O rock brasileiro do século vinte e um

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O UOL celebrou o dia do rock e me pediram pra elencar dez bandas de rock para calar a boca de quem diz que não existe mais rock feito no Brasil lá no meu blog.

Uma reclamação constante que ganha força no infame “dia do rock” é que não há mais rock bom sendo feito no Brasil. Normalmente esta reclamação vem de gente que se acostumou a acompanhar as novidades pelo rádio, um meio que, infelizmente, preferiu optar pela redundância comercial do que pela curiosidade artística. E o próprio rock preferiu se distanciar. Se escondendo em rótulos e nichos, várias bandas conseguem se estabelecer longe das massas, criando carreiras e discografias sólidas em anos de trabalho. Algumas até flertam com o mercado pop mas acabam sendo ofuscada pela ostentação intensa de artistas de forte apelo popular. Mas, sim, há muita banda boa fazendo rock atualmente. Separei dez das que considero mais representativas na atual cena do Brasil, mas quem quiser citar mais nomes, por favor, use a área de comentários para isso (e não para seguir reclamando de que não há nada de novo, sem nem se dar ao trabalho de ouvir as bandas).

Autoramas
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A decana banda liderada por Gabriel Thomaz – que hoje conta com a esposa Érica Martins (ex-Penélope) na formação – já pode ser considerada um clássico do atual rock brasileiro. Contemporânea do grupo Los Hermanos, o hoje quarteto começou como um trio e rebola entre o rock mais dançante e sujo dos anos 60 e a new wave e o punk rock dos anos 70, com letras em português e refrões grudentos. Seu disco mais recente, O Futuro dos Autoramas, prova que é possível ser pesado e fazer dançar sem deixar de soar rock.

The Baggios

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A dupla sergipana – que agora é um trio – lançou um dos discos mais pesados do ano passado, o excelente Brutown, e aos poucos também se estabelece como uma das bandas que mais circulam pelo circuito independente do país. Rock bruto e cru com letras em português para não deixar ninguém parado.

Boogarins

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A principal banda da nova cena psicodélica brasileira, o grupo goiano Boogarins foi responsável por dar origem a toda uma nova safra de bandas que bebem tanto no rock lisérgico dos anos 60 quanto no indie rock deste século. Vocais sussurrados, guitarras derretidas e uma cozinha precisa cravam a precisão do grupo, que acaba de lançar o ousado Lá Vem a Morte, flertando com a eletrônica e a pós-produção. Seu disco anterior, o já clássico Manual Guia Livre de Dissolução dos Sonhos, é um dos principais trabalhos de rock brasileiro deste século.

Cidadão Instigado

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Liderada pelo guitar hero Fernando Catatau, a banda cearense Cidadão Instigado já se estabeleceu como uma banda contemporânea de rock clássico e completa, neste ano, duas décadas de atividade. Com os pés no rock dos anos 70 e a cabeça entre praias ensolaradas e a o concreto quente, o grupo é conhecido por viagens instrumentais pesadas que orbitam entre o rock psicodélico, o rock progressivo e o art rock, com um sotaque definitivamente brasileiro. Seu disco mais recente, o manifesto Fortaleza, também é seu disco mais pesado.

E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante

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Quarteto paulistano de pós-rock, o grupo E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante explora paisagens sonoras com timbres pesados e levada ambient, criando pinturas instrumentais de texturas pesadas e forte carga emotiva. Estão lentamente compondo e gravado seu disco de estreia, e seu lançamento mais recente (o single com as músicas “Medo de Morrer” e “Medo de Tentar”) captura sua intensidade melancólica.

Far from Alaska

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Reconhecidos inclusive no exterior, a banda potiguar Far from Alaska é um dos principais nomes do nu metal brasileiro e acaba de gravar seu segundo disco, Unlikely, que será lançado ainda neste semestre. O single de “Cobra”, igualmente pesado e melódico, é uma ótima amostra do que podemos esperar deste novo disco.

Maglore

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Banda baiana liderada pelo compositor Teago Oliveira está prestes a lançar seu quarto disco e o culto ao redor de suas canções e apresentações segue crescendo. Com fortes cores melódicas, o grupo segue a trilha abandonada pelos Los Hermanos no terceiro disco, sem perder a força elétrica dos riffs e solos de guitarra. O terceiro disco da banda, chamado apenas de III, é uma ótima porta de entrada para o trabalho do grupo.

Rakta

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Banda paulistana de formação feminina, o Rakta é minha banda brasileira de rock favorita atualmente. Sem guitarra, concentram o ruído entre as linhas de baixo de Carla Boregas e os teclados de Paula Rebellato, que também tocam percussão no meio do show, transformando a apresentação em um ritual de bruxaria elétrica. As influências vão da no wave ao krautrock, passando pela psicodelia e pelo pós-punk – e seu terceiro disco, batizado apenas de III, é uma obra-prima.

