Ecossistema da Música em 2017: Tiê

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A primeira aula da versão 2017 do Ecossistema da Música no Século 21 é com a artista e empresária Tiê, que conversa comigo tanto sobre sua experiência nos palcos quanto nos bastidores a partir das 20h, no Espaço Cult. Dá pra assistir tanto à aula dela (inscrições neste link) quanto ao curso completo (neste link). Mais informações sobre o curso aqui.

O Ecossistema da Música em 2017

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Que tal começar 2017 alinhado com as principais novidades e as tendências do mercado da música? O que um artista iniciante precisa saber antes de arregaçar as mangas e começar sua jornada? O que um artista estabelecido precisa entender sobre o funcionamento do mercado pós-digital? Como trabalhar com artistas e apontar caminhos viáveis para sua sobrevivência neste mercado cada vez mais disputado? Como pensar em tudo isso e ainda ter tempo para criar, se inspirar e produzir?

Pensando nisso, propus, para o final de janeiro, uma semana de discussões para que artistas iniciantes possam discutir este cada vez mais complexo caminho das pedras. Para isso, chamei o produtor Carlos Eduardo Miranda, a jornalista Roberta Martinelli, a cantora e empresária Tiê e os irmãos artistas e produtores Rica Amabis (metade do Instituto) e Gui Amabis para traçar um panorama do que esperar do mercado da música em 2017.

O que priorizar: gravação ou apresentações ao vivo? Como conseguir fazer shows? Quando é necessário ter um empresário? Como atrair os primeiros fãs? Como gerir as redes sociais? Qual é a hora certa de gravar um disco? Qual o momento de prensar um CD? E o vinil? Como colocar sua música nos canais de streaming? Como fazer sua música tocar no rádio? E entrar em programas de TV, filmes e games? Como lidar com a imprensa e os formadores de opinião? Como fazer uma turnê pelo Brasil? Vale tentar a carreira no exterior?

As aulas acontecem dias 23, 24, 26 e 27 de janeiro, as inscrições já estão abertas e podem ser feitas neste link.

Tudo Tanto #017: A volta do protesto

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Fiquei sem atualizar minhas colunas da Caros Amigos desde o início do ano, por isso vou começar a compartilhá-las aqui. A primeira do ano foi sobre a aproximação da nova música brasileira a um novo protesto, que começava a surgir nas ocupações das escolas que aconteceram no ano passado e que anteciparam os protestos deste tenso 2016.

A volta do protesto

Há um tempo que a música brasileira não protesta. Uma conjunção de fatores diferentes fez a voz dos descontentes perder eco na música no início deste século. A derrocada das gravadoras fez que boa parte dos artistas passassem a depender de empresas e do poder público para gravar discos e fazer shows e, com isso, temáticas como provocação, cobrança e vingança desapareceram do cancioneiro nacional no início do século. A ótima fase econômica que o país atravessou na década passada ativou o sempre alerta otimismo brasileiro, que também ajudou a desligar as ganas da contestação. O rock deixou de ser a voz do contra e mesmo bandas de hardcore começaram a falar de amor. E a crise que o hip hop nacional enfrentou após incidentes violentos no meio dos anos 00 o fez repensar todo aquele sangue nos olhos.

Tudo isso transformou a temática da música brasileira do início do século em algo menos agressivo, incisivo, contestador. O amor assumiu de vez o papel de principal tema, abrindo espaços para outras platitudes – e os artistas que antes falavam apenas de amor começaram a falar de sexo no lugar. E logo a música brasileira para as massas se referia mais à pegação, balada e vida noturna, tanto em gêneros que sempre apostaram nestes temas (como a axé music e o funk carioca) até em estilos mais tradicionais (como o sertanejo e o samba).

Mas do mesmo jeito que essa conjunção de fatores fez diminuir o clima de contestação na década passada, ela foi se desfazendo à medida em que entramos na década atual. As chamadas jornadas de junho de 2013, a crise econômica no País, a insatisfação com o governo Dilma, os protestos contra a Copa do Mundo e os nervos à flor da pele nas redes sociais tornaram o país mais belicoso e agressivo. O brasileiro voltou a tomar às ruas como não acontecia há muito tempo e as pautas destes protestos eram – e são – as mais díspares possíveis.

E aí que parte daquela geração que cresceu à sombra dos artistas que falavam de amor e outros assuntos menos sérios começou a botar suas manguinhas de fora. Artistas que já vinham falando de temas menos óbvios e mais interessantes, buscando horizontes musicais mais amplos e desafios pessoais através da arte. Foi justamente a safra que culminou no ótimo 2015 que eu comentei na coluna anterior. Uma rápida audição em cada um daqueles álbuns deixam claro um clima de descontentamento, de não aceitação, de exigência – cada um à sua maneira, cada um do seu ponto de vista.

Assim, o Fortaleza do grupo cearense Cidadão Instigado é um desabafo agoniado sobre a forma como sua cidade-natal foi consumida pela violência, pelo consumismo e pela especulação imobiliária, usando-a como metáfora para esse estilo de vida de jecas brasileiros se sentindo melhores que seus conterrâneos porque falam inglês errado. O mesmo sentimento atravessa o fantástico De Baile Solto do pernambucano Siba, um disco feito em protesto contra a lei de segurança pública que proibiu o maracatu de tocar até o sol raiar – quando a própria definição de maracatu pressupõe a noite virada e o sol raiando. Dois discos feitos às próprias custas, sem gravadora, incentivo fiscal, apoio cultural, nada – justamente para não ser acusado de ter o rabo preso com alguém.

Os discos de Emicida e Karina Buhr são bombas-relógio que partem de dois temas – racismo e feminismo, respectivamente – mas que vão aos poucos mostrando a presença de ambos em diferentes aspectos de nossas rotinas. Outros discos abordam a política em nossos gestos, hábitos e comportamento, longe de siglas, ideologias e líderes – TransmutAção de BNegão e seus Seletores de Frequência fala sobre a mudança interior, o autoestranhamento de Rodrigo Campos em Conversas com Toshiro, A Terceira Terra dos Supercordas é sobre como passar para o próximo estágio da vida em sociedade, Estilhaça do Letuce transforma problematiza a vida a dois como uma tensão em busca de um equilíbrio e o Violar do Instituto pressupõe um incômodo, algo que destoa e desarmoniza. Até o instrumental do Bixiga 70 também “fala” isso, seja nos títulos de suas músicas ou no andamento mais pesado de seu terceiro disco.

Até os trabalhos mais experimentais do ano passado carregam esse tom. Discos como Niños Heroes de Negro Léo, o improviso interminável de Abismu de Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thomas Harres, o encontro de tirar o fôlego entre a mesma Juçara e Cadu Tenório, a alma livre e torta do Voo do Dragão do trompetista Guizado e até o transe telúrico de Ava Rocha em seu disco de estreia Ava Patrya Yndia Yracema – estão todos alinhando-se com o coro dos contrários, cada um vindo de uma direção diferente. Bárbara Eugenia e Tulipa Ruiz vão pelo caminho oposto, fingindo-se de pop em seus respectivos Frou Frou e Dancê para falar sério sem que a gente perceba.

Essa produção artística toda culmina no instigante Mulher do Fim do Mundo, que Elza Soares gravou com alguns dos músicos acima citados e que parece sintetizar o clima de descontentamento atual que todos os discos acima sublinham. Mas mais do que celebrar o encontro de Elza com uma geração mais nova, 2015 talvez tenha sido importante por mostrar para essa geração mais nova que uma geração ainda mais nova pode ser seu novo público.

Foi o que se viu no início do mês de dezembro do ano passado, quando a atual geração da música brasileira resolveu entrar de cabeça na luta das ocupações das escolas públicas de São Paulo, realizadas por adolescentes alunos das mesmas. Revoltados contra a decisão unilateral do governador Geraldo Alckmin de fechar escolas, os alunos foram lá e tomaram conta das instituições, assumindo a gestão e a rotina de mais de 200 escolas em todo o estado. E os artistas mais velhos se reuniram para fazer shows para arrecadar mantimentos para essa nova geração rebelde.

Pude assistir a uma de várias destas apresentações ao ar livre e gratuitas que aconteceram na cidade. Artistas como Céu, Cidadão Instigado, Bárbara Eugênia, Vanguart, Criolo, Maria Gadu, Tiê e até veteranos como Paulo Miklos e Arnaldo Antunes se reuniram num domingo em uma praça no Sumaré para celebrar esse novo momento de resistência – e aos poucos criava-se uma conexão improvável entre adolescentes que não conheciam uma geração mais velha de artistas que se dispunha a fazer shows de graça para eles. Um elo que parece ingênuo e frágil à primeira instância, mas que pode fazer com que estas duas gerações cresçam juntas, se respeitando e construindo um país melhor do que esse que tentam nos empurrar entre anúncios comerciais.

Educação Musical, com Tiê

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Faça sua inscrição aqui.

Realizo hoje a segunda aula do curso Educação Musical, que coordeno na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi e que fala sobre a importância da audição musical a partir da formação musical de três dos principais nomes da atual música brasileira. O primeiro, que aconteceu há duas semanas, aconteceu com a Céu e o de hoje é com a Tiê, que explica como ouvir atentamente clássicos da música brasileira, hits do rádio e novos artistas lhe ajudaram a se tornar uma melhor ouvinte e sua própria produção cultural. A aula de hoje começa a partir das 20h na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi de São Paulo e as inscrições podem ser feitas neste link. Na semana que vem eu converso com o Marcelo Jeneci.

Educação Musical, com Jeneci, Céu e Tiê

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Semana que vem estreio mais um curso sobre música, desta vez para falar de apreciação musical, na Livraria Cultura. Chamei a Céu, o Jeneci e a Tiê para conversar sobre a importância de ter tempo para ouvir música, de perceber as conexões entre os artistas, a importância da ficha técnica e outros detalhes que parecem se perder na correria da internet.

Na próxima quinta converso (28) com a Céu, na primeira quinta do mês que vem (4) com a Tiê e no meio de fevereiro (dia 22) com o Jeneci. As aulas acontecem a partir das 20h na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi e as inscrições podem ser feitas pelo site da Livraria Cultura. Abaixo, a ementa do curso:

A velocidade e a disputa por atenção dos tempos digitais pode estar nos fazendo perder a capacidade de apreciação musical, entre programas de streaming, aplicativos e vídeos online. Mas é possível, mesmo na agitação frenética dos dias de hoje, parar para escutar um artista com atenção, procurar conexões entre gêneros e estilos musicais, conhecer o trabalho de quem assina as fichas técnicas dos discos e aumentar seu vocabulário musical. No curso Educação Musical, o jornalista Alexandre Matias, que cobre música e tecnologia há vinte anos em seu site Trabalho Sujo, mostra como ampliar seus conhecimentos musicais e afinar sua fruição artística em conversas com artistas já estabelecidos neste novo cenário brasileiro, que explicam como passaram de fãs e ouvintes a apreciadores e conhecedores de música. Marcelo Jeneci, Céu e Tiê compartilham suas experiências pessoais com discos e artistas, raros ou populares, mostrando como deram este salto e como isso influenciou suas escolhas artísticas. São duas horas de bate-papo entre os dias 21 de janeiro e 4 de fevereiro, cada dia com um dos artistas.

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28/01
Céu é uma das principais artistas da música brasileira deste século. A cantora é pioneira ao desbravar os mercados digital e internacional após a popularização da internet. Ela foge da tradição de cantoras brasileiras que começaram pela bossa nova e MPB ao trazer elementos de reggae, dub, música latina e africana em sua obra e está prestes a lançar seu quarto disco, no início de 2016.

04/02
Tiê começou tocando com Toquinho, mas logo bandeou-se para sua geração de contemporâneos e em pouco tempo colaborava com Jorge Drexler, Helio Flanders, Tulipa Ruiz e Marcelo Jeneci. Seu terceiro disco, Esmeraldas, de 2014, acena para um lado mais pop e foi produzido por Adriano Cintra (ex-Cansei de Ser Sexy).

22/02
Marcelo Jeneci começou tocando acordeão com Chico César e fazendo arranjos para Vanessa da Mata e Arnaldo Antunes, mas logo se firmou como cantor e compositor no disco ‘Feito pra Acabar’, de 2010. Seu disco mais recente, ‘De Graça’, de 2013, foi indicado ao Grammy Latino de melhor álbum de música brasileira.

O Ecossistema da Música em 2015

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Essa é a última semana para as inscrições na terceira edição do curso que coordeno no Espaço Cult, aqui em São Paulo. E para me ajudar a falar dos problemas e soluções da profissionalização musical na edição deste semestre do Ecossistema da Música no Século 21 reuni nomes que já passaram por edições anteriores (Evandro Fióti, Roberta Martinelli, Miranda, Fabiana Batistela, Marcos Boffa, Renata Simões, Mariana Piky, Mercedes Tristão e Tiê) a novos professores (Leonardo Lichote, Heloisa Aidar, Adriano Cintra, Fernando Dotta, Sarah Oliveira, Maurício Bussab, Tejo Damasceno e Rica Amabis) para contribuir ainda mais com o diagnóstico em aberto – e colaborativo – do que está acontecendo com a música desde a virada do século. As inscrições podem ser feitas até sexta-feira no site do Cult.

Tudo Tanto #006: Tiê pop

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Conversei com a Tiê no ano passado sobre seu disco mais pop, Esmeraldas, lançado no fim de 2014, e o papo rendeu assunto pra minha coluna Tudo Tanto na revista Caros Amigos de janeiro.

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Nada é por acaso
Tiê lança seu disco mais pop com uma ajuda de Adriano Cintra, Jesse Harris e David Byrne

Levou um tempo para o terceiro disco de Tiê sair. “Três anos e meio, não parece muito, mas é sim muita coisa!”, desabafa. Ela está sentada de cabelo preso à minha frente, na antessala da edícula de seu escritório, na Vila Romana, em São Paulo, e fala sem parar sobre o disco que acaba de lançar. De vez em quando uma cachorra preta vem nos visitar, mostrando a bolinha com a qual quer brincar, e a cantora aproveita esses momentos para pausar a enxurrada de sentimentos que transforma em palavras ao contar como que seu Esmeraldas, lançado no fim de 2014, finalmente veio existir.

“O meu primeiro disco (Sweet Jardim, de 2009) é muita cara de pau: eu não canto direito, não falo direito, não falo nada de importante, é muito preto e branco”, ela deságua o próprio processo criativo como se estivesse se descarregando de forma terapêutica. “Eu paguei esse disco cantando em evento, em feira têxtil”, brinca. “E ele praticamente se juntou com o segundo (A Coruja e o Coração, de 2011), que eu gravei quando tinha acabado de parir, estava em turnê e não vi muito acontecer. Talvez ele seja um disco despretensioso demais, eu fiz achando tudo lindo, sem pressão nenhuma.”

A clássica crise do segundo álbum, portanto, só veio acontecer com ela neste terceiro. Ela travou criativamente ao começar a pensar num terceiro disco e, quando foi cobrada pela gravadora por um novo lançamento, cogitou um álbum de versões de músicas alheias. “Mas por contrato eu deveria fazer um disco de inéditas”, explica, lembrando como sua vida começou a se tornar agitada a partir de 2012. Foi a partir dessa época em que ela abriu sua produtora Rosa Flamingo, que começou a fazer shows na própria casa (batizados de Na Cozinha ou no Jardim) e a produzir noites de microfone aberto para quem quisesse declamar poesia ou cantar suas canções num evento promovido por ela – “muitos fãs me mandam suas músicas, resolvi chamá-los pra cantar”.

