O fim da comida de rua?


Foto: Parque da Água Branca, do meu largado Flickr

O declínio da civilização ocidental frente ao politicamente correto, capítulo 2914. Helô conta como a prefeitura do Kassab está, aos poucos, acabando com os vendedores de comida de rua, e na marra:

Atenção, muita atenção, caros leitores: um dos principais patrimônios paulistanos está sendo perseguido. Perseguido literalmente. Pela polícia.

Estou falando do milho cozido, da pipoca, do café da manhã de carrinho, com bolo de nada e pingado de garrafa térmica, do vendedor de fatia de abacaxi docinho, do coco caramelizado, do tapioqueiro. Meu Deus, o tapioqueiro…

De uns dias para cá, todo taxista me fala disso. Da Guarda Civil Metropolitana perseguindo os ambulantes de comida. “Eles pegam a comida e colocam tudo num saco e jogam fora”, me disse o Márcio, taxista amigo e grande conhecedor de comida de rua. (É claro que isso vem na esteira de outras reclamações sobre o Kassab. Quanto tempo falta para acabar esse pesadelo mesmo?)

O Aristenes, taxista “mineiro de nome grego, vê-se-pode?”, chorou de verdade, chorou de fungar e diminuir a velocidade para enxugar o rosto, ao contar a história de um casal de aposentados que vendia milho cozido, pamonha e curau no Bom Retiro. A Guarda Civil levou tudo embora, carrinho, milho e curau. E os dois ficaram ali, sem rumo. Segundo o Nenê, apelido do Aristenes, “a polícia depois vende tudo, os carrinhos, e aí depois vão lá e tomam de novo e vendem de novo”.

(…)

Blindada ou sensível, nossa pança não pode ser alijada do carinho que vem do carrinho.

O Rodrigo Oliveira, do Mocotó, disse, em palestra no evento Paladar Cozinha do Brasil (em que ele apresentou um café da manhã sertanejo de fazer núvem-de-lágrimas-sobre-meus-olhos de tanta delícia):

“O Alex Atala fala que a boa cozinha coloca o ingrediente no seu melhor momento. O cara do carrinho de tapioca, que faz tapioca todos os dias há 20 anos, coloca a tapioca em seu melhor momento. Ele deve ter alguma coisa para ensinar pra gente. É esse cara que eu quero ouvir”.

Pois é, a Guarda Civil Metropolitana nem ouve, já vem tirando a tapioca do tapioqueiro e, de lambuja, tirando de nós o direito ao lanche rueiro.

Claro que a prefeitura tem de cuidar para que regras sejam cumpridas, para que seja limpo, para que não contamine. Mas eliminar a comida de rua não pode ser a solução. Quer dizer, poder pode, mas é a solução mais burra.

E se você acha que isso não tem nada a ver com você, então não venha dizer que o cachorro-quente de Nova York é incrível. Não poste no Instagram sua foto comendo salsicha incrível nas ruas de Berlim. Nem me venha falar que o crepe da esquina da rue tal com a rue tal em Paris é incrível.

Porque, sim, eles são de fato incríveis. O cachorro-quente é patrimônio de NY. O crepe é a cara de Paris. E a salsicha alemã é a alma berlinense. Assim como o chincharrón e o taco mexicano, o choripán argentino, as sardinhas portuguesas e quantos tantos outros exemplos maravilhosos (me ajudem a lembrar, deu branco).

Esse papo todo me deu vontade de comer um pastel. Já volto.

Deixa falar

Peguei da Kátia.