Impressão digital #0059: Churrascão da gente diferenciada

Minha coluna de ontem no Caderno 2 foi sobre o tal churrascão diferenciado.

Churrascão diferenciado
Política, internet e Brasil

Começou com uma declaração infeliz. Em uma matéria sobre a mudança de uma futura estação do metrô em Higienópolis, na terça passada, 11, uma moradora disse apoiar a transferência da obra para longe do local imaginado originalmente (no coração do bairro de classe alta de São Paulo), pois assim livraria o bairro do que ela chamou de “gente diferenciada” – um eufemismo bisonho para falar que o bairro passaria a ser frequentado por pessoas de baixo poder aquisitivo. Pobres que, com o metrô, “invadiriam” um bairro rico.

A expressão “gente diferenciada” foi eleita como símbolo de um protesto contra a mudança da estação, que, como diversos vídeos engraçadinhos, links bizarros e polêmicas efêmeras, agitou a internet brasileira.

Em questão de horas, o assunto já estava causando discussões acaloradas no Facebook. Até que um dos participantes da maior rede social do mundo resolveu fazer uma gracinha e abriu um evento no site: o Churrascão da Gente Diferenciada. O Facebook permite que você abra páginas para a realização de eventos, assim é possível convidar os contatos virtuais através do site, ter alguma estimativa sobre quantas pessoas vão e encontrar, posteriormente, gente que esteve presente. Mas como nem tudo é sério no mundo das redes sociais no Brasil, uma das modinhas no Feice brasileiro é a criação de eventos fictícios, que servem apenas para brincar com determinadas notícias ou provocar algumas pessoas.

E assim nasceu o Churrascão da Gente Diferenciada, uma piada que programava para a tarde de ontem um enorme encontro farofeiro no coração do bairro grã-fino. Mas a brincadeira acertou em cheio – em pouco mais de 24 horas depois da criação do evento, ele já contava com quase 50 mil participantes. Claro que, sendo um evento fictício, não era preciso muita dedução para saber que os 50 mil inscritos não iriam de verdade. Mas muita gente passou a cogitar uma ação pública de verdade, transformando a brincadeira num protesto que, a caráter, teria um cardápio bem, como poderia dizer…, diferenciado.

E ao perceber que a piada havia tomado um rumo inesperado, os organizadores do “evento”, resolveram ser mais práticos e o transformaram em um ato de protesto com direito a arrecadação de agasalhos e alimentos e a participação de ONGs para a distribuição do que for reunido. O ato seria realizado às 14 h de ontem, na Praça Vilaboim, depois do fechamento desta coluna (na sexta), e pode sequer ter sido realizado. Ou pode ter virado uma festa. Ou uma confusão.

Mas, independentemente do que possa ter ocorrido, uma coisa é fato: aos poucos, e graças à internet, o brasileiro está aprendendo a protestar, se organizar, reivindicar seus direitos. Agora é só esperar a hora em que isso vai começar a funcionar sem que seja preciso uma piada.

Por que Osama Bin Laden foi morto em 2011?

Diz o MarketWatch:

“According to the latest IMF official forecasts, China’s economy will surpass that of America in real terms in 2016 — just five years from now. Brett Arends looks at the implications for the U.S. dollar and the Treasury market.

And it’s a lot closer than you may think.

According to the latest IMF official forecasts, China’s economy will surpass that of America in real terms in 2016 — just five years from now.

Put that in your calendar”

(…)

“The last time the world’s dominant hegemon lost its ability to run things singlehandedly was early in the past century. That’s when the U.S. and Germany surpassed Great Britain. It didn’t turn out well.”

Vai dizer que não tem nada a ver?

4:20

“DYING IS FOR FOOLS”

Link – 7 de fevereiro de 2011

Offline por cinco diasA revolução no Egito depende necessariamente da internetA nova Ifigênia • Personal Nerd: Banho de LojaVida Digital: Mike Krieger, fundador do InstagramServidor

“Onde é que você estava quando tudo ficou preto?”

Blackout, um filme de Daniel Rezende.

