Impressão digital #129: Jobs + Gates

Na minha coluna da edição desta semana do Link falei sobre o último encontro de Steve Jobs e Bill Gates para mostrar que a lógica das duas empresas rivais não é tão diferente assim…

O futuro das duas empresas que inventaram o presente
Jobs e Gates criaram uma indústria que não existia

No dia 30 de maio de 2007, na cidade de Carlsbad, na Califórnia, o jornalista norte-americano Walter Mossberg, uma das principais referências do jornalismo de tecnologia do mundo, recebeu os dois maiores nomes da história da computação dos últimos 30 anos para um encontro há muito esperado. Bill Gates e Steve Jobs compareceram à conferência D5, organizada por Mossberg a partir de sua plataforma All Things Digital, do jornal Wall Street Journal, para um encontro que seria naturalmente histórico. Faziam anos que os dois não compareciam a um mesmo evento simultaneamente e agora estavam novamente juntos para uma sabatina em conjunto.

Os dois começaram trabalhando juntos, nerds idealistas que viam a possibilidade de transformar o computador – um aparelho que antes ocupava salas inteiras – em um aparelho presente na casa da maioria das pessoas. Era uma utopia tecnófila e pouco provável para os principais futuristas daquele tempo, mas Gates e Jobs insistiram tanto que fundaram duas empresas que determinaram nosso estilo de vida nas últimas três décadas. Juntas, Microsoft e Apple dominaram um mercado que não existia, movimentaram bilhões de dólares, criaram uma indústria literalmente do nada e – ao mesmo tempo – eram rivais, cada uma defendendo uma lógica da computação pessoal, uma estética.

Por isso era natural que se esperasse que o encontro pudesse ser um espetáculo de farpas e alfinetadas por sobre um clima tenso e pesado.

Não foi o que aconteceu. Foi justamente o contrário. Os dois, claro, ironizaram as empresas um do outro – além de brincar com a própria reputação pessoal e de suas empresas. Foi quase um reencontro de turma de classe, com os dois lembrando os primeiros dias de trabalho ao mesmo tempo em que projetavam previsões para um futuro próximo, especificamente aquele que aconteceria em cinco anos.

A conferência foi em 2007, cinco anos depois estamos em 2012. Vale lembrar agora o que os dois projetaram para o nosso presente.

Um deles disse que achava que não teríamos apenas um dispositivo para acessar a internet. “Acho que teremos uma grande tela portátil que nos fará ler dramaticamente mais. Eu acredito muito no formato do tablet. Você terá um aparelho com teclado e algumas ferramentas para isso. E você também terá outro aparelho que cabe em seu bolso, em que você terá toda a noção de inúmeras funções que podem ser postas ali. Você sabe, localização, mídia, telefonia. A tecnologia nos permite colocar cada vez mais coisas ali, mas você deve afiná-los para que as pessoas tenham uma ideia sobre o que esperar. Por isso há muita experimentação neste aparelho de bolso. Mas acho que estes são fatores naturais e teremos uma evolução da máquina portátil.”

O outro completou: “Você sabe que houve a era da produtividade, com processadores de texto, planilhas eletrônicas e tudo aquilo que fazia toda a indústria se mover. E isso se estabilizou por um tempo e estava começando a ficar velho quando veio a internet e todo mundo precisava de computadores mais poderosos para acessar a internet. Vieram os navegadores e, com eles, toda a era da internet. Foi quando surgiu essa noção de que o computador pessoal – chame de hub digital ou de centro multimídia da casa – começou a decolar graças a câmeras digitais e pelo compartilhamento das coisas via internet. E assim o computador renasceu como o hub de sua vida digital. E dá para ver que há algo novo começando de novo. Não está exatamente claro sobre o que é isso, mas o computador vai funcionar com outros serviços online e coisas do tipo. E, claro, computadores vão se tornar ainda mais móveis. Por isso acho que o computador pessoal deverá continuar existindo.”