O Terno

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Trio liderado por Tim Bernardes (filho do Mulheres Negras Maurício Pereira), O Terno é uma usina de som e seus shows são catárticos. Entre o rock épico, a psicodelia e a música brasileira, eles bebem tanto em bandas clássicas dos anos 60 quanto em ícones dos anos 80 e malditos da MPB, fazendo um amálgamo sonoro intenso, elétrico e com letras que apelam para a metalinguagem. Seu disco mais recente, Melhor do Que Parece, é mais melancólico que as apresentações do grupo – por isso escolho o segundo disco, batizado apenas com o nome da banda.

Ventre

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Outro grupo que segue levantando a bandeira do rock melódico que já foi dos Los Hermanos, o trio carioca Ventre é conhecido por suas apresentações intensas e por entortar soluções pop de forma inusitada, além da presença carismática da baterista Larissa Conforto, gigante em seu instrumento. Seu disco de estreia, homônimo, já é um dos grandes discos de rock brasileiro desta década.

Centro do Rock 2017

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A partir do dia 11 de julho, o Centro Cultural São Paulo abre-se para o melhor do rock moderno brasileiro, reunindo nomes como Rakta, Garage Fuzz, Boogarins, Test Big Band, Meu Reino Não é Desse Mundo, Thiago Pethit, Luís E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante + Ventre, MQN, Maglore, Vermes do Limbo + Bernardo Pacheco, Thiago Nassif, Jonnata Doll e os Garotos Solventes, Labirinto e The Baggios, além de debates, filmes e uma edição do Concertos de Discos dedicada à história do rock brasileiro. Mais informações no site do CCSP.

Os 75 Melhores Discos de 2016 – 69) Baggios – Brutown

No cânone do rock pesado nordestino.

The Baggios + Du Peixe: “Mete medo e nem sabe porquê”

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Uma das bandas de rock mais pesadas da atual cena independente brasileira, a dupla sergipana The Baggios está prestes a dar seu salto mais ousado com o disco Brutown (capa e ordem das faixas logo abaixo), quando vão de cabeça rumo à primeira linha do gênero no Brasil. Para isso, cercaram-se de alguns dos principais representantes do atual rock brasileiro em diferentes participações no novo disco, como Fernando Catatau, do Cidadão Instigado; Emmily Barreto, do Far From Alaska; e o casal Gabriel Thomaz e Erika Martins (dos Autoramas). Mas talvez o principal destaque das participações seja a presença de Jorge Du Peixe, da Nação Zumbi, na faixa “Saruê”, que o grupo mostra pela primeira vez aqui no Trabalho Sujo.

“Quando eu escrevi ‘Saruê’ eu estava no auge da angústia ao ler tantas notícias tristes, brutais, de ler tantas declarações absurdas vindo por todos os lados”, explica o vocalista e guitarrista da banda, Julio Andrade. “Foi quando eu me dei conta de quanto os Malafaias, Felicianos, Bolsonaros, Temers estão cercando cada vez mais nosso sistema, nossa sociedade, acelerando ainda mais um retrocesso de forma caótica. É como um câncer, é como um encosto. A hipocrisia, pensamentos e ações extremistas, as pessoas furiosas perdendo as estribeiras e amizades por questões partidárias, a vaidade pelo poder, a cegueira religiosa, a violência doméstica e urbana … tudo que tem chocado o Brasil e o mundo de forma negativa se enquadra na personificação de um ser ‘Saruê’.”

“Não é difícil notar a influência da música brasileira/nordestina em Saruê, e quando penso na nossa música, Nação Zumbi é um dos primeiros nomes a surgir na cabeça”, continua Julio. “Não foi diferente quando pensei numa participação para essa faixa. Fui apresentado ao Jorge por DJ Dolores, e o cara foi muito gente fina e topou na hora. Jorge Du Peixe é um dos maiores letristas da música contemporânea brasileira, é inspirador como ele conduz a canção e eu não tenho nem palavras para descrever minha felicidade de ter um cara como ele fazendo parte de um disco do The Baggios.”

Brutown chega às plataformas digitais nessa sexta-feira e a versão física será lançada no mês que vem. A dupla (que, além de Julio, conta com Gabriel Carvalho na bateria e agora tem um terceiro integrante ao vivo, o tecladista Rafael Ramos) lança o disco aqui em São Paulo dia 14 de outubro, no Auditório Ibirapuera, com participações de Catatau, do Teago (do Maglore) e da banda Vivendo do Ócio.

“Estigma”
“Brutown”
“Desapracatado”
“Sangue e Lama”
“Alex San Drino”
“Saruê”
“Miquin”
“Como Um Tiro De Bacamarte”
“Medo”
“Vivo Pra Mim”
“Padece Ser”
“Soledad”

Como foi o Porto Musical 2015

portomusica2015

Participei do conselho da edição de 2015 do Porto Musical, em Recife, que aconteceu em fevereiro e falei sobre a importância do evento – misto de conferência e festival – para a cena local, para o showbusiness nacional e para o contexto global.

Nem lembro se publiquei aqui os shows que assisti quando estive por lá, apresentações memoráveis do DJ Dolores, Marcelo Jeneci, O Terno, The Baggios, Cumbia All Stars e Anelis Assumpção. Filmei algumas músicas, saca só: