George Harrison: Living in the Material World

Agora é oficial: tanto o documentário do Scorsese quanto o anthology pessoal do beatle mais magro foram anunciados para o início do próximo mês de outubro. Demais.

Tumblr do dia: This is Not Porn


O This is Not Porn já pode ser considerado um clássico na curta história do Tumblr e justamente por isso merece ser linkado. Mas eu estou citando-o agora porque a Tati entrevistou o autor do site, o sueco Patrik Karlsson para a seção Sábado Livre, do site do Link.

“Varridos para sempre”

De Niro, taxista

Mais um post inacreditável do The Selvedge Yard, que traz os bastidores do Taxi Driver, um dos grandes momentos da dupla Scorsese/DeNiro. Acima, a licença usada pelo ator para dirigir por Nova York enquanto entrava na pele no lokimaster Travis Bickle. Fodaço, clique aqui.

Planos-seqüência clássicos

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E por falar em plano-seqüência, separei alguns clássicos pra matar o tempo. Começando pelo principal deles, o ousado início de A Marca da Maldade, de Orson Welles. Se ele inventou o cinema em Cidadão Kane, com esse filme ele inventou o cinema B:

Tem vários outros aí embaixo:

 

Ainda sobre pôsteres…

Vocês devem conhecer esse moleque…

Olly Moss, nasceu em 1987 e já tem pelo menos um hit na internet, que é essa estampa de camiseta cheia de spoilers (nem olhe se tem nóias de saber o final de algum filme que você não viu).

Mas vasculhando o saite do cara, descobre-se várias releituras do cara para filmes clássicos.

Fodaço.

Quando o rock’n’roll assumiu Hollywood

Arnaldo mandou essa via Twitter, que o documentário A Decade Under The Influence, do sobrinho do Johnattan Demme, Ted Demme, tá inteiro no YouTube.

Ele conta como a geração Spielberg/Coppola/Scorsese/Lucas pegaram os estúdios de Hollywood que estava à beira de um colapso criativo e financeiro e reinventaram a roda desafiando o sistema de dentro dele mesmo com filmes que são, simplesmente, os melhores filmes da história do cinema. Você pode até bater o pé e torcer o nariz, pensando em escolas inteiras como a nouvelle vague, o cinema independente dos anos 90, o cinema asiático da virada do milênio, o neo-realismo italiano, os filmes trash dos anos 60 ou a atual safra de filmes latinos, mas nenhuma dessas gerações produziu um rol de filmes que inclui os dois primeiros Poderoso Chefão, a trilogia Guerra nas Estrelas, Halloween, Taxi Driver, Contatos Imediatos de Terceiro Grau, Easy Rider, Operação França, Um Touro Indomável, Apocalypse Now, American Grafitti, Um Estranho no Ninho, Essa Pequena é uma Parada, Maratona da Morte, Chinatown, O Exorcista, THX 1138, A Última Sessão de Cinema, Bonnie & Clyde, A Conversação, Tubarão e Amargo Pesadelo. Nem precisa incluir os filmes do Kubrick pra esta ser uma lista respeitável de melhores filmes de todos os tempos. O mais perto disso que existe na história do cinema é justamente a geração de europeus que ajudou Hollywood a existir – Chaplin, Hitchcock, Wilder e Capra, que não eram propriamente uma turma.

Nos anos 70, era uma turma. Era a primeira geração de graduados em cursos universitários de cinema (pois isso não existia antes) e amamentada pela televisão, o que garantia a aliança de um know how inato da linguagem audiovisual com a técnica adquirida recém-transformada em método. E saindo da Califórnia no fim da era hippie, eles injetaram adrenalina e insanidade em um cinema que estava produzindo pérolas como Oliver!, Dr. Jivago, My Fair Lady e Noviça Rebelde. O melhor mergulho nessa história que eu conheço é o livro Easy Riders, Raging Bulls, do jornalista Peter Biskind, que também tem uma versão em DVD, mas que eu ainda nao vi. Mas esse A Decade… dá uma boa idéia da reviravolta que uma geração de autores, roteiristas e atores fez em Hollywood, criando a primeira escola de cinema autoral americana com consciência artística e reinventando Hollywood como um novo mercado, que, no fim das contas, desenharam o nosso presente atual, dividido entre Cinemarks e cineclubes.


Partes 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15 e 16

O que me leva a crer que não é difícil que, em pouco tempo, vejamos uma nova renascença cinematográfica, se deixarem de novo os malucos tomarem conta do hospício – nem que seja por alguns anos. E que os melhores filmes de todos os tempos ainda podem nem ter sido feitos.

Televisão: Lente de Scorsese redimensiona Dylan em documentário

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Materinha na Folha de hoje do filme que vai passar amanhã. Vê se não perde, ow.

Imagine se João Gilberto virasse um Chico Buarque tropicalista, como se o herói de uma música “refinada” e “adulta” (bom gosto, não custa lembrar, é subjetivo como aspas), pai de uma cena que não conseguia andar sozinha, virasse-se para as guitarras da Jovem Guarda e um surrealismo de araque, e dissesse que aquilo era o futuro de sua carreira. A comparação pode parecer forçada, mas basta ver a reação dos antigos fãs de Bob Dylan ao sair de seu concerto elétrico em maio de 1966 e compará-lo com o esgar permanente de MPBistas ortodoxos a termos como “rock” ou “pop”. Ao canalizar sua veia criativa na força juvenil dos Beatles, Dylan não apenas deixou a insípida e repetitiva cena folk para a história como ampliou seu alcance e importância na segunda metade do século passado.

Não dá nem pra tentar comparações sobre o outro lado da câmera. Enquanto Dylan pode ser descrito como o híbrido mutante do início do texto, melhor evitar achar o que significaria, num parâmetro brasileiro, um dos principais momentos desta carreira ser revisto pela lente cada vez mais classuda de Martin Scorsese. Mais do que a primeira e mais importante parte da história do principal compositor vivo dos EUA pela lente do autor de “Goodfellas”, “Taxi Driver” e “Casino”, “No Direction Home”, que o Telecine Premium exibe amanhã (segunda) às 23h40, é a dança perfeita entre dos mestres da manipulação – e o resultado é um dos melhores documentários, não apenas sobre rock, não apenas sobre música, já feitos.

Dividido em duas partes distintas, o filme do ano passado mostra como o franzino Robert Zimmerman, saiu de uma pequena cidade do interior de Minnesotta para se tornar “Bob Dylan”, o messias da geração folk do Village nova-iorquino. A primeira parte vem repleta de vasto material audiovisual inédito sobre o cantor (Scorsese teve acesso aos arquivos pessoais de Bob, pela primeira vez aberto a alguém de fora de seu diminuto círculo pessoal) e o diretor recria geneticamente a persona Dylan, comparando maneirismos de suas influências confessas (Woody Guthrie, Hank Williams, Billie Holliday) com o jogo de cena adotado após ser descoberto pela intelligentsia folk.

Mas é na segunda parte que está o filé mignon, quando o compositor, encurralado com o título de voz de sua geração, puxa um cavalo-de-pau na própria história e abraça o rock’n’roll como estética, ideologia e válvula de escape. Assume as rédeas de sua vida, ciente das responsabilidades e conseqüências, sem rumo, mas livre. “Liberdade é um sinônimo para nada a perder”, rezaria um adágio no final daquela década, e Dylan não tinha nada a perder. Como na própria carreira, é a partir de 1964 que o filme decola num crescendo quase abrupto.

Não faltam imagens raras, entrevistas inéditas, apresentações históricas, sobras de filmes da época, em especial da turnê entre 65 e 66, boa parte registrada pelo documentarista para o também clássico “Don’t Look Back”, de 1968 (cenas coloridas!). Há até o célebre momento em que, numa apresentação com a banda elétrica que se tornaria The Band em Manchester, um espectador chama Dylan de “Judas!” antes de uma rendição agressiva de seu clássico central, “Like a Rolling Stone”, de onde saiu o título do documentário.

O crescendo dramático imposto por Scorsese em qualquer um de seus filmes ganha um enredo perfeito e uma coleção de imagens preciosas, que o deixam confortável para recriar os anos 60 norte-americanos usando Dylan como linha-mestra. O resultado, enfileirados a crise dos mísseis em Cuba, o assassinato de Kennedy, a Guerra Fria e a do Vietnã, é mais um dos capítulos da história dos EUA contada por um de seus mais hábeis narradores. “No Direction Home” faz parte do mesmo novo Scorsese que se reinventa como historiador e esteta, e está para os anos 60 como “O Aviador” está para a Segunda Guerra Mundial e “Gangues de Nova York” para a virada do século 18 para o 19.

Mas ao terminar o filme no mítico acidente de moto que tirou Dylan de circulação por oito anos em 66, o diretor suspende a tensão no ar, quase que matando seu personagem. Não precisa ser Dylanólogo para saber que Scorsese pára um pouco antes do território mais fértil e sagrado do compositor, quando ele e a Band viram as costas para o Verão do Amor para gravar sua própria lenda, recontando a história musical dos EUA nas influentes e ainda oficialmente inéditas Basement Tapes. E caso Scorsese venha concluir seus anos 60 fazendo uma segunda parte sobre este período… Er, melhor guardar os superlativos pra quando (e se) isso sair.

No Direction Home
Telecine Premium
Amanhã (segunda) às 23h40. Reprises na quarta às 11h10, dia 16 às 5h, 18 às 2h20 e 22 às 2h.