A primeira fala é de Bill Gates. A segunda é de Steve Jobs. Se parece que seria o contrário, é porque os dois, na verdade, fazem parte do mesmo negócio. Se opõem, mas estão juntos.

Cinco anos depois, Jobs está morto e Gates não faz mais previsões sobre o futuro, longe da empresa que fundou. Apple subiu ao topo da cadeia tecnológica e vive seu melhor momento enquanto a ainda gigante Microsoft dá seu passo mais radical (o Windows 8) para se manter importante. Passou, inclusive, a produzir hardware, como a Apple.

O encontro virou piada na internet anos mais tarde num quadrinho em que os dois magnatas brincam com o fato de serem ricaços (veja um exemplo nesta página). Não há rusga, não há briga. Há dois nerds milionários rindo para além de uma rivalidade de butique. Juntos, eles mudaram o mundo. Resta saber se suas empresas o mudarão ainda mais.

Link – 22 de outubro de 2012

Limpeza socialHomem-Objeto (Camilo Rocha): De volta para o futuroXbox Music tem catálogo com mais de 30 milhões de músicasImpressão digital (Alexandre Matias): Só melhora: o otimismo é a mola mestra de nossa evoluçãoP2P (Tatiana de Mello Dias): Um aviso para a indústria: não processe. Seduza os clientesGames em alta“Gangnam Style”: O viral do anoServidor

Impressão digital #128: Só melhora!

E a minha coluna nessa edição do Link foi a continuação da coluna da semana passada

Só melhora: o otimismo é a mola mestra de nossa evolução
A ficção científica não previu o celular

Engraçado ver como um assunto repercute. Na coluna da semana passada, me referi a um texto do comediante norte-americano Louis C.K. para comentar como passamos o tempo todo reclamando e não percebemos como a época em que vivemos é fantástica. Muitos aplaudiram, outros contestaram e a discussão ficou dividida entre os que consideraram o texto deslumbrado e os que se identificaram com meu otimismo. E, claro, muitos apenas reclamaram, uns com argumentos, outros só por prazer.

E, no meio da repercussão, um link me foi enviado quatro vezes. Ele remetia ao site do escritor inglês Warren Ellis, autor de quadrinhos que já são clássicos modernos, como Transmetropolitan, Authority e Frequência Global (todos lançados no Brasil). Ellis usa os quadrinhos como veículo para discutir temas que ainda são ficção científica, mas que ele trata como realidade iminente, justamente pela onipresença da tecnologia em nossos dias (como robótica, inteligência artificial, transferência de consciência, a fusão homem-máquina).

O texto, chamado Como ver o futuro, foi apresentado durante a conferência de ficção científica Improving Reality, que foi realizada no início do mês passado na Inglaterra. Ele começava o texto explicando que a obsessão tecnocêntrica de nossos dias tem nos deixado apáticos em relação aos avanços do presente e, desta forma, desiludidos em relação a qualquer tipo de futuro melhor.

E, em dado momento, cita uma das principais passagens do pensador maior da era digital, Marshall McLuhan: “Olhamos para o presente pelo espelho retrovisor. Marchamos de ré para o futuro. Devido à invisibilidade de qualquer tipo de ambiente durante este período de inovação, o homem só passa a perceber conscientemente o ambiente que veio anteriormente. Em outras palavras, um ambiente só se torna inteiramente visível quando é substituído por um novo ambiente. Assim, estamos sempre um passo atrás de nossa visão do mundo. O presente é sempre invisível porque ele é o próprio ambiente em que vivemos e assim acaba saturando todo nosso campo de atenção de forma implacável. É por isso que vivemos no dia de ontem.”

Isso foi escrito em 1969. E Warren Ellis destrincha o tema no texto: “Você não consegue ver o presente propriamente pelo retrovisor. Ele está à sua frente. Bem aqui.”

E descreve o nosso presente fantástico e invisível: “Exatamente agora, há seis pessoas morando no espaço. Há pessoas imprimindo protótipos de órgãos humanos e pessoas imprimindo tecidos compostos por nanofios que vão misturar a carne humana com o sistema elétrico humano. Já fotografamos a sombra de um único átomo. Temos pernas mecânicas controladas por ondas cerebrais.”

Ele continua: “Nos últimos dez anos, descobrimos duas espécies desconhecidas ao ser humano. Conseguimos fotografar erupções na superfície do Sol, aterrissagens em Marte e até mesmo na lua de Titã. Isso parece sem graça para você? É porque está acontecendo agora, neste exato momento. Olhe as horas no seu relógio, pois este é o presente e essas coisas estão acontecendo. O telefone celular mais simples é, na verdade, um dispositivo de comunicação que envergonharia toda a ficção científica, todos os rádios no pulso e comunicadores portáteis. O Capitão Kirk tinha de sintonizar seu comunicador, que não conseguia mandar mensagens de texto, nem tirar fotos em que ele poderia colocar um filtro Polaroid por cima. A ficção científica não antecipou a chegada do telefone celular.”

Mais uma citação para encerrar a coluna dessa semana (mas não o assunto). O escritor de ficção científica inglês Arthur C. Clarke repetia que “toda tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia”. Imagine nossos avós no começo do século passado, antecipando a nossa rotina do século 21. Mais do que comemorar feitos fantásticos, eles ficariam espantados a nos ver vivendo como… magos.

O otimismo é a mola mestra de nossa evolução, e não o pessimismo. Digo e repito meu mantra: só melhora.

Link – 15 de outubro de 2012

Guerra de dados100 dias sem FacebookImpressão digital (Alexandre Matias): Tudo é tão incrível, e ninguém está felizHomem-Objeto (Camilo Rocha): Volta ao instantâneoNo arranque (Filipe Serrano): A evolução da tecnologia virá das empresas menoresNovo iPhone: Sensação únicaO genoma da arteAnálise: Arte brasileira é representada pelos artistas mais jovens

Impressão digital #127: “Tudo é tão incrível, e ninguém está feliz”

Peguei um velho papo do Louis CK como gancho pra falar da nossa insatisfação em relação à tecnologia na minha coluna da edição de hoje do Link.

Tudo é tão incrível, e ninguém está feliz
Reclamamos muito sem pensar no passado

A cada momento que o olho brilha graças aos avanços da tecnologia moderna, dois resmungos competem com o deslumbre: um deles lamenta que as coisas não são tão boas quanto no passado, o outro se inquieta com as falhas do recém-chegado. Muito já foi dito e escrito sobre a natureza insatisfeita do ser humano, mas vivemos numa época de ouro para a humanidade. Ela pode não ser a mais incrível da história, mas é, sem dúvida, aquela em que o maior número de pessoas vive bem e pode fazer o que quer. Mais do que isso: elas podem fazer coisas que nem sequer imaginariam fazer apenas alguns anos antes.

E nem estou falando das virtudes sempre exaltadas pela pauta do Link. Me refiro apenas a fatos triviais.

Estamos em contato com amigos e conhecidos o tempo todo. Hoje conversamos em vídeo pelo celular. É possível fazer compras, pagar contas e trabalhar ao mesmo tempo, sem que uma ação atrapalhe a outra. A maioria das perguntas que você pode fazer – tirando as existenciais – pode ser respondida em alguns cliques. Só o clichê do “computador de bolso” propagado na era do smartphone já justificaria tanto deslumbre: seu celular é um localizador de GPS, um tocador de mídia (música, vídeos, fotos), uma câmera que filma e tira fotos, um dispositivo de acesso à internet, um videogame portátil.

Mas, enquanto a foto não carrega, o mapa não aparece, o vídeo não sobe ou o game muda de fase, reclamamos da conexão, do aparelho, da rede, do software. Isso sem citar aqueles que esbravejam “antigamente é que era bom” e se esquecem das filas no banco, do tempo perdido para se achar um lugar, de impostos feitos em planilhas de papel, das as poucas fontes para descobrir música nova, como rádio e lojas de disco.

