Let’s rock!

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Sigo mais uma vez rumo ao Rio de Janeiro para continuar a cobertura que estou fazendo do Rock in Rio para o UOL – vambora!

Cinco grandes momentos do Rock in Rio 2017

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Eis minha lista com os cinco melhores shows do primeiro fim de semana no festival.

Saindo da mesmice

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Como parte da minha cobertura do Rock in Rio para o UOL, escrevi como Grandmaster Flash, Elza e Rael e Pabllo Vitar ajudaram a segunda noite do festival a ter algum gosto próprio.

Valendo! O Rock in Rio 2017 ainda não engrenou, mas o sábado do primeiro fim de semana do festival marcou o início de fato do festival. Desde a lotação total da nova Cidade do Rock a shows mais consistentes e recebidos de forma mais empolgada pelo público, o segundo dia aconteceu como se o anterior fosse uma espécie de rascunho do que o festival poderia ser. Embora ainda desequilibrado, o evento pareceu ver sua redoma de condomínio fechado trincando aos poucos a partir de protestos políticos, participações especiais e hits arrasa-quarteirão.

Nesta última categoria, poucos superaram o Skank, que abriu a programação do palco Mundo enfileirando uma sequência de músicas conhecidas que levou a multidão a um êxtase em crescendo. Aproveitando-se do astral mais família que o da noite anterior (havia muito mais times de pais e filhos curtindo juntos do que na sexta), o grupo mineiro apresentou um resumo bem comercial de suas quase três décadas em atividade e também aproveitou a onda de “Fora, Temer” que aos poucos assola o festival para que o vocalista Samuel Rosa fizesse um discurso indignado contra a classe política brasileira.

Samuel Rosa toca guitarra no show do Skank no Rock in Rio

Samuel Rosa toca guitarra no show do Skank no Rock in Rio

Crítica parecida aconteceu em outro bom show do outro palco do festival, quando a Blitz acompanhada de Alice Caymmi e Davi Moraes puxou “Aluga-se”, no primeiro momento “toca Raul” do festival, quando o hit de Raul Seixas surgiu como uma profecia macabra em relação ao atual momento de entrega dos recursos do país ao estrangeiro. Pouco antes da Blitz, o velho buda da bossa nova João Donato havia sido saudado pelo belo canto hipnótico de quatro sereias vocais: Lucy Alves, Emanuelle Araújo, Tiê e Mariana Aydar.

Outro grande momento daquele palco secundário, com uma escalação bem mais interessante do que a do palco principal, foi encontro entre Rael e Elza Soares. Sem a participação da eterna musa, o MC paulistano já havia consagrado ao encontrar a melhor lotação daquele espaço preenchida por uma massa que cantava todos seus sucessos. De forte inclinação romântica, o rapper não se furtou a comentários sobre política em suas letras e os gritos de “Fora, Temer” que aos poucos pipocavam pelo festival encontraram ainda mais eco quando Elza adentrou ao palco impassível em seu trono. Ovacionada pelo público que se aglomerava ainda mais, ela começou sua participação com a sua “A Carne” (“a carne mais barata do mercado é a carne negra”), que Rael emendou citando todos os versos de Mano Brown em “Negro Drama”, hino dos Racionais MCs. O rapper não se intimidou com a presença da veterana e a acompanhou de igual para igual. Elza encerrou sua participação cantando a faixa-título de seu aclamado álbum mais recente, Mulher do Fim do Mundo, que encerrava, raivosa, exigindo: “Até o fim eu vou cantar, me deixem cantar até o fim, eu quero cantar até o fim”. Parceiro de Rael, Emicida foi o convidado do rapper norte-americano Miguel, mas o bom show foi visto por um público bem mais reduzido, já seduzido pelas atrações sem graça do palco Mundo.

Depois do show do Skank, o adolescente Shawn Mendes subiu com seu violão andando nas pegadas do folk pop consagrado por Ed Sheeran. Mas é só vontade: por melhores que sejam as intenções do guri, sua apresentação só convence aos fãs bem mais jovens, embora a multidão que lotava cada vez mais a área principal do festival tivesse lhe dado um voto de confiança.

Pabllo Vittar faz participação surpresa em show de Fergie no Palco Mundo

Pabllo Vittar faz participação surpresa em show de Fergie no Palco Mundo

O mesmo aconteceu com Fergie, que fez um show todas as músicas que poderia cogitar: de músicas menos conhecidas de sua minúscula carreira solo a hits arrasa-quarteirão do grupo que lhe fez fama, o Black Eyed Peas. Mas quando lembrarmos deste show no futuro, o nome de Fergie, se for lembrado, vai ser como escada para Pabllo Vitar, que depois de arrebatar o público numa aparição num estande de patrocinador no dia anterior, voltava com todo o carisma no principal holofote da noite. Quando as frequências dos subgraves da introdução de “Sua Cara” ecoaram no Rock in Rio, o público parecia desacreditar que estava vivendo um sonho. O principal hit da diva drag foi gravado ao lado do grupo norte-americano Major Lazer e da cada vez mais onipresente Anitta, o que fez que a voz da atual rainha do pop brasileiro pudesse encontrar o público do festival. Sem dúvida foi o grande momento daquele palco – e o último sabor de política da noite (principalmente se imaginarmos uma leitura metafórica de uma drag brasileira cantando que vai “rebolar bem na sua cara” no palco principal de um festival que prefere ater-se a atrações internacionais meia boca do que a brasileiros de melhor estirpe).

Pabllo Vittar também é hardcore com sua camiseta do Bad Religion

Pabllo Vittar também é hardcore com sua camiseta do Bad Religion

O Maroon 5 voltou a se apresentar naquele mesmo palco, dessa vez tocando para pessoas que haviam pago para assisti-los, não como estepe de Lady Gaga. Assim, o show ligeiramente melhor que o do dia anterior, o que não quer dizer que tenha sido bom. Melhor sair de fininho em direção à tenda eletrônica, que receberia o principal nome da noite – o DJ Grandmaster Flash. Pai da parte instrumental do hip hop, só o fato de Flash ter inventado a forma moderna de discotecagem, com duas vitrolas e um mixer, tão perene que segue influente três décadas depois, já valeria sua presença em qualquer evento relacionado com música.

E o fato de ser um veterano das pistas faz com que ele domine o público sem a menor dificuldade, submetendo os sobreviventes do final da segunda noite – alguns milhares, bem menos que o público do palco principal – a uma maratona de sucessos tatuados em nosso subconsciente: “Under Pressure” do Queen com David Bowie, “Billie Jean” de Michael Jackson, “Play the Funky Music” do Wild Cherry, “California Love” de Tupac Shakur, “Stayin’ Alive” dos Bee Gees, entre outros clássicos, um superposto sobre o outro, enquanto Flash pedia para o público carioca gritar ou erguer as mãos. Um final sensacional para mais um dia de atrações irregulares, mas que conseguiram tirar o festival da mesmice do dia anterior. O domingo, que finalmente terá gringos de peso (Nile Rodgers, Alicia Keys e Justin Timberlake, especificamente), pode fazer o festival ter seu primeiro grande dia.

Elza para as massas

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Conversei com Elza Soares sobre sua apresentação na edição do Rock in Rio deste ano para a cobertura do festival que estou fazendo para o UOL.

A vez de Liniker

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“Falar de afetividade e amor é muito importante”, me disse em entrevista após sua participação no Rock in Rio.

Pop de protesto

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Primeiro fim de semana do Rock in Rio contrapõe o clima de oba-oba do festival à tensão política de 2017 – escrevi sobre isso como parte da minha cobertura para o UOL.

Emicida: “Sorrir é revolucionário”

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Bati um papo com Emicida pouco antes de sua apresentação no Rock in Rio durante a cobertura que fiz do festival para o UOL – e ele defendeu Anitta no festival.

Rock in Rio sem sal

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Na minha cobertura do Rock in Rio para o UOL, escrevi sobre como a ausência de Lady Gaga tirou o gosto da primeira noite do festival em 2017

A presença de Anitta em 2017

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Escrevi no meu blog no UOL sobre como o Rock in Rio erra duas vezes ao esnobar Anitta, o maior fenômeno pop brasileiro de 2017.

A notícia do cancelamento do show de Lady Gaga no Rock in Rio, que começa nessa sexta-feira, literalmente na véspera foi o maior balde de água fria que o evento poderia receber. Para os fãs ela veio em dose dupla, que não só não iriam ver sua musa de perto como frustraram-se ao descobrir que o festival a havia trocado por uma nova apresentação do grupo californiano Maroon 5, que tocará no sábado. A distância estética entre as duas atrações é compatível com a dos brasileiros que abrem os shows no palco mundo do dia – foi como trocar um show da Ivete Sangalo por um show do Skank.

Ao mesmo tempo surgiu-se o questionamento sobre Anitta. Principal artista pop brasileira de 2017, Anitta encaixaria-se perfeitamente no recorte estético do público de Lady Gaga e compensaria de alguma forma a ausência da diva dance nova-iorquina. Mas fora toda a questão contratual, logística e financeira, além da correria em acertar agendas, a substituição de Lady Gaga por Anitta nunca aconteceria, mesmo que a brasileira não fosse a principal atração do dia (outra questão que o Rock in Rio precisa superar – assumir um headliner brasileiro ou pelo menos um dia inteiro dedicado à nossa música). Porque o Rock in Rio esnoba Anitta.

E isso é um erro.

