Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Três vezes Jeff Tweedy

O líder do Wilco, Jeff Tweedy, acaba de anunciar seu quinto disco solo, que não é apenas um, mas três discos! Twilight Override será lançado no dia 26 de setembro (e já está em pré-venda) e para adiantar serviço Tweedy mostrou quatro das trinta faixas do álbum, que, como ele mesmo explicou em uma live que fez para anunciar o disco nessa terça de manhã, pode ser ouvido tanto como uma obra única ou como três discos em separado. A boa notícia é que todas as quatro primeiras faixas – “One Tiny Flower”, “Out in the Dark”, “Stray Cats in Spain” e “Enough” – poderiam tranquilamente estar em discos da fase clássica do seu grupo original. Não são faixas extraordinárias, mas reúnem tanto suas melodias solares – que brilham mesmo nas duas mais melancólicas, ambas no terceiro disco -, quanto aquele carisma que transforma o show do Wilco em um reencontro de amigos, mesmo que você não conheça ninguém. Ouça as novas músicas, veja as capas dos discos e o nome das faixas (há uma chamada “Lou Reed Was My Babysitter”!) abaixo:

Ouça abaixo:  

“Indomesticáveis!”

Outra segunda-feira com os Kartas no Centro da Terra e de novo entramos num território desconhecido, desta vez selvático e silvestre, com o grupo invocando características caóticas da natureza entre chocalhos, tambores, apitos e corpos em movimento, que começaram a noite com entrada de Herika Reis Kohl e Nova Buttler em tríade com a vocalista Marcela Mara. À medida em que adentrávamos no abismo percussivo, aos poucos revelava-se a voz e o berimbau de Paola Ribeiro, o pulso e timbres de Cacá Amaral e Paula Rebellato e o sopro de Eldra, acompanhando o quarteto central – Mara, Zozio, Guilherme Paz e Karin Santa Rosa (além da pequena Cora, sempre à espreita) – que dividiram-se entre batuques e guizos, baixo e rabeca, tambores e pratos, sempre abrindo clareiras mentais no breu cênico lindamente iluminado por Mau Schramm e interrompido uma única vez, com a entrada autoritária do drone ambient ativado pela instalação sonora de Gustavo Torres, num ótimo contraponto às fronteiras “indomesticáveis”, como repetia Mara na parte final, que tomaram conta da noite.

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Jardim Sonoro: um festival de música com outra concepção de mundo

Fui mais uma vez convidado para assistir ao Jardim Sonoro, festival de música que o Instituto Inhotim realiza em meio às suas obras artísticas e naturais nesse cenário que é único ao equilibrar majestosamente a exuberância da natureza tropical e os questionamentos da arte contemporânea a céu aberto. Como na primeira edição realizada no ano passado, o festival durou apenas um fim de semana e manter o número mínimo de atrações por dia atrelado à experiência sensorial de sua realização foi uma das decisões que o tornam tão único – tanto em termos artísticos quanto de conforto – no cenário de eventos de escala gigantesca, dezenas de shows em palcos simultâneos, causando filas e outros tipos de perregue que podem comprometer toda a disposição para assistir a qualquer tipo de show. A curadoria de Júlia Rebouças e Marília Loureiro desta vez centrou-se na voz, tirando de cena artistas instrumentais (que eram parte considerável da edição do ano passado), e chegou a um número de artistas quase 100% feminino, única exceção foi o coletivo baiano Ilê Aiyê, que tocou quase final do domingo, antes do DJ set da mineira Brisa Flow. O festival começou bem com a amazonense Dijuena Tikuna, artista indígena que cantou na língua de seu povo e abriu o sol que manteve-se por todo o evento, ao contrário do que a previsão do tempo indicava. Shows equivalentes da mineira Luiza Brina e da baiana Josyara abriram as manhãs do sábado e do domingo, mostrando a força e a sensibilidade das autoras da nova geração da música brasileira – cantoras, compositoras e musicistas que dominam seus três instrumentos (voz, caneta e violão), criando atmosferas únicas que, apesar das referências, não soam como ninguém. O sábado contou com um dos grandes momentos do evento quando Mônica Salmaso brilhou ao lado de João Camareiro e Teco Cardoso ao passear pelo repertório de Tom Jobim, numa apresentação deslumbrante que preparou para o festival. A estadunidense Cécile McLorin Salvant entrou logo em seguida passeando por standards de jazz, números latinos e até uma versão em português para “Retrato em Branco e Preto”. No domingo, o brilho ficou em Tetê Espíndola, que passeou pelo repertório da música pantaneira e por um sertanejo que não está mais no mapa, além de citar seus principais hits. O festival encerrou com a celebração do bloco baiano Ilê Aiyê, coroando essa edição do Jardim Sonoro como um exemplo de como podem evoluir os festivais de música. Que venham as próximas edições!

