Treze Zero Dois

, por Alexandre Matias

Coluninha nova no Rraurl.

1. “The Operation” – Charlotte Gainsbourg
Sim, é a filha do homem, trocando o jazz-funk do pai por um indie-dance quase dandy, algo como se Morrissey, Scott Walker e o velho Serge pudessem concordar com alguma coisa. Charlotte mal canta – seu sussurro é um gemido que declama palavras sobre uma base que caminha lado a lado com a linha mais cool do French Touch – entre o Air e o Tahiti 80 – frágil como qualquer diva tímida.

2. “We Are Your Friends” – Simian vs. Justice
Daqueles motivos para não se preocupar em acompanhar tudo o que acontece no mundo na última hora o tempo todo. “Never Be Alone” foi lançado como um single em 2002 pelo grupo Simian, que lançou o disco We Are Your Friends (produzido por Brian Eno) em 2003. A banda acabou em 2005 mas foi revisitada este ano pela dupla francesa Justice, que remixou a faixa e a relançou num clipe ótimo – tão bom que ganhou a escolha da audiência no último MTV Awards da Europa, enfurecendo Kanye West, que achou um absurdo o campeão não ter sido seu clipe. Ou seja, uma das músicas do ano, na verdade, é uma música velha remixada. E a mensagem da música – sua única letra e repetitivo refrão – é tão clara quanto rara nas paradas pop atuais: a amizade, pura e simples, que proporciona momentos ótimos à vida de todos nós. “We Are Your Friends” é quase uma “Love is in the Air”, de tão emblemática.

3. “Cell Phone’s Dead” – Beck
Primeiro single do ótimo The Information a dar o ar de sua graça, ela vem com um beat meio electro-funk e o folk falado do nosso herói, que tempera o refrão com uma provocação de brinquedo, botando uma criança que diz “one by one I’ll knock you out”. Segue a trilha de “Loser”, “Devil’s Haircut” e outras obras menores desta fórmula que costumamos chamar de “o som de Beck”.

4. “Promiscuous (Silk Remix)” – Nelly Furtado
Violões em primeiro plano, pegada praiana, beat lo-fi – o xaveco manhoso entre a nova Nelly e o velho Timbaland ganha ares latinos e mediterrâneos, com o tratamento roots e cool dado pelo produtor Silk.

5. “Nobody Move, Nobody Get Hurt” – We Are Scientists
A guitarra que grunhe, o galope na bateria, o baixo marcado, o vocal de desespero… Sim, são os mesmos elementos de sempre do pós-punk, a gasolina e sangue de todo tal “novo rock” pós-Strokes. Mas há algo diferente no We Are Scientists que, parece umas quinze bandas a cada compasso e ao mesmo tempo não parecer nenhuma delas, ao todo.

6. “Whoo! Alright – Yeah… Uh Huh (Simian Mobile Disco Remix)” – Rapture
“As pessoas não dançam mais/ Elas só ficam paradas assim/ Cruzam os braços, olham pra baixo/ Bebem, resmugam, falam mal”. A dupla que saiu do supracitado Simian pega o refrão debaixo do hit “W.A.Y.U.H.”, do Rapture, e o transforma num mantra em algum lugar entre o electro e o techno, esfregando efeitos sintéticos uns no outro como se eles pudessem pegar fogo. E, juro, sai faísca.

7. “Rock Steady (MSTRKRFT Remix)” – All Saints
Sim, são aquelas All Saints mesmo, pop inglês pós-adolescente tirando onda de mulher madura, deliciosamente picotadas pela dupla canadense, que é, de longe, o artista mais certeiro de 2006 – zero de gordura, nenhuma música nem remix ruim. Quando os dois colam a base electro oitentão (meio hip hop pré-Run DMC, meio New Order) num loop de “look in my eyes”, estamos a centímetros de aceitar o convite. E as estrofes, originalmente dor de cotovelo, ganham um inesperado contorno hippie, em meio a um cenário nada campestre.

8. “We Share Our Mother’s Health” – The Knife
Os ruídos do início parecem indicar uma tentativa de diálogo vindo de um daqueles ETs de 2001 (na verdade, as orquestrações sinistras do húngaro Gÿorgi Lygeti), mas logo vão se decompondo num loop de beats sintéticos que descambam numa invasão de microsseres de ritmo emborrachados (vozes alien, fato), como se a população de um cartucho de videogame sci-fi viesse à nossa realidade em uma espécie de passeata de reivindicações pela possibilidade da dança. Tente resistir.

9. “Discotech (Weird Science Remix)” – Young Love
Levada, er, disco, pegada 80s, swooshes vindo do passado, guitarra novo rock. O brainproject de Dan Keyes (ex-Recover) é irmão de criação do Playgroup de Trevor Jackson – aquele feeling que a década trash ainda está entre nós e não apenas um ou outro sabor daquele tempo. Groove technopop, refrão grudento, alto astral meio blasé – dance brega, eletrônico, pop deslavado. Sim, era bom desse jeito.

10. “Everything Just Wonderful” – Lily Allen
Ela vai comendo pelas beiradas… Agora o groove é manhoso, ela canta como se espreguiçasse ao acordar, com aquele arranjo cool e funky ao mesmo tempo. Allen fala sobre a pressão para emagrecer, a paranóia de tempo da nossa sociedade, a burocracia de comprar um apartamento… Mas, no meio da música, ela lembra que tudo é maravilhoso e que está vivendo a melhor época de sua vida. “Eu não devo reclamar”, finaliza, deliciosa, “acho que é assim que um cookie vira migalha”.

11. “O-hot Brain (Original Mix)” – One-Two
Outra oitentista, levada no chimbau eletrônico, baixão Peter Hook, guitarra seca marcando tempo, teclado retrô e palminhas digitais. E, mesmo citando pop dos anos 60 como referência e vindo de uma Paris pós-Air e Daft Punk, eles estão no mesmo balaio nova-iorquino retro-electro rock que o LCD Soundsystem e Rapture. “O-hot Brain” é o segundo single do primeiro disco da dupla, Love Again, e é pra se jogar.

12. “Fireworks” – The Whitest Boy Alive
Erlend Oye é um dos Kings of Convenience, como dá pra perceber pelo climinha praiano e ensolarado da faixa, mas o WBA é sua incursão pela música para dançar. Nem dá pra traduzir como “dance music”, de tão frágil e delicado que seu projeto paralelo parece. Mas a guitarrinha indie, a levada twee, os instrumentos quase de brinquedo… Daquelas músicas que aquela menina linda fica dançando sozinha na pista quase vazia às cinco da manhã, certa de que não quer pegar ninguém a não ser no sono depois de ir pra casa – só e feliz.

13. “Samba Machine” – Kassin + 2
Na encôlha, o trio + 2 lançou seu terceiro disco no Japão. Desta vez encabeçado pelo pop deslavado de Kassin (sem o pós-MPB de Moreno ou o cabecismo light de Domenico), Futurismo pode até tocar no rádio, ao contrário dos anteriores (salvo uma ou outra faixa). Mas essa faixa está em algum lugar entre em uma “SexyBack” lo-fi (são os “yeah” gritados no ritmo) e o projeto tosco dos Dust Brothers, Sukia.