Lee Ranaldo e o pixo

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Estrela da Mês da Cultura Independente deste ano, Lee Ranaldo falou sobre sua relação com São Paulo com o site oficial do evento e revelou sua paixão pelo pixo brasileiro:

Uma coisa que eu procuro e que eu amo em São Paulo — nem sei se é legal dizer esse termo — é a pixação. Eu gosto muito da pixação. A gente conheceu um pixador de São Paulo, o Jey77, e ele fez o nome da banda como pixação. Foram feitas umas camisetas com a estampa! E eu vi umas no East Village, em Nova York, há pouco tempo.

Na entrevista, ele também falou sobre Inhotim, comida brasileira, música brasileira e uma possível volta do Sonic Youth. Lê lá.

Kim Gordon, versão brasileira

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Dos prazeres da vida a dois: traduzir um livro juntos. Eu e Mariana, minha mulher, estamos passando por essa experiência há um tempo (já estamos indo para o quinto livro traduzido juntos), discutindo sentido de expressões, termos técnicos e que adjetivo funciona melhor para o que o autor quis dizer. Essa atuação ganhou um coração a mais quando nos juntamos na leitura e tradução de casal de um dos livros de uma de nossas “ídolas” – Kim Gordon, que lançou seu livro de memórias Girl in a Band no início do ano e que tivemos a honra e o prazer de traduzi-lo, chega às livrarias nacionais com nossa assinatura de tradução pela editora Rocco. Um livraço tanto para fãs do Sonic Youth, para quem tem Kim como ideal feminino quanto para quem se interessa por feminismo e cultura alternativa e independente como um todo.

Também escrevi a orelha do livro, que reproduzo abaixo:

Com o baixo (e depois guitarra) em punho, Kim Gordon era um dos alicerces que sustentou por trinta anos o Sonic Youth, uma das principais instituições do rock independente mundial e da vanguarda pop global de nossa época. Fundada em 1981 ao lado do então namorado (e depois marido e pai de sua filha) Thurston Moore e do amigo Lee Ranaldo, a banda passou três décadas experimentando os limites entre o punk rock e a música erudita contemporânea, enquanto explorava outras áreas, da televisão ao cinema, da moda às artes plásticas, a dança e a publicidade, reunindo fãs enquanto gravavam discos, faziam clipes e shows por todo o mundo.

O Sonic Youth terminou ao mesmo tempo em que o o casamento de Kim. A ficha sobre o fim das duas relações caiu para a artista quando o grupo se apresentou pela quarta vez no Brasil, no final de 2011. Em frente a uma multidão de desconhecidos e entre bandas pop que nada tinham a ver com o histórico de sua banda, ela percebeu que um ciclo havia se encerrado e, como numa sessão de terapia, começa sua festejada autobiografia Uma Garota em Uma Banda pelo fim, ao acrescentar o ponto final a uma banda que começou tocando em moquifos mal frequentados de Nova York no meio de uma tempestade em festival pop no interior de um país em outro hemisfério.

Um ciclo improvável para uma garota da Califórnia filha de intelectuais que liam beatniks e ouviam free jazz, e que cresceu vendo os últimos anos do sonho hippie se transformar num pesadelo imaginado por Charles Manson. Convivendo com uma família formada por um pai recluso e erudito, uma mãe criativa mas frustrada e um irmão com sérios problemas, ela descreve sua tortuosa trajetória para tornar-se uma artista, que a levou de uma costa à outra dos Estados Unidos e de escolas de arte para a boemia pós-punk da capital cultural do ocidente no fim do século.

E durante este percurso, ela percebe o duro fardo de ser uma mulher em uma sociedade machista em todas suas esferas. Uma Garota em Uma Banda não é apenas a biografia de um ícone indie nem uma sessão de descarrego emocional: é um libelo feminista em forma de relato, que mostra que mesmo que tenhamos evoluído muito nestes termos, ainda temos muito caminho pela frente. E Kim Gordon sabe o quanto isso é recompensador.

A gênese do Sonic Youth

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O Sonic Youth segue relançando sua discografia remasterizada – e agora é a vez do disco que aprumou a banda em direção aos seus melhores discos, EVOL, Sister e Daydream Nation, gravados depois de Bad Moon Rising, de 1985. É um disco sobre como o mau agouro dos 70 matou o idealismo dos 60 e fundaram os Estados Unidos que a banda vivia naquele ano, sob o totalitarismo de popstars cada vez mais gigantescos que escondiam um país aos prantos, criminalidade aumentando e um intenso clima de paranóia interna, culminando no épico dueto entre Thurston Moore e a diva Lydia Lunch, “Death Valley ’69”.

