As 75 melhores músicas de 2012: 5) Frank Ocean – “Pyramids”

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Hip hop progressivo, épico R&B, soul de fases: “Pyramids” foi o cartão de apresentação do irrepreensível Channel Orange, o grande disco de 2012, e quando ela apareceu por inteiro – groove sintetizado pesado num começo ancestral, cantando o Egito antigo sobre timbres dos anos 70, mudando para uma R&B lento e digital que se passa nas pirâmides de Las Vegas; duas canções superpostas em dez minutos de lascívia em duas demãos, sob a vigília da Árvore da Vida e um longo e contemplativo solo de guitarra (tocado por John Mayer!) – o ano já não era o mesmo. E pertencia a Frank Ocean.

As 75 melhores músicas de 2012: 20) Chromatics – “Kill for Love”

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“Todo mundo tem um segredo” – e o de 2012 foi a ascensão dos Chromatics e da obra de Johnny Jewel, que ganhou proeminência à medida em que o ano foi passando. Primeiro veio a trilha sonora do filme Drive, seguida de perto por um misterioso segundo disco da banda, uma série de mixtapes, remixes e versões, a trilha do desfile da Chanel e o anúncio do volume 2 da coletânea que deu origem à cena, After Dark. Inevitavelmente, a obra central deste movimento é o álbum Kill for Love, que, apesar do tom soturno que apresenta logo de cara (uma versão shoegaze para “Into the Black”, de Neil Young), mostra suas garras na faixa-título: hipnótica, etérea, barulhenta, doce – um encontro às cegas entre o Cocteau Twins e o Jesus & Mary Chain dando estranhamente certo.

As 75 melhores músicas de 2012: 4) Kendrick Lamar – “Bitch, Don’t Kill My Vibe”

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Enquanto Frank Ocean ganhou 2012 por expandir seu universo sonoro para além do hip hop, abraçando diferentes camadas da black music num disco ao mesmo tempo sensível e maduro, Kendrick Lamar aproveitou sua primeira incursão na primeira divisão da indústria fonográfica para transformar seu Good Kid, m.A.A.d. City no grande disco de rap do ano. Ao mesmo tempo em que resolve contar seus dramas da juventude (o título do álbum se refere à sua chegada em Compton, berço do gangsta rap no sul de Los Angeles, além de conter uma sigla para “my angry adolescence divided”), resolve assumir sua maturidade, tanto nos beats mais sossegados quanto no flow manhoso, quase falado. E o grande momento do disco é sem dúvida a irresistível “Bitch Don’t Kill My Vibe”, tão californiana quanto Dr. Dre e 2Pac Shakur, mas transformando a arrogância em desprezo, atitude resumida numa frase inusitada em uma música de hip hop: “Às vezes preciso ficar só”.

As 75 melhores músicas de 2012: 19) Divine Fits – “Would That Not Be Nice”

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A palavra “supergrupo” quase sempre vem acoplada a textos sobre o Divine Fits pois seus integrantes vieram de bandas já estabelecidas – Britt Daniel é do Spoon, Dan Boeckner, do Wolf Parade e dos Handsome Furs e Sam Brown do New Bomb Turks. Mas o termo não é apropriado, pois nem suas bandas originais são grandes o suficiente para tachar o encontro de super nem propriamente eles reinventam seu som no novo conjunto – o Divine Fits soa mais como uma intersecção de projetos pessoais do que uma nova banda de fato. Isso não diminui o impacto de seu primeiro disco, que apresenta-se com a sonoridade mais cool no atual indie rock americano.

As 75 melhores músicas de 2012: 18) Chet Faker – “Terms and Conditions”

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Mais que um trocadilho espertinho ou autor de uma versão sacada (“No Diggity“, lembra?), Chet Faker vem aos poucos mostrar que é mais que um nome passageiro na eletrônica dos novos anos 10 e com sua “Terms and Conditions” – concisa e desencanada – pede passagem.

As 75 melhores músicas de 2012: 17) Sinkane – “Jeeper Creeper”

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A faixa que apresentou o trabalho solo deste hipster sudanês (guitarrista no Brooklyn nova-iorquino, já tocou com Of Montreal, Caribou, Yeasayer e Born Ruffians) ainda é seu principal trunfo – um delírio sossegado e groovy, com molhos afro, funk 70, indie e chillwave, esperando o Toro y Moi na ponta de lá da ponte que ele iniciou no EP Freaking Out.

(E nesta versão ao vivo abaixo, então…)

As 75 melhores músicas de 2012: 3) Curumin – “Passarinho”

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Fazia tempo que a música brasileira não soava doce e natural ao mesmo tempo, principalmente numa voz de homem. O falsete de Curumin passeia bonito por uma melodia simples, mas arranjada com um cuidado específico que permite que vocal, teclados, bateria e violão mantenham o mesmo pulso tanto nos momentos mais cândidos quanto no breque que não faz média para colocar o dedo na cara do ouvinte. Não é o momento central do melhor disco nacional do ano (que fica entre “Afoxoque” e a sutileza de “Paris Vila Matilde”) e talvez por isso soe tão… livre.

As 75 melhores músicas de 2012: 16) Tame Impala – “Apocalypse Dreams”

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Há uma corrente da crítica musical que associa a psicodelia com saída da infância, em que as mudanças da puberdade podem ser encaradas como delírios extáticos ou… sonhos apocalípticos. Essa é a expectativa criada pelo Tame Impala ao anunciar seu segundo disco, numa música de estrada que se pergunta, entre solos de guitarras e timbres de teclado antigo, se estamos chegando, se um dia iremos chegar e se isso tudo importa. Na veia.

As 75 melhores músicas de 2012: 15) Grimes – “Oblivion”

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Timbres jurássicos de um passado sintético colidem com a fragilidade de um vocal quase indie, quase tímido, quase oriental, que se desfaz zen por sobre uma base insistente e caricata, um mashup de realidades que poderia ser criado por algum autor cyberpunk ainda nos anos 80. Grimes se comporta como a irmã caçula do LCD Soundsystem, mas ao mesmo tempo, parece sempre ter existido como um holograma no computador. Uma das artistas que melhor resumiram o hipsterismo catastrofista de 2012, em “Oblivion” ela soa otimista e pronta para recomeçar.

As 75 melhores músicas de 2012: 14) Frank Ocean – “Lost”

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Perdida no meio do melhor disco do ano, “Lost” escorrega na pista de dança à medida em que Frank Ocean passeia e perde-se por emoções, cidades, países, meios de transporte, marcas – numa canção sobre a ausência do glamour no tráfico de cocaína. Algo como se o Prince fosse frágil feito Michael Jackson, mas cascudo feito Timbaland. Que música!