Zé Nigro: Görjeios

Nesta segunda-feira, Zé Nigro começa sua temporada Görjeios no Centro da Terra, quando expande o conceito de seu primeiro disco solo, Apocalip Se, pelas quatro segundas de abril. Nas três primeiras apresentações ele vem acompanhado de uma banda da pesada: Saulo Duarte na guitarra, Meno Del Pichia no baixo e Thomas Harres na batera. Na primeira apresentação, dia 4, ele convida as poetas convida Anna Zepa, Eveline Sin e Dandara Azvedo para acompanhá-lo em investigações líricas a partir de suas próprias músicas. Na segunda, ele recebe Annaïs Syllas e coloca Saulo Duarte como coautor de várias faixas. Na terceira, é a vez de receber Beto Villares, Alessandra Leão e uma convidada-surpresa. A quarta apresentação será uma instalação criada a partir da faixa que batiza a temporada. Os shows começam sempre às 20h, pontualmente, e os ingressos podem ser comprados antecipadamente aqui.

Centro da Terra: Abril de 2022

Seguimos felizmente a nova safra de espetáculos que está reativando o palco do Centro da Terra e depois de um março caloroso é hora de assistirmos a um abril em que artistas exploram novas possibilidades de seus trabalhos, sempre às segundas e terças-feiras (e os ingressos já estão à venda aqui). A temporada de segunda-feira fica a cargo do Zé Nigro, mais conhecido por ter produzido discos de Curumin, Francisco El Hombre e Anelis Assumpção (além de estar finalizando o novo de Russo Passapusso), que finalmente lançou seu primeiro trabalho solo no ano passado e o expande pelas quatro segundas do próximo mês, sempre esmiuçando diferentes aspectos de seu álbum de estreia, Apocalip Se, na temporada Görjeios. Na primeira segunda, dia 4, ele convida Anna Zêpa, Eveline Sin e Dandara Azevedo que declamam poemas que conversam com músicas compostas ao lado de Zé, apresentando-as nesta mesma noite. No dia 11, ele convida Saulo Duarte e Anais Sylla, que também participaram do disco, em uma noite mais intimista e tropical. No dia 18 é a vez de Zé receber o produtor Beto Villares e a cantora Alessandra Leão e seu mês termina no dia 25 antecipando a instalação que batiza a temporada, em que convida o público para uma imersão nas questões ambientais tão ameaçadas atualmente. Na primeira terça do mês, dia 5, é a vez de receber a dupla Suzana Salles e Luiz Chagas, que apresentam o espetáculo Rozana e Charles, uma homenagem que os dois fazem à duradoura amizade que começou nos ensaios da banda Isca de Polícia. Na segunda terça-feira, dia 12, recebemos a querida Anna Vis, que mostra suas primeiras composições e o início de seu primeiro disco solo ao lado de Marcelo Cabral, Eduardo Climachauskar e Rômulo Froes. Marcelo Cabral retorna nas duas terças do final do mês ao lado de Gui Held e Maria Beraldo para mostrar uma outra versão de seu primeiro disco solo, chamada Motor Elétrico. Vai ser um mês e tanto, preparem-se!

Vida Fodona #645: Madrugada Adentro

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Aquela sensação de dever cumprido…

David Bowie – “Five Years”
Talking Heads – “Air”
Tom Zé – “A briga do Edifício Itália com o Hilton Hotel”
George Harrison – “Behind That Locked Door (Demo)”
Saulo Duarte – “Flor do Sonho”
Juliano Gauche – “Pedaço De Mim”
Zuttons – “Valerie”
Diagonais – “Novos Planos para o Verão”
MGMT – “Electric Feel (Aeroplane Remix)”
Estelle – “Superstition”
Marcos Valle – “Freio Aerodinâmico”
Bears – “Please Don’t”
Kamau – “Sabadão (Os Embalos de…)”
Beyoncé – “End of Time”
Legião Urbana – “Plantas Em Baixo Do Aquário”
Sambanzo – “Capadócia”
Xx – “VCR”
Gus Gus – “Polyesterday”

Sotaques YB: Héloa + Saulo Duarte

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Como parte das comemorações dos 20 anos da Ybmusic, a série de encontros Sotaques YB inaugura as quartas-feiras com música no Centro da Terra e, durante o mês de outubro, traz apresentações ao vivo que promovem encontros inéditos entre duplas de artistas do elenco da gravadora (mais informações aqui). O primeiro deles acontece na primeira quarta do mês, dia 2 de outubro, e reúne a cantora sergipana Héloa com o compositor e guitarrista paraense Saulo Duarte, que já trabalharam juntos mas nunca dividiram o mesmo palco. Conversei com os dois sobre o encontro, além de pegar uma palavra com o capo da YB, Maurício Tagliari, sobre a escolha desta dupla.

Saulo Duarte no Centro Cultural São Paulo

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O guitarrista paraense Saulo Duarte mostra seu primeiro disco solo, Avante Delírio, a partir desta quinta, às 21h (mais informações aqui).

CCSP: Fevereiro de 2019

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A programação de fevereiro no Centro Cultural São Paulo está quente! Dá uma sacada:

2, às 19h – Young Lights + Oceania, duas bandas indies da nova cena mineira
3, às 18h – Phill Veras, lançando seu disco Alma
7, às 21h – Saulo Duarte, lançando seu disco Avante Delírio
9, às 19h – Hurtmold com o músico Panda Gianfratti e abertura de Philip Somervell
10, às 18h – Magnolia Orquestra, com Bruno Morais e Tika, cantando músicas dos anos 40 e 50
14, às 21h – Síntese e Lucio Maia, juntos no mesmo show
16, às 19h – Maurício Pereira, lançando seu disco Outono no Sudeste
17, às 18h – Mãeana, direto do Rio de Janeiro
21, às 21h – Ava Rocha, lança seu disco Trança com a participação de Tulipa e Gustavo Ruiz
23, às 19h – Karnak apresenta a ópera-rock Nicodemus
24, às 18h – Forgotten Boys, fazendo uma retrospectiva em sua carreira
28, às 21h – Holger e Raça, bandas paulistanas com novos trabalhos

Mais informações lá no site do Centro Cultural São Paulo

Vida Fodona #581: As 75 melhores músicas de 2018

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Quase cinco horas no ano passado.

Jorja Smith – “The One”
Duda Beat – “Bixinho”
Raffa Moreira – “Bro”
Liniker – “Lava”
Nação Zumbi + BaianaSystem – “Alfazema”
Brockhampton – “San Marcos”
Sara Não Tem Nome – “Cidadão de Bens”
Norah Jones + Jeff Tweedy – “Wintertime”
Lady Gaga – “Always Remember Us This Way”
Bonifrate – “Alfa Crucis”
Jpegmafia – “Macaulay Culkin”
Elza Soares + Edgar – “Exu nas Escolas”
Ava Rocha – “Joana Dark”
Orchestra Santa Massa – “A Casta”
MC Carol + Heavy Baile – “Marielle Franco (Desabafo)”
Pabllo Vittar – “Problema Seu”
Guizado + Negro Leo + Andrea Merkel – “Modern Fears”
David Byrne – “I Dance Like This”
Gorillaz + George Benson – “Humility”
Brisa Flow – “Grillz”
Emicida – “Inácio da Catingueira”
Stephen Malkmus + Kim Gordon – “Refute”
Childish Gambino – “This is America”
Criolo – “Boca de Lobo”
Baco Exu do Blues + Tuyo – “Flamingos”
Billie Eilish – “You Should See Me in a Crown”
Courtney Barnett – “Need a Little Time”
Rincon Sapiência – “Placo”
Saulo Duarte – “Avante Delírio”
Baggios + Céu – “Bem-Te-Vi”
Kassin – “Relax”
BK’ – “Porcentos”
Malu Maria – “Diamantes na Pista”
Ariana Grande – “Thank U, Next”
Lupe de Lupe – “Midas”
FBC – “Contradições”
MC Loma e as Gêmeas Lacração – “Envolvimento”
Cat Power + Lana Del Rey – “Woman”
Teto Preto – “Pedra Preta”
Nicki Minaj – “Barbie Dreams”
Drake – “Nice for What”
Cardi B + Bad Bunny + J Balvin- “I Like It”
Sophie – “Immaterial”
Caroline Rose – “Jeannie Becomes a Mom”
Juliano Gauche – “Pedaço de Mim”
Maria Beraldo- “Da Menor Importância”
Brockhampton – “New Orleans”
Ventre – “Pulmão/Alfinete”
Elza Soares – “Banho”
Luiza Lian – “Iarinhas”
Gilberto Gil – “Quatro Pedacinhos”
Janelle Monáe – “Make Me Feel”
Disclosure – “Moonlight”
Rosalía – “Malamente (Cap.1: Augurio)”
The Carters – “Apeshit”
Lana Del Rey – “Venice Bitch”
Yma – “Par de Olhos”
Gilberto Gil + Yamandu Costa – “Yamandu”
Jay Rock + Kendrick Lamar + Future + James Blake – “King’s Dead”
Kali Uchis – “Miami”
Arctic Monkeys – “One Point Perspective”
The Internet – “Come Over”
Arctic Monkeys – “Four Out of Five”
Courtney Barnett – “Crippling Self Doubt and a General Lack of Self Confidence”
Blood Orange – “Charcoal Baby”
Gilberto Gil – “Na Real”
Luiza Lian – “Azul Moderno”
Arctic Monkeys – “Star Treatment”
Ava Rocha – “Periférica”
Kali Uchis – “Just a Stranger”
Maurício Pereira – “Outono no Sudeste”
Gui Amabis – “Miopia”
The Carters – “Heard About Us”
Gilberto Gil – “Ok Ok Ok”
The Internet – “Roll (Burbank Funk)”

As 75 melhores músicas de 2018: 47) Saulo Duarte – “Avante Delírio”

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“Penso num sonho que tive e que nunca mais deixou de existir”

Os 75 melhores discos de 2018: 59) Saulo Duarte – Avante Delírio

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“Passo a passo se enxerga mais claro o caminho…”

O momento solitário da recriação

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Em Avante Delírio, Saulo Duarte se despede da Unidade em busca de uma nova sonoridade – bucólica porém solar. Ele me convidou para escrever o texto de apresentação de seu primeiro disco solo, que reproduzo a seguir.

Saulo Duarte queria ouvir a própria voz e não era a voz com a qual cantava n’A Unidade, usina paraense de groove que havia fundado no bairro do Cambuci, em São Paulo, no início da década. A quantidade de músicos no grupo e a energia intensa de suas apresentações fizeram-no separar um material musical próprio, que pouco a pouco ia ganhando cara e corpo longe de seus colegas de banda. Queria, no entanto, explorar novos ares para aquelas canções bem como traduzir essa nova sonoridade para além da festa que era a Unidade.

Foi quando o convidei para realizar uma temporada no Centro da Terra, pequeno foco de resistência cultural no bairro do Sumaré, também na capital paulista. Na curadoria de música do local desde o início do ano, transformei suas segundas-feiras em um laboratório musical para músicos, intérpretes e compositores experimentarem possibilidades estéticas para além dos discos, clipes, shows e turnês. E a dúvida que Saulo me apresentava – cogitar caminhos diferentes para sua musicalidade a partir de formações que iam de encontros com banda até a voz e o violão – se encaixava perfeitamente com a proposta do Segundamente, nome de batismo destas temporadas.

Assim, Saulo bolou a temporada Persigo São Paulo, nomeada em homenagem a Itamar Assumpção, em outubro de 2017, quando usava as segundas-feiras para encontros de diferentes natureza com vários parceiros, desde irmãos de longa data a novos músicos com quem se identificava. Reuniu Giovani Cidreira, João Leão, Bruno Capinan, Russo Passapusso, Igor Caracas, Victor Bluhm, Josyara e Curumin e se a princípio ele parecia estar em dúvida para definir por qual daquelas quatro frentes atuaria, a temporada lhe revelou que o rumo era um híbrido de todas apresentações.

