Em defesa de Arnaldo Baptista

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No fim do mês passado, Arnaldo Batpista encheu-se das alfinetadas que o irmão Sergio Dias vinha dando em entrevistas na internet e twittou o seguinte vídeo:

Como nem todo mundo tem o contexto da rusga fraterna que mancha o nome dos Mutantes, grupo que colocou os irmãos na história da música brasileira e do rock internacional, a jornalista Sonia Maia, que há anos trabalha com Arnaldo Baptista, me procurou para abrir espaço para ela contar a versão dos fatos sobre a saída de Arnaldo da volta dos Mutantes na primeira década do século e sobre como Sergio vem lhe provocando em entrevistas recentes:

Mais uma vez Sergio Dias usa a mídia e entrevistas para despotencializar Arnaldo Baptista, insinuando que Arnaldo é um artista sem vontade própria, e aproveita para, não apenas desrespeitar a parceira e companheira de Arnaldo, Lucinha Barbosa, como ofendê-la. Não é de agora que Sergio Dias vem optando por essa estratégia de marketing e destruição, seja em público, seja internamente. E hoje venho aqui, como gerenciadora, há mais de dez anos, junto com Arnaldo e Lucinha, de sua carreira. Mas, também, como amiga deles há mais de 30 anos, amiga de participar da vida cotidiana do casal desde 1989, quando fui entrevistá-lo para a antiga revista Bizz, da Editora Abril, da qual fui repórter e editora por quase cinco anos, desde seu lançamento em 1985. E, principalmente, neste momento específico, como testemunha do evento de 2006, quando Os Mutantes foram reunidos para um show no Barbican, em Londres, como parte de uma grande exposição sobre a Tropicália, e o que aconteceu em 2007, quando Arnaldo deu por finalizada suas participações nesses shows. Morei dez anos em Londres e eu estava lá nesses dois momentos.

Tanto Arnaldo, Lucinha e eu temos mantido distância desse passado. Todas as entrevistas que Arnaldo concede à mídia, e não são poucas, pedimos, antecipada e gentilmente, que o/a jornalista não aborde o passado e nem questões nevrálgicas envolvendo Sergio Dias e Rita Lee, porque nosso trabalho tem como foco Arnaldo Baptista pós-Mutantes, sua obra solo como multinstrumentista, compositor, escritor e artista visual. Essa rica e extensa biografia está disponível na aba “sobre”, na página oficial do Facebook de Arnaldo, assim como links para diversas de suas entrevistas e reportagens com e sobre Arnaldo nos últimos dez anos. Uma biografia e obras que Sergio Dias faz questão de ignorar e mesmo desprezar, como fez na Virada Cultural de São Paulo em 2012, quando Arnaldo Baptista, além de ser convidado a abrir a Virada com seu concerto solo no Theatro Municipal de São Paulo, foi homenageado pelos organizadores do evento, que imprimiram suas obras como artista plástico nos fundos dos palcos de toda a Virada. No palco no qual Os Mutantes de Sergio Dias tocariam, no dia do show, um pessoa conhecida, que estava no backstage, nos ligou informando: “O Sérgio Dias está tendo um ataque. Está obrigando a produção da Virada a colocar um pano preto sobre o fundo de palco impresso com uma obra de Arnaldo. Se não cobrirem, ele diz não fará o show”… Essa é apenas uma das dezenas de situações que jogam por terra a pose de bom mocinho de Sergio, quando diz: “o Arnaldo é muito bem vindo a hora que ele quiser voltar”.

O motivo de Arnaldo ter gravado um vídeo-resposta, publicado em suas mídias sociais no dia 29 de janeiro, por conta das mentiras e ofensas recentes de Sergio Dias em entrevistas, e de eu estar aqui escrevendo este depoimento, é porque simplesmente Arnaldo se cansou, nós nos cansamos: de sermos ofendidos, difamados e alvo de mentiras sem precedentes por parte não apenas de Sergio Dias, como também de Rita Lee, como quando ela usa o termo “retardado”, em uma de suas citações sobre Arnaldo na autobiografia da artista. Um termo extemamente pejorativo, não apenas para com Arnaldo, mas para com todos os excepcionais do mundo. E que parece passou batido pela banca que a contemplou com um prêmio de literatura pelo livro.