Atualização: Escrevi sobre o festival para o UOL.

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Um documentário sobre Jeff Buckley

Ficou marcado para o dia 8 de agosto a estreia, nos Estados Unidos, do documentário It’s Never Over, Jeff Buckley, que a diretora norte-americana Amy Berg estreou no circuito de festivais no começo do ano causando comoção durante as sessões. Sua autora especializou-se em documentários sobre temas sensíveis (como Deliver Us from Evil, de 2006, sobre abusos sexuais na igreja católica; Janis: Little Girl Blue, de 2015, sobre a curta vida de Janis Joplin, narrado pela Cat Power; e Phoenix Rising, de 2022, sobre os abusos que Evan Rachel Wood sofreu nas mãos de Marilyn Manson) e ao arriscar-se a contar a história de um dos nomes mais delicados da canção norte-americana do fim do século passado. Jeff, filho do trovador folk Tim Buckley que morreu quando ele tinha apenas 8 anos, também teve uma breve carreira ao morrer afogado poucos anos após ter gravado seu único disco, Grace (1994), obra-prima que a cada novo ano cresce ainda mais em importância e beleza. Berg ganhou a confiança da mãe de Jeff, Mary Guibert, que abriu todo seu acervo do filho para a cineasta, além de ter conversado com suas ex-companheiras Rebecca Moore e Joan Wasser, em entrevistas emocionadas. Ainda sem trailer, a produtora Magnolia Pictures revelou o pôster do filme, para começar a divulgação do filme, que ainda não tem previsão de lançamento no Brasil.

Jean Claude Bernardet (1936-2025)

Triste a notícia da morte do crítico e polímata do cinema brasileiro, Jean Claude Bernardet, neste sábado. Revelado pelo jornalista Paulo Emílio Salles Gomes no Suplemento Literário do Estadão ainda nos anos 50, o belga, que morou a infância e o início da adolescência na França, e mudou-se para o Brasil aos 13 anos, cresceu e amadureceu junto ao cinema brasileiro, área que ajudou a erguer seja em livros históricos como Brasil em Tempo de Cinema (1967, em que ajudou a consolidar a trajetória artística do Cinema Novo), Cineastas e Imagens do Povo (1985, sobre a opção artística do nosso cinema retratar a base da pirâmide social brasileira), o enciclopédico Historiografia Clássica do Cinema Brasileiro (1995) e o clássico volume da coleção Primeiros Passos da Editora Brasiliense que trouxe gerações para a fruição crítica da sétima arte em tempos de ditadura militar, O Que É Cinema? (1980). Também trabalhou diretamente – e em várias posições – em diferentes produções brasileiras: em O Caso dos Irmãos Naves (1967, com Luis Sérgio Person) e Brasília: Contradições de uma Cidade Nova (1968, com Joaquim Pedro de Andrade) foi roteirista, em Paulicéia Fantástica (1970), Eterna Esperança (1971) e A Cia. Cinematográfica Vera Cruz (1972) foi codiretor ao lado de João Batista de Andrade e em Ladrões de Cinema (1977, de Fernando Cony Campos), P.S., Post Scriptum (1981 de Romain Lesage) e Filmefobia (2009; de Kiko Goifman) foi ator. Foi professor da USP no curso de cinema e fundou o mesmo curso na Universidade de Brasília, antes de ser perseguido pela ditadura militar, que o transformou num dos principais críticos do regime. Viveu intensamente o cinema e ajudou-o a evoluir e amadurecer com suas observações e provocações,s por vezes teóricas, outras práticas. Naturalizado brasileiro no mesmo ano do golpe militar, ele foi um dos grandes nomes da cultura de São Paulo, espalhando-se pela cidade, desde eterno morador do edifício Copan, no centro de São Paulo, à imortalidade na Cinemateca Brasileira, instituição que abriga seu acervo e palco em seu velório, neste domingo. Um ícone da cultura brasileira.

Que absurdo! Censuraram a Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo!