Sempre que vejo as pessoas confrontadas nesse dilema egoísta, minha memória me leva inevitavelmente a um texto, repetido em apresentações ao vivo e programas de TV do comediante norte-americano Louis C.K., que ficou conhecido com o título que usei nesta coluna.

“Tudo é incrível e ninguém está feliz”, começava. “Em minha vida, as mudanças que aconteceram no mundo foram incríveis. Quando eu era criança, o telefone em casa era de disco. Você tinha de ir onde ele estava e tinha que discá-lo. Você já parou para pensar como era primitivo? Você está produzindo faíscas em um telefone!”

Ele continuava falando do saudoso passado de que uns ainda fingem sentir saudade: “Se você quisesse dinheiro, você tinha de ir ao banco, que só ficava aberto por algumas horas. Você tinha de pegar uma fila, escrever um cheque para você mesmo feito um idiota e quando o dinheiro acabava você não tinha mais o que fazer. Acabou.”

“Estamos vivendo num mundo incrível e ele está sendo desperdiçado na geração mais rasa de idiotas mimados que não se importam porque é assim que as coisas são agora”, reclamava. “Estava num avião outro dia e tinha internet. E isso é o avanço mais recente que eu conheço: internet rápida no avião. Estou ali no avião e posso pegar um laptop, entrar na internet, que é rápida o suficiente para assistir a vídeos no YouTube. É incrível. E aí de repente a conexão falha, alguém da companhia aérea pede desculpas pela internet não estar funcionando e um cara do meu lado começa a reclamar que isso é uma merda!”

E conclui dizendo que nem sequer percebemos a maravilha que é voar, essa tecnologia de pouco mais de um século. “Alguém reclama que teve de ficar esperando a decolagem por 40 minutos. É mesmo?”, pergunta Louie. “E o que aconteceu logo em seguida? Você voou pelos céus como um pássaro? Você atravessou as nuvens, algo que era impossível? Você teve o prazer de participar do milagre do voo humano e depois pousou maciamente sobre pneus enormes que você nem consegue imaginar como foram parar o céu? Você está sentado em uma cadeira no céu. Você é um mito grego neste exato momento.”

Reclamamos muito e temos pouca consciência do nosso próprio contexto – e isso não diz respeito apenas à tecnologia. Mas graças a ela isso tem mudado.

Volto ao assunto em outras colunas.

Link – 8 de outubro de 2012

Impressão 3D e a nova revolução industrial: Produção caseiraComo funciona a impressão 3D • Homem-Objeto (Camilo Rocha): Tecnologia que facilita a criação • Impressão digital (Alexandre Matias): O primeiro bilhão do Facebook e o futuro das redes sociais • P2P (Tatiana de Mello Dias): Vem aí a geração que vai subverter o direito autoralA enciclopédia na ruaA web pode despertar?A lei eleitoral e a liberdade de expressão na internet • iPad Mini, Brasil Game Show e mais…

Impressão digital #126: O futuro do Facebook

Aproveitei o gancho do bilhão de cadastrados no Facebook na semana passada para falar um pouco sobre o futuro da rede social na minha coluna no Link de hoje

O primeiro bilhão do Facebook e o futuro das redes sociais
Acabou o encanto de retomar amizades

Nunca fui fã do Foursquare. Marcar presença nos lugares a que vou, para que todos vejam, me parece fútil e assustador ao mesmo tempo. Mas entendo quem usa. É prático para lembrar lugares onde você conheceu certa pessoa ou o dia de uma reunião apenas pelo histórico de check-ins. E os comentários dos usuários ajudam a escolher um restaurante próximo de onde você está.

Na semana passada, Luiz Horta, colunista de vinhos do caderno Paladar do Estado, comentou no Facebook uma outra utilidade do Foursquare: descobrir onde os chatos estão. É perfeito – antes de decidir a qual restaurante ou cinema ir, basta checar a rede social e ver se algum mala já deu as caras lá para saber onde não ir. Por dois microssegundos pensei em aderir apenas para isso. Mas logo em seguida, a vontade passou. Entrar em mais uma rede social?