Importante reforçar, também, o verbo no feminino: Arnaldo é assessorado, diretamente, por duas mulheres, Lucinha e eu. Além de dezenas de colaboradores e voluntários, de todas as áreas da cultura – design, texto, tradução, músicos, artistas, jornalistas, fotógrafas e fotógrafos, curadores das artes plásticas, entre tantas e tantos outros, que vêm nos acompanhando e que tiveram a oportunidade de conviver e trabalhar com Arnaldo e Lucinha. Todas e todos nós somos testemunhas não apenas do carinho e amor que Arnaldo e Lucinha nos passam, como da participação ativa de Arnaldo em todas as decisões sobre sua carreira. Da sustentável leveza do ser que ambos são. Muitas, mas muitas vezes, quando temos uma decisão importante a tomar, ou quando surge um novo projeto, sempre consultamos e conversamos com Arnaldo, não apenas porque é óbvio consultá-lo, mas porque Arnaldo é muito, mas muito antenado, e nos dá nortes e ideias que jamais teríamos. Fora o fato de Arnaldo ser muito bom de ‘nãos’. Quantas vezes perguntamos: “Arnaldo, você gostaria de…” e ele: “Não!”. E nós: “mas Arnaldo, talvez seja legal ….” E ele: “não, obrigado”.

Feito esse preâmbulo, para colocar as coisas em perspectiva, pois tanto eu como Lucinha optamos por não aparecer – Arnaldo é sempre o foco, está sempre à frente de sua carreira. Vamos, então, aos fatos recentes.

Sergio Dias, por conta do lançamento de seu novo álbum, sempre sob o nome “Os Mutantes”, concedeu duas entrevistas até agora: a primeira para o canal Supernova, publicada em 22 jan 2020 no YouTube, quando o entrevistador, Eduardo Lemos, cita que “Arnaldo estava também na formação de 2006” para o show do Barbican… Interessante ter um olhar atento e ver que Lemos nem fez provocação alguma, apenas citou. Ao que Sergio respondeu: “o Arnaldo tinha voltado, mas … Arnaldo começou a crescer demais e algumas pessoas não gostaram disso, e tiraram ele no meio da turnê. Foi uma coisa absurda! … Ele começou a abrir as asas mesmo e a voltar, e as pessoas que tomam conta dele acho não ficaram contentes com essa independência e basicamente tiraram ele no meio da turnê, porque ela/eles têm a guarda dele, e eu não pude fazer nada e nem vou fazer nada porque, no fim das contas, quem vai sofrer é ele”. Em outra entrevista, a Gastão Moreira, publicada no dia 29 de janeiro no YouTube, no canal Kazagastão, Sergio retoma suas ofensas e inverdades: “a mulher dele é maluca! A Zélia saiu no meio da turnê, o que foi um absurdo isso, o Arnaldo também, mas isso dá pra entender, porque pelo menos a mulher dele é maluca…”.

Bem, vamos responder ponto a ponto. Primeiro, sobre “o Arnaldo ter começado a crescer”… Embora Sergio Dias, enquanto Arnaldo aceitou participar desses shows, nunca tenha chamado Arnaldo à frente do microfone, com raríssimas exceções, nem na interpretação de “Balada do Louco”, algo que me deixou particularmente chateada no show do Barbican em 2006, Arnaldo sempre foi reconhecido com a grandeza que lhe cabe: não foram uma, nem duas, nem três vezes, como aconteceu em Belo Horizonte e em Nova York, quando a plateia bateu os pés no chão para dar ritmo ao grito “Arnaldo! Arnaldo! Arnaldo!”. Quem não deixava Arnaldo aparecer era o Sergio Dias. Arnaldo, por exemplo, levou o baixo para os ensaios, mas o Sergio não permitiu que ele tocasse. Foi muito grosseiro, não deu a menor atenção ao baixo de Arnaldo, muito menos para ele tocar. Isso deixou o Arnaldo muito magoado.

Outro ponto, quando Sergio diz: “Arnaldo foi tirado da turnê por ela/eles que cuidam dele e têm a guarda dele”. Essa referência é de 2007 e como o próprio Sergio conta, não foi apenas Arnaldo que saiu ‘no meio’ da turnê e mesmo depois. Lembro que o show em Londres de 2007 terminou perto da meia noite. Depois disso, todos teriam que embarcar, imediatamente, em um ônibus para outros shows na Grã Bretanha, tendo que dormir no ônibus, uma agenda insana, sem descanso mínimo, que já vinha se repetindo há algum tempo e sendo alvo de reclamações não só de Arnaldo e Lucinha. Fora isso, durante todos os shows que surgiram pós Barbican, e até esse episódio final em 2007, todos foram marcados pela total falta de apoio de produção, mínimo que fosse, para Arnaldo e Lucinha – eles tinham que carregar suas próprias malas e até instrumentos, encontrar seus próprios restaurantes e viver apenas das verbas de alimentação. Não receberam cachês da turnê da europa em 2007. Por isso, Arnaldo diz no seu vídeo-resposta: “cansei de ser explorado, por isso saí”. E no dia em que Arnaldo e Lucinha resolveram não seguir mais em turnê, justamente neste dia em que teriam que dormir no ônibus, no dia em que chegaram ao limite da paciência e saúde, era também o último dia de hotel em Londres. E ambos foram jogados à própria sorte, na rua, literalmente. Apesar dos pedidos incansáveis para que adiantassem o vôo de ambos de volta para o Brasil, o empresário se recusou a fazer esse arranjo e fui eu quem os acolheu na minha casa em Londres, até que a banda e Sergio voltassem para pegarem o voo programado de volta ao Brasil. E foi neste momento que nos contaram, à mim e meu ex-marido, os detalhes sórdidos da turnê.

Tudo poderia ser diferente. A verdade é que o Barbican procurou Arnaldo Baptista para fazer uma partipação no evento-exposição Tropicália. Conseguiram o contato de Aluizer Malab em um dos créditos do álbum Let It Bed, solo de Arnaldo de 2004, e que foi considerado um dos melhores lançamentos do ano pela revista inglesas Mojo. Ou seja, Arnaldo não estava ‘voltando’ em 2006 com os Mutantes. Foi Aluizer que resolveu, a partir desse convite pessoal do Barbican ao Arnaldo, reunir os Mutantes para uma apresentação. Depois apareceram outros convites para shows nos EUA e Europa, dos quais Arnaldo aceitou participar. Arnaldo nunca assumiu uma volta aos Mutantes, ele simplesmente aceitou fazer alguns shows. Como mostra o lançamento de Let it Bed, Arnaldo estava ativíssimo em sua carreira solo, como sempre esteve, apesar de em alguns momentos longe dos holofotes.

Não temos noção do porquê de Sergio Dias precisar difamar Arnaldo e Lucinha para crescer na foto. Até agora, em nenhum momento, Arnaldo demandou royalties pelo uso do nome Os Mutantes, que lhe pertence também. Nunca foi à público ou a juízo impedir que Sergio fizesse o que bem entendesse com esse nome, tão relevante para a música brasileira. O que desejamos, como diz Arnaldo em seu vídeo-resposta, com gestos singelos e humorados, que é sua marca registrada: que Sergio Dias encontre um lugar ao sol sem ter que recorrer a esses subterfúgios maldosos e mentirosos. Como diz Arnaldo: “que ele consiga sobreviver sem ficar se encostando na minha sombra e na de Os Mutantes original”. E que tanto ele como Rita Lee aprendam que Lucinha Barbosa tem nome e posição: companheira e parceira de Arnaldo, e não apenas uma “cuidadora” ou “fã”, sem nome, sem identidade, como cruelmente insistem.

Esperamos que estas sejam as últimas vezes que Sergio Dias vá à público difamar Arnaldo e sua companheira de quase 40 anos. Do contrário, como diz Arnaldo, ele terá que se entender com a Justiça. Tudo tem um limite nesta vida! A gente vive na Paz, é a tônica, o astral, compartilhados cotidianamente nas mídias sociais de Arnaldo. Até que Sergio Dias, ou outro e outra qualquer, bata à porta com seus venenos e sombras tão mal trabalhadas. Não mais!

Mutantes faixa a faixa

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“Já tinha escutado músicas dos Mutantes na infância e adolescência, mas conheci mesmo a banda em 1999, através da coletânea do David Byrne The Best of Os Mutantes, que tinha como subtítulo Everything Is Possible!”, lembra Chris Fuscaldo, que sofreu o impacto do grupo paulistano ao mesmo tempo em que este ganhava ares de lenda muito maiores do que os que poderia imaginar em seu tempo. Ela logo completou a coleção de discos e escreveu sua monografia de conclusão de curso sobre o grupo, entrevistando integrantes originais da banda no início do século para fazer seu TCC. O grupo é alvo do segundo livro sobre música da jornalista, Discografia Mutante, que será lançado neste sábado na Baratos Afins, em São Paulo (mais informações aqui), e na próxima sexta no Sebo Baratos, no Rio (mais informações aqui). O livro usa o formato de dissecção da discografia do grupo, utilizando-a como fio condutor para contar a história do passar dos anos da banda e já havia sido testado no primeiro livro sobre música de Chris, Discobiografia Legionária, sobre o Legião Urbana.

Os dois projetos nem eram as principais iniciativas de Chris – imersa há dez anos no trabalho de uma biografia de Zé Ramalho e que já iniciou uma segunda, sobre Belchior – e surgiram de possibilidades de trabalho que apareceram em sua vida. Começou a falar sobre Legião a convite da gravadora EMI e teve o insight de falar sobre os Mutantes pelo cinquentenário de sua discografia neste ano. As duas discobiografias se diferem também pelo formato: a primeira saiu pela editora LeYa e a segunda pela própria editora de Chris, que financiou o projeto via crowdfunding. Bati um papo com ela sobre a realização deste novo livro, que pode ser comprado em seu site.

ChrisFuscaldo

Como foi a realização do seu primeiro Discobiografias?
Minha primeira “discobiografia” foi a Discobiografia Legionária, em que conto as histórias dos álbuns da Legião Urbana. Em 2008, eu fui convidada pela gravadora EMI Music para preparar textos que seriam encartados na reedição em vinil dos 8 discos de carreira da Legião Urbana que seriam lançados em 2010. Para mim, o projeto pararia por aí, até porque, em 2010 meu projeto era mergulhar nas pesquisas para a biografia de Zé Ramalho. Mas, com as entrevistas que fiz, percebi a riqueza do material e, ao receber diversos e-mails de fãs, vários reclamando do difícil acesso aos discos, que saíram com um preço muito alto, achei que a história que estava contando nos encartes renderiam um livro. Em 2016, após assinar com a editora LeYa, fiz nova pesquisa e muitas outras entrevistas para falar também dos discos ao vivo, das coletâneas e dos projetos solo de Renato Russo. Minha ideia era colocar no livro a biografia de toda a obra da Legião Urbana enquanto os três estavam vivos e juntos, tudo isso como se estivesse dentro do estúdio com a banda.

Os Mutantes foram uma escolha óbvia para continuar o projeto?
Em fevereiro deste ano eu tive um insight durante uma viagem pela Califórnia, onde estava respirando paz, amor e psicodelia: “Em 2018 o primeiro disco dos Mutantes completa 50 anos!”, pensei ao acordar no meio de uma madrugada. Aí, lembrei que minha monografia da faculdade, sobre as capas dos discos da banda, estava guardada desde 2002 e que eu tinha ótimas entrevistas com eles da época e feitas depois, durante meus anos trabalhando como jornalista de música para diversos jornais, revistas e sites. Achei que seria impossível lançar ainda este ano se tivesse que começar a buscar uma editora e lembrei do quão bem sucedido foi o projeto do Bento Araujo, que lançou o livro Lindo Sonho Delirante através de financiamento coletivo. Pedi umas dicas a ele e joguei a campanha no ar em março, assim que voltei para o Rio. Para mim, Mutantes é sempre uma escolha óbvia, mas fiquei impressionada como ninguém tinha tido essa ideia justamente no ano em que a banda – que tem outra formação, mas ainda é liderada por Sérgio Dias – veio ao Brasil para shows e foi super celebrada pelos fãs.

O que você descobriu pesquisando o livro que mais te impressionou?
Eu tinha medo de não descobrir nada pelo fato de já existir uma biografia dos Mutantes que considero super boa, a do Carlos Calado, A Divina Comédia dos Mutantes. No entanto, ele lançou aquele livro em 1995, então, muita água rolou depois disso. Por exemplo, a história do álbum Tecnicolor é contada pela primeira vez neste meu Discobiografia Mutante. Também resolvi incluir os álbuns lançados após o retorno da banda, em 2006, para um show no Barbican Theatre, em Londres. E, claro, descobri coisas de dentro do estúdio que não estavam no livro do Calado porque assumi esse viés que detalha melhor o que aconteceu durante as gravações do que na vida pessoal de cada um. Óbvio que é impossível deixar as relações entre eles de lado, mas eu tive muito interesse em abordar equipamentos, sonoridades, trajetória nos palcos etc.

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Que registro inesperado que você encontrou?
Eu adorei saber, por exemplo, que já em 1969, nos palcos, os Mutantes tinham uma potência mais de 10 vezes maior do que a de Roberto Carlos devido ao equipamento em que tocavam, produzido por Cláudio César, o irmão mais velho de Arnaldo e Sérgio. E que, na época do disco Tudo Foi Feito pelo Sol, o PA da banda pesava mais de 200 quilos, o que inclusive tornava alguns shows inviáveis.

Você lançou um livro por uma editora e outro via crowdfunding. Qual sua experiência neste processo? Pretende repetir o crowdfunding?
Gostei da experiência de fazer o crowdfunding. Fui a responsável por todas as etapas do processo e isso me ensinou muito. Acabei lançando minha própria editora, a Garota FM Books, pois na hora de fechar o livro, descobri que eu mesma teria que gerar o código ISBN. Também já estudei como farei a conversão do livro para E-book. E editei a mim mesma, pois escrevi, coordenei as revisões e traduções e ainda administrei a diagramação junto ao Leonardo Miranda, que fez um trabalho lindo, mas sempre muito atento ao que eu queria. Eu repetiria o processo, mas agora preciso me dedicar aos dois livros que já estavam prometidos a uma editora antes de eu dar esse mergulho no mundo dos Mutantes entre março e agora.

Qual o próximo livro?
Estou escrevendo uma biografia de Zé Ramalho há anos, mas parei de prometer que ele está “prestes a sair” desde que percebi que este é um trabalho bem mais difícil do que os outros que fiz até agora. Já faz mais de 10 anos tudo começou. É uma pesquisa mais difícil, mais cara, com distâncias mais longas para percorrer, com entrevistas com personagens mais complexos. É um dos projetos que mais me deu prazer na vida, pois amo o universo nordestino no qual a história se inicia e acho extremamente necessário falarmos sobre ele. Por causa dele, fiz um mestrado e engatei em um doutorado, que está em curso. Por causa dele, iniciei também uma pesquisa para um livro sobre Belchior, que é este segundo que está em andamento, mas sobre o qual ainda não consigo falar muito. E, bom, tenho uma tese para escrever até o fim de 2019. Então, acho que tô cheia de coisa para fazer, né?

