Todas as referências pop de todos os filmes de Quentin Tarantino em ordem cronológica

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Esse vídeo rolou faz um tempinho, mas ainda tá valendo:

Daft Pulp Fiction

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“Say ‘what’ again!”

Outro Pulp Fiction

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Em vez de John Travolta, Sean Penn ou Daniel Day-Lewis. Uma Thurman receosa em aceitar o papel de Mia Wallace. A bênção do CEO da Disney. Paul Calderon no lugar de Samuel L. Jackson. Matt Dillon em vez de Bruce Willis. Pulp Fiction podia ter sido beeeem diferente, nos conta essa história oral descrita pela Vanity Fair (aqui). Abaixo, fotos dos bastidores da gravação deste clássico moderno, tiradas do site da Miramax e da revista Paste.

 

Django Livre: Quentin Tarantino clássico

Eis a resenha que fiz para o Django Livre, no site da Galileu:

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Um clássico de Quentin Tarantino

O que torna um filme clássico? O momento em que ele é lançado, se ele consegue registrar as inquietações de seu tempo a ponto de entrar para a história como um espelho daquele momento. Grandes atuações. Uma fotografia impecável. Uma direção segura. Cenas que, apenas com o casamento de som e imagem, conseguem sintetizar sentimentos da cabeça do autor para a do espectador. Grandes frases. Bom ritmo. Boa narrativa.

E quais são as características que tornam um filme de Quentin Tarantino um filme de Quentin Tarantino? Uma metralhadora de referências. Grandes atuações. Diálogos longos com descrições detalhadas. Cenas de tortura física e psicológica. Vilões maus de verdade. Protagonistas dispostos a acertar contas. Bom ritmo. Grandes frases. Narrativa entrecortada.

Desde que o século 21 começou que Tarantino tenta transcender seu próprio cinema, aquele com as bases lançadas durante os anos 90. Cães de Aluguel, Pulp Fiction e Jackie Brown ficavam naquela zona cinzenta dos filmes policiais de baixo orçamento dos anos 70, que une os blaxploitation aos primeiros Scorsese e aos melhores filmes de Sam Peckinpah e, graças ao tempero de citações e referências pop de seu diretor, transformava todo este gênero considerado B no território dos novos clássicos.

Mas os anos 90 acabaram e Tarantino quis sair de seus anos 70 e dos Estados Unidos, abraçando uma carreira internacionalista. Com os dois volumes de Kill Bill visitou o Japão e o cinema asiático e Bastardos Inglórios passava-se na França para causar o encontro explosivos da elite do nazismo alemão com mercenários judeus do exército americano tentando se passar por italianos de araque. Entre os dois, visitou o cinema de drive-in dos anos 50 no bilhete duplo Grindhouse, codirigido com o comparsa Robert Rodriguez. E agora, com Django Livre, rebobina seu filme um século e meio no passado.

E se seus filmes anteriores apenas aspiravam a transcendência rumo a um cinema clássico (quase sempre esbarrando na caricatura, seja no gesto em que Pai Mei ajeitava sua barba em Kill Bill ou na gargalhada que a tela do cinema dava na sessão fatal do final de Bastardos Inglórios), em Django Livre ele deixa a caricatura em segundo plano. Tarantino está mais interessado em celebrar o western como um dos principais gêneros narrativos norte-americanos do que em fazer sua habitual graça com filmes antigos, músicas desenterradas ou listar produtos de consumo.

Por um lado, isso é um tanto complicado, uma vez que o filme se passa no meio do século 19 e as referências pop da época são praticamente nulas – afinal, não existia cultura pop então. Por outro, é a deixa para Tarantino exibir seu extenso leque de samples cinematográficos, empilhando referências de filmes antigos e que caíram no esquecimento ao mesmo tempo em que aponta para referências que não são propriamente pop. Cita a mitologia germânica, a Ku Klux Klan avant la lettre, a então recente consciência humanista europeia e chega ao extremo de acenar para Laranja Mecânica do Kubrick (veja o desconforto na cena em que tocam Beethoven). E, claro, superpõe cenas que se passam em uma época com músicas de outra – e este contraste acentua-se ainda mais quando a época no caso é o século retrasado.

Mas não é o clássico Tarantino que torna Django Livre clássico, e sim sua aspiração ao grande cinema. Como os irmãos Coen em Onde os Fracos Não Tem Vez, Tarantino aproveita sua incursão pelo velho oeste para filmar cenas que fazem mais sentido na tela do cinema, por maior que seja a tela da TV em sua casa. A cena em que o escravo Django (Jamie Foxx, atuação irrepreensível) e seu dono Dr. King Schultz (Christoph Watz, repetindo o papel de Bastardos Inglórios, só de outro ponto de vista) firmam parceria e atravessam as montanhas rochosas no inverno, ao som de “I Got a Name” de Jim Croce, ao mesmo tempo brinca com a ideia de road movie antes mesmo das estradas existirem, também dedica-se com esmero de documentarista e fotógrafo à paisagem natural dos Estados Unidos.

O glacê deste épico é uma saga de vingança, e nela o tempero Tarantino é carregado – e maniqueísta. Com poucos minutos de filme, ele já mostra que os caipiras do sul dos EUA não são apenas os vilões do filme como quando, ao morrer, espatifam-se feito personagens de desenho animado, causando riso. Já os escravos ganham a aura de protagonista não apenas personificada na busca de Django pela liberdade e por sua esposa, Broomhilde, no sul daquele país, mas também por serem vítimas de violência gratuita e gráfica, em diversos momentos, humilhantes e tétricos. A cena em que o escravo D’Artagnan é cobrado por não ter feito o que deveria fazer é revoltante – e Tarantino a torna assim de propósito, justamente repulsiva para nos lembrar que estas cenas aconteciam com nossos ancestrais recentes, quatro gerações para trás. Brancos rindo e se divertindo enquanto negros viram a cara, calados, para evitar a dor e a tristeza.

É quando surge dois dos principais personagens e das grandes atuações do filme, quando somos apresentado ao desprezível Calvin Candie (Leonardo diCaprio, genial) e seu escravo particular Stephen (Samuel L. Jackson, irreconhecível). Os dois dão aulas de dramaturgia à medida em que encarnam seres desprezíveis, opostos diretos aos personagens de Foxx e Waltz. Ao contrapor dois vilões e dois mocinhos sem dividi-los por raça, Tarantino dá seu xeque final à pseudopolêmica racista relacionada ao filme. O filme sublinha sim o holocausto da escravidão, mas lembra que bondade ou maldade independe de cor da pele.

E depois de nos provar isso com atuações e diálogos brilhantes, ele deixa o couro comer em tiroteios que não devem em nada às carnificinas em massa de Kill Bill. Django é um filme ousado, assustador, tenso e provocador, ao mesmo tempo em que não perde o bom humor e pode até provocar gargalhadas.

Impressão digital #139: O vazamento de Django Livre

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Usei o gancho do vazamento online do Django para falar do novo filme de Tarantino na minha coluna do Link.

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O novo filme de Tarantino e o amadurecimento digital
Formatos piratas já não satisfazem as pessoas

Assisti a Django Livre, que estreia no Brasil na sexta-feira. Era dia de Natal (data da estreia oficial do filme de Quentin Tarantino) e eu estava em uma viagem no exterior. E fui com a minha mulher ver Django numa telona. Gosto de assistir a filmes e séries na TV, já vi muitos filmes no computador, mas nada substitui o cinema para alguns filmes.

O elemento social talvez seja seu aspecto mais encantador: sentar-se no meio de desconhecidos e conduzir-se por uma viagem de sons e imagens que passaram-se na cabeça de um autor, numa sala escura. É um processo completamente diferente da literatura. No cinema, as cores, formas e sons vêm antes da mensagem e da linguagem, e a comunicação é feita por instintos puramente estéticos. Todo mundo vê e ouve a mesma coisa, mas a história é interpretada por cada espectador. E absorver essas sensações coletivamente, uma viagem cerebral cujos condutores são apenas nossos olhos e ouvidos, é uma das grandes experiências sociais que o século 20 deixou para as gerações futuras.

Prefiro assistir aos meus cineastas favoritos assim. Tarantino é um dos meus prediletos entre os vivos (ao lado dos Coen, Cronenberg, Lynch, Scorsese, Herzog e mais alguns) – e por isso cedi à expectativa e resolvi ver o novo filme em inglês mesmo. Na semana passada, no entanto, pude revê-lo em português em uma sessão para a imprensa (que é chamada de cabine), dois dias depois de uma versão screener vazar na internet.

Versões screeners são DVDs enviados a jornalistas que não podem ir às cabines. Elas não têm a qualidade técnica de uma projeção cinematográfica nem a alta definição dos DVDs comerciais. Servem para que o crítico de cinema assista ao filme antes da estreia.

No mundo do download ilegal, essas versões recebem nomenclaturas específicas. Screener, abreviado SCR, é a versão mais apresentável nas primeiras vezes em que o filme vaza online, diferente de outras categorias.
CAM, abreviatura de “câmera”, é o filme pirata mais rasteiro possível, aquele em que o pirateiro filma a tela do cinema. É a qualidade mais tosca que se pode imaginar: iluminação ruim, silhuetas de espectadores e som fora de sincronia são características frequentes. A versão TS – telesync – é um pouco melhor, pois o pirateiro pega o áudio do projetor. Em seguida vem a versão SCR, como a que vazou de Django na semana passada.

Desta vez, o rebuliço que normalmente acompanha o vazamento de obras esperadas há muito tempo – como é o caso do filme de Tarantino – não foi tanto. Parte do público preferiu esperar o filme estrear no cinema (eu estaria entre eles, se já não tivesse visto o filme). Outra parte baixou sem saber da qualidade. E um terceiro grupo preferiu esperar o vazamento de uma versão melhor, em alta definição, ripada do DVD.

O que mostra que estamos vivendo um amadurecimento digital considerável. O mesmo vale para o vazamento de discos ou para a qualidade do áudio de músicas vendidas legalmente online. Há audiófilos que se recusam a ouvir música com bitrate – que mede a qualidade da frequência – menor do que 320 kbps. Dez anos atrás, muitos estavam comemorando o simples fato de o disco ter aparecido online – mesmo que a qualidade fosse inferior ao padrão mais baixo, o de 128 kbps.

Esta mudança está diretamente associada ao tipo de equipamento que temos hoje em casa. Com esses equipamentos, aos poucos estamos exigindo mais qualidade digital. Mas temos que nos acostumar com o fato de que o digital não necessariamente exige suporte para ser consumido. Você não precisa de um DVD para ver um filme como não precisa de um CD para ouvir um disco. Falo mais disso em colunas futuras.

E assistam a Django no cinema. Alguns momentos são de pura catarse coletiva. E saber que você tem que ficar quase três horas sem poder dar pause, olhar a internet no celular ou correr para pegar algo na geladeira torna a exibição ainda mais intensa.

Vazou o Django

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Interrompo a contagem regressiva das melhores músicas de 2012 para avisar que o filme novo do Tarantino já está circulando com boa qualidade online. No entanto, recomendo assisti-lo primeiro na telona…

Retrospectiva OEsquema 2012: Django Unchained

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A segunda década da filmografia de Quentin Tarantino não repetiu a atuação esplendorosa da primeira. Foi quando ele resolveu sair dos anos 70 de Scorsese, da blaxploitation e de Peckinpah para dedicar-se a filmes de gênero, em épicos de mentira como Kill Bill, À Prova de Morte ou Bastardos Inglórios. Por melhores que sejam estes filmes, eles não deixam escapar uma sensação de que tudo ali é de mentirinha, inclusive as altas aspirações cinematográficas. O excesso de referências pop tira o ar de filme japonês que deveria atravessar os dois volumes de Kill Bill, Deathproof celebra o filme de quinta categoria e Bastardos Inglórios é mais divertido porque você sabe quem é o Brad Pitt fora do cinema de Tarantino. Tudo que antes aspirava ao primeiro escalão em seu cinema nos anos 90 (a cena da tortura ou o Pietá de Cães de Aluguel, a edição rápida de Pulp Fiction, a abertura de Jackie Brown) cai para a paródia, a caricatura, a desfaçatez. Não que Django Unchained não tenha seus momentos de puro humor idiota ou escolha o lado para quem torce, mas sua fotografia classuda, seus personagens densos e, principalmente, sua longa saga de vingança mostram que o velho Quentin entrou em uma nova fase. Se Bastardos Inglórios partia do grande cinema (segunda guerra mundial, Sergio Leone) para transformar tudo – literalmente – numa sessão da tarde, Django faz o caminho inverso e mexe nas entranhas do faroeste mais vagabundo para içá-lo ao patamar de John Huston. Longas tomadas em ritmo lento dão o tom de todo o filme, bem como o sangue de desenho animado que explode a cada vilão alvejado e a dor agressiva imposta a seus protagonistas negros. A quantidade de “niggas” – uma palavra que, para o público norte-americano, pesa muito mais que o “preto” dito em português – dita pelas quase três horas de Django é suficiente para constranger qualquer aspirante a bom moço, mas assisti ao filme em uma sessão no dia da estréia, coalhada de negros nova-iorquinos num cinema no Village, e todos riam alto – inclusive do maldito personagem de Samuel L. Jackson, talvez em sua melhor atuação. E ao cutucar um tema complicado (a escravidão) com toques de ultraviolência (perceba a referência à Laranja Mecânica na cena em que toca “Für Elise”), Tarantino finalmente deixa de ser um enfant terrible para colocar em si mesmo a coroa do primeiro escalão. Isso sem abandonar suas marcas registradas, como o copy+paste cinematográfico, uma trilha sonora tão presente quanto um novo personagem e diálogos extensos, cheios de referência, humor adolescente e o prazer em representar graficamente a dor. Antes de assisti-lo, os melhores filmes do ano (Drive, Cosmópolis e Holy Motors) tinham o carro como personagem central – todos ultrapassados pelo galope firme de um espécime exemplar dessa raça chamada cinema. Não foi à toa que a sessão terminou com aplausos.

Django Livre: vazou a trilha do novo filme do Tarantino

O Ramon já tinha comentado que o roteiro havia vazado (mas, como ele, também não vejo antes da hora). Mas que tal a trilha? Trilha de filme de Tarantino não é meio spoiler? Eniuei, dá pra baixar aqui.

O universo paralelo de Quentin Tarantino

E por falar em Tarantino, esqueci de linkar a matéria que escrevi para a revista Select sobre o universo de um dos diretores mais importantes de hoje em dia. Ela segue abaixo:

 

Quentin Tarantino: E se Bastardos Inglórios e Django Livre forem parte de uma trilogia?

Quem cogitou foi o próprio diretor, em entrevista ao site Total Film:

“Não sei, mas Bastardos Inglórios e Django Livre parecem pedir por uma trilogia. Por mais diferentes que sejam, há uma qualidade que os une. Pode ser que haja um terceiro. Eu ainda não sei.”

E o trailer de Django Livre, você já viu? Dá uma sacada aí embaixo: