Wilson das Neves (1936-2017)

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Morreu Wilson das Neves, o maior baterista da história do Brasil – ô sorte nossa de termos convivido na mesma época que ele.

“Música é luz”: como foi o show de lançamento do disco novo do Emicida

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O jovem Emicida cada vez mais se consolida como um dos principais nomes da nova música brasileira. Já deixou a esfera do hip hop há algum tempo, mas em vez de simplesmente expandir seus horizontes para outros gêneros, prefere fazer que esses venham para a roda do rap, a rinha de rimas em que aprendeu a ser artista. Lançou seu novo disco O Glorioso Retorno De Quem Nunca Esteve Aqui em duas noites de gala no teatro do Sesc Pinheiros em São Paulo, na terça e quarta da semana passada, e pude assistir ao show da segunda noite (quarta, 18 de setembro) – apenas para atestar sua maturidade e compromisso com o espetáculo.

Pois por mais que Leandro cante a importância da música em sua obra (seja ao ironizar a relação entre música em dinheiro ou simplesmente ao celebrar que “música é luz” em “Hino Vira Lata”), é evidente que o MC ultrapassou a música e tornou-se um showman. Mais do que simplesmente ser um mestre de cerimônias das próprias qualidades e defeitos, Emicida transforma cada gesto num momento para ser eternizado, cada verso em frase de guerra ou oração, cada recepção de um novo colaborador (e foram tantos!) em uma cerimônia de reverências, sempre acompanhado da banda formada por Doni Jr. (violão, cavaco e guitarra), Anna Tréa (violão e guitarra), Carlos Café (percussão), Samuel Bueno (baixo) e seu fiel escudeiro, o DJ Nyack.

E isso não pára apenas no palco. É seu domínio da platéia que impressiona. Ele consegue suplantar aquela zona cinzenta entre o você e o vocês e conversa com as centenas de pessoas presentes como se encontrasse cada uma delas casualmente num elevador, numa fila, num ônibus. Emicida é aquele cara transforma o tédio em história, o mágico que sublinha nossa rotina para nos surpreender com uma beleza distante dos nossos olhos. E ao conversar com a multidão, ele não parece que está falando num púlpito nem num palanque – parece olhar nos olhos de cada um dos presentes (aí os óculos escuros são providenciais) e contar-lhes uma coisa que ninguém mais percebeu. Ele troca a sedução natural de qualquer artista por um carisma que é bruto em sua intensidade, mas refinadíssimo no detalhe. A beca que lhe acompanha ao subir ao palco tira o ar moleque do boné e camiseta mas não parece exigir um respeito falso. Ele é sincero.

E, no palco, recebeu cada um dos artistas que participam de seu novo disco para recriar aqueles momentos eternizados em disco que, aos poucos, transformam este Glorioso Retorno em um dos melhores discos desta década. Na parceria com Pitty, “Hoje Cedo”, ele reforça um refrão que tem a tristeza dos samples usados por Eminem em seus momentos menos cínicos e um ar emo/new metal que contamina toda canção, deixando-a livre para Emicida vociferar seus versos.


Emicida + Pitty – “Hoje Cedo”

Um dos principais momentos do disco e do show, a bela “Crisântemo” já tem sua importância ao transformar o drama violento da favela em dor universal, num grande momento da música brasileira. A presença da mãe de Leandro, Dona Jacira, que não subiu ao palco na noite anterior, é forte e solene, e deixa a teatralidade da segunda parte da canção – que em vários momentos nos faz engolir em seco – ainda mais intensa. Um momento mágico:


Emicida + Dona Jacira – “Crisântemo”

Tulipa não estava programada para tocar no segundo show, apenas no primeiro, mas apareceu com toda sua doçura para o momento bonitinho do show:


Emicida + Tulipa Ruiz – “Sol de Giz de Cera”

Com Wilson das Neves, Emicida prostra-se como criança que vê um ídolo pelo espelho, querendo parecer respeitável apenas por estar na presença de uma personalidade inspiradora (mais mérito do seu Wilson, é verdade). Mas antes de convidá-lo para sambar sua “Trepadeira”, repete o discurso que fez na noite anterior, em que respondeu aos que criticam sua canção por dito sexismo, em tom mais bem humorado, próprio para receber a lenda-viva do samba:


Emicida + Wilson das Neves – “Trepadeira”

Este magnetismo ganhou força com as cinco vozes do Quinteto em Branco e Preto entoando o ótimo refrão de “Hino Vira-Lata”, outro momento mágico do disco novo de Emicida:


Emicida + Quinteto em Branco e Preto – “Hino Vira-Lata”

Quase ao fim do show, convocou Juçara Marçal para mais um momento épico:


Emicida + Juçara Marçal – “Samba do Fim do Mundo”

E antes de encerrar a noite, emendou seu já clássico pout-porri com pedras fundamentais da história do hip hop brasileiro, especificamente inspirado naquela noite.


Emicida – “Tic Tac (Doctor’s MCs)” / “Verão na VR (Sistema Negro)” / “Fim de Semana no Parque (Racionais MCs)” / “Us Mano e as Mina (Xis)” / “Fogo na Bomba (De Menos Crime)” / “Quatro Nomes de Menina (Pepeu)” / “Rap é Compromisso (Sabotage)”

Afinal, tudo aqui é hip hop. Por mais que transite entre a MPB e o samba de raiz, o rock e o sambão-jóia, Emicida carrega todos estes gêneros musicais para sua arena, o palco erguido com beats e cercado de palavras de ordem que, vez ou outra, sublinha com um holofote, no cenário cheio de frases, seu maior bordão: “A rua é nóis”. Pois ele traz cada um de nós para esta mesma rua chamada Brasil, nos puxando para a realidade pela orelha mas sem que isso tenha um tom de humilhação ou recalque. Ele quer que saibamos que estamos todos num mesmo barco em que o individualismo não faz o menor sentido. Um dos grandes shows do ano, de um artista em plena ascensão.

Abaixo, todos os vídeos que fiz, na ordem em que as músicas apareceram no show (e a foto que ilustra o post é do Ênio César e foi concedida pela equipe do Emicida):

 

Emicida responde à polêmica sobre “Trepadeira”: “Mulheres devem ser livres!”

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E foi assim, citando várias músicas próprias, que Emicida respondeu à polêmica sobre sua música “Trepadeira” no primeiro dos dois shows de lançamento de seu novo disco, nesta terça-feira, no Sesc Pinheiros:

O BlueBus transcreveu o poema/discurso:

Mulheres devem ser livres, pra escolha feliz, a sós ou não, como cantei em “Ela disse”
Mulheres devem ser livres, aqui ou onde for, bem cuidadas, mas eu já disse isso em “Vou Buscar Minha Fulô”
Mulheres devem ser livres, pra ser feia ou ser bela, ser tudo, mas eu falei sobre isso em “Eu gosto dela”
Mulheres devem ser livres, sem esculacho, livre mermo, se quiser, até pra ser macho
Mulheres devem ser livres, de rocha, mãe, forte, daquelas que eu cantei em “Rotina”
Mulheres devem ser livres – pra ser puta, ser santa, das que atraem, das que traem, mas também das que cantam
Mulheres devem ser livres, pra dizer quanto custa, mandar, seja na presidência ou na Rua Augusta
Mulheres devem ser livres, das que inspiram o cântico, tipo as mulher preta, que eu lembrei em “Crisântemo”
Mulheres devem ser livres, pra ser mina, mana, e ser respeitada, pois antes de tudo é humana
Mulheres devem ser livres, soltas no mundo, jamais pra virar brinquedo de vagabundo
Mulheres devem ser livres, pra ser alma gêmea, candura, ou pra descer do salto, igual a Dona Jura
Mulheres devem ser livres, pra escolher, viu, es-co-lher, jamais pra encolher
Mulheres devem ser livres, pra ser fraca ou guerreira, pra ser o que quiser, INCLUSIVE trepadeira”

O vídeo acima é do Bracin. Abaixo, o mesmo discurso, seguido da música referida, com Wilson das Neves:

 

On the run #133: Caetano B-Sides & Garage Songs

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O mineiro Pedro Paiva, do coletivo Vinil é Arte, selecionou pérolas obscuras de um Caetano Veloso pós-tropicalista, entre o experimentalismo vanguarda e a influência do rock psicodélico, numa mixtape em que quase todas as faixas foram produzidas por Rogério Duprat e que conta com a participações de nomes como Gal, Mutantes, Wilson das Neves, os Brazões e Lanny Gordin. Delírio.