O livro é bilíngue e o formato é parecido com o Lindo Sonho Delirante do Bento Araújo. Foi uma referência para este livro?
O Lindo Sonho Delirante foi uma super inspiração! Fiquei encantada quando conheci o livro do Bento e ele me deu várias dicas para que minha campanha fosse bem-sucedida. Interessante que nos conhecemos justamente porque ele estava de olho no meu Discobiografia Legionária e eu, no LSD dele. Nos encontramos para trocar livros sobre discos. Acho que a diferença entre o trabalho dele e o meu é que ele faz resenhas e eu emendo narrações.

Como anda o jornalismo cultural e especificamente de música no Brasil hoje? Como você se informa?
Todos os dias, eu fico de olho no Facebook para ver o que meus amigos, parceiros ou pessoas que eu sigo do mundo da música compartilharam. E sigo as páginas dos blogs, jornais e revistas via esta rede social. Fora isso, leio revistas, sendo que a Rolling Stone acabou de me privar da única leitura de música que eu fazia nesse formato; agora só me restaram as revistas femininas, que sempre gostei de acompanhar. E tenho uma assinatura de um jornal somente aos domingos; durante a semana, fico de olho no caderno cultural dele e no de um outro de São Paulo que acho que tem mais meu perfil. A verdade é que minha vida tem me levado a viver mais do passado do que do presente. Ando lendo muito mais livros.

Vida Fodona #565: Essa é a vibe

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Mantendo a frequência…

Juliana R. – “El Hueco”
Thurston Moore – “See-Through PlayMate”
Ava Rocha – “Continente”
Elliot Smith – “Let’s Get Lost”
Bonifrate – “Rã”
Mutantes – “El Justiciero”
Lô Borges – “Faça Seu Jogo”
Rolling Stones – “Memo From Turner”
Javiera Mena – “Luz De Piedra De Luna”
Glue Trip – “La Edad Del Futuro”
Paul McCartney – “The Back Seat Of My Car”
Pavement – “Grounded”
Cure – “Lullaby”
Sebadoh – “2 Years, 2 Days”
João Leão – “Unwritable”
Lulina – “Argumentos”
Marcelo Cabral – “Ela Riu”
Legião Urbana – “Central do Brasil”

O’Seis: A pré-história dos Mutantes em vinil

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Pedra fundamental na história do rock brasileiro, o compacto de estreia do sexteto paulistano O’Seis finalmente ressurge em vinil, como cortesia da gravadora inglesa Mr. Bongo, que já reeditou vários clássicos de nossa música em LPs (o disco de estreia do Verocai, o Krishnanda de Pedro Santos, o Brazilian Octopus e a lista segue…). O’Seis era o embrião do mágico trio que funcionou como motor elétrico da Tropicália e explorou os limites do então jovem rock brasileiro – os Mutantes de Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Rita Lee. Os outros três – Raphael Vilardi, Maria “Mogguy” Malheiros e Luiz Pastura – fizeram parte apenas desta formação pré-histórica (embora Raphael seja coautor de um clássico dos Mutantes, “Não Vá Se Perder Por Aí”).

Composto por duas faixas “Suicida” no lado A e “Apocalipse” no lado B, o compacto é bem mais melancólico do que se espera de um registro dos Mutantes e pode ser comprado no site da gravadora. Vi no site da Noize.

Cabeça Aberta: Velvet, Kubrick, Mutantes e Alan Moore

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A partir do mês de junho, começo a ministrar a série de cursos Cabeça Aberta, que idealizei para falar sobre obras revolucionárias na Unibes Cultural, em São Paulo. O subtítulo do curso – Discos, filmes e livros que criaram o mundo de hoje – explicita melhor o viés utilizado para escolher as obras a serem analisadas, que nesta primeira edição resumem-se em quatro: o disco de estreia do grupo Velvet Underground, The Velvet Underground & Nico, o famoso disco da banana, é o tema da primeira aula, dia 2; seguido do clássico de Stanley Kubrick, 2001 – Uma Odisseia no Espaço, tema da segunda aula, dia 9; depois temos o terceiro disco dos Mutantes, A Divina Comedia ou Ando Meio Desligado, no dia 23; e encerramos no dia 30, com a obra-prima de Alan Moore, a série em quadrinhos Watchmen. São aulas que evidenciam o potencial revolucionário destas quatro obras e dissecam suas origens, influências e impacto cultural para mostrar que a cultura tem o poder transformador de capturar ansiedades e expectativas de diferentes épocas e transformá-las radicalmente com um disco, um filme ou uma história em quadrinhos. Os cursos acontecem sempre aos sábados, na Unibes Cultural (Rua Oscar Freire, 2.500, ao lado da estação Sumaré do Metrô, telefone: 11 3065- 4333), das 14h às 17h, e podem ser feitos separadamente, embora quem fizer os quatro contará com um desconto (mais informações aqui).