Não é novidade que os gerentes do poder público paulista sempre se posicionam de forma agressiva quando artistas que se colocam politicamente contra o posicionamento ideológico do governador ou do prefeito da vez e desta vez a vítima foi a banda Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, que fazia um show de graça na Praça do Patriarca dentro da programação do dia do rock promovida pela prefeitura de São Paulo, na sexta-feira, e foi vítima de censura. Primeiro desligaram o telão da banda que mostrava números sobre a situação dos moradores de rua na cidade e a bandeira do estado palestino, entre outras mensagens, e depois o próprio microfone da Sophia, que, como é de costume, não deixou barato e partiu pra cima, mesmo sem som.

Também não é novidade que a banda está apertando cada vez mais a questão política em seus shows, desde o uso constante que a vocalista faz de um keffiyeh enrolado no pescoço ao próprio uso do telão – como fizeram em sua apresentação no Lollapalooza deste ano, exigindo a prisão de Bolsonaro – como ferramenta de protesto, compondo inclusive músicas que tocam especificamente nesta questão, como as inéditas que apresentaram pela primeira vez neste primeiro grande festival, transmitido pela TV. E que bom que eles estão dando a cara – todo artista tem que se posicionar politicamente! Logo depois da censura, Sophia soltou um vídeo deixando bem clara sua posição política e botando o dedo na cara do prefeito Ricardo Nunes. “A gente não foi contratado pelo prefeito, a gente foi contratado pela prefeitura, a prefeitura é dinheiro de todos nós, povo de São Paulo”, reclamou em vídeo divulgado em contas de Instagram, antes de ameaçar de volta: “Eles acharam que iam calar a gente agora fazendo esse tipo de coisa, mas eles criaram um monstro que vai ser a nossa resposta”, continuou Sophia, que arrematou, que “não vão silenciar o rock, porque o rock é transgressor e propõe mudanças. Sejamos radicais”

Assista abaixo:  

Desaniversário | 12.7.2025

Vamos a mais uma Desaniversário neste sábado, fazendo todo mundo se acabar de dançar a tempo de voltar cedo pra casa e curtir o domingo. Dessa vez não compareço à festa – minha primeira vez fora – mas quem estará ao lado do Claudinho, da Camila e da Clarice é a sensacional Michi Provensi, a primeira DJ convidada desde o início das nossas noites maravilhosas. Ela ajuda a espantar o frio com aqueles hits que todo mundo gosta de cantar junto, como sempre a partir das 19h até um pouco depois da meia-noite. E mais uma vez no Bubu, que fica na marquise do estádio do Pacaembu (Praça Charles Miller, s/nº). Vem dançar com a gente!

O “2001” de Yma já tem data marcada

Depois de quase sete anos após seu disco de estreia, Yma finalmente engata seu segundo disco, que ainda não tem nome nem previsão de lançamento, embora já tenha data marcada para iniciar a nova fase, quando lança a cinematográfica “2001” no próximo dia 18, com algumas participações pesadíssimas… Vai ser um sextou daqueles!

Jeff Tweedy ♥ Pavement

O bom e velho Jeff Tweedy tem usado sua ótima newsletter – Starship Casual – como uma forma de manter um contato contínuo com os fãs e, ao mesmo tempo, gastar sua onda musical fazendo versões acústicas de canções que ama. Só que quando, na semana passada, ele deixou seus leitores escolher quais músicas ele poderia tocar, ficou impressionado com a quantidade de sugestões a ponto de nem conseguir processar tudo, mas prometendo que verá todas as canções que lhe assopraram por email para pegar alguns pedidos. E se impressionou com a quantidade de gente pedindo pra que ele tocasse músicas do Pavement – mais especificamente pedidos por “Range Life”. Foi a deixa pro líder do Wilco regravar o hino indie de forma intimista na edição mais recente de sua correspondência eletrônica e declarar seu amor pela banda de seus contemporâneos, pedindo desculpas por imitar o jeito do vocalista Stephen Malkmus cantar, como se não houvesse outra forma de cantar músicas dessa banda (talvez não haja mesmo). Ficou bom demais, saca só:  

“O sábado à noite parece tão longe da segunda de manhã…”

Ana Frango Elétrico começa a despedir-se de seu Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua e além de uma série de shows marcada para o início do semestre, ele resolveu marcar essa fase final do seu terceiro álbum lançando dois singles – a versão de ‘Não Tem Nada Não” que ela tem tocado nos shows (agora com a presença do próprio autor, Marcos Valle) e uma música inédita, a deliciosa “A Sua Diversão”, que ela lançou de súbito no fim desta semana. Sente o drama abaixo: