Hoje no Prata da Casa: Mahmundi

Mahmundi é um dos novos nomes do Rio de Janeiro e fico muito feliz de tê-la escolhido para a edição de hoje do Prata da Casa. O Prata começa às 21h e uma hora antes os ingressos começam a ser distribuídos (é de graça). O Prata da Casa acontece toda terça-feira, no Sesc Pompéia. Abaixo, o texto que escrevi para a programação do projeto. Vamo lá!

Há um novo verão no Rio de Janeiro em 2012 – e ele não lembra nem aquele da bossa nova, nem o das dunas da Gal, o da Lata, nem o de Fausto Fawecett ou do do funk carioca. O parentesco direto é com o início dos anos 80, quando uma geração de artistas saía aos poucos da sombra da MPB para metamorfosear-se no que ficou conhecido posteriormente como o rock brasileiro dos anos 80. Mas naquele meinho de 70 com 80, na virada da década antes de “Você Não Soube Me Amar” da Blitz conquistar o Brasil, o pop e a MPB eram um bicho híbrido, que reunia Lulu Santos com A Cor do Som, o Noites Tropicais de Nelson Motta com a nova carreira solo de Rita Lee, Guilherme Arantes com Ritchie, Metrô com Boca Livre. É deste universo sonoro – de onde também vêm o Silva e Cícero, que já tocaram no Prata deste ano – que também vem a carioca Mahmundi, acenando para o Chromeo e Hall & Oates ao mesmo tempo em que aprecia a vista da noite sob os Arcos da Lapa.

Hoje no Prata da Casa: Rafael Castro

Hoje tem o Rafael Castro lançando seu primeiro álbum no Prata da Casa, lá no Sesc Pompéia. O esquema você já sabe como é, né? Chega uma hora antes, às 20h, pega o ingresso (é de graça), que o show começa às 21h. Abaixo, o texto que escrevi para a programação do projeto.

Compositor prolífico do interior do estado (nasceu em Lençóis Paulista), Rafael Castro pertence a um estranho e agradável universo paralelo em que o rock’n’roll não se separou da MPB, com sabores da década de 1970. Por isso suas canções misturam referências sonoras tão diferentes quanto Raul Seixas, Júpiter Maçã, Jards Macalé, Caetano Veloso, Mutantes, Roberto e Erasmo Carlos, Jorge Mautner, Rita Lee, Guilherme Arantes, os artistas do Lira Paulistana e os que frequentavam o Cassino do Chacrinha, só que com o ímpeto corrido de um pós-adolescente com déficit de atenção e um tempero garageiro da cena paulistana da virada do século (de grupos como Skywalkers, Momento 68 e Sala Especial). À frente dos Monumentais, ele lançou dezenas de MP3 online e um punhado de álbuns virtuais, mas prepara-se para apresentar seu primeiro álbum – chamado apenas Lembra? – de fato ainda este ano.

Madrid no Prata da Casa

Uma sessão de descarrego, madura e moderna

Sei que tou com um monte de shows pendentes pra comentar (e enrolando pra retomar o Vintedoze, mas isso é outra história), mas o fato é que quem foi ao Prata da Casa na terça passada pode ter um gostinho de um dos melhores discos de 2012, com direito a dois brindes. A dupla Madrid – Adriano ex-Cansei e Marina ex-Bonde num portmanteau de seus nomes – subiu ao palco da choperia do Sesc Pompéia acompanhados de um baterista e um guitarrista. Ele ao piano, ela (por vezes) ao violão, os dois dividindo vocais em canções em inglês que saem correndo de seus respectivos e recentes passados musicais na pishta de dança.

Exorcizam beats e berros em duetos dóceis mas austeros, tristes, amargurados mas destemidos, olhando para frente, sempre enaltecendo a canção, este talvez o formato definitivo do século 20, mais que o automóvel, o jazz, a calça jeans ou Hollywood (vintedozers gonna vintedoze). Renegam todo o novidadismo do século vigente com hinos de guerra e baladas melancólicas, que desatam a chorar idas e vindas de relações cotidianas. A ironia ainda segue presente, mas sutil, transbordando apenas nas piadas idiotas que Adriano – confessando o nervosismo ao piano de cauda – usa pra provocar Marina, de salto, saia e cabelão. Mas apesar do formato vintage (remontam aos anos 60 de Serge Gainsbourg, Lee Hazlewood e Nancy Sinatra, a produção do Brill Building, alguma referência à Motown – mas não à Stax), o Madrid está mais próximo de duplas contemporâneas que celebram estes clássicos anos 60, como Mark Lanegan e Isobel Campbell, PJ Harvey e John Parish, Nick Cave e inúmeras divas pessoais. Há uma sensibilidade indie que é inerente ao gosto musical dos dois – e um inevitável parentesco com o projeto individual de Adriano, o Ultrasom.

Sem demonstrar insegurança, mostraram um espetáculo adulto e moderno como poucas vezes se vê no pop brasileiro, que ao mesmo tempo que não corre atrás do último hype para não perder o bonde da história (“been there, done that”, parecem suspirar aliviados) como também não tenta vender a fonte da juventude como uma utopia possível (algo até mais comum, nesta cena brasileira dos anos 10). São apenas artistas cantando histórias, mesmo que vestindo uma outra fantasia de palco. E fazem isso bem, sem afetação nem maneirismos – e além do repertório do primeiro disco, que em breve aparece por aí online, também tocaram músicas do Camera Obscura e do Ladytron, confirmando o apreço por um indie dance que até habita a mesma audiosfera que o Bonde do Rolê e o Cansei de Ser Sexy, mas que circula em horários diferentes, e quase não se encontram. Como o junkie que descobre a academia ou o consumista que alcança o zen do desapego, o Madrid é quase uma sessão de descarrego, mas mais catártico que pesado.

Fiz uns vídeos abaixo, veja aê:


Madrid – “Destroy Everything You Touch”

 

Você perdeu o show do Madrid no Prata da Casa?

Não apenas foi uma das melhores terças do ano, como surpreendeu até os mais otimistas, apresentando o repertório do primeiro disco da dupla, que também desponta como um grande disco de 2012 (e com direito a piano de cauda no palco e show encerrado com uma versão excelente para “Destroy Everything You Touch”, do Ladytron). Tou subindo os videozinhos, linko aqui depois.

Hoje no Prata da Casa: Madrid

E a atração que abre o segundo semestre da minha curadoria no Prata da Casa do Sesc Pompéia é o Madrid – projeto do Adriano e da Marina depois que deixaram suas bandas anteriores (o Cansei e o Bonde, respectivamente). O esquema do Prata você já sabe: chega às 20h para pegar o ingresso (que é gratuito) e o show começa uma hora depois. Abaixo o texto que escrevi para a programação do evento. Vamo lá?

Adriano Cintra e Marina Vello pertencem a gerações e cidades diferentes, mas seus destinos se cruzaram quando duas de suas bandas atingiram o sucesso no exterior. Adriano foi o arquiteto da ascensão do Cansei de Ser Sexy e depois de anos entre as canções do Ultrasom e as guitarras do Butchers’ Orchestra, investiu na dance music de um grupo formado por ele – à bateria nos primeiros anos e à guitarra nos últimos – e um bando de garotas da moda. Já Marina era uma das vozes do Bonde do Rolê, o improvável trio de funk carioca de Curitiba que apelava para a pornografia e para a escatologia enquanto assumia os berros sobre o batidão. Os dois grupos foram os líderes brasileiros da chamada “geração MySpace”, quando a internet permitiu que grupos daqui tivessem uma exposição maior no exterior. Meia década depois daquela época e já fora dos dois grupos, Marina e Adriano se reencontraram apaixonados pela canção e, no formato piano e voz, deixam para trás a juventude do indie pop para abraçar melodias e arranjos adultos, longe da pista de dança ou dos shows de rock.

Hoje no Prata da Casa: Caio Bosco

Hoje a atração do Prata da Casa é o Caio Bosco, que era do Radiola Santarosa, de Santos, e agora investe em carreira solo. Os shows do Prata começam às 21h, na choperia do Sesc Pompéia, e os ingressos (de graça), podem ser retirados uma hora antes. Abaixo, o texto que escrevi para o show de Caio hoje:

O hip hop funciona tanto como uma força própria, que cada vez mais se firma como um dos principais manifestações culturais da atualidade, como uma porta de entrada para universos musicais diversos, uma vez que, como gênero musical híbrido, permite se esgueiras por diferentes estilos, épocas e nacionalidades. Veja o caso de Caio Bosco, que começou como MC no duo de hip hop santista Radiola Santa Rosa. Depois de lançar dois discos que receberam elogios da crítica especializada (Disqueria, de 2005, e Duberia, do ano seguinte), partiu para a carreira solo e ampliou seus horizontes musicais, com experimentações que já vinha testando em seu antigo grupo (que misturava rap com rock, dub e música eletrônica). Em seu primeiro disco, agrega o papel de cantor à seu vocal de MC e assume a guitarra como instrumento e inclui a soul music como linha mestra de seu novo trabalho, cantando suavemente o que antes rimava com veemência. Seu primeiro disco, batizado apenas com seu nome, foi lançado este semestre.

Hoje no Prata da Casa: Jorginho Neto

E hoje no Prata da Casa é dia de samba-jazz: o bamba Jorginho Neto promete debulhar bonito numa noite que pode ser uma boa opção para comemorar o dia dos namorados (prum pré-programa ou prum after-jantar). É só chegar no Sesc às 20h, quando os ingressos começam a ser distribuídos, e o show começa uma hora depois. Abaixo, o texto que escrevi para o projeto.

