A psicodelia e a música brasileira perdem Júpiter Maçã

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Escrevi sobre a falta que o músico gaúcho fará lá no meu blog no UOL, além de separar alguns vídeos para provar isso.

Júpiter Maçã (1968-2015)

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Uma notícia péssima para fechar 2015: embora não haja confirmação 100%, tudo indica que Flavio Basso, o Júpiter Maçã, uma das figuras mais importantes da psicodelia brasileira e do rock gaúcho, passou pro outro plano da existência. A Rádio Guaíba está dando como oficial a notícia em sua conta no Twitter Rádio Guaíba confirma a morte do músico. Júpiter compôs um dos grandes discos do rock brasileiro, a Sétima Efervescência, de 19976, e por esse disco já teria seu nome na história de nossa cultura.

E só por uma das músicas deste disco – “Lugar do Caralho” – ele já está no panteão do rock gaúcho. Mas foi integrante do TNT, banda da primeiríssima leva de bandas gaúchas dos anos 70, e fundou os Cascavelletes ao lado de Frank Jorge e Nei Van Soria na virada dos 80 para os 90 (e xavecou Angélica na cara dura em cadeia nacional). Sempre se reinventando, o multiinstrumentista navegou pelo rock inglês, pela tropicália, pelo krautrock, pela canção francesa, pela bossa nova para exportação, pelo free jazz, pela música eletrônica. E sua figura pública – uma esfinge irônica que misturava Syd Barrett com Raul Seixas – era tão emblemática quanto de outros heróis gaúchos contemporâneos, como Wander Wildner, Frank Jorge e Edu K, mas seu nível de loucura era refinado e grosseiro na mesma medida.

A última vez que o vi, ele fez um show no Sesc Pompéia, em que mostrou alguns de seus clássicos antigos e recentes. Filmei algumas músicas abaixo:

As gerações mais novas devem conhecê-lo apenas pelas entrevistas ultrajantes e sem cabeça que apareciam vez por outra no YouTube. Mas sua morte súbita deixa uma lacuna drástica no inconsciente do rock nacional, justamente no momento em que a psicodelia volta a ser valorizada. Ave Júpiter!

O legado de Miele

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A morte do showman Luiz Carlos Miele vem nos lembrar de uma arte cada vez mais esquecida: a de espalhar boas vibrações aonde quer que você vá. Falei disso no réquiem que escrevi pra ele no meu blog no UOL.

Miele (1938-2015)

O showbusiness brasileiro fica mais triste com a morte de um mito brasileiro. Mas talvez ela sirva pra mostrar o que estamos deixando de lado.

Editora Ática (1965-2015)

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Empenhado, nos últimos meses, na reformulação da emblemática coleção Vaga-Lume e de outras séries tradicionais do catálogo, e fazendo planos para 2016, o departamento editorial da Ática foi surpreendido na sexta-feira, 2, com a notícia de sua extinção. Isso, em meio às comemorações pelos 50 anos da editora – hoje, assim como a Scipione, ela pertence ao grupo Somos Educação (ex-Abril Educação).

Assim, a Maria Fernanda, em sua coluna Babel no Estadão, nos dá a péssima notícia sobre o fim da Editora Ática, casa de séries que ensinaram pelo menos duas gerações a tomar gosto pela leitura (com as clássicas Coleção Vagalume e as antologias Para Gostar de Ler). Não se sabe o destino das coleções, mas fica aí uma dica no ar pra quem quiser se espelhar no exemplo da editora para fazer os jovens retomar o hábito de ler – e começar novas Coleções Vagalumes, em outro formato, com outros autores, outras histórias e novo público.

Fernando Brandt via Björk

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A morte de Fernando Brandt me fez lembrar dessa versão que Björk fez para “Travessia” – quem imaginaria que uma música daquele bando de mineiros influenciados por Beatles seria gravada por uma diva do pós-punk da Islândia? É só uma amostra da influência e importância do trabalho do compositor.

Christopher Lee (1922-2015)

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Christopher Lee já havia deixado pra trás os papéis de vilão que o eternizaram para a minha geração ao assumir papéis como o Conde Dooku na trilogia recente de Guerra nas Estrelas, do mago Saruman nos épicos do Senhor dos Anéis e até como o pai de Willy Wonka na versão que Tim Burton fez para a Fantástica Fábrica de Chocolates. Mas ele só chegou a esses papéis depois de viver clássicos da maldade como o mais eterno Drácula (nas produções inglesas da Hammer, no fim dos anos 50) e o infalível Scaramanga (007 contra o Homem com a Pistola de Ouro, de 1974).

Mas meu filme favorito com ele é o fantástico O Homem de Palha, de 1973, desses filmes que melhoram a cada vez que você reassiste:

Fazer papel de vilão não é fácil. Livrar-se deles é mais difícil ainda. Christopher Lee viveu bem.

Ornette Coleman (1930-2015)

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Ornette Coleman era daqueles sobre-humanos como Picasso, Miles e Orson Welles, uma força da natureza encarnada em uma pessoa, que levou a música a uma esfera inimaginável até então. Pude registrar sua apresentação em 2010 no Sesc Pinheiros e, como todos que o viram ao vivo, sou uma pessoa melhor por causa disso. Abaixo, o momento mágico de sua segunda apresentação naquela vinda, quando a luz acabou no meio de “Dancing in Your Head” – e ele continuou mesmo assim:

Aqui tudo que consegui filmar naqueles dois dias:

Ave Coleman.

B.B. King (1925-2015)

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B.B. King morreu esta noite em Las Vegas, depois de tentar resistir bravamente a um estado de saúde que por vezes melhorava, por vezes piorava. Não é exagero dizer que, com ele, morre o blues como o conhecíamos originalmente. Embora tenha sido um dos principais nomes do gênero por gerações – e ter levado o estilo musical a patamares nunca imaginados pela geração de seus pais, que lhe ensinou aquela música criada nas plantações de algodão dos sul dos EUA -, King não era “o rei do blues” apenas pela coincidência do sobrenome ou pela longevidade. Foi ele quem carregou aquela guitarra chorosa – suas inúmeras Lucille – para diferentes países, públicos e idades. Mais do que o maior embaixador do blues no século passado, ele era o próprio blues encarnado. Outros ficam, outros virão, mas nunca sem sintetizar a elegância e o sentimento deste mestre.

Ben E. King (1938-2015)

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“Stand by Me” é daquelas músicas que acompanham qualquer um por toda a vida – e hoje é dia de dizer adeus a um de seus autores e de seu mais clássico intérprete (ultrapassando até a imortal versão feita por John Lennon). Ben E. King, que compôs a faixa inspirada no gospel “Lord Stand By Me” ao lado da irrepreensível dupla Jerry Leiber e Mike Stoller, nos deixou nesta quinta e apenas o legado desta única canção já é o suficiente para lembrarmos dele para sempre.