O que nos traz de volta ao Facebook, que na semana passada estufou o peito para dizer que já tem 1 bilhão de usuários. O número parecia vir antes, mas essa contagem já era em conta-gotas. A marca dos 800 milhões foi atingida em setembro de 2011, enquanto a dos 900 milhões só veio em junho deste ano.

É um número impressionante e muito bem vendido. Certamente o Google conecta tanta gente há mais tempo, mas não soube faturar em cima. O bilhão do Facebook, porém, esconde uma desaceleração drástica no crescimento da rede social. No Brasil, a adoção foi tardia, beneficiando o Facebook por mais tempo. O País era considerado uma das últimas fronteiras do site. Rússia e China são as próximas. Zuckerberg não sepultou o Orkut de vez. Sua popularização por aqui desde 2010 ofuscou a rede social do Google. Mas, em 2012, a ascensão já é menos íngreme do que antes. O que nos acende duas perguntas: já passamos o ápice da grande era do Facebook? E qual a rede social tomará o seu lugar?

A primeira pergunta não pode ser respondida neste ano. O Facebook deve continuar a crescer, mas há uma diáspora lenta e gradual do condado virtual de Mark Zuckerberg e isso vem acompanhado de vários questionamentos: estamos nos expondo muito? Estamos perdendo muito tempo online? O Facebook é uma empresa confiável? Meus relacionamentos pessoais precisam ser expostos tão escancaradamente?

Já a segunda pergunta não é tão hermética, mas o presente já dá dicas de como será o futuro próximo. Eu não quero entrar no Foursquare. Eu adoro o Instagram. Tentei usar o Flickr e não me dei bem com ele. Nunca nem entrei no LinkedIn e acho interessante o funcionamento de rede social do YouTube. Cansei do Twitter (embora ainda o use) e estou familiarizado com o Facebook. Entrei em redes sociais das quais nem mais lembro a senha. Em outras palavras: não sei se existirá uma rede social para substituir o Facebook.

Vejo cada vez mais redes sociais de nicho, para reunir apenas alguns amigos sobre apenas um assunto. Acabou aquele momento de encantamento, aquela hora em que você se lembra de pessoas do passado e adiciona amigos com quem não falava há décadas. Boa parte desse encantamento é autoindulgente – adicionamos um amigo que nos faz lembrar de nós mesmos em uma determinada época de nossas vidas. É claro que há exceções e várias amizades são retomadas. Mas, de uma forma geral, vivemos um momento social em que finalmente lembramos por que esquecemos de certas pessoas de nosso passado – pois elas não tinham de serem lembradas mesmo.

O Facebook se perde ao se vender como uma máquina de publicidade. Tenho a impressão que até o fim do ano que vem estaremos nos conectando ao Facebook como se pudéssemos ver um canal de TV apenas com comerciais.

O futuro pertence a redes pequenas, que se conversam e se interligam, muitas vezes conectadas pelos logins de grandes players – Facebook, Twitter, Apple, Amazon, PayPal, Google, Microsoft. Isso, portanto, o que não quer dizer que esta nova década será menos centralizada e controladora.

A pergunta não é quem substituirá o Facebook, mas até quando ele será relevante para a maioria das pessoas.

Impressão digital #125: Angry Birds, física e educação no século digital

Estava jogando o novo Bad Piggies quando me veio a idéia que deu origem à minha coluna da edição do Link dessa semana

A física de ‘Angry Birds’ e o futuro do ensino nas escolas
O desafio é deixar a aula interessante

Uma das questões que mais me instigam no campo digital é a da educação. Mais do que colocar tablets em salas de aula ou incluir determinadas matérias no currículo, o impacto que a realidade eletrônica já exerce em professores e alunos é grande – e deve aumentar ainda mais.

Afinal, a sala de aula passa pelo mesmo processo descentralizador que ocorre em todas as áreas desde a popularização do computador e da internet. A autoridade do professor vem sendo desconstruída à medida que ele e os livros usados em aula deixam de ser a única fonte de conhecimento para os alunos.

(Nem vou entrar no assunto do sucateamento da profissão de professor no Brasil. Salários baixos, falta de estrutura ou de capacidade pessoal são problemas graves que devem ser resolvidos antes de toda a discussão sobre o impacto do digital no ensino.)

O fato é que cada aluno carrega no bolso um computador em contato com todo o conhecimento do mundo, enquanto o professor ensina. Se isso ainda não é regra, será em menos de dez anos. Não adianta proibir o uso de smartphones ou tablets em sala de aula. Tampouco bloquear o acesso deles a determinados sites ou certos tipos de conteúdo. Os alunos do futuro pularão sobre estas barreiras como os do passado faziam com muros e cercas para fugir da escola. No século digital há essa possibilidade: matar aulas presencialmente, usando aparelhos eletrônicos.

Discutir o tipo de conteúdo ensinado também é pertinente. Os estudantes saberão muito mais de programação e computação do que nós, exigindo que este tipo de conhecimento também esteja presente nas salas de aula. E se passamos décadas aprendendo a importância cultural da literatura a ponto de o tema se tornar uma disciplina, por que não termos aulas de cinema (não de técnica, mas de interpretação) agora que esta arte já tem mais de um século?

E há disciplinas que exigem mais atenção, que não são fáceis de ser reinventadas ou remixadas. Especificamente a mais nerd de todas: a física. É um tipo de conhecimento prático que melhora a vida de qualquer ser humano, mas suas fórmulas e diagramas tendem a ilustrar situações hipotéticas que pouco importam para o menino de 14 anos.

Toda essa discussão me surgiu enquanto jogava o novo game da Rovio, lançado na quinta-feira, Bad Piggies, em meu celular. Bad Piggies, na verdade, repete a fórmula explorada pela empresa finlandesa desde que lançou em março o Angry Birds Space, outro derivado de seu jogo mais famoso.

O jogo original tinha como ponto de partida o arremesso de aves sobre estruturas habitadas por porcos. No Space, o estilingue que dispara as aves fica em um planeta enquanto os porcos ficam em planetas próximos, com atmosferas – e gravidades – que se conectam. E para acertar um porco mais distante, é preciso usar a gravidade dos planetas, traçando um caminho a ser percorrido pelas aves sem que se percam no vácuo do espaço. Física pura!

Na versão Angry Birds Seasons, a empresa incluiu uma fase chamada Atlantis, que obriga as aves a pular na água para, a partir do mergulho inicial, serem impulsionadas com determinada força de volta para a superfície.

E agora vem Bad Piggies, que enfim dá uma chance aos sorridentes porcos verdes de ter alguma vitória. Vilões no jogo original, eles protagonizam o novo game em busca dos ovos das aves, o motivo que deixa os pássaros tão nervosos.

Mas porcos não podem voar, por isso você cria aparelhos que ajudam os suínos a chegar aos ovos. Uma roda aqui, um fole acolá, um quadrado de madeira e você monta um avião. Você precisa de três ventiladores para que ele chegue à ladeira, e tem de acionar o fole no sentido contrário para o porco não se estabanar no final. Mecânica pura.

Lembrei do livro Reality is Broken, da programadora e escritora Jane McGonigal, de que falamos em fevereiro do ano passado. Recém-lançado no Brasil com o título de A Realidade em Jogo (Ed. Best Seller), o livro é um manifesto sobre como devemos nos debruçar sobre os videogames para tornar a realidade fora deles interessante outra vez…

Link – 1° de outubro de 2012

Hackerspaces: Oficina de criaçãoGoogle: A culpa é de quem? • A nova chance do MySpaceO hardware renasce no Vale do Silício • Impressão digital (Alexandre Matias): A física de ‘Angry Birds’ e o futuro do ensino nas escolasHomem-objeto (Camilo Rocha): Carro ‘social’ é só promessa • No Arranque (Filipe Serrano): Pensar no celular em primeiro lugar já é uma regra para todosVida Digital: Amir Taaki, do BitCoinEleições 2012, mapas da Apple, Instagram x Twitter…

Link – 24 de setembro de 2012

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