O único disco do Fellini que não existia em vinil

Depois de viabilizar o lançamento da versão em vinil do único disco do Fellini que não foi lançado neste formato graças a uma ação coletiva bancada pelos fãs, o selo Midsummer Madness anuncia que as cópias remanescentes de Amanhã é Tarde, disco temporão que Cadão Volpato e Thomas Pappon gravaram no início do século, mais de dez anos após o final da carreira original da clássica banda paulistana indie avant-la-lettre, está à venda para quem não participou do financiamento coletivo. Prensado em vinil laranja, o disco originalmente foi instigado pelo próprio Rodrigo Lariú, o homem Midsummer Madness, que o lançou na época apenas em CD. Disco maduro que aguça as qualidades desenvolvidas pelo grupo ainda nos anos 80, misturando poesia de boteco e samba de apartamento em gravações lo-fi, Amanhã é Tarde já está em pré-venda no site do selo e a entrega começa após o carnaval. “Nosso estoque fica em Santa Tereza, bairro boêmio da cidade, onde fica impossível sair de casa em alguns dias de folia”, explica Lariú, sem fazer contraponto ao carnaval, citando inclusive o próprio Fellini ao dizer que “gosto de samba”… Abaixo, um vídeo em que seus dois autores contam a história da gravação do disco.  

30 anos do Midsummer Madness em três coletâneas

A data certa seria 2019, quando o fanzine Midsummer Madness foi lançado originalmente, no Rio de Janeiro. Mas problemas no percurso adiaram a comemoração para 2021, ano em que o pioneiro selo indie carioca lançou suas primeiras fitas cassete, ainda como brindes do fanzine de papel, que deixou de ser publicado pouco depois para que Rodrigo Lariú passasse a se dedicar ao selo. De 1991 pra cá, ele já lançou literalmente centenas de artistas e discos que são não apenas marcos para a cena musical brasileira como pilares para a estética indie daqui, que apesar de difusa desde a virada do século, segue como uma das características mais peculiares do cenário independente brasileiro. A comemoração vem com três coletâneas em que Lariú reúne dezenas de artistas de seu selo em um vinil, um CD e uma fita cassete, cada um com uma seleção diferente de bandas e canções, que ele antecipa em primeira mão aqui no Trabalho Sujo. Além da série 30 em 3, também pedi para que ele contasse um pouco sobre a experiência Midsummer Madness e sobre a coletânea, que ele relata abaixo – e em breve lanço o Tudo Tanto que fiz com ele por aqui.  

Pin Ups rumo a 2017

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Lenda-viva do rock independente brasileiro, os Pin Ups anunciaram sua despedida no final de 2015, mas o show derradeiro e a recepção de um novo público foi tão boa que eles resolveram repensar os planos. E voltam à ativa em 2016 (com Adriano Cintra no lugar da Elaine, que está morando em Londres) para começar a pensar em viajar pelo Brasil no ano que vem. O grupo liderado por Zé Antônio e Alê toca nesta sexta no Z Carniceria (mais informações aqui), em comemoração dupla: além da exibição do documentário Time Will Burn, sobre a cena indie paulista do início dos anos 90 (que foi iniciada pelos Pin Uos), o show também celebra a chegada da banda às plataformas digitais. O Rodrigo Lariú, do Midsummer Madness, estará vendendo camisetas da banda (veja abaixo), adesivos e as últimas cópias do compacto “Guts” / “You Shouldn’t Go Away” em vinil vermelho (os produtos entram à venda na loja do Midsummer a partir deste sábado). O grupo ainda não tem outro show marcado, mas, como conversei anteriormente com o Zé, a ideia é percorrer várias cidades e até gravar músicas novas no ano que vem. O Lariú antecipou que está cogitando uma parceria com a Assustado Discos para reprensar o Lee Marvin em vinil e lançar uma coletânea digital com todos as faixas não oficializadas da banda – inclusive as das demo Not For Sale e Acoustic Rehearshal – com apresentações ao vivo de épocas diferentes.

pin-ups-camisetas

Abaixo, a discografia completa do grupo:

A volta do Algumas Pessoas Tentam Te Fuder

algumaspessoas

Era inevitável: depois que a mudança para São Paulo permitiu que seu selo Midsummer Madness, um pilar do indie carioca, continuasse existindo, o pioneiro Rodrigo Lariú lança, neste sábado, a versão paulistana de seu festival Algumas Pessoas Tentam Te Fuder, que por oito anos funcionou como vitrine tanto para a cena brasileira no Rio de Janeiro quanto para as bandas do selo. Lariú vem pelas beiradas – e ao transformar o festival em “mini fest”, colocando três bandas para tocar no Z Carniceria (mais informações aqui), ele consegue não só ressuscitar seu histórico festival como reafirmar a postura estética do selo, com muita guitarra, microfonia e músicas em inglês. Loomer, Lava Divers e Second Come – tocando, na íntegra, o clássico disco You – são todas bandas do Midsummer Madness, que ainda comparece na discotecagem com as presenças do próprio Lariú e do Rodrigo Genu, da banda carioca PELVs, também do selo. Conversei com o Lariú sobre a história do festival, a versão paulistana do evento e o que ele pretende lançar até o fim do ano.

O que foi o festival Algumas Pessoas Tentam Te Fuder

A volta do Algumas Pessoas Tentam Te Fuder

Em escala menor

Desde 1989

Merchandising indie

Mais Midsummer Madness em 2016

Pin Ups 25 anos atrás

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Encontrei o Lariú após o último show dos Pin Ups e comentei com ele sobre a entrevista com a banda que ele havia desenterrado de uma das primeiras edições do Midsummer Madness, quando ele era só um zine de papel. “Pensei em editar algumas partes, mas depois pensei ‘foda-se'”, lembrou rindo, de uma entrevista meia boca, cuja maior importância era o fato de ela acontecer. Por isso separei só a introdução escrito pelo jovem Lariú na época (todo galã de capa do disco dos Smiths na foto acima, no meio dos Pin Ups originais):

A vida parece correr mais que o corpo em São Paulo, mas infelizmente ela parece se arrastar para os quatro integrantes do PIN UPS. “Sair daqui o mais rápido possível, deixar o país. Essa é a meta principal”, respira fundo Zé Antônio (guitarra e vocal).

Ao escrever esta matéria invariavelmente me lembro da frase “São a banda certa no lugar errado”. Pin Ups, banda paulistana surgida em agosto de 88, toca quase sempre no Espaço Retrô (o Marquee paulistano, uma little England em termos musicais), já lançou um disco pela Stiletto chamado “TIME WILL BURN” mas permanece desconhecida na imprensa nacional (antes anônima e única do que parte dessa geleia de sucessos). É incrível como poder existir no país público ávido por mais lançamentos da Creation ou de discos da regressiva class of 86 (movimento musical inglês que reúne bandas que exploram os anos 60, como Chapterhouse, Primal Scream e Jesus ) mas é incapaz de olhar de relance para dentro de seu próprio país e enxergar bandas que seguem o mesmo caminho. É certo que são poucas, mas o Pin Ups se destaca pois quem já ouviu, garante, como a Stiletto (gravadora independente que tem em seu catálogo My Bloody Valentine, Wedding Present) e várias casas noturnas. Sua aura em São Paulo atinge um raio incrível de distância e foi justamente para apresentar a vibração de suas infernais guitarras com bases deliciosamente distorcidas e bateria incansável que o Pin Ups foi à RÁDIO BRASIL 2000 FM (107,3) participar do Clip Independente (programa de todas meia-noites de sexta-feira onde as bandas fazem jam sessions) para depois darem uma entrevista a seguir. Nela vocês poderão conhecer o Pin Ups segundo suas próprias palavras para tirarem a conclusão de que é imprescindível ouví-los.

A íntegra da entrevista foi republicada no site do Midsummer Madness.

Banque o próximo disco dos Cigarrettes

O novo trabalho de Marcelo Collares entrou no esquema crowdfunding e o terceiro disco dos Cigarrettes pode ser o primeiro vinil do Midsummer Madness. Pra quem não conhece, toma um pouco de Marcelo:

O link para colaborar – com as opções possíveis – tá no Movere. Vê lá.

E por falar em anos 90: A volta do Low Dream

Calma, é só o Lariú dando um trato nos clipes do Midsummer e colocando-os na roda. Chegou a vez do ícone shoegazer brasiliense. Acredite, essa já foi uma das bandas indies mais importantes do Brasil:

É legal o Lariú explicando:

“Este clipe começa, a música pára e volta, é assim mesmo”

Agora… Volta? Nah, tou só sensacionalizando. Mas vai que…

De volta a 1994

O Lariú tá resgatando o acervo de clipes do Midsummer Madness e começou com três, esse clássico lo-fi do Cigarrettes aí em cima (que abria a demo Felicia – éramos tão jovens…), outro da PELVs e mais um da banda do Collares. Taí um revival dos anos 90 que vale à pena, mas por motivos estritamente pessoais para os envolvidos…

20 anos de Midsummer Madness

Das dezenas de histórias que ilustram a teoria da Cauda Longa e que formam a história do rock independente brasileiro, a do Midsummer Madness é uma das mais clássicas – ainda mais por misturar-se com bandas como Second Come, Cigarrettes, PELVs, Casino e Fellini. O Last Splash contou um pouco dessa história em três vídeos. O primeiro tá aí em cima, os outros dois você vê no site dos caras.

20 anos de Midsummer Madness

Parabéns, Lariú, por 20 anos de idealismo indie que conseguiu catalizar todo uma produção cultural do Rio de Janeiro e resto do Brasil que, sem o Midsummer Madness, talvez iria para o funk, o hardcore, a música eletrônica, o samba e a MPB de caderno de cultura (até o Globo admitiu – a cena de Lariú nunca teve eco no jornal da cidade além das páginas do Rio Fanzine). Rodrigo comemora as duas décadas na ativa com uma série de shows na sala Funarte, no Rio. A comemoração começou com o show da PELVs na sexta passada (eu esqueci de postar, sacumé, trabalhar no plantão não facilita), mas assim que aparecer um vídeo desse show eu posto aqui. O vídeo acima foi feito pelo Dodô, dias antes do show, que prometia ares históricos.