Impressão digital #124: 30 anos de emoticon

Na minha coluna da edição desta semana do Link, falei sobre os 30 anos do emoticon.

As três décadas dos emoticons mudaram nossa linguagem
Fazer a carinha dá a entonação do texto

Faltavam 16 minutos para o meio-dia no dia 19 de setembro de 1982 quando uma mensagem foi enviada aos assinantes de uma lista de discussão online da Universidade Carnegie Melon, nos Estados Unidos. No recado, o professor Scott Fahlman sugeria uma forma de evitar atritos entre os integrantes do fórum: “Proponho a seguinte sequência de caracteres para assinalar piadas : ) Leia-a de lado”. E assim o emoticon – um dos pilares da nossa comunicação online – foi inventado.

A hipérbole anterior é exagerada de propósito (é uma hipérbole, afinal). É para chamar atenção à importância deste tipo de comunicação escrita que há 30 anos começou a ser assimilada por nosso inconsciente – muito antes de existirem sites, blogs, programas de comunicação instantânea, mensagens de texto via celular ou perfis em redes sociais. Vistos de fora, os emoticons parecem meras notas de rodapé na história, mas os ícones feitos de sinais de pontuação presentes em qualquer teclado facilitaram muito a comunicação na internet, um ambiente que, apesar da ascensão do áudio e do vídeo, ainda é essencialmente escrito.

Claro que nem chefes de Estado, nem CEOs de empresas ou romancistas têm de usar carinhas sorridentes ou tristes feitas a partir de dois pontos e um dos parênteses. Emoticons facilitam a comunicação por escrito que, sem voz, fica desprovida de entonação, perdendo a sutileza da fala. Frases por escrito são lidas com a voz de seu autor, mas com a entonação que o leitor imaginar. Uma mesma frase pode ser entendida em tom de deboche ou respeito, de desculpas ou troça, de entusiasmo ou monotonia. Sem falar da ironia, que talvez seja a nuance que mais se perde no texto.

É quando entram os emoticons. Um sorrisinho no final da frase indica uma fala mais mansa e tranquila do interlocutor. A linguinha para fora – dois pontos com a letra “p” maiúscula – torna um pedido menos exigente ou enfatiza a infâmia de uma tentativa de humor.

Acontece que, à medida que a internet evoluiu, a interface gráfica também melhorou. E o principal salto veio no início dos anos 90, com a criação e subsequente popularização da World Wide Web. Antes, era possível usar apenas um tipo de fonte, de um só tamanho e em uma cor para escrever nos PCs. As modificações no formato de texto atingiram também os emoticons. Quando chegaram ao Japão, nos anos 90, passaram por uma modificação brutal até que surgiu outra categoria: os emojis.

Contração das palavras “e” (imagem) e “moji” (letra), o emoji não usa apenas elementos do teclado para ilustrar as frases, mas uma série de desenhos de 12 x 12 pixels – o tamanho médio de uma letra no computador. Emojis, portanto, são pequenas imagens feitas para entrar no meio da frase, que começaram como ilustrações dos primeiros emoticons (o sorriso virava uma carinha amarela; o sinal de menor e o número três viravam um coração vermelho). Logo surgiram também bichinhos, rostos fazendo mil tipos de caretas, frutas, corações, estrelas. Dependendo de quem escreve, a impressão é que se abriu uma agenda ou um estojo de uma menina de 12 anos. E não falo apenas de adolescentes. Tem muita gente grande que adora colar mil emojis numa troca de mensagens no MSN.

O próprio Fahlman, criador dos emoticons originais, não gosta deles. “Acho que são feios e acabam arruinando o desafio de criar uma forma educada para expressar sentimentos usando um cenário padrão”, disse em entrevista ao jornal inglês The Independent na semana passada. “Mas talvez isso seja só porque eu criei a outra forma.”

Talvez seja pura questão de gosto – ou de contexto. Mas o fato é que emoticons, emojis e o português quebrado e tribal das salas de bate-papo migraram para o Orkut e agora chegam ao Facebook. Eles já fazem parte de nossa comunicação por escrito, para aflição dos puristas do idioma. Não estão nos dicionários e nem tão cedo estarão – da mesma forma como o dicionário não registra onomatopeias. Mas entraram em nossa conversa e temos de nos habituar .

Link – 17 de setembro de 2012

iPhone 5: Uma pausa na revoluçãoImpressão digital (Alexandre Matias): Sem Jobs, volta a ser uma empresa como as outras • Homem-objeto (Camilo Rocha): Velozes e tediosos • Tecnologia da desinformaçãoNo arranque (Filipe Serrano): Empresas brasileiras começam a se voltar para o exterior • Reino de engenheiros • O brasileiro que começou o Grooveshark

Impressão digital #123: Apple pós-Jobs

E na minha coluna desta edição do Link, falei sobre como a Apple de Tim Cook vai aos poucos perder o encanto e o aspecto visionário de seu fundador, morto no ano passado.

Sem Jobs, Apple volta a ser uma empresa como as outras
O ciclo iniciado em 2007 se fechou neste ano

Desde que se soube a gravidade da doença de Steve Jobs, uma espécie de maldição parecia pairar sobre a Apple. A empresa sempre foi associada ao seu fundador mais pop. Suas decisões como executivo – inusitadas, improváveis – eram coerentes com sua personalidade.

Áspero e simpático na mesma medida, sua personalidade se refletia na condução de uma empresa que, em dez anos, deixou de ser uma tradicional fábrica de computadores para reinventar os mercados de música, de telecomunicações e de entretenimento digital. A lógica fez que ela se tornasse a marca mais valiosa do planeta.

A maldição apontava dois caminhos. Na primeira hipótese, fatal. A empresa degringolaria administrativamente sem seu líder. Esta possibilidade perdeu força à medida que nos acostumamos a Tim Cook, apresentado em janeiro de 2011 – com Jobs ainda vivo – como o novo condutor da empresa. A transição ocorreu tão bem que a coroa definitiva de CEO depois da morte de Jobs não pesou na cabeça de Cook. Foi sob sua administração que a Apple atingiu seus maiores trunfos como empresa.

A outra possibilidade é o cenário atual: a empresa apenas cuidaria do que já havia sido criado para não correr riscos. Este ano assistimos à conclusão de um processo iniciado em 1999, quando Steve Jobs voltou à empresa que criou (e que o demitiu). Ele começou com a criação do iPod e a transformação do iTunes de programa de computador para loja online, no vácuo deixado pelos erros da indústria fonográfica.

Depois veio o iPhone, que sucateou celulares com botões, tornou plausível o termo smartphone e reinventou o conceito de software para celulares que resultou na criação da economia dos aplicativos. A penúltima peça foi o iPad, que não só abriu uma nova categoria de aparelhos como tornou a possível um mundo sem computadores tradicionais para milhões de pessoas.

O ano de 2012 viu surgir uma nova linha de laptops e a aposta em um sistema de armazenamento online (o iCloud), que torna a comunicação entre Macbooks, iPads e iPhones mais intuitiva. Aos poucos o ecossistema se fecha. O iPhone 5, que seria lançado no ano passado caso Jobs não tivesse morrido, finalmente saiu na semana passada. Todas estas novidades eram previsíveis.

Pior: o iPhone 5 talvez seja o produto da empresa que menos emocionou as pessoas. Todas as suas novidades já haviam sido antecipadas, quebrando um padrão de sigilo que não era apenas rigoroso nos tempos de Jobs – era parte do show. Todo novo anúncio é cercado de mistério. O da quarta-feira passada trazia o “5” no próprio convite.

Falta uma peça para fechar o ecossistema doméstico digital bolado por Steve Jobs. É a Apple TV. Hoje, o aparelho é um hub de mídia que distribui conteúdo, comprado via iTunes, para todos os aparelhos da casa. Mas Jobs queria que este aparelho fizesse com o televisor o mesmo que o iPhone fez com o celular – o reinventasse. Uma das novidades do último aparelho lançado quando Jobs ainda era vivo, o iPhone 4S, foi algo pensado para a Apple TV: a Siri. Para Jobs, o assistente pessoal que conversa com o usuário seria o fim do controle remoto.

Para a Apple, como empresa, tudo bem. As ações sobem, os produtos vendem, os clientes ficam satisfeitos. Mas e agora? iPad 4 e iPhone 6? Até quando?

Talvez a resposta venha já no próximo mês. Rumores indicam que a empresa lançará um novo iPad, menor, talvez chamado Mini. Uma invenção que era menosprezada pelo próprio Jobs – que, contudo, não chegou a ver o sucesso feito pelo Kindle Fire, o tablet da Amazon (talvez a principal concorrente da Apple, nos próximos anos). Mas ainda é um iPad, não é um aparelho inesperado.

O desafio proposto a Tim Cook é o desafio de qualquer empresa, seja uma startup ou multinacional: quando vale a pena correr riscos para tentar crescer ainda mais? Jobs se antecipava a essa hora e simplesmente se desafiava continuamente. Sem ele, a Apple caminha para ser apenas uma empresa como as outras. Forte e líder, mas passível de queda, caso alguém tenha uma nova ideia que ninguém ainda havia imaginado.

Link – 10 de setembro de 2012

Em fase de migraçãoEscritório abertoIFA 2012: Classificação livreHomem-objeto (Camilo Rocha): Sucesso quase garantido • Impressão digital (Alexandre Matias): Como computadores, tempo e dinheiro moldam nosso futuro • Uma maratona para espalhar a cultura hackerP2P (Tatiana de Mello Dias): Bibliotecas virtuais não podem ser passadas de pai para filho • A segunda geração de tablets da Amazon • Os piratas sempre vencem

Impressão digital #122: Cosmópolis – Cronenberg, DeLillo e o futuro que já começou

E na edição dessa segunda do Link, falei sobre o Cosmópolis, do Cronenberg (o anti-Drive ou o anti-Batman?), e sobre a nossa relação com a ficção científica e a sensação de futuro.

Como computadores, tempo e dinheiro moldam nosso futuro
Em ‘Cosmópolis’, Cronenberg analisa a não ficção científica

Há um tempo reparo em como a atual onipresença da tecnologia tende a datar os filmes muito rapidamente. Fã de ficção científica, acompanho de perto a produção cinematográfica do gênero. E o fato de usarmos, a cada ano, versões melhoradas dos comunicadores portáteis vislumbrados nos anos 60 me faz pensar que, cada vez mais, vivemos no século em que o futuro já começou.

Pode reparar: quase todos os filmes cujo futuro se passava no início do século 21 – ou ainda mais no futuro – não cogitaram a existência da internet. Ficam automaticamente obsoletos. O mesmo pode ser dito de filmes de cinco ou seis anos atrás em que os protagonistas sacavam celulares da Nokia cheios de botões – e não touchscreen.

Vivemos as novidades tecnológicas sem nem sequer perceber o quanto elas mudaram a nossa vida. Caso cogitássemos um 2012 como o nosso há dez, quinze anos, poderíamos ser tachados de otimistas demais (ou pessimistas, dependendo do ponto de vista) ou utópicos (ou distópicos). Carregamos computadores nos bolsos, que nos mantêm em contato com notícias do mundo todo e também com amigos e parentes. É possível descobrir como chegar em um lugar a que nunca fomos com alguns toques na tela. Recebemos indicações de promoções de passagens aéreas, filmes para serem vistos. Tiramos foto de tudo o tempo todo. Fazemos todo o tipo de compras sem sair de casa. Controlamos equipamentos com gestos e com a voz.

O presente é pura ficção científica. Ou melhor: uma não ficção científica.

É uma sensação muito próxima à de assistir a Cosmópolis, o novo filme do diretor canadense David Cronenberg, adaptado a partir do livro de mesmo nome, do norte-americano Don DeLillo. Cosmópolis, que estreou sexta-feira, acompanha um dia na vida do jovem bilionário Eric Michael Parker, dono de uma firma de investimento, que atravessa Nova York de limusine para cortar o cabelo no dia em que o presidente dos EUA visita a cidade e um protesto anarquista toma as ruas. É, portanto, a rotina de um magnata mimado e paranoico.

A bordo de sua limusine branca, Parker (interpretado incrivelmente bem por Robert Pattinson, o vampiro bunda-mole da série Crepúsculo) controla o mundo com a ponta dos dedos. Cercado de telas que lhe mostram dados de todo o planeta em tempo real, ele aciona executivos, compra e vende empresas, especula e encontra-se com médicos, conselheiros e funcionários como se o mágico de Oz fosse personagem de 1984, de George Orwell. Ele habita 2012, mas parece estar sempre no futuro.

“Adoro este carro”, diz sua chefe de teoria, Vija Kinski, num dos encontros. “O brilho das telas. O brilho do cibercapital. Tão radiante e sedutor”, suspira. “Você sabe como perco toda a vergonha na presença de qualquer coisa que seja uma ideia. A ideia é o tempo. Viver no futuro. Veja só esses números correndo. O dinheiro faz o tempo. Antigamente era o contrário. O tempo dos relógios acelerou a ascensão do capitalismo. As pessoas pararam de pensar na eternidade. Passaram a pensar em horas, horas mensuráveis, horas-homem, em usar a força de trabalho com mais eficiência.”

Ela segue teorizando: “O tempo agora faz parte dos ativos da empresa. Ele pertence ao sistema de mercado. O presente é mais difícil de encontrar. Ele está sendo eliminado do mundo para abrir lugar pro futuro dos mercados livres de qualquer controle e de imenso potencial de investimento. O futuro se torna insistente. É por isso que alguma coisa vai acontecer em breve, talvez hoje, para corrigir a aceleração do tempo. Trazer a natureza de volta ao normal”.

E conclui: “A potência do computador elimina a dúvida. Toda dúvida é decorrente de experiências passadas. Mas o passado está desaparecendo. Antigamente, a gente conhecia o passado, mas não o futuro. Isso está mudando”.

E assim, descrevendo a relação com computador, dinheiro e tempo, Cronenberg usa palavras de DeLillo para voltar à ficção científica, gênero que abandonou desde que fez eXistenZ (1999). E lembra, subliminarmente, a máxima do escritor William Gibson: “O futuro já chegou. Só não foi distribuído”.

Link – 3 de setembro de 2012

Além do game overVida digital: Phil Libin (Evernote)Novo iPhone novoImpressão digital (Alexandre Matias): A Gina Indelicada e os dilemas superficiais do novo séculoHomem-Objeto (Camilo Rocha): Entrevista com Reed Hastings (Netflix)No Arranque (Filipe Serrano): O efeito social ultrapassa os limites do FacebookA garota que mudou a escola pelo Facebook, o MIT no Brasil, lei apressada para crimes digitais e Obama25 anos de Street Fighter

Impressão digital #121: Gina Indelicada

Nesta edição do Link, escrevi sobre a tal Gina Indelicada

Gina Indelicada e os novos dilemas de um novo século
Menos direito autoral e originalidade e sim marketing pessoal

Os diálogos são curtos e aparecem no chat do Facebook. As conversas usam a informalidade típica da web, usando ‘q’, ‘vc’ e palavras sem acentuação. A imagem da pessoa é um avatar com um rosto conhecido. Identificada por Gina, ela é questionada por um usuário: “Gina, dá uma dica pras meninas q procuram um menino romantico, sensivel, atento, amoroso, bonito…” E responde: “Olha, a dica é que esse tipo de menino tbm está a procura de meninos”.

