Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
Os papas do trip hop Massive Attack voltaram aos palcos nesta quarta-feira, quando apresentaram-se no Gothenburg Film Studios, na cidade de Gothenburg, na Suécia, dando início à turnê europeia que irão fazer até setembro, passando por festivais como o Montreux Jazz Festival e o Rock en Seine, entre outros. É a primeira vez que o grupo toca ao vivo desde 2019 e para esta primeira apresentação, trouxe algumas armas secretas: além do mestre do reggae Horace Andy (que cantou “Girl I Love You”, “Angel” e “Hymn of the Big Wheel), dos novatos Young Fathers (que cantaram em “Voodoo in My Blood”) e da diva Deborah Miller (que cantou em “Safe from Harm” e “Unfinished Sympathy”), o grupo ainda trouxe ninguém menos que Elizabeth Fraser, vocalista dos Cocteau Twins, que participou do terceiro disco da banda, o clássico Mezzanine. E não bastasse ter cantado “Black Milk” e a imortal “Teardrop”, o grupo ainda acompanhou Liz em uma versão para o hino de Tim Buckley “Song to the Siren”, que ela havia gravado no grupo This Mortal Coil em 1983, em uma versão que, gravada ao lado do guitarrista Robin Guthrie, funcionou como embrião para o surgimento dos Cocteau Twins. E não foi a única versão da noite: o grupo ainda tocou “ROckwrok” da banda pós-punk Ultravox e “Levels” do falecido produtor sueco Avicii. Não encontrei a íntegra do show online ainda, mas abaixo seguem alguns trechos que cacei por aí, além do repertório inteiro da noite:
Douglas Germano só não é integrante oficial do grupo Encruza porque trilha sua carreira solitário, à distância, mas sempre que se encontra com quaisquer dos cúmplices que pertencem ao coletivo informal do atual samba torto paulistano, a liga é imediata. Como vimos nesta quarta-feira quando o sambista, por pouco mais de uma hora, tornou-se o quarto integrante do Metá Metá – e conectar-se com o trio, por mais abertos que sejam Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França, exige um certo fôlego criativo e de palco que não é pra qualquer um. Mas com o Douglas não teve mistério e na apresentação que aconteceu na Casa de Francisca ele parecia ter fez parte do grupo desde o início. Tà certo que sua irmandade musical com Kiko e o fato de sambas clássicos de Douglas serem parte considerável do repertório do Metá já deixa claro que esta simbiose é mais que inevitável, é fato – são artistas univitelinos. Mas vê-la desdobrando-se à nossa frente, transforma aquele encontro aparentemente trivial em um momento único para todos os presentes. O quarteto passeou por momentos centrais do Metá Metá que foram compostos por Douglas (“Orunmilá”, “Oranian”, “Canção pra Ninar o Oxum”, “Sozinho”, “Obá Iná” e “Damião”) e outros (“Oyá” e “Rainha das Cabeças”) feitos em parceria com Kiko, seu irmão de voz e instrumento, com quem dividiu não apenas as fileiras de seu Bloco Afromacarrônico como o clássico Duo Moviola, visitado três vezes nesta noite (“”Cio”, “Premiére Deja Vu” e “Por Favor” – esta com Thiago no cavaquinho -, volta Duo Moviola!). Os quatro também visitaram o repertório de Douglas e músicas como “Àgbá”, “Golpe de Vista” e “Tempo Velho” ganharam uma nova dimensão visitadas naquela formato. A noite ainda teve clássicos do Metá compostos por Kiko (“Cobra Rasteira” e “São Jorge”) que carregam o DNA dos sambas de Douglas e Juçara lembrou que aquele encontro havia acontecido há pouco numa apresentação que os quatro fizeram em Porto Alegre pouco antes da tragédia climática que abateu-se sobre o Rio Grande do Sul, revelando que a renda daquela noite iria para o coletivo RS Música Urgente, que está ajudando a cena musical gaúcha a se reerguer. Uma noite histórica.
