Rodrigo Campos: Qualidades Primordiais

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É com grande satisfação que recebemos no Centro da Terra um dos grandes cantores e compositores da música paulistana do século 21, o grande Rodrigo Campos, como primeiro dono das segundas-feiras de 2019. Em sua temporada Qualidades Primordiais, Rodrigo dividiu suas apresentações em quatro elementos, alquimicamente desdobrando suas temperatura e umidade para dissecar sua própria musicalidade. Em cada uma segunda-feira, ele reúne sensações diferentes de seus sambas a partir de seus convidados, “elas servem como um norteador para escolher as participações na temporada”, ele me explica “uma maneira mais de criar uma atmosfera do que fechar um conceito pra cada show. A ideia é ser um pouco aberto”. Na primeira segunda, dia 4, ele recebe os percussionistas Fumaça, Raphael Moreira e Victória dos Santos na noite Frio e Seco, regida pelo elemento terra. Na outra segunda, dia 11, ele recebe a nova colaboradora Maria Beraldo para a noite Quente e Seco, do elemento fogo. Na terceira segunda, a noite Frio e Úmido, do elemento água, ele conta com a participação de Kiko Dinucci e, finalmente, encerra seus trabalhos com a noite Quente e Úmido, do elemento ar, com Maurício Badê e Thiago França (mais informações aqui). Conversei com ele sobre sua temporada e ele conta o que pensou para seu mês de fevereiro no Centro da Terra.

Centro da Terra: Fevereiro de 2019

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Começamos os trabalhos da curadoria de música do Centro da Terra em 2019 já com algumas mudanças. A sessão de segunda-feira, Segundamente, segue no formato já estabelecido, mas a terça-feira se desmembra para além das temporadas mensais também receber shows únicos ou curtas temporadas. E é com o maior prazer que anuncio as atrações de fevereiro, o primeiro mês de atividades do ano do teatro no Sumaré, que já trazem as mudanças na prática, com shows de Rodrigo Campos, Fernando Catatau, Juliano Gauche e Josyara.

O sambista paulistano Rodrigo Campos é o dono das segundas-feiras na temporada Qualidades Primordiais, em que recebe convidados toda segunda para mostrar diferentes facetas da sua musicalidade. A cada dia um elemento básico é representado pelo encontro entre temperaturas e umidades. Na primeira segunda, dia 4, é o dia da terra: no show Frio e Seco ele recebe os percussionistas Fumaça, Raphael Moreira e Victória dos Santos. Na segunda segunda, dia do fogo, dia 11, Quente e Seco, Rodrigo convida a instrumentista Maria Beraldo. O convidado do dia 18, dia da água, Frio e Úmido, é Kiko Dinucci e Rodrigo encerra a temporada no dia 26, com a noite Quente e Úmido, dia do ar, com as presenças de Maurício Badê e Thiago França (mais informações aqui).

As terças-feiras começam com o guitarrista do Cidadão Instigado, o cearense Fernando Catatau, mostrando as composições de seu trabalho solo na minitemporada Luz do Fim de Tarde em duas apresentações, dias 5 e 12. Acompanhado apenas de programações eletrônicas, violão e guitarra, ele abre para o público composições inéditas que ainda estão sendo desenvolvidas, rascunhos abertos para testar o formato e a natureza das músicas (mais informações aqui). Depois é a vez do capixaba Juliano Gauche apresentar o espetáculo Entre Árvores, na terça-feira dia 19, em que experimenta o repertório de seus dois discos no formato semi-acústico e minimalista, além de fazer versões para outros autores e trazer músicas inéditas, acompanhado de Kaneo Ramos, nos violões, e de Klaus Sena, no piano (mais informações aqui). O mês de fevereiro termina dia 26, uma terça-feira, com o espetáculo Abraça, em que a cantora baiana JosYara mostra seu repertório ao lado da cantora Luê e da atriz Bárbara Santos, que ajudam a desconstruir o disco mais recente da cantora, o belo Mansa Fúria (mais informações aqui). E é só o começo das novidades do ano!

Um mundo de Maurícios

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Em mais uma colaboração para o site da revista Trip, escrevi sobre a Universal Maurício Orchestra, formada por seis Maurícios da pesada: Fleury, Tagliari, Pereira, Bussab, Badê e Takara:

As gravações aconteceram no final de 2015 e início de 2016. A tônica do som também vinha do sonho de Tagliari. “Foi tudo bem aberto, ninguém trouxe nada pronto, a gente se encontrou e começou a tocar”, lembra Takara. “Tinha essa referência sugestiva ao Miles elétrico, [do álbum] In a Silent Way, e, no fim das contas, a formação, que é bem inusitada pra mim, refletia um pouco isso, a coisa do sax soprano, da percussão”, completa.

“A linha era cada um ficar à vontade naquilo que gosta, sabendo que estávamos inseridos dentro de um coletivo”, completa Badê. “A ideia do Tagliari era fazer uma coisa mais viajandona, instrumental, como o Miles Davis do sonho dele. A gente não ficou discutindo, apertava o rec e saía tocando”, lembra Fleury.

“Não lembro de ter combinado nada. Na real, olhando em retrospecto, foi meio mágico: muito som, muita risada, pouca conversa e a música fluindo. Tanto que quando você escuta o disco todo, vê que cada faixa tem uma onda muito diferente. Foi fruto mesmo de um encontro de vários backgrounds musicais e muita generosidade, um lance bem fraternal”, completa Tagliari. “O disco é isso, música espontânea, sem parar muito pra pensar, sem nada escrito antes, feita muito das influências sonoras que a gente tem, tipo pegar uma ideia que aparecia e brincar em cima dela”, emenda Pereira.

A conexão maurícia — termo cujo significado vem da mesma palavra que dá origem ao termo “mouro” e quer dizer “de pele escura” — não terminou no som. Depois de brincarem com a possibilidade de pedir a capa ao Maurício de Souza, o pai da Mônica e do Cebolinha, lembraram de outro Maurício que não era reconhecido pelo prenome, o DJ e ilustrador MZK, que aceitou prontamente a tarefa de fazer a capa.

A íntegra do texto você lê aqui.

Eis a Universal Mauricio Orchestra

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Tudo começou num sonho de um Maurício. “A história da Universal Mauricio Orchestra é quase estranha”, lembra o idealizador e guitarrista, Maurício Tagliari. “Eu sonhei que estava tocando Bitches Brew, do Miles Davis, com uns amigos. O som estava ótimo e eu estava me divertindo muito. Quando acordei, percebi que os amigos eram grandes músicos com os quais eu nunca havia tocado. E todos chamavam Mauricio! Antes de qualquer análise freudiana, mandei um email contando o sonho pra eles. Considerei até o fato de não haver mais mauricios crianças e que havia uma quantidade estatisticamente elevada de mauricios na música. O Pereira inclusive fez uma boa reflexão sobre ‘O que é ser Mauricio’.”
e eu vi post dos Mauricios, ficou massa, mas no disco eu toco baixo, flauta, rhodes e hammond e o Bussab toca sintetizadores, rhodes e hammond

São todos Maurícios de renome. Além de Tagliari (que toca guitarras) e Pereira (vocais e sax), os outros Maurícios sonhados e convocados foram Maurício Takara (bateria), Maurício Fleury (teclados, baixo e flauta), Maurício Badê (percussão) e Maurício Bussab (sintetizadores e teclados). “A resposta a esta provocação foi rápida e unânime”, continua Taglari. “Todos toparam na hora marcar uma jam session. Foram três encontros onde nos colocamos absolutamente relaxados e sem pretensões maiores. Em quase 30 anos de vida de produção nunca tive sessões tão divertidas. O processo criativo foi o seguinte: alguém começa um groove ou um motivo melódico, uma linha de baixo ou uma sequencia harmônica e, quase telepaticamente, o grupo seguia. Pode chamar de freejazz ou de funk ou de batucada com notas. Quase todas as faixas só tem um take. Em algumas a gente ouvia e voltava direto, na mesma hora, para fazer overdubs com instrumentos trocados. O Pereira fez overdubs de sax e também gravou vocais depois da jam session. Uma característica que mantivemos foi o frescor da gravação ao vivo. Dá pra sentir o clima. Preservamos alguns vazamentos, risadas e brincadeiras. Mesmo os finais das faixas são claramente não combinados. Foi tudo muito feito na base do olho no olho, ouvido atento e na ‘cabeçada’.” O insólito grupo dá as caras pela primeira vez aqui no Trabalho Sujo, quando estreiam em público com a faixa “Embalando o Obalalá”, aqui em primeira mão.

O som do grupo, como descrito por Tagliari, habita entre o funk, o samba e o jazz – sem perder o bom humor, outra característica do sexteto, em títulos como “No Passo do Billy Paul”, “O Surfista Cigano”, “Decididamente Abalada” e “Pife do Mau”. “Tudo isso aconteceu entre final de 2015 e inicio de 2016. Mas a vida e a agenda do povo fez o projeto ficar na gaveta até que eu resolvesse escutar em meados de 2017. Eu achava que tínhamos nove tracks mas descobri que eram 14… Algumas a gente nem lembrava. Realmente foi algo catártico. Marcamos uma audição com a banda e escolhemos dez. Participamos da mixagem eu, o Bussab, o Fleury e o Pereira. Restava fazer a capa. Alguém considerou chamar o Mauricio de Souza para nos caricaturizar – existe esta palavra?. Mas um dia vi um Mauricio na minha timeline do facebook que me chamou a atenção pois era meu contato e eu não conhecia o nome. Quando fui olhar o perfil vi que não era nem mais nem menos do que o grande ilustrador e DJ que eu só conhecia pelo nome artístico: MZK ou seja Mauricio Zuffo Kulman. Liguei para ele, contei a história e ele entrou no barco imediatamente. Claro que nesse meio tempo apareceram outros mauricios e já temos a ideia de ampliar o projeto. Em breve – ou, pelo nosso ritmo, não tão breve… – Universal Mauricio Orchestra vol. 2.” Eis a capa que MZK fez para o projeto.

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E shows? “Sim, todos queremos tocar ao vivo. Só não sabemos quando as agendas permitirão.” O disco completo será lançado em breve.