Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
Já viram esse curta rodado em 1970 com a banda circulando pela cidade?
O curta foi dirigido por Antonio Carlos da Fontoura, que dirigiria mais tarde a clássica pornochanchada existencialista Espelho de Carne (também conhecido como o filme em que o Dênis Carvalho perde o roscofe pro Daniel Filho numa mesa de poquer).
Que tal todos os palavrões usados em os Sopranos enfileirados como se fosse um projeto de arte? Porque é isso que o projeto Sopranos Uncensored, do diretor Victor Solomon, é.
Michael Cera também surtou nos bastidores do filme Youth in Revolt:
Mas é claro que era só mais uma piada com o esporro do Bale – o cara precisa ser muito mané pra ouvir um grito desses de um cara tipo esse Michael Cera e reagir pianinho.
É só seguir o link e apertar a cara do sujeito.
E no clima do Obama, você percebeu que o Trabalho Sujo está passando por algumas mudanças? É, o RSS aqui, a busca acolá, vai reparando… Mas isso tudo faz parte de uma mudança maior, perceba: depois do Sujo é a vez dessas pequenas reformas acontecerem no Urbe, Mau Humor e Conector para, depois, termos uma novidade istaile.
E se prepare: é a primeira de 2009, que terá várias.
Só perdeu o Radiohead:
Porque o resto…
Agora sim! Sexta passada a parte final de Battlestar Galactica finalmente correspondeu às expectativas em relação ao aguardado final épico. E mesmo sem mais uma vez falar em sua mitologia central– que está sendo cada vez mais deixada para os últimos episódios mesmo – a série presenteou seus fãs com a dramática conclusão do motim iniciado no episódio anterior em uma articulação entre o oficial navegador Felix Gaeta e o vice-presidente Tom Zarek. Colocando o cisma entre humanos e cylons num limite que pôs em risco a vida de praticamente todos os personagens principais da série em um mesmo episódio – e em situações completamente diferentes –, Blood on the Scales é sangue nos olhos.
E nesta curta hora de apresentação, vemos Saul e Adama serem capturados, Gaeta autorizar o ataque à nave de Laura Roslin, Zarek ordenar o frio assassinato de todo o conselho administrativo da frota, Lee e Starbuck encurralados, Saul e Adama anunciados como mortos, Tyrol encarando o cano de uma arma, Anders mortalmente baleado, uma execução em forma de presságio e outras duas de fato. A carga de adrenalina e a forma em que toda a ação polarizou completamente as forças em jogo no capítulo de sexta funcionou como oxigênio puro para pulmões intoxicados pelo pessimismo nos episódios anteriores.
O principal passo dado por Blood on the Scales tenha sido o renascimento do casal real desta corte chamada Battlestar Galactica. Tanto Adama quanto Roslin passam por situações limite em que seus instintos mais básicos são confrontados com sua noção de moral. O almirante Bill deixa a patente em um discurso tenso com Gaeta, em que não há espaço para eufemismos ou cortesias. Espumando de raiva, Adama tinha tanta convicção de que voltaria ao poder quanto que não veria seus inimigos viverem muito tempo – a ponto de ordenar que Gaeta o matasse logo para não correr o risco de perder a oportunidade. Seu intérprete Edward James Olmos sabe medir exatamente o nível dramático para transformar o austero militar em um velho caubói, cuspindo palavrões e desdém sem se preocupar com o que vai acontecer a seguir.
Laura, refugiada na nave dos cylons, recebe a notícia de que Adama estaria morto e, sem nada a perder, ressurge assustadora, grandiosa e apocalíptica numa das melhores atuações de Mary McDonnell na série. Ela reassume seu papel de líder frente até mesmo os próprios cylons, que sempre viram os humanos como menores – até assistir o que a perda de um amor pode provocar num coração humano.
Embrenhados pela nave-mãe, o filho do almirante, Lee Adama, e a piloto Starbuck aos poucos reúnem reforços para tomar a liderança da Galactica à medida em que vão atravessando os corredores da nave em direção à sala de comando, o CIC. O papel de líder começa a tornar-se natural em Lee, cuja química de combate ao lado de Starbuck vai ser inevitavelmente traduzida em romance. Saul se une aos dois, seguido de Sharon e de uma série de outros transeuntes que vão se juntando ao grupo que estava no poder, farto do autoritarismo amador da dupla Gaeta e Zarek, que, por sua vez, torna-se cada vez mais consciente do fracasso de seu golpe. Enclausurados com o velho Adama para que ele tenha consciência dos crimes que cometeu ao se associar com os cylons (“eu amei o inimigo”, diz Adama, com escárnio), eles aos poucos percebem a fragilidade da estrutura que os manteve no poder, que desaba em câmera lenta, terminando com a execução sumária dos arquitetos do golpe. A ótima atuação de Alessandro Juliani é encerrada com uma frase sobre a coceira em sua perna perdida, pouco antes de Gaeta ser executado. A curta frase “It stopped” encerra o episódio, o senso de moral e justiça em relação ao motim e a própria vida de Gaeta, que finalmente percebe onde errou.