Vida Fodona #380: Nas ruas

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Uma trilha sonora pra esses dias, que contou com uma pequena ajuda de muita gente.

Jesse Jackson – “I Am Somebody”
Gil Scott-Heron – “The Revolution Will Not Be Televised”
Nina Simone – “Revolution”
Metá Metá – “São Jorge”
Curtis Mayfield – “Power to the People”
Sam Cooke – “A Change is Gonna Come”
Wilson das Neves – “O Dia em que o Morro Descer e Não for Carnaval”
Bob Dylan – “Masters of War”
National – “Fake Empire”
T-Rex – “Children of the Revolution”
Richard Hawley – “Tonight The Streets Are Ours”
Buffalo Springfield – “For What It’s Worth”
Gal Costa – “Divino Maravilhoso”
Beatles – “Tomorrow Never Knows”
Sonic Youth – “Teen Age Riot”
Beastie Boys – “Fight For Your Right to Party”
Paralamas do Sucesso – “Selvagem”
Titãs – “Desordem”
Rage Against The Machine – “Killing in the Name”
Kendrick Lamar – “Bitch Don’t Kill My Vibe”
Primal Scream – “Come Together”
Massive Attack – “Safe from Harm”
Sly & the Family Stone – “There’s a Riot Goin’ On”
Rolling Stones – “Gimme Shelter”
Gilberto Gil – “Marginália 2”
Siba e a Fuloresta – “Pisando em Praça de Guerra”
Tatá Aeroplano – “Tudo Parado na City”
Ronnie Von – “Anarquia”
Martha & The Vandellas – “Dancing in the Streets”
Black Alien – “From Hell Pro Céu”
Ana Tijoux – “Shock”
Major Lazer + Amber Coffman- “Get Free”
Black Lips – “Bad Kids”
Gorillaz – “Dirty Harry”
Clash – “Guns of Brixton”
Bob Marley & the Wailers – “Exodus”

Vamos lá!

Vida Fodona #202: Entre a psicodelia e a pista de dança eu fico com as duas

E tenho dito.

Beatles – “I Am the Walrus (Take 17/RM4 Acetate)”
Rolling Stones – “Let it Loose”
Big Star – “The Ballad of El Goodo”
Rita Lee – “O Toque”
Stevie Wonder – “Master Blaster”
Roberto Carlos – “Além do Horizonte”
Wilson das Neves – “Venus”
Jorge Ben – “Menina Mulher da Pele Preta”
Chico Buarque – “Bye Bye Brasil”
Funky Four Plus One – “That’s the Joint”
Tom Tom Club – “Genius of Love (12″ Extended Version)”
Clash – “This is Radio Clash”
Gang 90 & Absurdettes – “Românticos a Go-Go”
Twelves – “Night Vision”
Dunproofin – “Can You Feel Magik”
Holy Fuck – “Balloons”
Pink Floyd – “Flaming”
Snoop Doggy – “Riders on the Storm”
Hall & Oates – “Private Eyes”

Would you take my hand?

On the Run 44: DJ Nuts – Culturacópia

Como não postei On the Run finde passado, compenso com outra mixtape do Nuts, lançada em 2005, em que ele faz mais ou menos o que fez nessa Embalo Jovem só que com o foco na geração Black Brasil – aquela que une Tim Maia, Jorge Ben, a Banda Black Rio, Gerson King Combo, Tony Tornado e Sandra Sá (depois o Danilo me arrumou a ordem das músicas, vê lá). E o resultado é de chorar de bom.