Um dos instrumentos de sopro mais antigos do mundo (suas origens remontam ao Egito antigo e os ancestrais mais próximos da versão moderna já existiam no século XV), o trombone foi incorporado à música brasileira com uma personalidade específica, que logo se associou à musicalidade do samba. Mas ao ser incorporado ao samba jazz na metade da década de 60, ganhou papel de protagonista e ajudou a revelar nomes que mesclavam o ritmo, a melodia e o sabor do samba à liberdade harmônica e estilística do jazz, lançando carreiras de músicos como Raul de Souza, Bocatto e Paulo Malheiros. Jorginho Neto é o caçula desta linhagem e, depois de tocar com nomes como Roberto Menescal, Johnny Alf, Banda Mantiqueira e Sandália de Prata (além de ser integrante do sexteto MP6), lança seu primeiro disco, batizado apenas de Samba Jazz. Nele, não apenas reverencia o cânone do seu instrumento no Brasil como aponta novos horizontes para um gênero tido como parado no tempo.

Hoje no Prata da Casa: Elo da Corrente

E hoje quem toca no Prata da Casa é o Elo da Corrente. Sabe como é o esquema no Prata, né? A partir das 20h, os ingressos começam a ser distribuídos no Sesc Pompéia – e o show, de graça, começa às 21h. Vamo lá? Abaixo, o texto que escrevi para o projeto.

Entre o disco mais recente dos Racionais MCs, Nada Como um Dia Após o Outro Dia, de 2002, e a ascensão de Emicida, o hip hop paulistano teve uma série de novos protagonistas que ajudaram a consolidar sua fama ao mesmo tempo em que tiraram a pecha fora da lei que poderia transformar o gênero em caricatura. Nomes como Sabotage, Kamau, De Menos Crime, SNJ, Z’África Brasil e Mamelo Sound System ajudaram a moldar esta nova faceta, mas não sozinhos – e entre as promessas que surgiram na década passada está o grupo Elo de Corrente. Com participações em coletâneas como Direto do Laboratório e Raps de Verão Volume 1, entre outras, o trio bolou o show Missão de Pesquisas Folclóricas, montado em cima de gravações feitas na década de 1930 por Mário de Andrade, no mesmo ano (2009), que lançou seu único EP, batizado de O Sonho Dourado da Família, com sete faixas, e, aos poucos, prepara-se para o lançamento de seu primeiro álbum, ainda sem título definido.

Hoje no Prata da Casa: Rodrigo Caçapa

Roots e moderno ao mesmo tempo, o pernambucano Caçapa fez um dos grandes discos de 2011 sobrepondo camadas de violas e percussão que ecoam uma tradição secular e o modernismo minimalista. Você já sabe como funciona o esquema do Prata: os shows, de graça, começam às 21h na choperia do Sesc Pompéia e os ingressos podem ser retirados uma hora antes do show. Abaixo, o texto que escrevi para o show desta semana:

Caçula na geração do mangue beat, o pernambucano Rodrigo Caçapa fez o caminho inverso da Nação Zumbi e do Mundo Livre S/A, que colocaram o maracatu no mesmo mapa pop mundial que contemplava o punk inglês, o rock americano, o afro-beat e a música eletrônica. Caçapa foi influenciado tanto pelo rock estrangeiro que ouvia quando era adolescente pelas aulas de música erudita que teve quando começou a estudar violão e pela música tradicional de seu estado de origem. Depois de 15 anos atuando como músico e produtor profissional, ele finalmente lançou seu disco solo no ano passado. Elefantes na Rua Nova tem forte ênfase na música de raiz instrumental mas sem deixar suas referências extrapernambucanas de fora. No comando de violas e bombos de 10 e 12 cordas – e o auxílio luxuoso de Hugo Lins no violão baixo e Alessandra Leão no pandeiro e no ganzá -, ele conduz o ouvinte a um universo rural e sertanejo mas irreversivelmente moderno, mesmo que não transpareça à primeira audição.

Hoje no Prata da Casa: Psilosamples

E hoje temos o grande Zé Rolê a.k.a. Psilosamples no Prata da Casa. O show – de graça – começa às 21h e os ingressos começam a ser distribuídos uma hora antes. Vamos? Abaixo segue o texto que escrevi sobre o trabalho dele para o projeto…

Zé Rolê vem de Pouso Alegre, no interior de Minas Gerais, para acrescentar um ar rural e caipira antes impensável à música eletrônica brasileira. Pilotando um computador em que recorta e picota pedaços de sons para compor seus beats tortos – e estes trechos de áudio podem ser violas caipiras, sanfonas, pífanos, diálogos, vozes aleatórias, percussão acústica e artificial a sons puramente sintéticos e eletrônicos, tranformando seu trabalho solo – batizado de Psilosamples – numa espécie de visita alienígena à roça brasileira. Seu primeiro disco, Mental Surf, vem sendo cotado como um dos principais lançamentos de 2012. Mais psicodélico que dance music, o trabalho não abandona o ritmo, unindo a cadência da música de raiz à levada hipnótica que o coloca na prateleira da IDM de artistas como Aphex Twin e Autechre – mas numa versão brasileira e sensivelmente matuta.