1º Encontro de Selos

A cena de selos independentes nunca deixou de existir, mas já passou por maus bocados nessas primeiras décadas do século. Mas o período pós-pandêmico parece ter dado um gás para os donos de selos e gravadoras independentes, como é o caso do Medina, da Marafo Records, que aproveita a comemoração dos dez anos de atividade de seu selo para iniciar as comemorações reunindo seus pares num mesmo lugar. “Quando criei a Marafo Records há dez anos, alguns dos selos participantes do evento já estavam em atividade”, Medina explica sobre o conceito do evento. “Como eu também tinha uma loja de vinil, comecei a fazer contato com esses selos para disponibilizar seus lançamentos na minha loja, e nesse primeiro contato, já falava sobre minha intenção de lançar discos. Pra minha surpresa, todos foram muito receptivos, me vendo com um potencial parceiro, e não como um concorrente. Para quem estava em transição de carreira, saindo do mercado publicitário para empreender na cultura independente, essa receptividade era algo inédito na minha trajetória profissional”.

O 1º Encontro de Selos organizado pela Marafo acontecerá na Caverna Rock Discos (que agora fica na rua Borges de Barros 162, na Vila Madalena), no próximo sábado, dia 27 de janeiro, das 14h às 22h, com entrada gratuita e tem um foco maior nos selos que trabalham com vinil. “Na época que comecei, tínhamos apenas uma fábrica de vinil no Brasil, e muito se discutia entre os selos sobre as possibilidades de fabricação, também fora do país, sobre trocas de fornecedores e dicas, que eram muito comuns entre essas empresas, que seguiam nessa relação colaborativa”, continua o dono da Marafo. “Com o passar do tempo, o mercado foi mudando e mais duas fábricas foram criadas no Brasil, o que fez novos selos surgirem e grandes gravadoras a entrar no mercado de vinis, fazendo o prazo de produção explodir no mundo todo. O evento tem como objetivo, reaproximar os selos independentes, para novas trocas e possíveis parcerias, estabelecer contato com os lojistas, produtores e músicos, e por fim celebrar a música analógica”, conclui.

Os selos que Medina está reunindo são, em ordem alfabética, Analog Africa, Amigues do Vinil, Boca de Lobo, Brasilis Grooves, Dahorta Discos, Desmonta, Estúdio Caixa de Som, Fatiado Discos, Goma Gringa, Loop Play Discos, Marafo Records, Mundo Melhor, Na Vitrola Records, Noize Record Club, Patuá Discos, Rio Doce Piedade Mix, Somatória do Barulho, Total Running Time e Três Selos. A entrada é gratuita e o evento contará com sets de alguns dos donos dos selos, como Bid, Bob G, MNTH, Paulão, Pedrosa, Sammy, Tudo, Victor Rice e o próprio Medina.

Mais informações abaixo:  

Tudo Tanto #48: Lojas que relançam clássicos em vinil

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A nova edição para o único e raro disco de Amado Maita, relançado pela Patuá Discos em vinil com uma tiragem superior à que ele teve na época, é um dos exemplos desta nova tendência que mostra lojas de discos brasileiras em busca de clássico ou raridades de nosso passado musical para eternizá-los em vinil – escrevi sobre isso em minha coluna Tudo Tanto desta semana, leia aqui.

17 de 2017: 2) Cultura do Vinil

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O primeiro projeto que bolei no Centro Cultural São Paulo foi o fim de semana Cultura do Vinil, que criei ao lado dos comparsas da Patuá Discos, Paulão, Peba e Ramiro, três dos principais conhecedores desta cultura, ambos velhos companheiros de outros carnavais. Cultura do Vinil reuniu bambas de diferentes eras para tratar deste suporte mágico que felizmente voltou a circular para a maioria das pessoas. A sociedade secreta do disco preto reunia nomes como o mítico Seu Osvaldo (o primeiro DJ do Brasil) e o ás Erick Jay (então vencedor mundial do campeonato DMC e DJ do programa Manos e Minas), passando pelo mestre Arthur Joly, o fera Rodrigo Gorky, o grande Edson Carvalho (da Batuque Discos), DJ Nuts (que dispensa apresentações), o coletivo Vinil é Arte, MZK e Marcio Cecci homenageando o querido Don KB (que havia falecido no início do ano), entre outros. Foi o primeiro projeto que assinei no Centro Cultural São Paulo e que me ajudou a entender que música naquele espaço era muito mais que simplesmente pautar shows ou pensar em sucessos comerciais.

Cultura do Vinil

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Este sábado o evento Record Store Day completa dez anos e é indiscutível que ele foi crucial para que a indústria fonográfica começasse a ver que o velho vinil – tido como morto para a maioria das pessoas àquela época – poderia ser reencarado como um produto viável, inclusive comercialmente. Um novo interesse pelo formato, temperado com uma forte dose de nostalgia, fez o disco voltar à franca circulação, primeiro como curiosidade, depois como modismo e finalmente como uma das fontes de renda de artistas, tanto jovens quanto veteranos e defuntos.

Mas a renascença do vinil só aconteceu devido a uma resistência analógica que manteve-se firme mesmo quando parecia que o digital ia dominar tudo. Enquanto todos se desfaziam de suas coleções de discos, estes personagens – DJs, técnicos, colecionadores, artistas – guardavam as suas como seu maior tesouro, enquanto criavam uma rede de troca e de interrelações que permitiu que o vinil renascesse pleno. Ele não ressuscitou do nada – e sim de um terreno que nunca deixou de ser alimentado.

São estes os heróis celebrados no evento Cultura do Vinil, que acontece no Centro Cultural São Paulo nos dias 22 e 23 de abril, das 14h até o início da noite. Chamei os caras da Patuá Discos – Paulão, Ramiro e Peba – para me ajudar a criar um evento que falasse da importância cultural do disco, não apenas do ponto de vista mercadológico, e assim reunimos bambas de todas as estirpes para dissecar este objeto cada vez mais clássico. O fim de semana começa com o pioneiro Seu Osvaldo, um dos primeiros DJs do Brasil, contando seus tempos de Orquestra Invisível e ainda tem um debate sobre fuçar discos em sebos, com dois mestres no assunto, Rodrigo Gorky (Fatnotronic) e Edson Carvalho (Batuque Discos); uma aula de limpeza e manutenção de discos, com César Guisser; e outra sobre masterização para vinil, com Arthur Joly. Além disso teremos apresentações de cobras como DJ Nuts, Erick Jay e o braço paulistano do núcleo Vinil é Arte, Formiga e Niggas. O evento será encerrado com uma homenagem ao querido Don KB, que faleceu no mês passado, quando seu irmão, Marcio Cecci, apresenta-se ao lado do grande MZK, recriando o clima das Jive Nights, e apresentando o filho do Don, Enzo Cecci, dando continuidade à linhagem nos toca-discos.

E o melhor: tudo de graça. Chega cedo pra garantir a presença. Abaixo, a programação completa (tem mais informações aqui):

Sábado, 22 de abril

14h: Naquele tempo, com Seu Osvaldo
Seu Osvaldo começou a discotecar em 1958 com sua Orquestra Invisível e é considerado o primeiro DJ do Brasil. Ele conta um pouco de sua experiência e mostra o som que rolava nas festas de sua época.

15h: Nos toca-discos: DJ Nuts
DJ Nuts é um dos DJs brasileiros mais reconhecidos fora do Brasil tanto pela técnica como por sua pesquisa. Ele fala um pouco sobre sua trajetória e exibe sua habilidade nos toca-discos.

16h: Busca sem fim, com Edson Carvalho e Rodrigo Gorky
Edson Carvalho (Batuque Discos) é reconhecido como um dos melhores “record dealers” do Brasil. Rodrigo Gorky, além de DJ e integrante do Bondê do Rolê, é um voraz colecionador de vinil. Os dois conversam sobre os macetes de como fazer um bom garimpo de LPs e compactos.

17h: Limpeza e Manutenção, com Cesar Guisser
Nem sempre um vinil que está pulando, está riscado. Cesar Guisser, especialista em limpeza e conservação de discos de vinil, apresenta as melhores técnicas e produtos para manter sua coleção em bom estado de conservação.

18h: Nos toca-discos: Vinil é Arte
Vinil é Arte é um coletivo que reúne 6 DJs, com três duplas que representam as cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. A programação de sábado termina com uma discotecagem dos DJs residentes em Sampa: Formiga e Niggas.

Domingo, 23 de abril

15h: Nos toca-discos: Erick Jay
Erick Jay é o DJ residente do programa “Manos e Minas” e atual campeão mundial do DMC, o principal campeonato de DJs do planeta. Ele faz sua performance de “turntablism”, a arte de invenção musical a partir de dois toca-discos.

16h: Masterização em vinil, com Arthur Joly
Arthur Joly (Reco Master) é especialista no Brasil na complexa ciência da produção de um vinil. Ele divide com o público a sua experiência nessa rara atividade.

18h: Homenagem a Don KB
Don KB, falecido aos 47 anos em março deste ano, foi uma das figuras por trás da casa noturna Jive, que fomentou a vida noturna paulistana e a cultura de vinil no começo dos anos 2000. Ele é homenageado com discotecagem de dois de seus principais parceiros na Jive (MZK e Marcio Cecci) e também do seu filho, Enzo Cecci.