Pelados de fim de ano

Com o ano chegando ao fim, precisava ver alguns shows pra arrematar alguns ciclos. Foi o caso da show dos Pelados, uma das minhas bandas contemporâneas favoritas, que não via ao vivo desde que fizemos aquele show no Inferninho Trabalho Sujo há quase um semestre. O quinteto paulistano participou do evento Sacola Alternativa, que a Balaclava Records faz em parceria com o Sesc Vila Mariana e que traz debates e feira de material independente, além dos shows neste sábado e domingo – com todas as atividades gratuitas. A feliz coincidência os colocou no mesmo palco em que lançaram seu excelente disco Foi Mal no fim do ano passado, no Auditório daquela unidade, com quase um ano de diferença – e quanta diferença um ano de shows faz com uma obra. Comparando com o show de um ano atrás, em que o grupo parecia tenso com a estreia e ainda contava com três participações especiais, desta os Pelados estavam voando só os cinco no palco e trabalhando o mesmo repertório com uma intimidade ainda mais intensa. A entrega dos primeiros Manu Julian e Vicente Tassara aos seus instrumentos (voz e guitarra, respectivamente) está cada vez mais plena, enquanto a base formada pela cozinha pós-moderna que inclui a baixista Helena Cruz, o baterista Theo Cecato e o tecladista e programador Lauiz está vez mais firme e coesa, consagrando o grupo com o melhor grupo indie de São Paulo atualmente, fechando o show com seu épico intimista “Yo La Tengo na Casa do Mancha”, canção que não sai do meu rádio mental e que fez o público levantar-se das cadeiras do teatro. Foi foda.

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Vida Fodona #788: Tudo como eu quero

Sabe quando as coisas começam a engrenar do jeito certo?

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Calor do coração

“Essa música é sobre a Casa do Mancha, mas podia ser sobre o Picles também”, comentou o guitarrista Vicente Tassara antes de começar a minha música favorita de sua banda, os Pelados, “Yo La Tengo na Casa do Mancha”, quando se entregam ao transe do épico de quase oito minutos sobre a falta de adequação em ambientes públicos. E, realmente, tocando em mais uma edição lotada do Inferninho Trabalho Sujo, a banda fez jus à vibe da canção, da festa e do sobrado da Cardeal Arcoverde, reforçando a importância deste novo momento em que finalmente podemos estar numa pequena multidão e nos sentir bem novamente, quentes no inverno, acolhidos entre amigos, todo mundo doido e ouvindo música no talo. Foi uma boa forma de comemorar a boa notícia dessa sexta (sem precisar citar nomes, você sabe) e encerrar o primeiro semestre deste 2023 que até aqui tem sido um ótimo ano. E a festa foi daquelas, pra variar, mas quem foi sabe…

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Inferninho Trabalho Sujo apresenta Pelados

A primeira foi épica, a segunda não vai ser diferente, ainda mais que é numa sexta! Puxo mais uma edição do Inferninho Trabalho Sujo, festa que inventei para celebrar a existência – e o habitat natural – para bandas tocarem ao vivo até se acabar e em São Paulo hoje este lugar é o grande Picles, que passou por uma baita reforma em seus cinco anos de aniversário e se firma cada vez mais como uma das principais entidades da vida noturna de São Paulo. Discoteco mais uma vez com minha comadre Francesca Ribeiro, logo depois de mais um shows dos queridos Pelados, mostrando seu excelente Foi Mal num lugar perfeito para a ferveção e a acabação simultânea, sempre naquela sintonia alto astral que já estamos acostumados. O Picles fica na Cardeal, 1838, e quem chegar até às 21h não paga pra entrar (quem chegar depois, paga R$ 25). Vamo nessa!