Gang of One

E por falar em Andy Gill, ressuscito aqui a entrevista que fiz com ele quando o Gang of Four veio para o Brasil, em 2006, que transformei em depoimento em primeira pessoa para uma edição da Bizz safra Ricardo Alexandre em que eu cuidei da capa – que era sobre o ativismo político de John Lennon logo que ele saiu dos Beatles. Para combinar com o tema, pedi para o Gill falar da influência da política em sua vida e arte.

***

“Eu comecei a ouvir música pop quando era garoto, ainda no rádio, mas não tinha consciência nenhuma sobre política, algo que só fui me dar conta à medida em que fui crescendo, como acho que é com todo mundo. E aconteceu à medida em que eu fui conhecendo outros artistas, como Jimi Hendrix – acho que Hendrix foi a primeira coisa que realmente me interessou no rádio –, os Rolling Stones, The Band, Dylan e, depois, mais tarde, dub e Velvet Underground.

Não sei se houve uma revelação política propriamente dita, algo que ficasse marcado na minha memória. Fui deixando de ser adolescente e percebendo meu lugar no mundo, questionando as coisas, acho que isso é bem natural para qualquer um. Mas havia algo nestas bandas que não era muito político, propriamente dito.

Eles pareciam usar a política como uma pose. Eu via os Rolling Stones cantando ‘Street Fighting Man’ e não parecia que eles estavam querendo fazer o que diziam na música. Era mais para acrescentar outro elemento de perigo à banda, coisa que eles já vinham fazendo desde o começo dos anos 60. Não era pra valer.

Outro aspecto era o de bandas como o MC5, que mandava tudo à merda, e parecia que estava apenas sendo panfletário contra ‘o sistema’, mais interessado em ir contra a sociedade careta do que em discutir política, de um jeito ou de outro. Esse era um problema muito específico em relação a várias bandas, que pareciam ter vagamente uma tendência de esquerda, anarco-alguma coisa, mas que não tinham vocação política e eram mais rock do que qualquer outra coisa.

E você tem artistas de esquerda mais tradicional, que cantam músicas de antes de terem nascido. Ou mesmo que componham estas músicas, como o Billy Bragg faz até hoje, não parecem atingir o coração das pessoas. Não me parecem relevantes hoje, nem me pareciam nos anos 80. Mesmo John Lennon, que queria se comunicar com as pessoas, estava preso no fato de ser uma superestrela.

Assim, foi fácil saber o que queríamos quando montamos o Gang of Four. Já tínhamos base para saber o que não queríamos. Não queríamos soar panfletários, nem partidários. Não queríamos soar de esquerda ou de direita. Queríamos que as pessoas pensassem em política de uma forma menos maniqueísta. Quando falamos de política, parece que estamos falando apenas dos políticos, mas quem vota neles somos nós e podemos fazer política o tempo todo, em qualquer lugar ou hora.

O fato de termos surgido durante o punk nos deixou ainda mais vacinado em relação a isso. Logo as pessoas estavam tachando o punk de político, Malcolm McLaren lançou esse conceito na primeira hora. Mas era exatamente a mesma coisa de antes. Não era política, era um assessório chamado política. Não queríamos isso.

Quando eu e o Jon (King, vocalista da banda) começamos, nos perguntávamos: ‘O que motiva as pessoas? O que as faz fazerem o que fazem?’. É claro que você pode resumir isso em apenas ‘economia’, mas não é só isso. As pessoas ainda estão fazendo as mesmas coisas que faziam no século passado, o marido ainda trazia o dinheiro para casa enquanto a mulher cuidava da comida e dos filhos. O mundo havia mudado, mas essas relações ainda não. Pelo contrário, elas haviam se tornado prisões: família, emprego, propriedade. As pessoas se prenderam nisso de uma forma que acham que isso é a vida delas.

Temos uma música chamada ‘Natural’s Not In It’ que fala exatamente sobre isso. Tudo aquilo que chamamos de “natural”, na verdade, é artificial, é criado pelo homem. Seja a sociedade, o conceito de justiça, de bom senso… Tudo isso é invenção humana, nada disso é natural. As idéias não são naturais. Qualquer uma delas, todas elas – são inventadas.