Além de tirar Gaeta e Zarek de cena, Blood on the Scales ainda trouxe dois personagens de volta ao palco principal – Gaius Baltar e Romo Lampkin. O cientista canastrão parece acordar de um transe na zona coadjuvante em que passou toda essa temporado, quando se tornou uma espécie de acessório religioso usado por algumas histórias quando estas precisavam de um contraponto de tal natureza. Sua reentrada vem logo após de fazer o coro do desespero – e depois da esperança – ao lado dos cylons que assistem o renascimento de Laura Roslin. Depois, tem um sonho em que vê a morte de Bill Adama para, um pouco antes do final, ser o escolhido por Gaeta para compartilhar seus últimos momentos em vida, em que lembra quando quis ser arquiteto na infância, para construir “restaurantes com formatos de comida”. E em ambas cenas Baltar parece saber um pouco mais do que pode acontecer no futuro – muito suspeito.
Já o advogado cínico que havia defendido Baltar no final da temporada anterior voltou à cena graças ao tribunal a portas fechadas que Gaeta e Zarek submetem o velho Adama. Romo Lampkin é um personagem com jogo de cintura e boas falas, que inevitavelmente tira a pompa e o rigor do texto de Battlestar Galactica para mostrar o jogo de poder e de egos por trás das formalidades e burocracias. É através de Romo que o seriado explicita o jogo político por trás do golpe – ecoando as revoluções russa, francesa, cubana e americana ao mostrar o que acontece quando uma nação se volta contra seu próprio governo – e o ator Mark Sheppard, sem usar os óculos escuros que davam a neutralidade irônica e amoral de Romo em suas aparições anteriores, convence bem como termômetro da sanidade no espaço. Depois do próprio Adama, ele é o primeiro a perceber como a revolução contra os cylons é apenas uma artimanha de Zarek para se tornar ditador – antes mesmo do próprio Gaeta, que, mais tarde, percebeu-se usado. Sem os óculos escuros, Romo parece saltar de coadjuvante a protagonista – a direção valorizou especialmente seu olhar ao perceber que, em vez de fugir, poderia salvar o cylon Sam Anders, que terminou o episódio sangrando mortalmente, amparado em Starbuck. Será que Anders é o primeiro dos cylons finais a morrer? Que implicações isso pode ter para a série?
Outro cylon sem querer mostrou o caminho que iremos percorrer. Rastejando nas entranhas do enorme encouraçado espacial (cuja dimensão pode ser revista especialmente em uma cena em que a nave presidencial, a Colonial I, pousa dentro de um dos hangares de Galactica), o oficial-chefe dos mecânicos Gallen Tyrol ia em direção ao sistema nervoso da nave, para impedir o salto na velocidade da luz e a inevitável debandada de toda a frota. Mas ao frustrar os planos de Zarek e Gaeta da sala de máquinas, Tyrol teve uma visão que pode determinar o futuro da série – e da nave. Não se trata de uma premonição ou revelação de características espirituais – o que vimos pelos olhos do personagem do ator Aaron Douglas foi uma enorme fissura no casco da nave, nos fazendo lembrar que, apesar de todo seu tamanho e proporção, a velha Battlestar Galactica é praticamente um museu ambulante. Já era no início da série, quando fazia sua última viagem antes dos ataques dos cylons às Doze Colônias, e hoje está muito pior.
Não duvide, portanto, se o final de Battlestar Galactica for justamente sobre o final da própria nave – sem poder saltar de um ponto do universo para outro sob o risco de esfacelar-se no espaço, a velha nave pode estar no limite de sua resistência física, em busca de um porto seguro final para deixar humanos e cylons num mesmo planeta e, finalmente, pifar em paz.
E semana que vem parece que ela volta. Sim, o quinto cylon. Pode mandar!
So say we all.
Imagina o que era um show dos Mutantes em 1972? Peguei desse blog o seguinte relato:
O verão de 1972 em Salvador foi um dos mais efervescentes que se tem noticia. Em plena ditadura militar as coisas aconteciam num universo paralelo e a malucada sabia onde encontrar diversão e alternativas para o ambiente cinzento do Brasil da era Garrastazu Médici.
Andando pelas ruas do centro da cidade, cartazes colados nas paredes anunciavam um show dos Mutantes para o dia 28 de fevereiro daquele ano na Concha Acústica do Teatro Castro Alves e eles chamavam a atenção não apenas pelo colorido das letras, mas pela atração anunciada e pelo aviso que dizia: “1000 watts de puro som”. O burburinho daquela apresentação correu rápido naquele final do verão do underground.