O disco será relançado tanto em CD quanto em LP e já está em pré-venda.

Capas de discos via Adventure Time

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Adventure Time talvez seja um dos grandes trunfos culturais dessa década, ainda crescendo lentamente rumo ao topo do pop. A popularização do desenho já está em estágio avançado de massificação e se você não sabe do que se trata, faça-se o favor de se informar e cair na melhor psicodelia do século até agora. Os personagens do programa do Cartoon Network aos poucos estão se embrenhando em nosso inconsciente e não duvide se 2015 assistir ao momento em que eles se tornarão mais populares que o Mickey, o Snoopy ou o Super Mario para todas as faixas etárias. Essa compilação de capas de discos clássicos mashupadas com o imaginário do título, reunida por este blog, já dá uma vaga noção de que o desenho não é mais um segredo entre crianças apaixonadas, pais vidrados e doidões deslumbrados:

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Lá no blog tem muito, muito mais.

Como foi o show do Thurston Moore em São Paulo

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Thurston Moore montou um mini-Sonic Youth para gravar seu novo disco solo, The Best Day. Primeiro veio o próprio Steve Shelley na batera, velho escudeiro de discos anteriores. Para o baixo chamou uma mulher (ninguém menos que que Debbie Googe, ex-My Bloody Valentine) tão experimetalista em seu instrumento quanto sua ex-mulher, Kim Gordon. E para a outra guitarra chamou um clone inglês de Lee Ranaldo, o inglês James Sedwards, um instrumentista educado no rock clássico (o glam era evidente em certos trechos de seu instrumento), mas completamente inserido no contexto de noise e microfonia proposto pelo velho indie.

Mas em sua recente apresentação em São Paulo, esse formato foi quebrado devido a um problema de saúde – Steve Shelley descobriu, no Brasil, que havia descolado a retina e por isso tinha de se afastar das baquetas. E o quanto antes, tanto que nem pode subir no palco do Cine Jóia. Em vez dele a produção chamou o baterista que acompanha Jair Naves, Babalu, que foi pego de surpresa com o convite e recebeu aulas de bateria do próprio Steve Shelley durante o ensaio (que deveria ser apenas uma passagem de som). O Lucio, que organizou o show, conta como foi a saga sônica de um baterista desconhecido para o palco com um dos grandes nomes do underground mundial.

Babalu entrou completamente em sintonia com o trio e, apesar do (natural) ar de insegurança no início do show, não comprometeu em nenhum momento, seguindo a cartilha que havia aprendido na mesma tarde à risca. Profissa. À sua frente, três veteranos das cordas elétricas duelavam-se entre espasmos de ruído e delicados dedilhados. O fio condutor foi basicamente o Best Day que Thurston acaba de lançar – a única fuga deste script foram “Pretty Bad” e “Ono Soul”, de seu primeiro disco solo, Psychic Hearts, a última também a única música de outro disco que ele tocou quando trouxe seu Demolished Thoughts ao mesmo palco paulistano há dois anos e meio (além de “It’s Only Rock’n’roll (But I Like It)”, dos Rolling Stones).

Thurston e sua guitarra já são um só faz muito tempo, então ele nem sequer precisa pensar para levá-la de um extremo a outro – é sua assinatura de palco, ao lado de seu grave vocal quase balbuciado e seu ar de criança de dois metros de altura. Esticando músicas do disco desse ano para além dos 10 minutos, ele inevitavelmente caía em breaks instrumentais em que desafiava os outros músicos a sair do formato canção, por mais bruta que fosse sua versão, quebrando-se em tsunamis de microfonia e marolinhas ambient, regendo seus músicos com o braço de seu instrumento. Um show catártico, conciso, intenso e reconfortável, uma vez que sempre podemos reconhecer os mesmos traços que desenharam a discografia de um grupo tão importante para aquele meio quanto o Sonic Youth. Venha mais, Thurston!

Abaixo os vídeos que fiz do show:

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Vida Fodona #468: Dias inconstantes

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Vamos lá?

Johnny Jewel – “Birds of Prey”
Dusty Springfield – “Windmills of Your Mind”
Sia – “Soon We’ll Be Found”
Lana Del Rey – “Brooklyn Baby”
Tops – “Change of Heart”
Unknown Mortal Orchestra – “So Good At Being in Trouble”
Leo Cavalcanti – “Inversão do Mal”
David Bowie – “‘Tis A Pity She Was A Whore”
Sonic Youth – “Superstar”
Supercordas – “Mumbai”
Can – “Fall of Another Year”
Lucas Santtana – “Jogos Madrigais”
Lykke Li – “I Follow Rivers (The Magician Remix)”
Gang of Four + Alison Mosshart – “Broken Talk”

Por aqui.