O disco que depois se tornaria Avante Delírio começou a ser gravado em seguida: em dezembro do ano passado no estúdio Navegas Cantareira com Zé Nigro e Lenis Rino, em janeiro do ano seguinte no estúdio YB com Fernando Rischbieter, no mês seguinte no Klaus Haus Studio com Klaus Sena e no Matraca Records em março com Pedro Vinci, além de recuperar gravações que havia feito no Red Bull Studio com Rodrigo ‘Funai’ Costa e Alejandra Luciani no meio do ano passado.

Em comum, o astral aberto característico de suas composições n’A Unidade, mas com um quê de melancolia e uma dose de realismo duro. No mesmo período, saiu dos holofotes como guitarrista ao assumir o instrumento que lhe consagrou no trabalho do casal de amigos Anelis Assumpção e Curumin, tornando-se integrante temporário das bandas respectivas, Os Amigos Imaginários de Anelis e os Aipins de Curumin. Ao emprestar seus timbres elétricos para os velhos compadre e comadre, tirou-os de sua dianteira para abraçar o instrumento que dá rumo, sabor e textura a seu primeiro disco solo – o violão de nylon.

Esse velho companheiro é o cajado no qual Saulo se escora para trilhar novos rumos – e para com ele diminui o impacto de sua energia para uma esfera quase familiar, doméstica. Saem os festivais a céu aberto repletos de multidões aos berros e o sol entra por uma fresta matutina em um apartamento espaçoso, plantas, tapetes, quadros, cinzeiros, incensos e discos de vinil espalhados por mesas no canto. Mesmo quando o clima é mais soturno ou sisudo (há sombras mesmo nos momentos mais ensolarados do disco), ele não é nem grandioso nem pessimista.

E assim ele recebe um time de amigos como quem abre sua casa para um almojanta de sábado à tarde, todos se espalhando pelo disco como se pegassem um canto da sala – um banco, uma rede, um pufe, o sofá. Além do violão e vocais de Saulo e do baixo e bateria dos coprodutores do discos, os bróders Zé Nigro e Curumin, deslizam pelos discos as percussões de Maurício Badê e Igor Caracas, os sopros de Ed Trombone, Luca Raele, Jorge Ceruto e Fernando Bastos, as teclas de Pepe Cisneros e Marcelo Jeneci, os baixos de Betão Aguiar e Gustavo Ruiz e a presença de Negro Leo, além dos compadres de Unidade João Leão e Klaus Sena.

O violão de Saulo é a batuta que rege este encontro, mas ele é desconstruído e reconstruído pelo próprio e seus compadres Curumin e Zé Nigro, com quem Saulo divide a produção do disco. As levadas rítmicas mudam constantemente: o samba rock torto que vira um baião no meio de “Ela Foi Ver a Lua”, o jazz livre do início de “Tapume” logo bate continência a uma marchinha pós-apocalíptica, a levada suave de “Praça de Guerra” que se desdobra em uma bad trip de discos tocados de trás pra frente, o refrão delicado de “Estrela D’Água” é recriado como um arrastão lek lóki puxado por Negro Leo.

Primeiro disco solo de Saulo Duarte, Avante Delírio é um deleite musical – por vezes bucólico, por outras festeiro – que visa dissipar o clima pesado que paira sobre o Brasil no ano de seu lançamento. É um disco solar, animado, feliz, em que Saulo assume o violão como principal parceiro, disposto a atravessar as piores intempéries para trazer boas novas em forma de canção.

Os instrumentos se entrelaçam e se sobrepõem; o ritmo e melodia sempre protagonistas, seja nos momentos mais incisivos (como em “Rebuliço”, “Flor do Sonho” e “Se Esqueça Não”), nos mais tensos (“As Luzes da Cidade”, “Praça de Guerra”, “Tapume” e “Ela Foi Ver a Lua”) e nos mais tranquilos, como “Estrela D’Água”, a lindíssima faixa-título e “Não Existe Resposta para ‘Eu Te Amo’”, estas duas talvez os melhores retratos do disco: enquanto a última ecoa samba-jazz, funk nacional, João Donato, Marcos Valle e até um ar de pagode romântico, “Avante Delírio” resume magistralmente o disco, ecoando o clima intimista e familiar de Gilberto Gil e Jorge Ben com uma leve bruma psicodélica no ar. Saulo Duarte está em casa.