terça – 18h30
Guitarrista e vocalista da banda Autoramas, Gabriel Thomaz entra Em Ritmo de Aventura para falar do clássico de Roberto Carlos.The Velvet Underground & Nico
dia 29/6 – quinta – 18h30
O jornalista e editor da revista Bravo!, Guilherme Werneck, trata de The Velvet Underground & Nico, o disco que lançou a banda de Lou Reed – e também as bases do punk.