We’re all one

, por Alexandre Matias

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Coluninha da Simples nova, que tá na banca agora…

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Todos, um só

“Conjuntos com guitarras já eram”, disse um executivo da gravadora Decca ao dispensar ninguém menos que os Beatles. É muito fácil rir disso depois que os Beatles se tornaram um fenômeno, mas como ele poderia prever? Era uma época em que os principais artistas do planeta eram trovadores solitários, vozes ou instrumentistas que imprimiam seu próprio nome de batismo (ou pseudônimo) como marca na capa de um disco, no cartaz de um show, nos créditos do cinema.

Então, qual credibilidade de um grupo com quatro pessoas que preferia esconder seus nomes de verdade atrás de um rótulo que nem é um nome de verdade? Podia ser um trocadilho de besouros com ritmo ou qualquer outro nome, podia ser os Beatles ou qualquer outro grupo. É muito pouco provável que qualquer outro executivo de gravadora achasse aquilo uma grande sacada. Tanto que a gravadora que contratou o grupo mais tarde, a EMI, não foi atrás – foi preciso muita insistência do empresário da banda, Brian Epstein, para que a banda fosse ouvida e concessões tiveram que ser feitas (a mais notável foi a saída de Pete Best para a entrada de Ringo Starr).

O trunfo da visão é todo de Brian. Foi ele quem viu quatro moleques fazendo barulho num porão decadente de uma cidade portuária do norte da Inglaterra e viu algo fora do comum. Não eram as composições, mesmo porque boa parte do repertório deles eram versões de músicas americanas. Não era a aparência, pois eles pareciam – e eram – moleques proletários posando de bad boys do cinema. Não era a técnica nos instrumentos – crua, rústica –, os arranjos – pobres – ou mesmo o carisma com o público – que era inegável.

O que clicou Brian era o fato de que os quatro não se comportavam como quatro pessoas, quatro indivíduos. Mas como uma gangue. Como um grupo, como uma unidade só. Essa talvez tenha sido a grande revolução dos Beatles não seja musical – e sim comportamental. Melhor e mais divertido.

Depois eu falo mais disso.