Uma obra aberta e fechada – pela última vez no palco?

Terceira vez que pude ver ao vivo o sensacional Erosão, primeiro trabalho solo da baterista Mariá Portugal, que ela gravou antes da pandemia mas que só conseguiu apresentá-lo nos palcos depois que atravessamos aquele pesadelo. Neste meio tempo, ela mudou-se para a Alemanha, o que tornou suas apresentações ainda mais esporádicas por aqui. E ela mesma já avisou que a sessão que puxou na Casa de Francisca nesta quarta-feira talvez seja a última vez que ela executa esse trabalho ao vivo por aqui. E que despedida! Numa formação bem mais enxuta daquela que ela reuniu no primeiro show, no Sesc Pompeia, em outubro de 2022, quando contou com nove músicos no palco, mas igualmente inusitada – e excelente. Ela regeu a apresentação a partir de seu instrumento, dividindo os vocais com o camarada Tó Brandileone, que cantavam sobre um instrumental em que três sopros (Maria Beraldo, Rômulo Alexis e Marina Bastos) e dois contrabaixos acústicos (mais uma vez Arthur Decloedt e Marcelo Cabral) conversavam entre si – em horas plácidos e corteses, em outras empolgados e endiabrados e a apresentação seguiu o mesmo fluxo único em que canções transformam-se em improvisos, solos e encontros instrumentais, que funcionam como pontes que intercalam um tema ao próximo. Uma obra aberta e fechada ao mesmo tempo, em que Mariá nos provoca a pensar nossa relação com o tempo e o espaço, mesmo sem fazer isso de forma racional. E aí está a magia desta apresentação, que é ao mesmo tempo densa e leve – e nesta terceira vez ela estava irrepreensível. O que me faz acreditar que ela voltará a ser visitada nos palcos sim (foi mal, Mariá…), só que talvez não tão em breve… Inclusive tomara.

#mariaportugal #casadefrancisca #trabalhosujo2024shows 8

Assista abaixo:  

O princípio de Erosão

E como não se pode ganhar todas, pelo menos vi o comecinho de uma das duas apresentações que Mariá Portugal está fazendo no Sesc Avenida Paulista. Em vez da big band que reuniu para o lançamento de seu ótimo disco solo Erosão, desta vez a baterista formou um sexteto da pesada: Joana Queiroz (clarinete e clarone), Rômulo Alexis (trompete), Alex Dias (contrabaixo acústico), Allan Abbadia (trombone) e Thiago França (saxofone). Só consegui assistir ao primeiro ato, “Cheio/Vazio”, em que marca o tempo para entradas de sessões de improviso enquanto canta “passeio pelos aposentos, vejo os vestígios e quase escuto sua música tão particular que ainda parece reverberar e me divirto”. Ainda tem outra apresentação dela neste domingo, às 17h30.

Assista aqui:  

“Quem sabe ainda sou uma sapatinha…”

Foi assim, desvirtuando de leve (ma non troppo, porque tá tudo ali), que Maria Beraldo, Josyara e Mariá Portugal (que entrou como convidada-surpresa) celebraram o amor sapatão ao desfilar o repertório de Cássia Eller à base de guitarra (e por vezes clarone), violão e cajón (que Mariá trouxe à tona de duas décadas sem tocá-lo, pronta para ressuscitar o instrumento de percussão no cenário pop brasileiro). A segunda apresentação da temporada Manguezal de Maria Beraldo no Centro da Terra foi intimista e acolhedor ao mesmo tempo que apaixonado e bem humorado, fazendo as três passear por composições de Nando Reis, Renato Russo, Ataulfo Alves, Gilberto Gil, Luiz Capucho, Djavan, Caetano Veloso, Itamar Assumpção (que Beraldo misturou com a base de sua “Da Menor Importância”), João do Vale e Tião Carvalho sempre muito à vontade, brindando taças de vinhos, pedindo para o público (que lotou a casa) cantar junto, numa noite mágica e apaixonante. Bonito demais.

Assista aqui:  

Só as duas

Maria Beraldo começou bem sua temporada Manguezal no Centro da Terra ao apostar num encontro que estava mais à vontade – ao receber a comadre Mariá Portugal, com quem toca no Quartabê e já fizeram tantas coisas juntas, ela sabia que estaria mais tranquila mesmo que para correr riscos. E atravessou quase uma hora de espetáculo alternando entre clarone, clarinete e guitarra elétrica sentada de frente à amiga, em sua bateria, trabalhando diferentes instrumentos de percussão – e vocais. As duas engalfinharam suas vozes entre gritos e sussurros que passearam entre suas próprias canções (como quando misturaram “Petróleo” de Portugal com “Tenso” de Beraldo) e algumas alheias, como “Vaca Profana” eternizada por Gal Costa e uma conveniente e radicalmente desconstruída “Como Nossos Pais”, de Belchior. Uma noite de tirar o fòlego.

