O fim de Lost por Marcelo Salgado

Eu vi Friends. Mas vi, antes, MacGyver, Magnum, Voyager, A Gata e o Rato, Caverna do Dragão (ok, era desenho e eu coloquei aqui só para sacanear). Vi Super Vicky, Punky – A Levada da Breca (o que diabos quer dizer “breca”?!), Alf – o Eteimoso, Esquadrão Classe A, Blossom, vi até Capitão Marvel e A Ilha da Fantasia (embora essa última nem seja bem da minha época). Vi Mundo da Lua e Anos Incríveis e, provavelmente, foram duas das coisas mais belas que vi na tevê. Vi Married With Children, Fresh Prince of Bel-Air (me recuso a escrever os títulos em português), Todo Mundo Odeia o Chris, Seinfeld e, mais recentemente, vi Angel, Battlestar Galáctica, Roma, Pushing Dasies, The Big Bang Theory, 24horas, Glee, Heroes (forget it), e Arquivo X. Vi muitas séries. Vi séries que nem listei aqui. O texto já está demasiado longo.

Eu não vi Lost. Não vi uma série de tevê, como vi as outras. Durante seis anos acompanhei uma história cativante, uma trilha sonora mágica do mestre Michael Giacchino, roteiros deliciosa e meticulosamente cíclicos, mas, principalmente, vivi os dramas dos muito bem construídos e interpretados personagens. Chorei com Charlie e sua luta mortal para se libertar (não estou falando das drogas). Torci por Michael e Walt, histórias de pai e filho sempre me comovem. Quis acreditar na Sun ao mesmo tempo em que desconfiava com Jin, tudo porque o amor deles era mais forte que qualquer coisa. Cri na bondade do torturador iraquiano, Sayid disfarçava-a como um bom espião. Confiei na sabedoria do olhar contornado de Richard e, mais tarde, na calmaria do de Jacob. Quis ser amigo-irmão de Desmond e amei odiar o Ben. Sawyer trapaceou e tomou a cena durante algum tempo, e foi muito divertido. Kate foi necessária, até a última cena. Locke era quase que a própria ilha e a ilha foi protagonista e antagonista. Hurley era a minha voz, meu medo e minhas lágrimas lá dentro e como dói saber que semana que vem estarei calado. E Jack. Jack era nosso olho.

Eu chorei. Não sei dizer nesse momento se por conta da história de cada personagem, que formou a série toda, ou se por estar órfão dela. Não importa. Whatever, como diriam dois amigos nossos. Algo que gerou tanta comoção, tanta diversão, tanta entrega, tanta discussão, tantos amigos (se você chegou aqui há uma grande probabilidade de ser um meu), não pode ser catalogado, resolvido, totalmente explicado. Não foi. Nunca será. Os clássicos são assim.

Se você esperava um desfecho arquitetado que amarrasse totalmente a trama, sinto muito. Você viu Lost. E esperou por algo que outras séries tentaram entregar. Algumas até conseguiram. Mas se você esperava realmente só isso, sinto muito. Você não teve a mesma sorte que eu. Se fosse do seu jeito, esse texto acabaria na lista do primeiro parágrafo e nós, no final do último episódio. Talvez eu tenha sido um homem de fé e você, de razão. Para a nossa sorte (sim, espero que no futuro seja a sua também), Lost não era sobre causa e consequência realistas. Era sobre o humano. Eu tive a melhor experiência cultural que poderia compreender e ela se expandiu e foi uma experiência humana. A parte física dela acabou, mas uma que ainda não consigo explicar ficou. Está aqui, comigo, agora. Como os grandes momentos da minha vida que, mesmo passados, me acompanham e me tornam o que sou. Eu não vi Lost.

Vi muitas séries e algumas muito boas. Mas não vi Lost. Eu vivi Lost.

E espero vivê-la novamente em outra vida, brotha!

* Marcelo escreveu este texto em seu blog.