E não queríamos ser os portavozes da nova esquerda. Para isso, tiramos todas as referências de política de nossas letras e títulos – você vê os nomes das músicas e não diz que o conteúdo delas é política –, tudo que pudesse lembrar a política dos jornais tava fora. Não queríamos dizer ‘você está certo’, ‘você está errado’, ‘você é de esquerda’, ‘você é de direita’. Não queríamos nos separar das outras pessoas. Queríamos, sim, lembrar pra elas que, esquerda ou direita, estamos nesse barco juntos.

Mas a forma que você colocou é bem razoável. É isso: o Gang of Four não era uma banda de protesto, mas uma banda de crítica. Uma crítica à sociedade, à forma que vivemos, à música, ao rock, ao punk rock, às outras bandas, a nós mesmos. Era mais ou menos como o Situacionismo dos anos 60, não queríamos nos levar a sério, mas não queríamos só isso.

E aí tem o outro elemento que, pra nós é crucial, que foi o ritmo. Não queríamos soar como rock, não queríamos ser mais uma banda de rock. E tanto eu quanto Jon já vínhamos pensando em experimentar com ritmo, somos fãs de dub até hoje, de krautrock, do James Brown. Mas seria ridículo tentar recriar a atmosfera de qualquer um desses artistas na Inglaterra dos anos 70.

Por isso partimos do zero, da tela em branco, e fomos acrescentando as coisas à medida em que começamos a tocar. E as coisas foram se encaixando. O legal é que não pensamos nessas coisas, elas simplesmente foram entrando em seu lugar. Põe um prato aqui, um bumbo ali, um riff mais à frente. Começava com um baixo solto, entrava a bateria reta, a guitarra fazendo ruídos e o vocal – mesmo que a letra importasse – funcionava como um instrumento. As coisas iam entrando em sintonia sem que pensássemos nisso. Em vez de fazer canções de amor, fazíamos canções de antiamor – o que é diferente de uma canção de ódio, veja bem.

Foi quando começamos a por elementos de disco music na mistura. Primeiro porque adorávamos disco. A cena começou a ficar ruim devido à forma que a mídia explorou o tema, com filmes como ‘Os Embalos de Sábado à Noite’ e todo o tipo de banda gravando disco music. Mas antes de ficar massificado, era uma cena bem interessante e – como você colocou – política, por libertar a canção de um formato estagnado e deixar as pessoas mais soltas, em vários sentidos.

Eu entendo perfeitamente a raiva que as pessoas que gostam de rock tem com a dance music. Eles vêem um DJ tocando e acham que ele não é um músico. Eles vêem as pessoas se entregando à dança e acham que elas estão se alienando. Mas eles não percebem que a disco music – que depois se subdividiu nas diversas formas de música pop que hoje dominam o mercado, do novo rock ao hip hop – é tão ou mais rock’n’roll do que o próprio rock. Porque liberta as pessoas de diversas amarras e, se na época do punk, o rock já dava sinais de conservadorismo, hoje ele é o próprio sistema. Por isso, apesar de entender a raiva do rock, eu a acho ridícula.

Tanto que fomos vítimas dessa raiva quando, no nosso terceiro disco (Hard), fomos acusados de sermos traidores, só porque queríamos mexer com música pop e com sintetizadores. Na verdade, o disco não saiu legal, porque quem ia nos produzir era o Nile Rodgers, mas ele foi substituído em cima da hora devido a uma confusão da gravadora. E o produtor que entrou no lugar, não sabia nada da gente, então o Hard é um disco que eu não gosto tanto, embora algumas faixas – como ‘A Man with a Good Car’ ou ‘Woman Town’ são faixas que eu gosto. Mas os fãs odiaram! Embora hoje muita gente goste deste disco, o que eu acho ao mesmo tempo estranho e interessante, esse poder do tempo”.

Julian Assange no TED

A entrevista é de julho deste ano, boa parte dela explica um monte de coisas que você já deve ter lido, visto ou ouvido sobre o site, mas não deixa de ser uma ótima oportunidade para ver quem é o pai do Wikileaks e saber um pouco mais sobre o que ele pensa em relação a liberdade de expressão, jornalismo, cultura digital, política e os rumos da humanidade, além de contar umas histórias bem boas sobre o site.

O vídeo está em inglês, mas ao clicar em “view subtitles”, você pode ativar legenda em vários idiomas, inclusive português.

Política e Disney

Mais uma do Cinismo Ilustrado, ótima dica do Fred.

4:20