Foi Mal ao vivo

Redondinho os shows que os Pelados fizeram neste fim de semana no Sesc Avenida Paulista. Tocando na ordem e na íntegra seu disco mais recente, o sensacional Foi Mal, o quinteto paulistano entregou-se ao delírio idílico indie encapsulado no disco do ano passado, mostrando todas as cores de pérolas como “Coquinha Gelada After Sex”, “A Linha Tênue Entre Gostar e Não Gostar”, “Foda Que Ela Era Linda”, “Julho de 2015”, “Música de Término” e “Yo La Tengo na Casa do Mancha”, tocadas com o entrosamento típico de uma banda de garagem: Manu Julian completamente entregue à canção, Vicente Tassara deixando baixar a vibe de guitar hero anos 90, enquanto a bateria e o baixo de Theo Cecato e Helena Cruz estavam completamente sintonizados, temperados pelos timbres retrô do moog Lauiz Orgânico. Entre piadas infames e diversos pedidos de desculpas que ecoavam o nome do disco, o quinteto foi acompanhado pelo guitarrista Thales Castanheira, aumentando o volume e a parede de microfonia, sem que isso tirasse a doçura e a complexidade de canções-chave. Entre as faixas do disco (incluindo uma versão Pixies para “Ser Solteiro é Legal!!!”), eles ainda tocaram uma música do disco anterior, uma versão para uma música do disco solo de Lauiz e uma inédita, aos poucos apontando os próximos passos. Com pouca conversa entre as músicas – papo que quase sempre ficou a cargo seu humor larrydavidiano do tecladista Lauiz e -, o grupo mostrou que está cada vez mais coeso musicalmente, funcionando como um mesmo organismo com a pressão e ruído necessários (e consequentes leveza e melodia) para uma banda de sua estirpe. Fico imaginando essa apresentação num inferninho…

Assista às duas apresentações abaixo.  

Pequenas coisas importantes

A vida é feita de pequenas coisas importantes. Quando os Pelados me mostraram seu Foi Mal antes de lançá-lo no ano passado, fui curtindo o disco a cada faixa que passava, até que, quase no fim, um épico doce e noise sobre a instabilidade dos relacionamentos nos anos 20 ultrapassava os sete minutos e me tragou de tal forma que eu poderia passar outros tantos sete minutos nessa canção, tanto que foi a música que mais ouvi em 2022. O título da faixa, “Yo La Tengo na Casa do Mancha”, lidava exatamente essas com duas sensações, de que talvez algo muito importante não necessariamente precisasse parecer dessa forma, criando a possibilidade de assistir a uma das principais bandas indies do mundo ao vivo em uma das principais casas noturnas de São Paulo no início do século. Nada improvável, nada impossível, mas que tornava-se factível a partir do momento em que era pensado, o tal encantamento que começa quando a imaginação cogita algo. E quando vi que o grupo ia ensaiar para os dois shows que vão fazer neste fim de semana no Sesc Av. Paulista na atual casa do Mancha, não pude perder a poesia deste pequeno momento importante. Tá certo que não é “a” Casa do Mancha que tanto nos ensinou (na marra) sobre música, comportamento e cultura em seus 13 anos de vida, mas é a casa em que o próprio Mancha mora atualmente e a sensação de profecia autorrealizável pairava no ar. Não, os Pelados não são o Yo La Tengo nem aquela casa de dois andares em Pinheiros não chega perto daquele imóvel quase na esquina da rua Filipe de Alcaçova na Vila Madalena, mas saber viver estes momentos é o que torna tudo… mágico.

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Pelados: 2 e 2 são 5

Acompanho os Pelados desde antes da pandemia, quando estavam começando a programar os primeiros shows de seu terceiro disco ainda não lançado, o primeiro sem o nome original da banda, Pelados Escrotos. Sem poder lançar o disco formalmente, a banda passou por uma transformação radical durante este período, negando a natureza clean e correta do disco Sozinhos, de 2020, quando se enfurnou no estúdio caseiro Orgânico (do tecladista Lauiz) para, em dez dias, compor e gravar um disco na contramão do que se espera de uma gravação profissional, lançando o excelente Foi Mal, meu disco nacional favorito do ano passado. O minidocumentário 2 e 2 são 5, feito pela produtora Tuqui Filmes a partir de registros caseiros que a banda fez durante a gravação, flagra o processo a que o grupo se submeteu e estreia em primeira mão aqui no Trabalho Sujo.

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Vida Fodona #783: Maio começou pesado

E vou discotecar nessa sexta, se liga.

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Vida Fodona #778: Muita vida acontecendo

E não dá pra ficar parado.

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Vida Fodona #774: Primeiro Vida Fodona de 2023

E um monte de música velha…

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