Arnaldo Baptista reunido numa pessoa só

Foto: Fabio Heizenreder

Foto: Fabio Heizenreder

Patrimônio vivo da música brasileira e um dos maiores nomes de nossa psicodelia, Arnaldo Baptista é reverenciado esta semana em São Paulo, em uma série de apresentações suas na Caixa Cultural de São Paulo que começam nesta quinta-feira e vão até sábado, culminando com um show no domingo em homenagem à sua obra (mais informações aqui). As primeiras apresentações fazem parte da série Sarau O Benedito em que o próprio Arnaldo, sozinho ao piano, lembra de músicas de seu repertório e clássicos de sua formação, com músicas de Bob Dylan, Animals, Beatles e peças de música erudita que lhe vierem à cabeça. No domingo, o baixista da banda Cachorro Grande, Rodolfo Krieger, reúne vários nomes para celebrar a música de Arnaldo, como Lulina (que cantará “Tacape”), China (que cantará “Ciborg”), Helio Flanders (que cantará “I Fell in Love One Day”), o próprio Rodolfo (que cantará “Sunshine”) e Karina Buhr, que gravou com exclusividade para o Trabalho Sujo as duas músicas que tocará no show, “Sentado à Beira da Estrada” e “Trem”, no Studio 8, onde também entrevistei o próprio Arnaldo.

A conversa com Arnaldo foi curta, mas animada, e falamos sobre diferentes temas – dos cinquenta anos da Tropicália à sua rotina no interior de Minas Gerais, além dos shows desta semana e discos favoritos. Ele lembrou de Gilberto Gil, Rogério Duprat, dos próprios Mutantes, mas prefere pensar no aqui-agora e revelou a quanta andas seu novo álbum, Esphera.

Como você mexe no repertório do Sarau o Benedito?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/arnaldo-baptista-2018-como-voce-mexe-no-repertorio-do-sarau-o-benedito

Você aceita pedidos do público?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/arnaldo-baptista-2018-voce-aceita-pedidos-do-publico

Quais são seus discos favoritos?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/arnaldo-baptista-2018-quais-sao-seus-discos-favoritos

Você escuta seus próprios discos?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/arnaldo-baptista-2018-voce-escuta-seus-proprios-discos

Qual seu disco favorito dos Beatles?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/arnaldo-baptista-2018-qual-seu-disco-favorito-dos-beatles

Como é sua rotina atualmente?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/arnaldo-baptista-2018-como-e-sua-rotina-atualmente

Você continua compondo?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/arnaldo-baptista-2018-voce-continua-compondo

Como você vê a Tropicália, da qual você fez parte, 50 anos depois?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/arnaldo-baptista-2018-como-voce-ve-a-tropicalia-da-qual-voce-fez-parte-50-anos-depois

Foi Duprat quem apresentou os Mutantes ao Gilberto Gil?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/arnaldo-baptista-2018-foi-duprat-quem-apresentou-os-mutantes-ao-gilberto-gil

Você lembra deste primeiro encontro com o Gil?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/arnaldo-baptista-2018-voce-lembra-deste-primeiro-encontro-com-o-gil

Você tem lembranças dos momentos importantes dos Mutantes?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/arnaldo-baptista-2018-voce-tem-lembrancas-dos-momentos-importantes-dos-mutantes

Qual sua expectativa sobre esses próximos shows Sarau O Benedito?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/arnaldo-baptista-2018-qual-sua-expectativa-sobre-esses-proximos-shows-sarau-o-benedito

Considerações finais…?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/arnaldo-baptista-2018-consideracoes-finais

“Vai caminhante!”

