Centro da Terra: Maio de 2022

Maio começa na semana que vem e a programação de música do Centro da Terra tá daquele jeito que a gente gosta. A primeira segunda-feira traz o espetáculo Leonard Cohen: Dito e Lido, que estou dirigindo ao lado da Juliana Vettore, reunindo Bárbara Eugênia, Juliana R., jeanne Callegari, José Barrickelo e Michaela Schmaedel para celebrar vida e obra de Leonard Cohen num espetáculo que reúne poesia e música. No dia seguinte é a vez dos Garotas Suecas realizarem seu primeiro show depois desse período pandêmico, reunindo clássicos de sua carreira com músicas do disco que terminaram de gravar. Na outra segunda-feira, dia 9, o dono da temporada do mês é o compadre Kiko Dinucci que mergulha no vazio de possibilidades inéditas. A primeira segunda o traz ao lado dos guitarristas Guilherme Held e Lello Bezerra com intervenções visuais de Gina Dinucci. No dia 16, ele se reúne a Gustavo Infante e Maria Cau Levy para desconstruir seu violão. No dia 23, ele solta a voz – sem instrumentos – ao lado de Alfredo Castro, Xeina Barros, Henrique Araújo com intervenções de Bruno Buarque. E, finalmente, na última segunda do mês, dia 30, ele chama Negravat para dividir a noite com a banda Test. Tá achando pouco? Dia 10 é a vez de Marina Melo mostrar o que ela está aprontando, dia 17 reúno Nina Maia e Chica Barreto uma noite linda, um gostinho do próximo trabalho de Anai-Sylla no dia 24 e, finalmente, no último dia do mês, uma outra versão para o disco Homem Mulher Cavalo Cobra do doutor Morris. Um mês e tanto pra quem quer ouvir música boa! Os ingressos já estão à venda aqui, não dê mole.

Morris deixa de ser doutor

morris2020

O cantor e compositor paulistano Dr. Morris abandona o prenome ao anunciar seu segundo disco solo. “O apelido vem de uma forma carinhosa como era chamado por músicos pernambucanos em meados dos anos 90”, ele me explica por email. “Até o final do ano passado assinava assim, agora, nessa nova fase, somente Morris” e assim ele começa a mostrar seu Homem Mulher Cavalo Cobra, produzido por Romulo Froes, a partir do clipe de “OnÇa-Çá”, que apresenta em primeira mão no Trabalho Sujo.

“O disco originalmente era para ser inspirado na exposição do artista chinês Ai Wei Wei, mas o Romulo achava que devíamos deixar que o processo de criação determinasse o que seria, dizendo para trabalhar com canções vira-latas, sem raça definida”, ele continua, explicando que o repertório é dividido em quatro blocos: Morte, Identidade, Pessoas e Mitologia. O single que abre os trabalhos faz parte do último bloco: “A escolha foi pela sua variedade estilística e de significados que sintetizam o álbum, como as questões dos direitos dos povos originários, da destruição do meio ambiente e seus resultados, vide a pandemia, e da relação animista, em que o homem enxerga a natureza e os animais horizontalmente, do homem que é onça e vice e versa. Uma forma mais fraterna de se relacionar com o planeta e, consequentemente, com as pessoas.”

Ele ressalta a participação de Anderson Karibáya, representante indígena que leu um poema em seu idioma. “Ele nos impressionou muito com a forma como contava as histórias de cada instrumento e do fazer musical, sobre a música que vira divindade no fazer”. A música ainda conta com a participação do guitarrista Allen Alencar, do baixista Marcelo Cabral, de Rodrigo Campos no cavaquinho, de Igor Caracas na bateria e do percussionista Felipe Roseno. O disco ainda conta com outras tantas participações, como Juçara Marçal, Mauricio Pereira, Romulo Fróes, Juliana Perdigão Benjamim Taubkin, entre outros.

Ele lembra quando entrou em contato com esta turma pela primeira vez: “Em 2009 notei que se reunia uma geração paulista de músicos incríveis, entre eles, Romulo, Rodrigo Campos – que já tinha sido meu parceiro – , Kiko Dinucci, Marcelo Cabral, Juçara Marçal, que estavam explorando algo diferente, para além do virtuosismo ou da tradição, mas apoiado em ambos. Percebi neles mais a arte do que a música.” A parceria com Romulo surgiu daí, a partir de uma composição conjunta, mas foi retomada para o novo álbum no ano passado. “Sempre convivendo com esse desejo primal de compor e cantar com o violão, fiz uma melodia, e toda vez que eu voltava nela ouvia voz do Romulo. Mandei para ele e no dia seguinte ele devolvia uma letra maravilhosa, ‘Doía’. Algum tempo depois, chamei ele para ouvir as canções que estava compondo inspirado pela retrospectiva de Ai Wei Wei. Nessa tarde já estávamos trabalhando no disco.” O álbum completo deve ser lançado em junho.