Ok, já amadurecemos e saímos daquela fase que deveria ter sido ultrapassada ainda nos anos 90, quando as pessoas reclamavam que “Rock in Rio não tem rock” ao vociferar contra shows de Prince, George Michael, Britney Spears e Justin Timberlake. Desde o início o festival usa o nome do gênero como um atrativo que remete mais à “atitude” do que propriamente à música. A primeira edição, em 1985, teve shows de George Benson, Al Jarreau, Ivan Lins e James Taylor e a presença de brasileiros como Elba Ramalho, Moraes Moreira e Alceu Valença ampliavam os horizontes do festival para longe. E um de seus principais carros-chefe sempre foi a música pop.

E nenhum artista brasileiro é mais pop do que Anitta em 2017. Ela ultrapassou barreiras e mudou completamente a forma como se divulga um trabalho e se molda uma personalidade global, completamente afinada com as transformações do mercado da música digital. Começou o ano emplacando duas colaborações distintas – a primeira (“Loka”) com a dupla Simone & Simaria e a segunda (“Você Partiu Meu Coração”) com Nego do Borel e Wesley Safadão – e em menos de um mês, entre maio e junho, emplacou três hits um atrás do outro: “Switch”, com a rapper australiana Iggy Azalea; “Paradinha”, em espanhol; e “Sua Cara”, ao lado do grupo norte-americano Major Lazer e da drag brasileira Pabllo Vittar. No início deste mês ela lançou seu primeiro single em inglês, “Will I See You”, ao lado do produtor norte-americano Poo Bear.

O único brasileiro a ir tão longe no pop mundial foi Tom Jobim, ao transformar sua “Garota de Ipanema” em um dos maiores hits da história. Mas fora ele e outros luminares da bossa nova (João Gilberto, Marcos Valle, Sérgio Mendes), Anitta já ultrapassou outras histórias de brasileiros que fizeram sucesso no exterior, como o grupo punk Cólera, o Sepultura ou o Cansei de Ser Sexy. E a impressão é que ela está só começando…

Por isso o Rock in Rio erra ao não escalá-la para a edição deste ano. É um descompasso com a realidade da música brasileira, principalmente quando o próprio festival lança uma perspectiva global sobre si. Um show de Anitta no Rock in Rio seria uma vitrine enorme tanto para a artista quanto para o festival, algo parecido com o que poderia ter sido o show de Sandy e Júnior no Rock in Rio de 2001 (mas que ficou parecendo um musical da Globo com pouco orçamento).

A própria Anitta acha que é preconceito, não apenas com ela, mas com o funk, a cena musical de onde ela veio. Por mais que soe internacional nestes últimos singles, sua matriz é a do funk do Rio de Janeiro e ela não só não renega como ostenta, orgulhosa: “Se eu uso as artimanhas do funk pra fazer o meu show mais divertido, não tem como eu dizer que eu não sou do funk. Eu sou, assumo e tenho o maior orgulho, mas acredito sim que eu tô fazendo outros ritmos, não só o funk”, disse em entrevista à Veja São Paulo, concluindo: “Não gosta, não contrata”.

O empresário Roberto Medina, criador do Rock in Rio, foi confrontado com a situação e saiu-se de forma movediça ao ser confrontado com o tema em entrevista ao jornal Folha de São Paulo: “Não tenho afinidade com a música dela, não achei que encaixava, mas ela está indo para um caminho pop que a aproxima mais do Rock in Rio, como a própria Ivete (Sangalo) entrou nesse caminho. Não tenho nada contra, estou conversando com ela. Almocei com ela outro dia e fiquei impressionado. Ela é uma empresária, tem uma visão de marketing.” Mas não sem antes escorregar na saída: “Estou trabalhando uma ideia de fabricar uma favela dentro do próximo festival. Colorida, mais bonita, mais romântica, para ter a música da favela, fazer uma seleção (de artistas) nelas, empolgar o pessoal de lá. Trazer os botequins também”, não sem antes arrematar que “a música da favela está sendo consumida pela elite”.

O ato falho parece indicar que o problema em relação à música de Anitta não é apenas musical – e sim social. Favela colorida e romântica? Isso é um autoengano. Ao isolar seu pop de shopping center num parque temático musical nos confins do Rio de Janeiro, o Rock in Rio finge que a verdadeira música pop brasileira (que inclui não apenas o funk, mas o sertanejo e inúmeros outros gêneros e subgêneros populares) não existe pelo simples fato de não estar dentro de seu condomínio fechado. Essa separação é parente do preconceito que tenta vilanizar um gênero musical com decretos de lei, algo que já vimos acontecer no Brasil há cem anos com ninguém menos que o samba, que hoje é o grande gênero musical popular do país. Sempre que alguém fala que “isso não é música” (seja samba, rock, rap, reggae, funk) pode ter certeza que, sim, é música e, não, o problema não é a música – e sim quem canta e quem dança.

Let’s rock!

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Mais uma vez rumo ao Rio de Janeiro cobrir mais um Rock in Rio pro UOL… Vamos lá!