DJ Nuts – Culturacópia (MP3)

Sônia Santos – “Intro (0:15)”
Orquestra Som Livre – “Tema De Tucão (2:02)”
Weather Report Feat. Dom Um Romão – “Non Stop Home (0:59)”
Airto – “Peasant Dance (1:22)”
Raulzinho – “Tesouro De São Miquel (1:15)”
O Incrivel Manito – “Tucks Theme (1:51)”
Ed Maciel – “Não Há Dinheiro Que Pague (2:26)”
Hot Stuff Band – “Ju Ju Man (1:27)”
Paulo Moura – “Bicho Papao (0:37)”
Marlos Noble E Orquestra – “Ritual (0:28)”
Azymuth – “Melô Da Cuica (0:47)”
Tim Maia – “Imunizacao Racional Que Beleza (1:12)”
Bertrami E Conjunto Azimute – “Pela Cidade (1:55)”
Osmar Milito – “Morre O Burro, Fica O Homem (1:19)”
Trio Esperança – “Não Aguento Voce (0:54)”
Ronie E Central Do Brasil – “Remelexo (1:41)”
Quarteto Em Cy – “Salve O Verde (1:27)”
Ivan Lins – “Hei, Voce (2:05)”
Wilson Das Neves – “Na Na Hey Hey Kiss Him Goodbye (1:20)”
Jair Rodrigues – “Deixa Isso Pra Lá (0:29)”
Tom E Dilo – “Amanhangá (0:49)”
Miguel De Deus – “Black Soul Brothers (1:15)”
Abolicao 1860-1980 (0:58)”
Tony & Frankye – “Vou Procurar O Meu Lugar (1:08)”
Tony Bizarro – “Não Vai Mudar (1:08)”
Azymuth – “Esperando Minha Vez (0:56)”
Eumir Deodato – “Also Sprach Zarathustra”
Flora Purim – “Open Your Eyes You Can Fly”
César Mariano & Cia – “Metrópole”
Carlos Dafé – “O Metrô”
Banda Black Rio – “Na Baixa Do Sapateiro”
União Black – “A Familia Black”
Som Nosso De Cada Dia – “Black Rio”
Gerson King Combo – “Mandamentos Black”
Sos Band It – “Big Splash”
Gerson King Combo – “Mandamentos Black”
Boogaloo Combo – “Hot Pants Road”
Toni Tornado – “Podes Crê, Amizade”
Antonio Carlos & Jocafi – “Kabaluerê”
Sonia Santos – “Marraio”
Ed Maciel – “Kool & The Gang”
The Fevers – “Batman”
MPB-4 – “Faca Cega, Faca Amolada”
Hermeto Pascoal – “Coalhada”
Jorge Ben – “África Brasil Zumbi”
Mão Branca – “Melô Do Mão Branca”
Miéle – “Melô Do Tagarela”
Marcos Valle – “Estrelar”
Banda Black Rio – “Subindo O Morro”
Osmar Milito E Quarteto Forma – “O Bofe”
Assim Assado – “Sol Amarelocinza”
Kris E Cristina – “Uma Rosa Com Amor”
Trio Mocotó – “Swinga Sambaby”
Wilson Das Neves – “Pick Up The Pieces”

Vida Fodona #120: Mestre que Faleceu na Bicicleta Ergométrica

Vida Fodona clássico, com pouco século 21, um mísero remix, zero mashup e muito Isaac Hayes.

Al Green – “I Wanna Hold Your Hand”
Wilson das Neves – “Bebete Vãobora”
Bob Marley – “Slave Driver”
Gabriel Muzak – “Blue Tanger”
Beastie Boys – “3-Minute Rule”
Pavement – “Flux=Rad”
Rolling Stones – “Midnight Rambler”
Doors – “Been Down So Long”
Led Zeppelin – “Down By the Seaside”
Velvet Underground – “I’m Waiting for the Man (Backstage Bitches Remix)”
Isaac Hayes – “Ike’s Rap 2″
Isaac Hayes – “Walk On By”
Isaac Hayes – “Hyperbolicsyllabicsesquedalymistic”
Isaac Hayes – “Never Can Say Goodbye”
Isaac Hayes – “By the Time I Get to Phoenix”
Bomb the Bass “Beat Dis (The Gangsterboogie Inc Remix)”
Public Enemy – “Black Steel in the Hour of Chaos”
Isaac Hayes – “Black Chocolate Balls”
Sam & Dave – “Soul Man”