Nesta altura dos acontecimentos, Rita Lee já tinha caído fora do grupo depois da gravação do LP Mutantes & Seus Cometas no País dos Baurets e de se separar de Arnaldo Baptista. Sem ela, o grupo mantinha a sua formação clássica com o próprio Arnaldo nos teclados e no vocal, seu irmão Sérgio Dias na guitarra e vocais, Liminha no baixo e Dinho na bateria..
O show estava marcado para as 21 horas e as arquibancadas da Concha já estavam completamente lotadas com mais de uma hora para o seu início. As encostas da Concha ali pelos fundos das Sacramentinas estavam repletas de invasores que pularam o muro do colégio e para lá se dirigiram.
Uma incrível ansiedade pairava no ar. As luzes da platéia se apagam, as luzes do palco se acendem e quando os Mutantes surgem o público vibra e fica de pé. Arnaldo com uma camisa de listras horizontais pretas e brancas se dirige ao teclado e fala ao microfone um sonoro “boa noite”. Dinho inicia uma marcação inacreditável, os vocais puxam “uláriii…uláriiii”… e a banda vai atrás. “Top top”. Pronto, o rock´n´roll baixou de com força na terra da magia e ninguém mais ficou parado. Os hits se alternavam e aqueles anunciados 1000 watts de puro som se confirmavam a cada segundo. Tudo perfeitamente equalizado – instrumental e vozes, e o carisma da banda impressionava todos os presentes.
O repertório selecionado a dedo não deixava a peteca cair. “Balada do Louco”, “Minha Menina”, “2001”, “Dunne Buggy”, “Não Vá Se Perder Por Aí”, “It’s Very Nice Pra Chuchu”, “Batmacumba”, “Panis et Circenses”, “Beijo Exagerado” e chegava ao ponto de ebulição com “Ando Meio Desligado”, “Posso Perder Minha Mulher Minha Mãe Desde Que Eu Tenha o Rock and Roll” sendo que esta era emendada com um medley de rockões antigos: “Blue Suede Shoes”, “Jailhouse Rock”, “Rua Augusta”, “Banho de lua”, “Johnny B. Goode”. Durante o show eles também inseriam covers: coisas dos Beatles, Stones, “You’re So Vain” de Carly Simon, “Listen To The Music” do Doobie Brothers, “Angel” de Hendrix. A banda não escondia a emoção pela calorosa recepção que recebia e alguns mais afoitos e doidões não hesitavam em pular de cabeça naquela rasa piscininha da Concha que separava o público do palco.
Dava para perceber que os caras da banda estavam completamente chapados e Arnaldo era o que dava mais bandeira. E já perto do final da apresentação quando eles tocavam “Meu Refrigerador Não Funciona”, ele começou a balançar violentamente a torre de teclados, moogs, mellotrons que se equilibravam numa base de um órgão Hammond. Os roadies corriam para segurar e Arnaldo, então, parecia se acalmar.
O show já tinha passado das três (!) horas de duração quando os Mutantes, depois de vários bis e voltas sucessivas ao palco, anunciaram a última música. O publico dançava e a banda dava tudo de si. E aí o Arnaldo num solo alucinado novamente começa a balançar a torre de teclados e desta vez nem deu tempo dos roadies se aproximarem. Tudo se espatifou no chão e o ruído provocado por isto se encaixava no som.
Arnaldo apanha uma vassoura largada ali por algum servente, a levanta e dá “voltas olímpicas” em torno do palco. Corre em direção ao equipamento que ele tinha derrubado e pisa e pula sem parar sobre eles. Os Mutantes continuavam mandando ver, os roadies também dançavam no palco, a platéia urrava de emoção. O show acaba. As luzes se apagam.
Poucos meses depois, a notícia: Arnaldo deixava os Mutantes por problemas de “saúde”. E, ali sim, a banda perdia sua força musical principal. Talvez seja precipitado afirmar isso, mas, certamente, aquela apresentação dos Mutantes em 28 de fevereiro de 1972, em plena Concha Acústica do Teatro Castro Alves tenha sido a mais memorável da carreira deles. Para mim, pelo menos, foi o melhor show que vi em minha vida. Uma espécie de iniciação ao que significa presenciar um verdadeiro concerto de rock´n´roll. E olhe que eu já assisti muito show bacana.
“Crying Lightning”, que eles mostraram no Big Day Out, mês passado na Austrália, tem um quê de Last Shadow Puppets, mas não foi ainda que Alex Turner achou o equilíbrio entre seu método de composição nas duas bandas – ele erra mais que acerta nos Monkeys e quase sempre manda bem nos Puppets. Essa música nova é um bom meio termo, mas precisa maturar – não sei se o método de composição ou a própria música em si. Dica do Tiago, valeu!