Assista aqui:  

Maria Beraldo: Manguezal

Prazer enorme receber Maria Beraldo para sua temporada no Centro da Terra, que toma conta do palco do teatro do Sumaré a partir desta segunda-feira até o final de julho. Em Manguezal ela recebe chapas e comparsas em fusões de diferentes ecossistemas – daí o título da temporada, esta vegetação que funciona como palco para o encontro de águas, floras e faunas, que ela se refere como berçário do mar. A cada nova segunda ela recebe diferentes convidados para aproveitar o momento de transição entre seu disco de estreia e o próximo álbum, que vem burilando há tempos. Ela começa convidando a irmã Mariá Portugal para uma noite de improviso nessa primeira apresentação, dia 10, e na semana seguinte recebe a maravilhosa Josyara para um tributo a Cássia Eller, no dia 17. Depois, dia 24, ela envereda pelo pagode ao lado do compadre Rodrigo Campos e encerra a temporada no dia 31, reunindo os chapas Marcelo Cabral e Lello Bezerra para mostrar algumas canções inéditas. As apresentações acontecem sempre às 20h e os ingressos podem ser comprados antecipadamente neste link.

A música brasileira de 2021 é mulher

Outra matéria que faço para a CNN Brasil, desta vez destacando dez artistas mulheres que fizeram a cabeça do Brasil em 2021, com Marina Sena, Juçara Marçal, Jadsa, Linn da Quebrada, Duda Beat, Badsista, Tasha & Tracie, Mariá Portugal, Bebé Salvego e In Venus.  

Os 50 melhores discos de 2021, segundo a APCA

É sempre assim: dezembro chega e com ele as listas de melhores do ano, mas a lista com os melhores de 2021, feita pelo júri de música popular da Associação Paulista de Críticas de Arte (APCA, da qual faço parte ao lado da Adriana de Barros, José Norberto Flesch Marcelo Costa, Pedro Antunes e Roberta Martinelli) só será revelada no início de 2022. Por enquanto, antecipamos os 50 indicados à categoria Melhor Disco, mostrando como, mesmo com todas adversidades do caminho, foi intensa a produção de música neste ano que chega ao fim. Confira os indicados a seguir.  

Tudo Tanto #109: Mariá Portugal

Em mais uma edição do meu programa sobre música brasileira, converso com a querida Mariá Portugal, que além de já ter tocado com nomes tão diferentes quanto Arrigo Barnabé, Pato Fu e Metá Metá também tem sua carreira com o ótimo grupo de jazz brasileiro Quartabê. Na Alemanha desde antes do início da pandemia, ela aproveitou o período de resguardo para finalizar seu primeiro disco solo, Erosão, gravado desde 2019, que finalmente verá a luz neste 2021.

Assista aqui.  

Marcelo Cabral: Influxo Cabralha

marcelo-cabral-centro-da-terra

Quando Marcelo Cabral avisou que estava voltando da Alemanha para passar um tempo de volta no Brasil, cogitamos rapidammente uma temporada ao redor do universo musical do baixista e de sua recente experiência artística na Alemanha. Próximo à cena de improviso livre de Berlim, Cabral foi descobrindo um método de criação artística que permite fluir por outras linguagens, incluindo literatura, teatro e spoken word e entender como isso influencia diretamente o resultado musical. E assim ele pensou em Influxo Cabralha, uma reunião de amigos e magos da música instrumental que atravessa quatro segundas-feiras de abril no Centro da Terra. Na primeira, dia 8, ele toca ao lado de Mauricio Takara, Thomas Rohrer e Mariá Portugal. No dia 15 ele chama Guilherme Held, Thiago França, Juliana Perdigão e Angélica Freitas. Dia 22 é dia de Kiko Dinucci, Rodrigo Brandão e Juçara Marçal. E a temporada termina no dia 29, com as participações de Thomas Harres, Bella, Patrícia Bergantin, Maria Beraldo e Ná Ozzetti (mais informações aqui). Bati um papo com o Cabral sobre esta safra de shows e a influência de sua estada na Alemanha neste novo projeto.

Metá Metá no Centro Cultural São Paulo

metameta-ccsp-2018

O trio Metá Metá – formado por Thiago França, Kiko Dinucci e Juçara Marçal – despede-se de 2018 nesta quinta, a partir das 21h, e conta com Marcelo Cabral no baixo e Mariá Portugal na bateria – corre que os ingressos estão acabando (mais informações aqui).