Trabalho Sujo no Milo

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O Milo me chamou pra discotecar nas novas dependências de seu clássico estabelecimento, que hoje fica ali na Av. Pompeia. Começo os trabalhos na 10:33 pontualmente à meia-noite e sigo até às duas, quando o dono da noite assume os CDJs. Boraê?

O novo Milo Garage

O bom e velho Milo Garage funcionou no clássico sobradinho da Minas Gerais até essa semana e, em breve, dia 11 de maio, muda pra minha vizinhança – fica na Avenida Pompéia (número 1681), mas ali já é Sumaré, né… Seja bem-vindo.

Milo Garage – O fim de uma era

Lembra desse sobrado?

Vai deixar de ser o Milo. Ou pelo menos foi isso que o próprio Milo botou no Feice.

O cartaz que ilustra esse post (que época!) é da Angela.

#21

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Disco 21) In Between Dreams – Jack Johnson
“Onde as pessoas boas foram parar?”, pergunta-se Jack Johnson no meio de seu In Between Dreams, “estou mudando de canais e não as vejo nos programas de TV”. Ele está assistindo aos mesmos canais que nós, que passa esse estranho programa chamado CelebRealidade, em que só a vida de pessoas muito esquisitas parecem importar. À medida em que a máscara midiática aos pouco resseca, como avisou Alan Moore no “V de Vingança”, o sorriso revela-se apenas um esgar. Johnson pertence àquela tradição do violãozinho, que reúne hippies disfarçados (ou não), como George Harrison, Dave Gilmour, Renato Russo, Kurt Cobain, Beck e Brad Nowell, gente que, sozinho ou com uma turma, não precisa de mais de um instrumento (talvez um bongô ou palmas, vai), pra mudar a estação. Mas mais do que seus antecessores, o havaiano vem com uma improvável missão: trazer o pop de volta à “normalidade”, tirando piercings, músculos delineados, cabelos coloridos e o ar de bobo que a decadente indústria impingiu ao gênero para garantir sua “juventude”. No caminho, carrega fãs do Bon Jovi de cabelo curto, manezices como Matchbox 20 e outros presentes de grego inventados pela mesma indústria. Mas isso não é motivo para menosprezá-lo – pelo contrário. Juntando entusiastas de bandas insípidas para ouvir algo com um mínimo de tutano, ele também distrai o público das celebridades de seu passatempo predileto (a TV) e, sem querer, nos faz perceber que são as mesmas pessoas. Que mundo melhor seria se essas pessoas percebessem que não há nada de errado em suas vidas e que o que elas precisam é de apenas uma roda de violão em que possam cantar numa boa junto com pessoas de quem elas gostam – sem histeria, sem cabecismos, sem referências.

Música 21) “Music is My Hot Hot Sex” – Cansei de Ser Sexy
Bumbo e caixa eletrônicos se alternam, lentos e monótonos – é o enterro de um robô. Entra a guitarra a gingar, para lá e para cá, ao derreter uma parede de eletricidade em câmera lenta, desenhando o mesmo zigue-zague horizontal que as dançarinas de Robert Palmer no clipe de “Addicted to Love” ‘traçavam com seus quadris, como garotas da abertura do Fantástico nos anos 80 ossificadas por excesso de estilo (anos 80). A vocalista começa a balbuciar monótona sua paixão, perseguida à espreita por uma guitarra princeana. Anima-se um pouco no refrão, mas soa igualmente robótica, desta vez acompanhada por teclados fuleiros à Daft Punk e vocoder. Talvez seja o mais longe de um hit que o disco de estréia do Cansei de Ser Sexy traga entre suas faixas (não tem o kellykeysmo de “Superafim”, a grrlrockidão de “Off the Hook”, os “uh-uh” de “This Month Day 10”, as DFAíscas de “Alala”, a pegada atari disco de “Computer Heat”), mas “Music is My Hot Hot Sex” não é um truque pra fazer meninas bi-curious baixarem MP3s recomendados por um fotolog, nem uma picaretagem electrofoda-se feita pras colunas sociais da crítica muderna. Por um momento, Luísa Lovefoxx e Adriano Cintra desligam as luzes dos monitores dos outros para se declararem apaixonados – sérios, sem brincadeiras, um para o outro e para a música. Olham nos olhos um do outro, tremelicando a pálpebra inferior entre a tentativa de assassinato, o choro irreprimível e a tensão pré-beijo – mas não avançam. Permanecem estáticos, sentindo a vibração entre os dois tornar-se música, psicoterapia de casal racionalizada e transformada em um loop dramático, que une a puta velha do decadente underground paulistano à enfant prodige das ondas wi-fi num mesmo ser – andrógino, moleque, promíscuo, descontrolado e abusado. “Ele é fodão mas eu sei que eu sou também”. Fake e naïf na mesma medida, não coloque no repeat do seu Winamp senão ela atinge a corrente cerebral de seu DNA musical, lembrando porque nós (eles, você, eu) estamos aqui: “Música é minha casa de praia/ Música é minha cidade-natal/ Música é minha cama king-size/ Música é meu banho quente/ Música é meu sexo quente/ Música é minha coçada nas costas/ Música é onde eu quero que você toque”.

Show 21) Grenade no Milo Garage, em São Paulo
Nada como um palquinho pra uma grande banda de rock. Ali, na altura do público, sem degrau de ascensão, o Grenade mostrou sua faceta 2006 no meio de 2005. Findo o processo de sagração do nome do grupo como banda em seu disco de estréia, no ano anterior (a saber: até então “Grenade” era a marca por trás da qual o ex-Killing Chainsaw Rodrigo Guedes compunha suas incursões lo-fi, desde 1998), agora é a vez de dar passos adiante. As novas faixas continuam na linha Lennon/Barrett com aquele pop disfarçadamente torto, que propõe incursões individuais em sua tímida singularidade, mas a entrada do novo guitarrista Adauto Mangue (ex-Mudcracks, apresentado ao público paulistano neste show) deu a pegada 1971 que Rodrigo tanto buscava, equilibrada no primeiro CD (de 2004), mas atingindo uma veia ainda mais country. E o espírito elétrico de Neil Young, que já pairava magnético sobre a banda, encarnou pesado. Rock demoníaco é fácil fazer – microfonia espiritual não é pra qualquer um.

Stoned

Nessa quinta, na festa da Peligro, tou discotecando antes do show da banda Flaming Moe (num conheço, “bom stoner rock”, disse quem conhece) Depois do show, desafiei o Dago pra mais um duelo naquela base do “quem ganha, é a pista” – o Du não tá na área, aí é mais fácil. 😛 Ali, no Milo.

(Dessa vez não tem lista, porque a festa não é minha, mas semana que vem, tem)

Pequenas epifanias à medida em que o ano embica pro fim

Reciclando um post do meio do ano:

