Beastie Boys ao vivo em São Paulo, em 1995

Em 1995 eu tinha vinte anos e escrevia num caderno chamado Diário Pirata, no jornal Diário do Povo, em Campinas. E tal função me fez assistir de camarote a um show de uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos – e ainda escrever sobre ela. Olha a resenha do show feito no dia 18 de abril de 1995 aí embaixo:

A foto acima no post é a mesma que ilustra a matéria, do meu compadre e mago da luz Serjão Carvalho. Já pedi pra ele ver se arruma mais fotos desse show, vamos ver…

Superchunk no Brasil!

A Inker tá confirmando o Superchunk na Virada Cultural, do dia 14 para o dia 15 de maio desse ano. Vi eles em outubro, no aniversário de 21 anos da Matador em Las Vegas e eles foram a única banda que passou o próprio som, em vez de chamar roadies – como todas as outras, seja Sonic Youth, Yo La Tengo, Belle & Sebastian ou Jon Spencer Blues Explosion. E também não custa lembrar que o Superchunk é a banda dona da gravadora Merge, uma das principais gravadoras indies do mundo, que acaba de faturar o Grammy de Melhor Disco do Ano – porque, nos EUA, o Arcade Fire é da Merge. Ou seja: os caras podiam estar cuidando da grana e em vez disso tão vindo pro Brasil. Tru.

E se você, como eu, estava lá no final dos anos 90 e presenciou sua mega turnê pelo Brasil, um conselho: o show é um incrível flashback para aquela época, uma vez que a banda parece não envelhecer – o baterista Jon Wurster, parece que rejuvenesce, é bizarro. Aliás, Wurster também é humorista (e dos bons, também o vi em Vegas, apresentando uma das noites), não seria nada mal tentar uma apresentação dele em algum lugar, hein… São Paulo já está grandinha pra assistir a programas em inglês.

Clássica a turnê do Superchunk do fim dos anos 90, que passou pelo Rio, BH, São Paulo, Londrina, Piracicaba, São Bernardo, Recife e Brasília acho que Porto Alegre, pertencia a uma fase em que bandas gringas só vinham para o Brasil em grandes festivais – quando vinham. Na época, a Motor Music de Belo Horizonte agitava shows de bandas indies e alternativas norte-americanas e conseguia fazer giros pelo país que valesse a pena para os envolvidos. Como as bandas eram pequenas, sempre topavam. E o Superchunk foi a banda que inaugurou essa série de shows.

Naquele tempo o Trabalho Sujo era uma coluna de papel num jornal em Campinas e uma das brincadeiras que sempre fazia era mudar o logotipo da coluna. Como o Superchunk estava dando esse primeiro rolê pelo país, propus uma cobertura em várias cidades, com textos escritos por amigos meus e cujo logo do Sujo fosse “segurado” pela banda.

A foto é do Serjão. Que época, viu…

Quando o Trabalho Sujo era uma central de caderno de jornal

Não resisti e resgatei umas edições velhas do Trabalho Sujo impresso, tirei umas fotos e redimensionei pra colocar aqui no site. As fotos estão com cores diferentes não por conta da idade do papel, mas porque parte delas eu fiz de dia (as mais brancas) e a outra de noite (as amareladas). Dá uma sacada como era…


Nesta edição, dois segundos discos: o do Planet Hemp e o do Supergrass.


Nesta eu falei do Panthalassa, disco de remix que o Bill Laswell fez com a obra de Miles Davis, o segundo disco do Garbage, entrevista com Virgulóides, disco de caridade organizado pelo Neil Young e uma explicação sobre um novo gênero chamado… big beat.


Entrevistei os três integrantes do Fellini (Jair, Thomas e Cadão) para contar a história da banda, numa época em que eles nem pensavam em voltar de verdade (depois disso, eles já voltaram e terminaram a bandas umas três vezes). Também tem a história do Black Sabbath, uma entrevista que eu fiz com o Afrika Bambaataa e o comentário sobre a demo de uma banda nova que tinha surgido no Rio, chamada Autoramas.


Disco de remix do Blur, disco póstumo do 2Pac, Curve e entrevista com Paula Toller.


Discos novos da Björk, dos Stones, do Faith No More e do Brian Eno.


Discos novos do Wilco (Summerteeth), Mestre Ambrósio, coletâneas de música eletrônica (da Ninja Tune, da Wall of Sound – só… big beat – e de disco music francesa), resenha da demo da banda campineira Astromato e entrevista com o Rumbora.


Resenha do Fantasma, do Cornelius, do Long Beach Dub All-Stars (o resto do Sublime), do Ringo e do show dos Smashing Pumpkins em São Paulo, com a entrevista que fiz com a D’Arcy.


Vanishing Point do Primal Scream, disco-tributo ao Keroauc, Coolio e a separação dos irmãos da Cavalera.


Reedição do Loaded do Velvet Underground, Being There do Wilco e o show em tributo á causa tibetana.


Especial Bob Dylan, sobre a fase elétrica do sujeito no meio dos anos 60, com direito à entrevista com o Dylan na época, que consegui através da gravadora e um texto de Marcelo Nova escrito especialmente para o Sujo: Quem é Bob Dylan?


30 anos de Sgt. Pepper’s e o boato da morte de Paul McCartney.


Terror Twilight do Pavement, Wiseguys (big beat!), o disco de dub do Cidade Negra (sério, rolou isso), a demo do 4-Track Valsa (da Cecilia Giannetti) e entrevista com o Rodrigo do Grenade.


Pulp, Nação Zumbi, Ian Brown e Seahorses, uma coletânea de clipes ingleses e entrevista com Roger Eno, irmão do Brian.


30 anos de Álbum Branco, show do Man or Astroman? no Brasil, primeiro disco do Asian Dub Foundation, entrevista com a Isabel do Drugstore e demo do Crush Hi-Fi, de Piracicaba.


Os melhores discos de 1997: 1 – OK Computer, 2 – Vanishing Point, 3 – When I Was Born for the 7th Time, 4 – Homogenic, 5 – O Dia em que Faremos Contato, 6 – Dig Your Own Hole, 7 – Sobrevivendo no Inferno, 8 – I Can Hear the Heart Beating as One, 9 – Dig Me Out, 10 – Brighten the Corners… e por aí seguia.


20 anos de Paul’s Boutique, do Beastie Boys, disco do Moby, demo do Gasolines e entrevista com Humberto Gessinger.


Rancid, Superchunk e entrevista com o Mac McCaughan (do Superchunk), Deftones e Farofa Carioca (a banda do Seu Jorge).


Simpsons lançando disco e a lista dos 50 melhores do pop segundo Matt Groening, segundo disco do Dr. Dre, entrevista com Júpiter Maçã que então lançava seu primeiro disco.


A coletânea Nuggets virou uma caixa da Rhino, a cena hip hop brasileira depois de Sobrevivendo no Inferno, disco dos Walverdes e entrevista com Henry Rollins.


Sleater-Kinney, Fun Lovin’ Criminals, Little Quail, demo do MQN e entrevista com o Mark Jones, da gravadora Wall of Sound (o lar do… big beat).


25 anos de Berlin do Lou Reed, disco novo do Pin Ups, disco do Money Mark e entrevista com Chuck D, que estava lançando um livro na época.


Especial soul: a história da Motown e da Stax (lembre-se que não existia Wikipedia na época) e caixas de CDs do Al Green e da Aretha Franklin.


Retrospectiva 1998: comemorando um ano que trouxe artistas novos para a década…


…e os melhores discos de 1998: 1 – Hello Nasty, 2 – Mezzanine, 3 – Fantasma, 4 – Jurassic 5 EP, 5 – Carnaval na Obra, 6 – Deserter’s Songs, 7 – This is Hardcore, 8 – Mutations, 9 – The Miseducation of Lauryn Hill, 10 – Samba pra Burro. Em minha defesa: só fui ouvir o In the Aeroplane Over the Sea em 1999. Não tente entender visualmente, era um método muito complexo de classificação dos discos, um dia eu escaneio e mostro direito.


Beastie Boys, Scott Weiland e Boi Mamão.


A história do Kraftwerk (que vinha fazer seu primeiro show no Brasil), o acústico dos Titãs, Propellerheads (big beat!) e entrevista com Ian Brown.


Segundo disco do Black Grape, coletânea de 10 anos da Matador e entrevista com o dono da gravadora, Gerard Cosloy.


A carreira de Yoko Ono, disco novo do Ween, coletânea de Bauhaus, John Mayall e Steve Ray Vaughan e a trilha sonora de O Santo (cheia de… big beat).


Stereolab, Racionais, Metallica e 3rd Eye Blind (?!).


Disco de remixes do Primal Scream, caixa do Jam, entrevista com DJ Hum, Sugar Ray e disco solo do James Iha.


Cornershop, show à causa tibetana vira disco, Bob Dylan, Jane’s Addiction, Verve e entrevista com Lenine.


Disco de remixes do Cornelius, Sebadoh, Los Djangos, Silver Jews, entrevista com o Lariú e demo do Los Hermanos.


Disco de remixes da Björk e o novo do Guided by Voices.


Disco novo do Sonic Youth, reedição dos discos do Pussy Galore e entrevista com Edgard Scandurra.


Cobertura dos shows do Superchunk no Brasil, Pólux (a banda que reunia a Bianca ex-Leela que hoje é do Brollies & Apples e a Maryeva Madame Mim), Prince e Maxwell, coletânea da Atlantic e entrevista com os Ostras.


…e na cobertura dos shows do Superchunk eu ainda consegui que a banda segurasse o nome do Trabalho Sujo para servir de logo na página.

Editei o Sujo impresso entre 1995 e 2000. Durante esse período, ele teve vários formatos. Começou como uma coluna na contracapa do caderno de cultura de segunda e em 1996 virou uma coluna bissemanal ocupando 1/6 da página 2 do mesmo caderno. No mesmo ano, voltou a ter uma página inteira, nas edições de sábado e entre 1997 e 1999 ocupou a central do caderno de domingo. Neste último ano, voltou a ter apenas uma página, nas edições de sábado. Na época em que eu fazia o Sujo impresso, eu era editor de arte do Diário do Povo e, por este motivo, participei da criação do site do jornal em 1996 – e garanti que o Sujo tivesse uma versão online desde seu segundo ano. Foi o suficiente para que ele começasse a ser lido fora de Campinas (onde já tinha um pequeno séquito de leitores, que compravam o Diário apenas para ler a coluna) e ganhasse algum princípio de moral online, que carrego até hoje.

Na época, eu dividia o gostinho de fazer a coluna com dois outros compadres – o Serjão, que era editor de fotografia do jornal e que hoje está no Agora SP, e o Roni, um dos melhores ilustradores que conheço. Os dois são amigos com quem lamento não manter contato firme, mas são daquelas pessoas que, se encontro amanhã, parece que não vi desde ontem. Juntos, éramos uma minirredação dentro da redação – tínhamos reunião de pauta, discussões sobre o layout da página e trocávamos comentários sobre os discos que eu trazia para resenhar. No fim, eu fazia tudo sozinho na página (como faço até hoje), da decisão sobre o que entra ao texto, passando pela diagramação. Sérgio e Roni entravam com fotos e ilustras, mas, principalmente, com o feedback pra eu saber se não estava viajando demais ou de menos. Nós também começamos a discotecar juntos, mais um quarto compadre, o William, e, em 97, inauguramos o Quarteto Funkástico apenas para tocar black music e groovezeiras ilimitadas, em CD ou em vinil. Não era só eu quem escrevia no Sujo (eu sempre convidava conhecidos, amigos e alguns figurões), mas Roni e Serjão, por menos que tenham escrito, fizeram muito mais parte dessa história do que qualquer um que tenha escrito algo com mais de cinco palavras.

No ano 2000 eu fui chamado pelo editor-chefe do jornal concorrente, o Correio Popular, maior jornal de Campinas, para editar seu caderno de cultura, o Caderno C, cargo que ocupei durante um ano, antes de me mudar para São Paulo. Neste ano, para evitar confusões entre os dois jornais sobre quem era o dono da coluna (e não correr o risco de assistir a alguém depredar o nome que criei no jornal que comecei a trabalhar), decidi tirar o Sujo do papel e deixá-lo apenas online. Criei minha página no Geocities para despejar os textos que publicava em outra coluna dominical, no novo jornal, chamada Termômetro. Mas, online, seguia o Trabalho Sujo -até que, do Geocities fui para o Gardenal, e isso é ooooutra história.

Um dia eu organizo tudo bonitinho, isso é só pra fazer uma graça – e matar a minha saudade.

Outras 4 e 20…


Foto: Serjão

…não tão diferentes, no entanto. Aproveitando o gancho, não custa recomendar outro podcast pontual, do compadre Serjão, o Rádio 4:20. Curtinhos, os programas enfileiras groovezeiras finas para aquela hora mágica. Ouve tudo, mas dê atenção especial ao do dia 17 de abril, que começa com “Chase the Devil” passa por uma “Fever” descomunal e segue entre James Brown e o velho Toots. Aproveita e dá um giro pelo Flickr do cara – é o meu fotógrafo de shows favorito de todos os tempos.

Lost por Sérgio Carvalho

Toda vez que ouço falar sobre Lost penso em Jornada nas Estrelas. Até acho legal esse público fiel, que acredita em todo um universo, cria toda uma linguagem que só quem acompanha entende. Na verdade, não assisti a tantos episódios Lost assim, mas esse negócio de tudo girar em torno de uma ilha me faz pensar na turma do Sr. Spock (de forma rasa, que fique bem claro, pois lá tudo acontecia em torno da Enterprise). Mas, na verdade, sou nerd da ala Jedi. Assim como sou muito mais Two And A Half Men do que Lost.

* Serjão é um dos poucos caras (o outro é o Roni) que podem dizer que fizeram parte da equipe do Trabalho Sujo.

Groove das 4:20

Seguindo o clima smooth desta manhã, recomendo o sagaz podcast do compadre Serjão, o Rádio 4:20. Aliás, recomendo todo o blog dele, o Groove Livre, que pode ser resumido no próprio podcast – reunindo o melhor da black music do planeta. Aproveito a deixa e já aviso ao Serjão – hospeda teu programa na Fubap, já falei com o Fred e ele curtiu a idéia (afinal, vai bem com o Chá das 4:20). Agora é contigo.