O rosto de Gina é o de uma loira de beleza publicitária clássica bastante conhecida por brasileiros ao adornar a caixa de palitos da marca que leva seu nome. Mas, online, virou a Gina Indelicada, uma página no Facebook disposta a responder perguntas com gracinhas e grosserias. Ela foi criada em 14 de agosto e na sexta-feira já se aproximava dos 2 milhões de fãs.

Seu criador, o mineiro Henrique Lopes – que assina Ricck Lopes –, de 19 anos, se tornou uma celebridade-relâmpago. Seu nome ganhou mais destaque depois de a fábrica de palitos da Gina original manifestar surpresa com o sucesso inusitado de sua garota-propaganda. Especulou-se a possibilidade de processo, mas logo a empresa disse que consideraria falar com o rapaz para pensar na estratégia digital da marca.

O contato entre uma empresa de 65 anos e um garoto de 19 logo foi notado. Ricck foi entrevistado tanto pela revista norte-americana Forbes em seu site quanto pelo humorista Danilo Gentilli no programa Agora é Tarde.

Ricck aparenta um bad boy dos anos 50, jeans, jaqueta, barba por fazer, topetão, e fala como um publicitário monótono. Diz mais de uma vez que Gina Indelicada é o resultado de pesquisas que faz na internet e que seu sucesso não é puro acaso. “Como estou no início da minha faculdade e, logicamente, da minha carreira, eu preciso ter cases (pronuncia-se “queises”) pra que isso me dê credibilidade”, disse ele a Gentilli, monocordicamente, como se estivesse recitando um texto decorado, numa fala sem graça e previsível.

A seu favor, Ricck tem outros “queises” no currículo: o perfil no Twitter @VouConfessarQue (onde se apresenta como “o segundo Twitter mais retuitado do mundo, perdendo só pro Justin”) e a página no Facebook Muito Tédio, que tem quase 800 mil fãs. O sucesso de Gina Indelicada é um passo natural nessa escalada.

Mas logo vieram críticas sobre a originalidade das piadas grosseiras de Gina No Facebook, a página Gina Kibadora Indelicada lista tweets de pessoas desconhecidas que escreveram as mesmas respostas atravessadas da personagem (a frase citada no início do texto é uma delas). “Kibar”, na internet, é copiar sem dar a autoria, e tem origem nas acusações contra as piadas de Antonio Tabet, do Kibe Loco, que assume piadas alheias com a marca de seu site.

Ricck se desculpou no Twitter usando a pior das justificativas. “Eu contratei uma pessoa e ela fez isso. A maioria sem eu saber. Eu cuidei da parte de criação e estratégia”, escreveu. A discussão sobre autoria e humor não é nova. Falamos do tema no Link em junho, na reportagem “Piada tem dono?”, da repórter Tatiana de Mello Dias. Mas, se a marca de palitos tivesse contratado os préstimos de Ricck, assumiria a derrapada?

Pois no fim das contas, a questão em relação a esse caso é menos de direito autoral e originalidade e mais sobre marketing pessoal e oportunidade de trabalho, podendo ser resumida num curto momento da entrevista de Ricck a Gentilli: “Depois cê dá as dicas pro meu Facebook?”, sugere Gentilli, 500 mil fãs em sua página oficial. “É nóis!”, responde Ricck, sorrindo.

Link – 27 de agosto de 2012

Sorria você está sendo rastreadoCatálogo de brasileiros • Universo em construçãoImpressão digital (Alexandre Matias): Considerações sobre meu novo brinquedo favorito, o Instagram • Homem-Objeto (Camilo Rocha): Smartphone antenadoP2P (Tatiana de Mello Dias): Se as leis permitirem, o streaming será o futuro • Startup Brasil

Impressão digital #120: Mais sobre o Instagram

E na edição dessa semana do Link, totalmente capitaneada pelo Filipe, dediquei minha coluna à minha rede social favorita atualmente.

Considerações sobre meu novo brinquedo favorito, o Instagram
Mesmo alienante, app é refúgio do presente

Desde o fim do ano passado tenho me interessado cada vez mais pelo Instagram. Apostei que o aplicativo-rede social será a próxima onda digital a ser aderida por todos neste 2012. Isso antes de a versão para Android ter sido lançada – e, portanto, antes de ter me tornado usuário da rede. E são vários os motivos que tornam o Instagram tão promissor.

Para começar, o aplicativo tem pouquíssimos recursos. É simples entendê-lo e usá-lo. Além dos filtros de imagem, seu primeiro atrativo e diferencial, o app só permite gostar e comentar as fotos. Basta pressionar a tela duas vezes para avisar ao dono da imagem que você gostou dela. É ainda mais simples do que curtir no Facebook via celular porque você pode pressionar em qualquer lugar da foto – em vez acertar exatamente no link “like”. E, por ser usado principalmente no celular, o Instagram não é tão convidativo a comentários e discussões alongadas.

A interface de navegação é simples, exigindo apenas o polegar para acompanhar as atualizações. Não é preciso acertar botões com precisão ou digitar no teclado. A facilidade de navegação torna a utilização do Instagram quase lúdica. É tão fácil quanto brincar. Por isso gosto de dizer que o Insta é meu brinquedo portátil favorito atualmente.

A comunicação que prioriza a imagem causa uma mudança drástica em relação às demais redes sociais. Uma vez que ele é mais subjetivo, pouco importam as notícias ou o que aconteceu nos últimos minutos – ou até mesmo horas. Os assuntos mais comentados são secundários e os temas das imagens quase sempre partem para o cotidiano, o trivial, o doméstico, o singelo.

Por isso a abundância de fotos de crianças, animais domésticos, paisagens, horizontes, viagens, pratos de comida, livros, discos, programas de TV, passeios, detalhes de casa ou do ambiente de trabalho. Isso nos afasta um pouco da enxurrada de informações das outras redes – e de uma certa angústia com o fluxo sem fim de notícias e links.

No Instagram, o ponto de vista é a primeira pessoa – e não a terceira. Por isso é mais comum vermos imagens pelos olhos de quem as tirou do que ver a própria pessoa. E as fotos dos outros funcionam como janelas em que podemos ver os cantos da cidade e do mundo, em imagens que não vão sair no jornal no dia seguinte. Para alguns, a desconexão com o presente noticioso pode parecer alienante. Para outros é um refúgio contra o acúmulo de pessimismo e novidades que brotam sem parar.

Junte tudo isso ao fato de que ele foi pensado para o celular e temos outro motivo de seu sucesso. Qualquer sala de espera é uma oportunidade para ver o que os amigos ou conhecidos andam observando. Qualquer cena mais simpática pode ser registrada facilmente e compartilhada. E o aplicativo permite que as imagens sejam reproduzidas em outras redes sociais, como Tumblr, Twitter, Facebook, Foursquare e Flickr.

Todos esses motivos dão algumas ideias do que deve acontecer com as redes sociais num futuro próximo. Elas precisam ser mais fáceis de usar. E entupir um serviço com muitos recursos pode deixá-lo ruim, além de pesado. Elas não precisam ser abrangentes e onipresentes. Podem se dedicar a trechos específicos das vidas de cada um. E vão para além do texto, permitindo novas formas de comunicação.

Alguns meses depois de ter sido vendida para o Facebook, dá para entender o interesse da maior rede social do mundo. Primeiro, o aplicativo é mais confortável do que o app do próprio Feice (embora muitos tenham elogiado a nova versão para iOS, lançada semana passada). Segundo, as fotos estão se tornando cada vez mais a língua franca da internet. E, finalmente, se o Instagram continuasse crescendo, poderia se tornar um rival sério para o Facebook.

Resta saber o que acontecerá entre 2012 e 2013. O Instagram vai se integrar cada vez mais ao Facebook ou o Facebook vai ficar cada vez mais parecido com o Instagram? Ambas opções são possíveis – embora uma anule a outra – e podem determinar o futuro não só do Facebook mas do ambiente digital móvel em que vamos habitar.

Link – 20 de agosto de 2012

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