Um bloco chamado Rita

, por Alexandre Matias

ritaleena

Estive no desfile do Ritaleena por Pinheiros no fim de semana passado e o alto astral era idêntico ao das músicas da musa inspiradora do bloco. A segunda apresentação do bloco acontece nessa sexta de noite, no Bailee Ritaleena, sem a magia de ser ao livre e de dia, mas igualmente folião (maiores informações aqui). Conversei com a Alessa Camarinha, uma das idealizadoras do bloco, sobre sua curta história, o carnaval de rua em São Paulo, a conexão direta do Ritaleena com a própria Rita Lee e o futuro da festa, a curto e longo prazo.

Conta a história do bloco.
Foi uma idéia minha e da Yumi Sakate de maneira bem espontânea. Fomos algumas vezes para o Rio pular carnaval com nossas amigas e adoramos as dinâmicas dos blocos de rua. Nos pegávamos perguntando porque esta prática não existia em São Paulo – existia sim, nós é que não sabíamos direito. Daí passamos a frequentar bastante o pré-carnaval de São Paulo, principalmente o bloco Nóis Trupica Mas Num Cai, que realiza concursos de marchinhas. Pensamos então em nos escrever com uma marchinha feminista, ficamos pensando em como homenagear as mulheres e também valorizar a cidade… E todos os pontos nos levaram a Rita Lee. A marchinha a gente nunca inscreveu, mas o bloco rolou.

Como foi o desfile do ano passado?
O ano passado foi uma loucura, nossa expectativa de público eram de 300 pessoas e apareceram 7 mil. Enfrentamos muitos desafios sobre como fazer a logística toda funcionar, foi um intenso aprendizado. Este ano já estavamos mais preparados para o crescimento, tivemos entre 10 e 12 mil pessoas no desfile de rua no dia 30 de janeiro.
Foram 40 músicas de todas as fases da Rita Lee adaptadas para ritmos carnavalescos como frevo, carimbó, marchinha, ciranda, e uns mais atuais como o funk carioca. Difícil foi pensar em como acomodar cada música para o arranjo não ficar forçado, foi um grande desafio. O percussionista Abuhl Jr. me ajudou bastante nestas transições. Este ano sentimos que conseguimos assentar e desenvolver com calma estas transições, porque o volume de material é muito grande. Ano passado terminamos o percurso e ainda tinha metade do show pra tocar. O show de rua do Ritaleena dura quatro horas, às vezes mais…
Os figurinos também são parte fundamental do bloco, todos os integrantes vão vestidos com temas das músicas dela, é um jeito de revisitar as personagens que ela criou, o Doce Vampiro, o Índio Pelado pintado de verde de “Baila Comigo”, a guerreira Bwana. É um pouco criar com a criatura e não com o criador. O bloco tenta dar vida a estas poéticas, mais sobre o que as músicas falam do que um relato biográfico documental da vida da Rita.

E como foi o crowdfunding do bloco para este ano?
Crowdfunding é uma tática de guerrilha. Dá um super trabalho, neste ano a gente fez uma campanha super engraçada inspirada em virais da internet, foi um sucesso de público, mas é dificil converter likes em doações mesmo. Ainda é a única maneira que o bloco se financia. Este ano conseguimos um patrocínio de uma cervejaria que ajudou a complementar o financiamento. Mas na hora inicial do “Vamos fazer” a gente só tem o crowdfunding como ponto de partida. Tivemos duas campanhas bem sucedidas, mas tem muita gente que não sabe como os blocos são custeados, as vezes acham que a gente ganha dinheiro da prefeitura, quando não é verdade. Ainda dependemos do crowdfunding.

Carnaval 2016 pra vocês vai ser só o desfile de pré-carnaval e a festa mesmo?
Temos o Bailee Ritaleena na sexta e estamos examinando a possibilidade de fazer outro show no pós-carnaval. Mas este ano fizemos um ensaio geral no Bar Brahma antes do desfile, coisa que no ano passado não aconteceu.

A Rita já sabe do bloco?
A Rita Lee sabe do bloco sim. Ano passado mantivemos contato com a empresária dela. Ela nos agradeceu a homenagem numa nota que saiu na Monica Bergamo da Folha. Este ano conseguimos que um amigo dela subisse no trio e filmasse toda a multidão cantando músicas dela e gritando “Rita Lee eu te amo” e mandasse para ela por whatsapp. Foi demais! Todos anos a família Lee recebe religiosamente camisetas do bloco. Queríamos muito um alô mais pessoal dela, mas respeitamos muito a privacidade dela. Não queremos incomodá-la.

O que vocês têm achado dessa retomada do carnaval de rua? O quanto isso é político?
Achamos maravilhoso. A idéia de reconquista do espaço público em São Paulo não é exclusiva do carnaval, isso já faz um tempo, iniciativas como o Festival Baixo Centro, as movimentações do Largo da Batata, as manifestações de junho, fomentaram um pensamento de ocupar a rua do qual o carnaval também pertence. Porém, não podemos deixar de lembrar que é carnaval, e o sentido do carnaval também é a zueira e nela suas transgressão. O carnaval precisa ser espontâneo, vemos alguns blocos tocar muito na tecla do “retomada do espaço publico” mas de maneira protocolar, quase encaretando a coisa.

E depois do carnaval, hibernam até o ano que vem ou têm outros projetos?
Essa é uma boa pergunta. O Bloco Ritaleena é essencialmente um projeto de carnaval, não existe pretensão de usar peruca vermelha o ano todo, muito acontece sob demanda. Mas temos vontade de acordar da hibernação ano que vem um pouco antes…

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