Corpo de todos

Finalmente Guilherme Held pode lançar seu Corpo Nós devidamente no palco. Fora parcas aparições com uma banda reduzida em que pode mostrar músicas de seu disco primeiro solo lançado em 2020, um dos grandes nomes da guitarra elétrica de sua geração debutou seu álbum como se deve, nesta quinta-feira, no Sesc Pompeia. Puxando uma banda formada por Fábio Sá (baixo), Sergio Machado (bateria), Rômulo Nardes (percussão), Cuca Ferreira (sax), Allan Abadia (trombone) e Dustan Gallas (teclados), Held ainda contou com as presenças de quatro vocalistas para representar os inúmeros convidados que recebeu em seu disco – e um time considerável, com Ná Ozzetti, Iara Rennó, Marcelo Pretto e o diretor artístico do álbum, Rômulo Fróes -, podendo finalmente considerar seu disco efetivamente lançado numa apresentação cheia de músicos na platéia. Foi demais.

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Em nome de Vadico

Deslumbrante a última apresentação da temporada de Ná Ozzetti no Centro da Terra, quando ela se juntou ao violonista e pesquisador Franco Galvão para debruçar-se – e deslizar – sobre a obra de Oswaldo Gogliano, que todos conhecemos por Vadico. Eterno parceiro de Noel Rosa, Vadico é objeto de estudo de Galvão, que está prestes a gravar um disco triplo dedicado ao legado do mestre sambista, incluindo versões para arranjos que o autor escreveu quando estava em turnê pelos Estados Unidos com Carmen Miranda. O espetáculo de voz e violão foi concebido e arranjado pelo violonista, que também abriu um site dedicado ao mestre (vadicogogliano.com/), e passeava por diferentes facetas do compositor, todas conduzidas pela voz angelical de Ná, que aproveitou algumas canções para continuar dançando, atividade que vem desfilando em sua conta no Instagram e que materializou-se no palco nesta temporada do Centro da Terra. Siga a dança, Ná!

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Canto doce

Mais uma noite com Ná Ozzetti no Centro da Terra e a viagem desta segunda-feira foi entre voz e sopro, com a cantora sendo conduzida pelos saxes e clarinetes de Fernando Sagawa. Juntos, desbravaram canções de Tom Zé, Beatles, Hermínio Bello de Carvalho, Déa Trancoso, Chico Buarque e Geraldo Filme e Luiz Tatit – Fernando superpondo seus sopros com arranjos minimalistas e a voz resplandecente de Ná abrindo luzes claras na escuridão do teatro. Muita doçura pra uma noite só.

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Salto no escuro

Na segunda segunda-feira de sua temporada no Centro da Terra, Ná Ozzetti abraçou o desconhecido. Amparada pelo contrabaixo acústico de Marcelo Cabral, ela deixou o território que lhe é mais familiar – a canção – para dar um salto no escuro a partir de superpoderes que nunca haviam sido exibidos no palco: ela entrou na apresentação dançando e pouco depois sentou-se ao piano para cantar suas composições, inclusive uma inédita composta com Romulo Fróes. Tanto a dança quanto o piano já fazem parte da rotina de Ná, mas foi a primeira vez que ela mostrou-se assim ao vivo, com o músico e arranjador servindo de base e estímulo. E assim aos poucos ela foi entrando no território do improviso livre, que não faz parte de seu repertório, mas que pode ser desbravado numa nova fase de sua carreira. Tratando toda a apresentação como uma longa peça musical, a dupla encantou o público do Centro da Terra numa apresentação emocionante – e até Cabral soltou a voz, cantando suas próprias canções. Uma noite única – quem foi sabe.

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Dominguinhos de câmara

Que delícia a primeira segunda-feira de Ná Ozzetti no Centro da Terra, quando ela deu início à sua temporada Três Duos e Um Trio, que ocupará todo início de semana de março no palco mais fértil de São Paulo. Acompanhada dos sopros de Fernando Sagawa e do violão de Franco Galvão, ela nos conduziu ao repertório de Dominguinhos a partir dos arranjos camerísticos criados pelos dois especialmente para sua voz doce e apaixonante, fazendo-nos descobrir recantos aconchegantes de seus maiores sucessos (“Eu Só Quero um Xodó”, “Tenho Sede” e a magistral “Lamento Sertanejo”, uma das músicas mais bonitas do Brasil, estas duas últimas em parceria com Gilberto Gil) e confortos inesperados em canções menos conhecidas (como “Sopro de Flor”, parceria com José Miguel Wisnik, “Poema 3”, composto sobre um poema de Câmara Cascudo, “Contrato de Separação”, “Chegando de Mansinho”, “Sanfona Sentida” e a linda “Arrebol”, que voltou no bis). O casamento da voz perfeita de Ná com sua interpretação contida ao lado dos instrumentos quase mínimos de seus companheiros de noite realçou a beleza nata das composições deste que é um dos maiores nomes de nosso cancioneiro. Uma noite apaixonante.

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Ná Ozzetti: Três Duos e Um Trio

Que maravilha receber a maravilhosa Ná Ozzetti na primeira temporada no Centro da Terra de 2023. Durante quatro as segundas-feiras de março, ela divide o palco com mais três amigos na série de shows que batizou de Três Duos e Um Trio, que começa nesse dia 6 exatamente com o trio propriamente dito, formado pelos sopros de Fernando Sagawa e pelo violão de Franco Galvão, quando os três navegam pelas canções eternizadas pelo mestre Dominguinhos. Na segunda seguinte, dia 13, Ná recebe o comparsa baixista e produtor Marcelo Cabral para formar um duo de voz e contrabaixo acústico que repassa o repertório dos dois, tanto as músicas de Ná quanto as que Cabral participou em parcerias com Rodrigo Campos Kiko Dinucci e Romulo Fróes, entre outros. Na terceira segunda do mês, dia 20, ela reúne-se mais uma vez com Sagawa e os dois embarcam em um duo de voz e sopro com vasto repertório, para finalmente encerrar estes encontros no dia 27, ao lado dd violonista e arranjador Franco Galvão, celebrando a obra do compositor paulista Vadico, puxando clássicos em parcerias com Noel Rosa, entre outros sambas. Os ingressos já estão à venda e os espetáculos começam sempre às 20h.

Centro da Terra: Março de 2023

Com o número de segundas-feiras de fevereiro reduzido pelo carnaval, deixamos para começar as temporadas no Centro da Terra em março. E para começar o ano em grande estilo, temos a presença da mestra Ná Ozzetti, que nos brinda com a primeira temporada de 2023, Três Duos e Um Trio, em que convida comparsas para passear por diferentes recantos da música brasileira. Na primeira segunda ela forma o trio do título com Fernando Sagawa (sax, clarinete e flauta) e Franco Galvão (violão), quando visitam as Dominguinhos, com arranjos próprios. Na segunda noite, o primeiro duo acontece ao lado do baixista Marcelo Cabral, quando Ná passeia pelo repertório dela e de outros autores contemporâneos. No dia 20, é a vez de formar um duo apenas com os sopros de Fernando Sagawa, quando passeiam por diferentes fases e autores da música brasileira e o último duo vem formado com o violonista Franco Galvão, em homenagem ao compositor paulista Vadico, trazendo também outros sambas do passado. Na primeira terça-feira do mês quem chega ao Centro da Terra é o quarteto carioca Oruã, liderado pelo herói independente do Rio de Janeiro Lê Almeida, que traz seu “free jazz de pobre, kraut de vagabundo, sem neurose” pela primeira vez ao palco do teatro, apresentando o espetáculo Passe. Na outra terça, dia 14, é a vez do grupo de jazz funk Bufo Borealis encontrar-se pela primeira vez com o guitarrista Edgard Scandurra, na apresentação que batizaram de Escuridão. E no fim do mês, as duas últimas terças ficam a cargo de Mestre Nico, que todos nós conhecemos por acompanhar Siba na percussão e vocal, que começa a mostrar seu trabalho solo na minitemporada De Andada no Tempo. Os espetáculos começam sempre às 20h e os ingressos para todas as apresentações já estão à venda neste link.

Anna Vis Sem vacilação

Confesso que não entendi nada quando vi Anna Vis tocando suas canções ao violão. Ainda estávamos no primeiro semestre da pandemia, quando caiu a ficha que não eram alguns dias ou semanas e que a peste ia durar meses, talvez anos. E esta tragédia, como sabemos, obrigou a todos que viviam de apresentações ao vivo passar por transformações que mexiam em suas atividades originais. E de repente lá estava Anna, que conhecia como técnica de som de shows, empunhando seu violão e dedilhando composições próprias como se sempre tivesse feito aquilo – longe de todos. Passei acompanhar mais de perto essa mudança de papel e aos poucos a vi se envolvendo com Rômulo Froes, chamando Marcelo Cabral e Maurício Takara para acompanhá-la na gravação de seu primeiro disco, que ainda contou com participações de Juçara Marçal, Ná Ozzetti, Mbé, Clima e Juliana Perdigão. E neste processo, não só pude conversar com a nova cantora e compositora sobre sua nova carreira, como a instiguei sobre como traduzir este novo trabalho para o palco. Seu disco de estreia, Como um Bicho Vê, será lançado nas plataformas na próxima quinta-feira, o mesmo dia em que faz o primeiro show deste álbum no Sesc Vila Mariana (os ingressos estavam quase acabando, corre que ainda dá pra comprar). E ela topou mostrar seu disco antes de seu lançamento em primeira mão aqui no Trabalho Sujo, este que é o primeiro grande lançamento brasileiro de 2023.

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Marcelo Cabral: Influxo Cabralha

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Quando Marcelo Cabral avisou que estava voltando da Alemanha para passar um tempo de volta no Brasil, cogitamos rapidammente uma temporada ao redor do universo musical do baixista e de sua recente experiência artística na Alemanha. Próximo à cena de improviso livre de Berlim, Cabral foi descobrindo um método de criação artística que permite fluir por outras linguagens, incluindo literatura, teatro e spoken word e entender como isso influencia diretamente o resultado musical. E assim ele pensou em Influxo Cabralha, uma reunião de amigos e magos da música instrumental que atravessa quatro segundas-feiras de abril no Centro da Terra. Na primeira, dia 8, ele toca ao lado de Mauricio Takara, Thomas Rohrer e Mariá Portugal. No dia 15 ele chama Guilherme Held, Thiago França, Juliana Perdigão e Angélica Freitas. Dia 22 é dia de Kiko Dinucci, Rodrigo Brandão e Juçara Marçal. E a temporada termina no dia 29, com as participações de Thomas Harres, Bella, Patrícia Bergantin, Maria Beraldo e Ná Ozzetti (mais informações aqui). Bati um papo com o Cabral sobre esta safra de shows e a influência de sua estada na Alemanha neste novo projeto.

Vida Fodona #568: Só tem música de 2018

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Pra aproveitar esse domingo de sol…

Rodrigo Campos – “Clareza”
Ava Rocha – “Maré Erê”
Melody’s Echo Chamber – “Visions of Someone Special, On a Wall of Reflections”
Tatá Aeroplano – “Os Novos Baianos Sapateiam Na Garoa dos Sex Pistols”
Stephen Malkmus + The Jicks – “Kite”
Marcelo Cabral + Ná Ozzetti – “Osso e Sol”
Bixiga 70 – “Pedra de Raio”
Glue Trip – “Time Lapses”
E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante – “Como Aquilo Que Não Se Repete”
Spiritualized – “Let’s Dance”
Elza Soares + Edgar – “Exú nas Escolas”
Djonga – “Atípico”
Blood Orange – “Take Your Time”
Betina + Boogarins – “Ruido Tropical”
Gorillaz – “Magic City”
Mombojó – “Ontem Quis”