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Sensacional essa apresentação dos Mutantes cantando “Caminhante Noturno” apenas como um trio, em 1969, no Teatro Villaret, em Lisboa, em Portugal.

A clássica fase progressiva dos Mutantes de volta ao vinil

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Depois de lançar a caixa contendo todos os discos com a formação original dos Mutantes e da primeira versão em vinil para o clássico perdido O A e o Z, a Polysom fecha a discografia da primeira encarnação da clássica banda brasileira ao relançar os dois discos que a banda lançou depois da saída de Arnaldo Baptista, quando seu irmão Sergio Dias assumiu a liderança do grupo, tornando-o inevitavelmente progressivo, mas com fortes camadas de psicodelia. Tudo Foi Feito pelo Sol, lançado em 1974, tinha uma formação que, além de Sergio nas guitarras, violão, cítara e voz, ainda tinha Túlio Mourão (que vinha da banda Veludo Elétrico, nos teclados e vocais), Antonio Pedro de Medeiro (baixo e vocais) e Rui Mota (bateria, percussão e vocais) na formação. Foi o disco mais vendido da história da banda, chegando a 30 mil discos vendidos na época.

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Já o posterior Ao Vivo registra um show que o grupo fez no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com produção de Pena Schmidt. A formação da banda à época contava com Sergio e Túlio do disco anterior, além de Luciano Alves, nos teclados e vocais, e Paulo de Castro:, no baixo, violino e vocais. Os dois discos nunca haviam sido relançados em vinil desde os anos 70 e, assim, toda discografia da primeira versão do grupo está de volta às lojas como foram lançados originalmente.

Vida Fodona #526: Good vibes para o outono

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O calorão passou, o frio insuportável se foi e esse frio com sol é bom para emanar boas vibrações.

O A e o Z, dos Mutantes, finalmente será lançado em vinil

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E mais uma novidade sobre os Mutantes à vista: depois de lançar a caixa com toda a obra dos Mutantes ainda com Rita Lee, a parceria da Polysom e a Universal dão a luz pela primeira vez à versão em vinil do esquecido O A e o Z. O disco, de 1973, foi gravado após a saída de Rita Lee do grupo e é um mergulho de cabeça na onda progressiva para onde o grupo já estava se inclinando no último disco com Rita, o País dos Bauretz. Ele conta apenas com seis músicas, todas gigantescas, cheias de solos instrumentais e letras metidas a séria, longe do bom humor característico do grupo. Contudo, não foi lançado quando foi gravado e era referido como um disco perdido da banda, até que a discografia dos Mutantes foi relançada em CD em 1992, o que fez o disco finalmente vir à tona. A capa e o encarte é desta época e foram compostos com desenhos de Arnaldo Baptista feitos entre 1986 e 1992. Mas a principal diferença neste relançamento é a ordem das músicas – no CD original a disposição das faixas era a seguinte: “‘A’ e o ‘Z'”, “Rolling Stones”, “Você Sabe”, “Hey Joe”, “Uma Pessoa Só” e “Ainda Vou Transar com Você”, diferente da do vinil, que ficou “‘A’ e o ‘Z'”, “Uma Pessoa Só” e “Ainda Vou Transar com Você” no lado A e “Rolling Stone” (sem o “s” da versão original), “Você Sabe” e “Hey Joe” no lado B. É um bom disco de rock progressivo, embora seja um disco fraco à luz dos clássicos da banda. Chega às lojas dia 27 deste mês.

Agora só faltam ressurgirem os dois últimos discos da banda em sua fase totalmente prog, com apenas Sergio Dias da formação original: Tudo Foi Feito Pelo Sol (1974) e Ao Vivo (1976). E, claro, abrir de verdade o baú do grupo, resgatando faixas que nunca viram a luz do dia. Porque o que tem de coisa inédita por aí…