As 75 melhores músicas de 2012: 2) Chromatics – “Lady”

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Uma canção irrepreensível, que começa feito luz passando por frestas no escuro para, depois da entrada do vocal gelado de Ruth Radelet, estourar em uma explosão de disco music em câmera lenta que se metamorfoseia lentamente em uma paisagem pastoril eletrônica, de baixos marcados e guitarras distantes. O universo musical de Johnny Jewel traduz-se melhor entre os ecos e sussurros de “Lady” e torna-se parte da textura sonora de 2012.

As 75 melhores músicas de 2012: 1) Hot Chip – “Flutes”

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A melhor música de 2012 é a mesma que o Hot Chip escolheu para nos apresentar a seu disco de 2012, In Our Heads – e esta longa apresentação (quase oito minutos) começava a nos mostrar um disco sólido que só veio confirmar ainda mais que a presença do Hot Chip no imaginário musical do planeta vai muito além da banda que conquistou o mundo com o hit de pista “Over and Over” no fim da década passada. Desde então, o grupo inglês vem construindo sua reputação com um olho na pista e outro na perspectiva histórica e depois que o LCD Soundsystem pendurou as chuteiras, talvez sejam eles a banda mais importante nascida neste século. “Flutes” é um daqueles motivos em que este “talvez” deixa de existir. Uma pequena obra-prima, um colosso em forma de canção.

As 75 melhores músicas de 2012: 21) Poolside – “Just Fall in Love”

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O verão do século 20 era festeiro e libertador, já o do século 21 está mais para um alívio, um longo fim de semana em que a única coisa que importa é deitar-se ao sol – e, eventualmente, apaixonar-se. Sem festas, sem agito, sem pressa – deite-se e mova-se na velocidade do calor, a câmera lenta. Eis o paraíso ao ar livre proposto pela dupla de Los Angeles Poolside, uma das melhores surpresas de 2012, e seu conceito de disco music diurna está concentrado principalmente na preguiçosa “Just Fall in Love”, que cogita a paixão de verão como se pede um drink ou para que se passe o protetor solar… Relax…

As 75 melhores músicas de 2012: 5) Frank Ocean – “Pyramids”

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Hip hop progressivo, épico R&B, soul de fases: “Pyramids” foi o cartão de apresentação do irrepreensível Channel Orange, o grande disco de 2012, e quando ela apareceu por inteiro – groove sintetizado pesado num começo ancestral, cantando o Egito antigo sobre timbres dos anos 70, mudando para uma R&B lento e digital que se passa nas pirâmides de Las Vegas; duas canções superpostas em dez minutos de lascívia em duas demãos, sob a vigília da Árvore da Vida e um longo e contemplativo solo de guitarra (tocado por John Mayer!) – o ano já não era o mesmo. E pertencia a Frank Ocean.

As 75 melhores músicas de 2012: 20) Chromatics – “Kill for Love”

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“Todo mundo tem um segredo” – e o de 2012 foi a ascensão dos Chromatics e da obra de Johnny Jewel, que ganhou proeminência à medida em que o ano foi passando. Primeiro veio a trilha sonora do filme Drive, seguida de perto por um misterioso segundo disco da banda, uma série de mixtapes, remixes e versões, a trilha do desfile da Chanel e o anúncio do volume 2 da coletânea que deu origem à cena, After Dark. Inevitavelmente, a obra central deste movimento é o álbum Kill for Love, que, apesar do tom soturno que apresenta logo de cara (uma versão shoegaze para “Into the Black”, de Neil Young), mostra suas garras na faixa-título: hipnótica, etérea, barulhenta, doce – um encontro às cegas entre o Cocteau Twins e o Jesus & Mary Chain dando estranhamente certo.

As 75 melhores músicas de 2012: 4) Kendrick Lamar – “Bitch, Don’t Kill My Vibe”

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Enquanto Frank Ocean ganhou 2012 por expandir seu universo sonoro para além do hip hop, abraçando diferentes camadas da black music num disco ao mesmo tempo sensível e maduro, Kendrick Lamar aproveitou sua primeira incursão na primeira divisão da indústria fonográfica para transformar seu Good Kid, m.A.A.d. City no grande disco de rap do ano. Ao mesmo tempo em que resolve contar seus dramas da juventude (o título do álbum se refere à sua chegada em Compton, berço do gangsta rap no sul de Los Angeles, além de conter uma sigla para “my angry adolescence divided”), resolve assumir sua maturidade, tanto nos beats mais sossegados quanto no flow manhoso, quase falado. E o grande momento do disco é sem dúvida a irresistível “Bitch Don’t Kill My Vibe”, tão californiana quanto Dr. Dre e 2Pac Shakur, mas transformando a arrogância em desprezo, atitude resumida numa frase inusitada em uma música de hip hop: “Às vezes preciso ficar só”.

As 75 melhores músicas de 2012: 19) Divine Fits – “Would That Not Be Nice”

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A palavra “supergrupo” quase sempre vem acoplada a textos sobre o Divine Fits pois seus integrantes vieram de bandas já estabelecidas – Britt Daniel é do Spoon, Dan Boeckner, do Wolf Parade e dos Handsome Furs e Sam Brown do New Bomb Turks. Mas o termo não é apropriado, pois nem suas bandas originais são grandes o suficiente para tachar o encontro de super nem propriamente eles reinventam seu som no novo conjunto – o Divine Fits soa mais como uma intersecção de projetos pessoais do que uma nova banda de fato. Isso não diminui o impacto de seu primeiro disco, que apresenta-se com a sonoridade mais cool no atual indie rock americano.

As 75 melhores músicas de 2012: 18) Chet Faker – “Terms and Conditions”

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Mais que um trocadilho espertinho ou autor de uma versão sacada (“No Diggity“, lembra?), Chet Faker vem aos poucos mostrar que é mais que um nome passageiro na eletrônica dos novos anos 10 e com sua “Terms and Conditions” – concisa e desencanada – pede passagem.

As 75 melhores músicas de 2012: 17) Sinkane – “Jeeper Creeper”

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A faixa que apresentou o trabalho solo deste hipster sudanês (guitarrista no Brooklyn nova-iorquino, já tocou com Of Montreal, Caribou, Yeasayer e Born Ruffians) ainda é seu principal trunfo – um delírio sossegado e groovy, com molhos afro, funk 70, indie e chillwave, esperando o Toro y Moi na ponta de lá da ponte que ele iniciou no EP Freaking Out.

(E nesta versão ao vivo abaixo, então…)

As 75 melhores músicas de 2012: 3) Curumin – “Passarinho”

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Fazia tempo que a música brasileira não soava doce e natural ao mesmo tempo, principalmente numa voz de homem. O falsete de Curumin passeia bonito por uma melodia simples, mas arranjada com um cuidado específico que permite que vocal, teclados, bateria e violão mantenham o mesmo pulso tanto nos momentos mais cândidos quanto no breque que não faz média para colocar o dedo na cara do ouvinte. Não é o momento central do melhor disco nacional do ano (que fica entre “Afoxoque” e a sutileza de “Paris Vila Matilde”) e talvez por isso soe tão… livre.