– Um poste no final da ladeira do Paraíso
– Catra + Digital Dubs na Casa da Matriz
– Grenade no Milo e abrindo pra Nação em Curitiba
– Sorvete noturno
– Camilo x Nepal duas vezes, no Fosfobox e na Casa da Matriz
– 15 dias em Floripa
– Quatro parafusos a mais
– Jamie Lidell no Tim Festival
– Catra + Dolores, Nego Moçambique + Gerson King Combo no trio elétrico do Skol Beats
– Batman Begins
– Imersão em Rolling Stones (quatro bios, todos os discos oficiais, filmes, outtakes, raridades)
– Paulo Nápoli na Popcorn
– Disco do primeiro semestre: O Método Tufo de Experiências, do Cidadão Instigado
– DJ Rupture no Vegas
– Tarja Preta 4
– Kings of Convenience no Tim Festival
– Disco de Ouro – Acabou Chorare com Lampirônicos, Baby Consuelo, Luiz Melodia, Rômulo Fróes, Elza Soares e Davi Moraes no Sesc Pompéia – catártico
– Wax Poetic e Vitallic numa mansão em Floripa
– Publicar o Cultura Livre no Brasil
– Damo Suzuki e convidados no Hype
– Baladas gastronômicas
– A mixtape do Nuts
– Quinto Andar e Black Alien no falecido Jive
– Disco do segundo semestre: Futura, Nação Zumbi
– Pipodélica na Creperia
– “Capitão Presença” – Instituto
– Curumin, Jumbo Elektro e KL Jay na Casa das Caldeiras
– Úmero de titânio
– Television no Sesc Pompéia
– Violokê no Chose Inn
– Turbo Trio
– Stuart e Wander Wildner no Drakkar
– Rockstar: depois dos GTA, Beaterator
– Lafayette & Os Tremendões no Teatro Odisséia
– Donnie Darko
– Sandman pela Conrad
– Mylo no Skol Beats
– “The Other Hollywood”
– Weezer em Curitiba
– Buenos Aires
– Comprar livros em Buenos Aires
– Disco de Ouro – Da Lama ao Caos com Orquestra Manguefônica no Sesc Pompéia
– Anthony Bourdain
– Instituto + Z’África Brasil no Vivo Open Air
– Animal Man, de Grant Morrison
– Bátima, com direito à entrevista em vídeo
– Segundas-feiras no Grazie a Dio (Cidadão Instigado, Moreno + 2, Junio Barreto, Hurtmold, Wado, Curumin)
– Transformar uma discotecagem num toque de atabaque pós-moderno (as minhas melhores: duas vezes na Maldita, abrindo pros Abimonistas na Revolution da Funhouse, aniversários da Laura e da Fernanda na Vila Inglesa, esquema lo-profile no Adega, duas vezes duelando com o Guab na Rockmixtape e abrindo pro Satanique Samba Trio e pro Diplo no Milo, aniversário da Tereza no Berlin, com o Cris numa festa fechada no Vegas)
– “Promethea” – ufa!
– Paul Auster
– A Fantástica Fábrica de Chocolate, de Tim Burton
– Papo sobre o futuro do jornalismo com o Alex Antunes e o Claudio Julio Tognolli na Abraji
– Oséias e Los Hermanos no Trama Universitário
– O melhor duelo de sabres de luz de todos os tempos
– E.S.S. duas vezes, no Atari e na Funhouse
– Dar a dica pro Diplo tocar Cyndi Lauper no bis do set na choperia do Sesc Pompéia (que, aliás, tá com uma caixa nova que, ela mesma, é uma epifania)
– MP3s dos Sebozos Postiços
– O sábado do II Encontro de Mídia Universitária
– A volta do Pink Floyd clássico e Saucerful of Secrets do Nicholas Schaffner
– Sopa e chá na hora certa
– O novo do Cronenberg
– Sebozos Postiços no Vivo Open Air
– Temporada no Takara no Coisa Fina
– Ju, Ana, Dan, Fab, Tati – uma senhora equipe de trabalho
– DJs residentes: MZK, Bispo, Guab e Miranda
– China e Mombojó no Sesc Pompéia
– “Quanto Vale ou É Por Quilo” – só falta ser mais pop pra sair do cineclube (alguém explica o Michael Moore pro Sérgio Bianchi e ele pára com o pessimismo “já era”)
– Labo e SOL num Blém Blém quase vazio
– Wilco no Tim Festival
– Ter certeza que nunca tanta música ruim e desinteressante foi produzida na história como hoje – fora do Brasil (inclua o nome que você imaginar nessa lista – do Nine Inch Nails ao Coldplay passando pelo Wolf Eyes e Teenage Fanclub, ou Weezer e Sleater-Kinney). Só o Jack Johnson e o Franz Ferdinand salvam
– Aqui dentro, por outro lado, é outra história
– Jazzanova no Ampgalaxy
Piratão, do Quinto Andar
– Walverdes no Rose Bon Bon
Milo Garage
– Pipodélica e Zémaria no Avenida
– “Feel Good Inc.”, colosso
– It Coul Have Been So Much Better – Franz Ferdinand
– Jurassic 5 em duas noites em Santo André
– Bad Folks abrindo pro Mundo Livre em Curitiba
Sites de MP3 e mixtapes de funk carioca
– De La Soul no Tim Festival
– Mike Relm no Vegas
– “I Feel Just Like a Child”, Devendra Banhart
– Entrevistar o J.G. Ballard por fax
– Mercury Rev, perfeito, em Curitiba
– Sessão privada do Sou Feia Mas Tou na Moda com a Laura, a Denise, o Bruno, o Boffa, o Diplo e a Mia
– O livro do Sílvio Essinger
– Sonic Youth no Claro Q É Rock de São Paulo
– Chopinho vespertino numa Curitiba belga
– Acompanhar as turnês do Mundo Livre S/A e da Nação Zumbi pelo sul do Brasil
– Superguidis ao vivo
“Galang”
– Abajur pra sala no quarto
– “Music is My Hot Hot Sex” – Cansei de Ser Sexy
– As voltas do Akira S e do DeFalla
– Gravação do DVD do Otto
– Chaka Hot Nightz
– A volta da Bizz (muito istaile)
– R2D2 do Burguer King
– “Nada melhor do que não fazer nada…”, Rita Lee, mesmo que só em canção, realmente sabe das coisas
– Cuba! – e com a Laura…

“Falei cum u didjêi”

Tava discotecando no Milo, no sabadão, quando uma carioca me deu a letra: “Se Ela Dança, Eu Danço, MC Leozinho, hit do verão”. Baixei e confimo: pegadinha no violão, atabaques na manha, irresistível letra soul brega, “Já Sei Namorar” do charm, entre o baile e a praia, perfeita pra esse 2006 que vem aí. Era tudo o que o Claudio Zoli devia ser ou o que o filho do Tim Maia devia estar fazendo. Deixa essa black music de butique pra Daslu e se joga pra geral. “Ela só pensa em beijar, beijar, beijar…”.

E mesmo com o úmero de titânio e quatro parafusos a mais, prevejo 2006 libertador adiante. Vai ser dolorido, vai ser tortuoso e a excitação abre espaço pra auto-análise e pra paz de espírito. Assim, o ano vai terminar bem melho que 2005, que teve tanta coisa legal, que agora que parou, fica essa sensação de vazio…

Ou é só comigo?

Duel Propaganda

matiasvsguab-dez2005.jpg

O novíssimo úmero de titânio e o servidor Mamooth me tiraram do ar justamente da semana de dez anos do Trabalho Sujo (é, começou no dia 28 de novembro de 1995). Por isso, perdi boa parte do conteúdo do site (eu e o cache do Google ainda temos a maior parte em nossos HDs) e duas discotecagens, na Funhouse e na festa da Peligro. Essa de hoje, como a tímida e torta volta do site, eu só perco se chover: Duelar com o Guab, no alto da naite, é sempre massa – seja nos discos ou só no papo-furado, quando só um dos dois tá no som. E eu inda vou dar um braço de vantagem pra ele e tocar só com uma mão. Vai ser divertido.

.mixtape.
dezembro2005

@ Milo Garage
Rua Minas Gerais 203a. Higienopolis
a partir das 23h
(chegue cedo)
R$ 10 de entrada (R$ 15 dia 23)
sábados.1sexta.dezembro.2005
tel:3129-8027
djs:
03 – milo vs guab
10 – ana bean + matias vs guab
17 – +soma vs guab
23 – sp underground (granado e takara) vs guab

E, só pra lembrar o que eu falei lá embaixo: major changes ahead.