Com a groovezeira house de “Treat Each Other Right” Jamie Xx dá início oficialmente ao lançamento de seu segundo álbum solo, In Waves, anunciado nesta terça-feira. O disco do cérebro do Xx será lançado em setembro deste ano e terá participações especiais de gente tão diferente quanto Robyn, os Avalanches, Panda Bear e os compadres de banda Romy e Oliver Sim, entre outros. É a continuação do irresistível In Colour, que Jamie lançou há quase dez anos e é um dos melhores discos de dance music do século, fácil fácil. “Faz tempo e muita coisa aconteceu nesse tempo”, escreveu em sua conta no Instagram. “Altos e baixos, crescimento, perceber coisas e ao mesmo tempo esquecê-las muitas vezes seguidas. Eventos que mudaram a minha vida e o mundo todo. Essas ondas que nós experimentamos juntos e sós. Queria criar algo divertido, alegre e instrospectivo ao mesmo tempo. Os melhores momentos numa pista de dança normalmente são assim pra mim. E não posso esperar para dividir com vocês”. O disco será lançado no dia 20 de setembro e já está em pré-venda, trazendo, inclusive, em um dos formatos, as faixas que lançou desde o fim da pandemia como um EP bônus que acompanha o álbum em si (além de uma colaboraçaõ com Erykah Badu!). Veja abaixo o clipe do novo single, a capa do disco e a ordem das músicas de In Waves, que será tocado pela primeira vez ao vivo no dia 26 de setembro no Alexandra Palace, em Londres (que começa a vender ingressos nessa sexta-feira, imagina…):
Ano passado comentei que a RTP, o canal público de TV em Portugal, havia disponibilizado em seu site a íntegra do clássico programa Discorama que em 1969 recebeu os Mutantes em Lisboa, um dos principais registros audiovisuais de uma das principais bandas da história do Brasil, que já circulava por outros meios em versões de baixa qualidade. Além de tocar ao vivo quatro músicas (“Panis et Circensis”, “A Minha Menina”, “Caminhante Noturno” e “Banho de Lua”, além de uma versão criminosamente cortada pela metade de “Trem Fantasma”), o programa ainda acompanha o grupo passeando pela capital portuguesa ao som de músicas do disco Tropicália ou Panis et Circensis, além de entrevistar Arnaldo Baptista e Rita Lee. E era inevitável que o programa fosse parar no YouTube, como dá para ver abaixo:
Conheci o trabalho de Maxim Ludwig graças à estrela Angel Olsen, que vinha fazendo turnê a seu lado e o inclusive o chamou para cantar junto em sua participação no recém-lançado tributo a Lou Reed, quando cantaram juntos “I Can’t Stand It”, do Velvet Underground. E essa semana mais uma vez ela chamou atenção de seu compadre ao fazer a segunda voz para o single “Mercury Avenue”, que ele acaba de lançar. “Quando Maxim tocou a demo de ‘Mercury Avenue’ pela primeira vez pra mim, eu timidamente perguntei se ele não se importava que eu a cantasse com ele em seu próximo show”, escreveu Angel em seu Instagram, “o verso ‘eu sei como é estar vivo, estive aí antes’ lembrou das tantas vezes que eu me descolei completamente de mim mesma, anestesiada e em busca do mínimo sinal de mudanças ou força. As palavras bateram em mim imediatamente”. Abaixo separei tanto o clipe dessa música lindíssima que os dois acabaram de lançar como o vídeo em que ela menciona sua participação no show de Maxim, assista abaixo:
E ao que tudo indica, o anúncio que David Lynch agendou para este cinco de junho não é de uma obra propriamente sua, já que parece antecipar apenas o novo disco da cantora e atriz Chrysta Bell, produzido pelo próprio Lynch. Cellophane Memories é o sexto disco da cantora norte-americana, que conheceu Lynch em 1998 e só foi colaborar com ele quase dez anos depois, quando o diretor incluiu uma parceria dos dois na trilha sonora de seu Império dos Sonhos. Depois, em 2011, Lynch produziu um disco em parceria com ela (This Train), em que a cantora musicou seus poemas, colaboração que continuou quando ela cantou “Sycamore Trees”, da trilha de Twin Peaks, na abertura de uma mostra australiana em homenagem ao diretor em 2015, chamada David Lynch: Between Two Worlds, e depois no EP Somewhere in the Nowhere, em 2017. Seus discos seguintes foram produzidos por John Parish e Chris Smart, mas a parceria com Lynch continuou quando ele a convidou para participar da terceira temporada de Twin Peaks fazendo o papel da agente do FBI Tamara “Tammy” Preston. O novo disco de Bell, que agora assina Chrystabell, é mais uma parceria com Lynch e será lançado no dia 8 de agosto e um link para o serviço de streaming da Apple na Nova Zelândia acabou entregando que o disco será anunciado nessa quarta-feira, provavelmente com o anúncio do primeiro single, que parecer ser a última faixa do disco, “Sublime Eternal Love”. Além da data de lançamento, também apareceram a capa do disco, o nome das músicas e um link com o áudio do primeiro single, que mantém aquele climão típico das cenas de encerramento de alguns episódios-chave da série. Resta saber se o single terá um clipe e se este será dirigido por Lynch, que prometeu na semana passada que algo que estava vindo para ser visto e ouvido. A capa do disco, o nome das músicas, Bell cantando “Sycamore Trees” e o link para “Sublime Eternal Love” podem ser vistos abaixo:
Encarnado e desencantado! Como Juçara falou logo no começo da primeira das duas apresentações que está fazendo no Centro da Terra neste começo de mês, retomar seu primeiro disco solo em formato acústico fecha a tampa de um alçapão que nos foi aberto bem quando ela começava uma temporada de shows no teatro revisitando seu primeiro disco (que naquele março de 2020, que viu o começo da pandemia, completava seis anos) sem instrumentos elétricos – e sem microfones ou amplificadores, só no gogó e na unha, como ela mesma disse. A nova versão acústica de seu Encarnado, que agora completa 10 anos, foi diferente daquela antes de entrarmos na tragédia pandêmica, pois além de microfone e instrumentos plugados também contava com a iluminação de Olívia Munhoz, que já havia feito no primeiro aniversário do disco esse ano, no Sesc Vila Mariana. Ao seu lado, os suspeitos de sempre (Kiko Dinucci, pela primeira vez tocando violão com cordas de aço num show, Rodrigo Campos e Thomas Rohrer) a ajudavam a conduzir-nos a um território cru e direto, sem meios termos passando por novos (“A Velha da Capa Preta” de Siba, “Ciranda do Aborto” – o momento mais intenso do disco e do show – e “João Caranca” de Kiko, “Pena Mais Que Perfeita” de Gui Amabis, “Velho Amarelo” de Rodrigo, “Presente de Casamento” de Romulo Froes e Thiago França e “Canção Pra Ninar o Oxum” de Douglas Germano, entre outras) e velhos (“E o Quico?” de Itamar Assumpção e “Não Tenha Ódio no Verão” de Tom Zé) clássicos da música brasileira. Dois destes últimos surgiram nessa versão ao vivo, primeiro “Xote de Navegação”, de Chico Buarque (em que Juçara foi acompanhada apenas por Rohrer tocando um fuê!), e depois “Comprimido” de Paulinho da Viola (em que trocou “um samba do Chico” por “um samba do Kiko”). Com a luz de Olívia perseguindo os silêncios e esporros do som (indo da penumbra quase completa aos faróis na cara do público), a apresentação terminou com um bis intenso, quando ela voltou a música do Tom Zé e pediu para que o público a acompanhasse seus gritos do refrão, fazendo com que todos exorcisassem, aos berros, o pesadelo dos últimos quatro anos, transformando o teatro numa câmara de descompressão de frustrações do período pandêmico. Irretocável. E terça que vem tem mais.
Em março de 2020, Juçara Marçal começou uma temporada no Centro da Terra em que visitava seu primeiro disco solo, Encarnado, num formato diferente – colocando seus chapas Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Thomas Rohrer, que marcaram presença no disco, para tocar instrumentos acústicos, dando uma outra roupagem às canções. Mas o mês desta temporada também foi o mesmo em que afundamos naquele pesadelo chamado pandemia do coronavírus e inevitavelmente a série de apresentações foi suspensa após a primeira noite. Mas sempre conversava com ela sobre a possibilidade de retomarmos aqueles shows. Eis que finalmente conseguimos realizá-los novamente agora neste início de junho, com duas apresentações, que além de ter Kiko tocando violão de aço, Rodrigo no violão e cavaquinho e Thomas na rabeca, ainda traz a luz da Olívia Munhoz, que iluminou o show de aniversário do disco, que completa 10 anos em 2024, agora no início do ano. Serão duas apresentações em duas terças, 4 e 11, e a primeira delas já está com ingressos esgotados.
#jucaramarcalnocentrodaterra #jucaramarcal #centrodaterra2024
Paul McCartney veio ao Brasil no ano passado e o José Norberto Flesch acaba de cravar que ele volta ainda esse ano! São poucas informações adiantadas pelo Flesch, que deixou no ar a possibilidade de ele passar por cidades que não passou na vinda de 2023 pra cá (quando passou por Brasília, Belo Horizonte, São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro) e que sua décima primeira vinda ao Brasil aconteceria entre novembro e dezembro deste ano. Pra quem perdeu o fio da meada, Paul veio ao Brasil em 1990, 1993, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2017, 2019 e 2023! E é claro que estaremos lá mais uma vez, rezando nossa missa beatle e cantando todos os nanananas de “Hey Jude” possíveis. Triste é quem não tem um ídolo desse quilate vindo pra cá toda hora.
A primeira noite da temporada que o Test está fazendo no Centro da Terra durante este mês foi só um aperitivo da experiência sônica que a dupla formada por João e Barata irão proporcionar neste mês de junho. Sem participações musicais, a rigor foi um show semelhante aos que a banda vem fazendo, mas a convidada da noite deu um tempero extraordinário para a apresentação. A vídeo-artista Carol Costa cobriu o show dos dois com um amálgama de imagens que misturava filmes educativos de antes da Segunda Guerra Mundial, comerciais dos anos 70, documentários sobre a natureza e cenas de cirurgias criando uma colagem visual aparentemente díspare que ia criando um sentido à medida em que era sincronizada com as cadênciais em que os dois alternavam intensidades de velocidade e ruído. E ao fazer isso num teatro, com o público sentado, o trio criou uma sensação de cinema imersivo que deixou a plateia emudecida por quase uma hora sem parar, vítima de um impacto fulminante. E se pensarmos que os próximos shows terão a presença de outros músicos e manipuladores de som, o céu da experimentação é o limite para eles. Impressionante.