“Mil ideias, mil coisas rolando, eu já tava com outra filha e eu tava em crise e sem saber do que falar”, Tiê prossegue contando sobre o turbilhão emocional que misturava trabalho, família e amigos que precedeu o novo disco. “Eu não aguentava falar de amor – eu amo minhas filhas, amo meu marido, mas não queria mais falar de amor. Eu vou falar de cocô e fralda? É o que eu vivo: eu troco oito fraldas por dia.” Foi preciso sair de São Paulo para se encontrar. “Aí eu fui pra Minas no fim do ano do ano passado e o disco veio: ‘blam’, como um escorregão. Eu tava lá, cansada, tomando calmante natural e fiz ‘Mínimo Maravilhoso’, que é a mais rockinha do disco e é uma música autobiográfica, que representava exatamente o que eu tava passando. E de repente, tudo fez sentido.”

Esmeraldas foi assim batizado em homenagem à cidade mineira onde ficava o sítio que trouxe a revelação para a cantora – “depois eu fui descobrir que foi onde o goleiro Bruno enterrou a ex-namorada dele, mas até aí, já era”, desconversa. E foi um disco que nasceu pop. No entender da gravadora Warner, aquilo queria dizer gravar em Nova York com o músico e produtor Jesse Harris, o mesmo que deu o hit “Don’t Know Why” para Norah Jones. Mas Tiê tinha outra ideia quando pensou em pop: “Vocês querem pop? Então vou te dar o cara pop”, brincou.

E chamou o produtor Adriano Cintra para ajudá-la no disco. Adriano é velho conhecido no underground paulistano e, além de passar por bandas como Ultrasom, Caxabaxa e Thee Butchers’ Orchestra, foi o mentor do hype indie brasileiro Cansei de Ser Sexy, que conseguiu sucesso nos Estados Unidos e Europa, lançando discos pela Sub Pop e tocando nos principais festivais do mundo. Adriano deixou a banda em novembro de 2011 e passou a investir na carreira de produtor, trabalhando com nomes tão diferentes quanto Marina Lima, Jota Quest e Marcelo Jeneci, além de produzir seus próprios trabalhos (como o primeiro disco solo, lançado em 2014 pela gravadora Deck).

A intenção não era fazer um disco para o mercado internacional ou para atingir milhões de pessoas, mas Tiê sabe da importância de crescer em tamanho. “Não quero fazer 25 shows por mês, mas sei como é bom ter uma música na novela”, explica, reforçando que faz música para falar com muita gente. “Não quero ser indie!”, renega.

Adriano e Tiê fizeram a pré-produção do disco no Brasil, com Adriano gravando quase todos os instrumentos. “Fomos com tudo mais ou menos pré-definido e gravado: baixo, guitarra, teclados, algumas coisas de programação e bateria! É um disco que tem bateria! No meu primeiro disco não tem, no segundo tem umas vassourinhas e só e agora sim tem bateria no terceiro!” Chegando em Nova York foi a vez de Jesse Harris passar seu verniz no material. “E o Adriano deixou o Jesse brilhar e ele deu várias sugestões incríveis, mais rebuscadas, porque ele é mais chique, mais jazz. Foi uma coprodução que deu supercerto.”

Esmeraldas é realmente o disco mais pop de Tiê – e talvez seja o salto mais ousado para longe da MPB que a safra Tulipa, Marcelo Jeneci e Céu tenha dado, e sendo justamente dado por uma cantora que começou quase convencional, gravando canções intuitivas sem nenhuma técnica e apenas feeling. O resultado final é um disco que poderia ser lançado no início dos anos 80 e não faria feio ao lado de discos da Gang 90, do Metrô e de Ritchie – mas sem perder uma aura suntuosa que acompanha a presença vocal de Tiê.

A cereja do disco é a participação de David Byrne na bilíngue “All Around You”, uma marcha-reggae paranoica sobre vigilância digital. “Eu consegui marcar um almoço com ele e quando você fala ‘marquei um almoço com o David Byrne’, não importa pra quem você fale isso, a reação é sempre uma risada”, lembra brincando, “mas eu lembro que quando ele veio para o Brasil lançar um disco, não lembro qual, eu vi ele no Studio SP (antiga casa de shows de São Paulo), sozinho, de chapeuzinho, assistindo uma banda ‘xis’, mas super interessado, meia-noite, na Augusta, perdido.”

“Então eu marquei um almoço com ele, num diner do Brooklyn, bem na época em que eu estava na crise criativa e, depois de quebrado o gelo, eu falei isso pra ele: eu estou numa crise, preciso me inspirar, preciso que você me diga alguma coisa, me mande ver um filme, ler um livro, qualquer coisa”, lembra a cantora, desabafando. “Só o almoço já foi inspirador, ver ele indo embora de bike também, mas depois de uns dias ele me mandou duas músicas, uma chamada ‘Afoxé’ – que só de eu ler o nome ‘afoxé’ eu não sabia se abria ou não, de tão nervosa – e essa outra que já vinha no título “The Government is All Around You”, gravada só ao violão, no celular, sem letra, só umas frases soltas…”

A música passou por alguns ajustes (tanto em São Paulo quanto em Nova York), ganhou uma nova parte e não contaria com a participação do próprio Byrne, mas ao gravar em Nova York, Tiê aproveitou a oportunidade pra ver se o ex-Talking Heads não topava cantar no disco. Byrne assistiu à gravação e, dias depois, quando o disco já estava sendo finalizado em São Paulo, ele enviou os vocais e Tiê pode ter David Byrne participando de seu disco mais pop. Nada é por acaso.

Começa hoje O Ecossistema da Música em 2015

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O curso O Ecossistema da Música em 2015, o segundo curso Trabalho Sujo no Espaço Cult, começa nesta segunda-feira e quem quiser participar ainda encontra vagas. No curso, reuni Miranda, Pitty, João Marcello Bôscoli, Mariana Piky Candeias, Marcos Boffa, Ronaldo Evangelista, Mathieu Le Roux, Tiê, Fabiana Batistela, Tiago Agostini, João Leiva, Maurício Tagliari, Mercedes Tristão e Edson Natale para conversar sobre as diferentes mudanças que estão acontecendo no mundo da música hoje. Serão dez encontros de duas horas por duas semanas, em que serão discutidas diferentes facetas do novo cenário, da criação artística à divulgação, passando pela produção de shows, editais públicos, streaming, produção, assessoria de imprensa e gravação de discos. O programa completo do curso está no site do Espaço Cult, que fica na Vila Madalena, em São Paulo. As inscrições podem ser feitas por aqui.

O Ecossistema da Música em 2015

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Daqui a uma semana começa O Ecossistema da Música em 2015, o segundo curso Trabalho Sujo no Espaço Cult, em que reúno Miranda, Pitty, João Marcello Bôscoli, Mariana Piky Candeias, Marcos Boffa, Ronaldo Evangelista, Mathieu Le Roux, Tiê, Fabiana Batistela, Tiago Agostini, João Leiva, Maurício Tagliari, Mercedes Tristão e Edson Natale para conversar sobre as mudanças que estão acontecendo no mundo da música hoje. Serão dez encontros de duas horas por duas semanas, em que serão discutidas diferentes facetas do novo cenário, da criação artística à divulgação, passando pela produção de shows, editais públicos, streaming, produção, assessoria de imprensa e gravação de discos. O programa completo do curso está no site do Espaço Cult, que fica na Vila Madalena, em São Paulo. As inscrições podem ser feitas por aqui.

Vida Fodona #480: Verão psicodélico

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Aos poucos voltando à rotina…

Elastica – “Connection”
Dumbo Gets Mad – “Future Sun”
Lovin’ Spoonful – “Summer in the City”
Boogarins – “Lucifernandis”
Ariel Pink’s Haunted Graffiti – “Only In My Dreams”
Washed Out – “All I Know (Moby Remix)”
Banda do Mar – “Hey Nana”
Mombojó + Céu – “Diz o Leão”
Nicolas Jaar – “Keep Me There”
Max Frost – “Sunday Driving”
Tops – “Way To Be Loved”
Tiê – “A Noite”
Taylor Swift – “New Romantics”
Calvin Harris + Haim – “Pray To God”
Mark Ronson + Kevin Parker – “Daffodils”
Sants + Estranho + El Mandarim – “Madruga”
Aphex Twin – “180db_”

Bora?