Vida Fodona #654: Festa-Solo (29.6.2020)

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Mais uma segunda, mais um dia de Vida Fodona ao vivo no twitch.tv/trabalhosujo, a partir das 21h – o na semana passada foi assim.

Pink Floyd – “Wots … Uh The Deal”
Neutral Milk Hotel – “Oh Comely”
Nick Drake – “Hazey Jane II”
Neil Young – “Separate Ways”
Belle and Sebastian – “Is It Wicked Not to Care”
Erasmo Carlos – “Gente Aberta”
Paralamas do Sucesso – “Romance Ideal”
Chet Faker – “No Diggity”
Rihanna – “Consideration”
Frank Ocean – “Nikes”
Prince – “When Doves Cry”
Sandra Sá – “Olhos Coloridos”
Tim Maia – “Márcio Leonardo e Telmo”
Thiago França – “Bolero de Marly”
Rolling Stones – “100 Years Ago”
Letrux – “Saúde”
Eduardo Dusek – “Rock da Cachorra”
Labelle – “Lady Marmalade”
Jessie J + Nicki Minaj + Ariana Grande – “Bang Bang”
Destiny’s Child – “Jumpin’, Jumpin'”
Fagner – “Cartaz”
Lizzo – “Juice”
Chromeo – “Clorox Wipe”
Falco – “Der Kommissar”
Blondie – “Rapture”
5th Dimension – “Aquarius” / “Let The Sunshine In”
Sly & the Family Stone – “If You Want Me To Stay”
Cardigans – “Lovefool”
LCD Soundsystem – “Daft Punk Is Playing at My House”
Titãs – “Diversão”
Babe Ruth – “The Mexican”
Paul McCartney – “Coming Up”
Dani Siciliano – “Walk the Line”
Kiss – “Sure Knows Something”
Evinha – “Esperar pra Ver (Poolside + Fatnotronic Edit)”
Roxy Music – “Love is the Drug”
Queen – “Killer Queen”
Music Go Music – “Warm in the Shadows”
Pulp – “A Little Soul”
David Bowie – “Life on Mars?”
Beatles – “Old Brown Shoe”
Cream – “Wrapping Paper”

Vida Fodona #648: Festa-Solo (8.6.2020)

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Segunda, às 21h, no twitch.tv/trabalhosujo – hoje tem mais!

Fall – “Cruiser’s Creek”
Velvet Underground – “Foggy Notion”
Serguei – “Ouriço”
Calvin Johnson – “When You Are Mine”
R.E.M. – “Orange Crush”
Jesus & Mary Chain – “Upside Down”
Sonic Youth – “Incinerate”
Jair Naves – “Veemente”
Kiko Dinucci – “Foi Batendo o Pé Na Terra”
Douglas Germano – “Valhacouto”
Jards Macalé + Tim Bernardes – “Buraco da Consolação”
Luiza Lian – “Santa Bárbara”
Luedji Luna + Zudzilla – “Banho de Folhas (Nyack Remix)”
Yo La Tengo – “Be Thankful For What You Got”
Fujiya & Miyagi – “Collarbone”
Hail Social – “Heaven (Designer Drugs Remix)”
Kaiser Chiefs – “Never Miss A Beat (Cut Copy Remix)”
Yelle – “Je Veux Te Voir (TEPR Remix)”
Chemical Brothers – “Hey Boy, Hey Girl (Soulwax Remix)”
Cansei de Ser Sexy – “Move (Cut Copy Remix)”
Brockhampton – “Sugar”
Frank Ocean – “Super Rich Kids”
Don L – “Eu Não Te Amo”
Nill – “Toys”
Doja Cat – “Say So”
David Bowie – “Young Americans”
Prince – “When Doves Cry”
Outkast – “Roses”
Of Montreal – “Rapture Rapes The Muses”
Tatá Aeroplano – “Step Psicodélico”
Letrux – “Coisa Banho de Mar”
Ava Rocha – “Transeunte Coração”
Paralamas do Sucesso – “Nebulosa do Amor”

Vida Fodona #642: Festa-Solo (18.5.2020)

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Este programa foi gravado ao vivo na segunda passada.

Rita Lee & Tutti Fruti – “O Toque”
Mangalarga – “A Merda Que Você Fez”
Stevie Wonder – “I Wish”
Funkadelic – “One Nation Under a Groove”
BNegão & Os Seletores de Frequência – “V.V.”
De Leve – “Eu Rimo na Direita”
Lorde – “Royals”
Joy Division – “She’s Lost Control”
Pere Ubu – “Navvy”
Gang of Four – “Damaged Goods”
Plebe Rude – “A Minha Renda”
Devo – “Whip It”
Talking Heads – “Cities”
David Bowie – “Let’s Dance”
Christina Aguillera – “Genie In a Bottle”
Shaggy – “It Wasn’t Me”
TLC – “Waterfalls”
Nelly Furtado + Timbaland – “Promiscuous”
Hot Chip – “Ready For The Floor”
Tame Impala – “Let It Happen (Soulwax Remix)”
Sarah Love – “Lets Get Physical”
Dua Lipa – “Break My Heart”
Daft Punk + Giorgio Moroder – “Giorgio by Moroder”
Sade – “Paradise”
Letrux + Lovefoxx- “Fora da Foda”
Portishead – “All Mine”
Rihanna – “Kiss It Better”

Cada lágrima de Letrux

Foto: Ana Alexandrino

Foto: Ana Alexandrino

Lembro de Letícia descrevendo coincidências em um post no Instagram de menos de um mês atrás, quando comentou como sua leitura de Os Ossos dos Mortos, de Olga Tocarkzuk, batia com seus hábitos durante a leitura – até mesmo a presença de um bissexto 29 de fevereiro, data da publicação. Ela ainda não tinha revelada nenhum segundo de seu segundo disco, Letrux Aos Prantos, mas no fim do ano passado, encerrando os trabalhos de seu ótimo Em Noite de Climão, mostrou uma das músicas, “Salve Poseidon”, em apresentação no Cine Joia (filmei, veja lá).

Justo uma música em que ele fala sobre coincidências: “Eu queria estar lá na hora que a Shakira disse que nasceu dia 2 de fevereiro e o marido disse ‘eu também’, eu queria estar em todas as coincidências do mundo. Porque é onde todo mundo está um pouco mais místico. Na hora das coincidências todas as pessoas estão mais conectadas, com uma excitação disso aqui não ser só isso aqui. Eu choro com as coincidências. Eu quero estar em todas as coincidências.”

Mal sabia que a coincidência do lançamento de seu disco em uma sexta-feira 13 também coincidia com a tomada de consciência de que o coronavírus no Brasil era uma realidade, inciando o período de autoquarentena da população brasileira – e cancelando todos os compromissos em público, inclusive os shows de lançamento de seu disco. Letrux aos Prantos, seu segundo álbum, é um disco classudo e sisudo, sofisticado e delicado como poucos discos de música pop brasileira – mas sem perder o humor e o escracho característicos da cantora e compositora carioca, que vêm aqui de forma sutil. Letícia topou dissecar o álbum faixa a faixa aqui no Trabalho Sujo. Aperte o play e venha com a gente.

“Deja Vu Frenesi”
“Letrux aos Prantos começa com a faixa ‘Deja Vu Frenesi’. Eu sempre quis ir para a Grécia, desde que eu era criança eu tinha essa obsessão grega, com tudo: teatro, filosofia e praias, por que não? No ano passado eu realizei esse sonho e é um pouco absurdo realizar sonhos porque você acha que vai ficar assim, plena e, foi uma viagem muito louca. Passei por situações muito loucas e um belo dia, eu estava numa ilhazinha chamada Milos, que é onde encontraram a estátua Vênus de Milo, e eu entrei dentro d’água e a música veio. Eu comecei a cantar, me baixou um ‘Deja Vu Frenesi’. Acho que me deu uma sensação de déjà vu, de ter estado ali antes. Eu tenho muito disso, inclusive. Mistérios. Eu parecia uma maluca me mexendo na água, sem parar e eu não saí da água enquanto ia compondo, em algum momento eu saí correndo, peguei o celular cantarolando “todo corpo tem água”, e gravei ali pra não esquecer. É uma música que eu acho que abre bem os trabalhos do disco. Ela dita um lugar, um estado, uma dinâmica para se estar. E viver é um frenesi. Ainda não sei o que pensar de todos os déjà vus que eu tenho, mas não tenho medo deles, nem fico “ai que estranho”. Eu meio que encaro esses déjà vus e fico tentando achar significados e símbolos para toda essa loucura.”

“Dorme com Essa”
“Essa é a primeira música que a banda pegou dessa segunda fase. A gente tava fazendo show no Espírito Santo e a gente tinha horas sem passagem de som, sem show – e, tempo é uma coisa escassa no nosso dia a dia, então eu falei ‘vamo para o estúdio, vamo se embrenhar!’. E essa é uma composição minha de um tempo já, de um momento meio de quando você entra na banheira e fala ‘aaaarrrgh!’ e aí veio essa música. E foi a primeira música que a banda, depois de dois anos e meio de Em Noite de Climão, que a gente se olhou e falou ‘uau, isso está acontecendo, há uma nova canção surgindo!’. Então é uma música que eu tenho muito carinho por ser esse nosso reencontro com canções inéditas. É uma música gostosa, triste, o tipo de música que eu gosto. Gostosa e triste.”

“Fora da Foda” (com participação especial de Luisa LoveFoxx)
“É uma música super colaborativa. Eu virei pro baterista, que é o Lourenço Vasconcellos, e o baixista Thiago Rebelo e perguntei: ‘cês não tem uma música aí não?’. E eles falaram que tinham e me mandaram as duas. E eu ficava ouvindo a música do Rebelo e a do Lourenço, e é tão louco, baixo e bateria andam sempre tão unidos, a cozinha da banda, que a música deles dialogava. Aí falei, ‘ó, juntei a sua parte, com a sua parte, fiz aqui um negócio’. Chamei o Arthur Baganti, que é o tecladista e um dos produtores do disco, e a gente elaborou ali uma letra sobre uma pessoa que tá de fora da foda, de uma pessoa que não participou de uma suruba, de uma situação sexual maravilhosa, mas que ficou de fora, tadinha. Eu sou muito fã de Cansei de Ser Sexy, amo a Luisa LoveFoxx, e aí na volta que elas fizeram no Popload, eu vi e pensei ‘por que não?’. Convidei a Luisa e ela topou, disse ‘lógico, eu amo você, amo o Climão’, o que foi uma honra para mim, porque eu admiro muito ela, ela artista, ela ser humano e a vozinha dela no disco, é assim, a cereja de todos os bolos possíveis! É música para ser despretensiosa, maluca, leve, astral e eu acho que esse feat trouxe tudo isso.”

“Eu Estou aos Prantos”
“Essa música nasceu no avião. Eu sou uma pessoa terra, terra, terra, então eu acho que voar é uma coisa que eu ainda não compreendo. Tô melhorando, tô voando tanto que preciso melhorar. E em algum voo, eu tava sozinha, não tava voando com a banda, tava indo fazer uma participação sozinha, e eu tava com muito, muito, muito medo. Irracional, como todos os medos são. Mas eu tava muito mal, a mão suando, taquicardia, que eu pensei ‘não dá pra viver assim, não dá’. E eu peguei meu caderninho e pensei ‘tô com tanto medo, que eu preciso fazer alguma coisa com esse medo’. Eu sou muito de transformar, eu sinto as coisas e transformo em poesia, eu não consigo ficar com as coisas muito assim, só sentindo. Eu preciso transformar. E eu tava com tanto medo, tanto medo, que eu decidi fazer uma música. E aí veio essa música e todas essas questões que eu tô vivendo: será que dá para ter um filho, será que dá pra ter um carro, será que é débito ou crédito. E há uns três anos, quem não está aos prantos? Acho que essa pergunta no final, ‘eu estou aos prantos, quem não?’, é uma indagação que eu acho que tá todo mundo se fazendo e sentindo. Então, se você tem medo de avião, faça uma música.”

“Contanto Até Que”
“Eu tenho uma grande amiga, uma das minhas melhores amigas, se chama Keli Freitas, uma dramaturga, atriz, escritora maravilhosa. E ela acha que eu falo muitas expressões idosas. Eu falo ‘ao passo que’, ‘contanto, até que’. E eu falei um dia ‘Kelly, a gente tem que fazer uma música’. E ela falou ‘tem, mas tem que ter todas essas expressões malucas que você usa’. E tem uma música, um pedaço de uma música que eu tentei escrever com a Duda Braque, que é uma compositora também, que ela falava ‘eu vim para botar fogo no teu quarto, eu vim pra botar fogo no teu bairro’, mas a gente acabou não dando continuidade. E eu comecei a fazer essa música com a Kelly e falei isso junta com aquilo, perguntei pra Duda se era tranquilo usar, ela topou e a gente começou a fazer uma grande suruba musical maluca. Acho que é a música mais rock’ n’ roll no disco. Foi um dia de gravação bem forte, com muito sangue no olho e é uma música com muito sangue no olho, que fala de questões amorosas muito conturbadas, meio com muito fogo. E fogo é um elemento da natureza maravilhoso, mas excesso de fogo é a morte de tudo, da floresta, do museu, da catedral. O fogo também assassina. Então, como dosar o fogo? É uma música que fala como é difícil dosar o fogo.”

“Ver Gente – Vai Brotar?”
“Essa canção é uma grande loucura. Há uns anos, eu e uns amigos, quando alguém saia muito esquisito na foto, gente ficava brincando ‘com quem tá a cigana?’ – que absurdo!, porque sempre tinha um amigo meio esquisito e ficava meio ‘a cigana encostou aqui!’ e riiiia, quá quá quá… E a gente até brincava de fazer um programa de TV meio ‘estamos aqui na festa e vamos ver com quem está a cigana’ e passava mal de rir. Amigos e amigas, por falta do que fazer, inventando mundos e fundos – e viva a isso, né? E isso ficou na minha cabeça, e um dia, eu fiquei pensando como o mundo anda cada vez mais cínico e debochado – e tudo bem. Mas como a gente não pode deixar só isso assumir, o meme, o deboche. Eu amo tudo isso, mas também amo ficar espiritualizada, amo ser uma pessoa emotiva, então acho que é uma canção que fala sobre isso. E aí fiz com o Arthur Braganti e no final, a gente ficou pensando em um monte de ditados da língua portuguesa, e nós somos dois apaixonados pela língua portuguesa e a gente pirando em ‘quem não chora, não canta’, ao invés de ‘quem não chora, não mama’, então foi uma tarde de muita criatividade quando a gente compôs. E é uma música que no estúdio, tanto gravando, quanto ensaiando, a banda ficava num flow, num crescente, numa vibração muito intensa. Eu acho que vai ser uma música de muita força dançante. “

“Cuidado Paixão”
“‘Cuidado Paixão’ é uma pérola para mim. Eu sempre que componho, sem querer – ou por osmose, porque sou carioca – vem em samba. Em todo o Climão, eu chegava para a Natália (Carrera) e para o Arthur (Braganti) e falava assim ‘gente, eu fiz uma música que é assim: ‘ninguém perguntou por você’’, assim meio samba e o Arthur falava ‘que loucura…’. A Natália sempre ficava ‘meu deus, é um samba’. E aí, é claro, a galera começava a perverter os arranjos, a criar camadas sonoras, então o resultado não era samba. Mas o embrião das canções, de muitas delas, vinha em samba. Aí nesse segundo disco, no Aos Prantos, também aconteceu muito isso. Eu tava na praia, e me vinha uma ideia… Essa foi na praia também, na Grécia, estava nesses momentos aquáticos de entrega, de conexão com a natureza e com o que há de mais misterioso na gente e, uma hora me veio essa frase ‘Cuidado Paixão”’. E isso realmente aconteceu. Um dia eu estava no mercado e uma mulher falou: ‘cuidado, Paixão!’ e eu pensei: ‘que hilário, ela nem me conhece e tá me chamando de paixão!’. E eu sou dessas, muito conectada ao externo, às pessoas e eu logo pego o caderninho e anoto a frase que a pessoa falou, guardo, uso, penso. E ela veio em samba e quando eu mostrei pra banda a gente já percebeu que ela tinha que continuar samba. Assim, um samba Twin Peaks, meio David Lynch. Não é um samba, samba. Mas ela veio numa atmosfera sambística e a gente quis manter, do nosso jeitinho Letrux, mas ela é um samba: ‘Cuidado Paixão’. “

“Sente o Drama” (com participação especial de Liniker)
“‘Sente o Drama’ é uma música que eu fiz com meu parceiro, Thiago Vivas. O Titi tem toda uma pesquisa com o blues e eu também tenho toda uma época, uma escola de blues na minha vida. E eu olhei, falei ‘Baby, por que a gente não faz um blues?’. E aí fizemos esse blues, com essa letra meio, não sei o que dizer… Mas quando o blues tava pronto, eu pensei ‘isso é a cara da Liniker, com aquele vozeirão, com aquela atitude, aquela potência’ e eu falei ‘Liniker, você topa?’ e ela, ‘claro’. Eu fiquei muito feliz, e quando ela chegou no estúdio, rolou um eclipse, um fenômeno da natureza, não sei… Todo mundo ficou com o braço arrepiado, o couro cabeludo arrepiado, uma coisa muito intensa. E ela arrasou, ela matou em dois, três takes. E improvisava, fazia uns vocais, uns gritos… É uma música maravilhosa. Sempre quis ter meu blues e agora já posso dizer que fiz um blues, e com a participação da Liniker, eu não quero mais nada da vida. “

“El Día que no me Quieras”
“Essa música é um desejo que eu sempre tive de compor em espanhol, já tinha feito uma brincadeirinha ou outra, até no Climão tem uma vinheta que eu fiz em espanhol, mas eu queria compor uma música inteira. E é a primeira música, na vida, que eu compus no piano. Há uns dois anos, eu sentei no piano do Arthur e veio vindo esses acordes do início. E o Arthur é meu parceiro, então eu disse: ‘amigo, a gente tem que fazer uma música em espanhol’ e ele ‘claro!’. Ele também ama espanhol, fala super bem, inclusive. E nessas idas e vindas de avião, nesse modo avião, e é hilário estar em modo avião porque você não pode conferir se uma palavra é daquele jeito. A gente fala espanhol, mas não FAAAAAALA espanhol, sabe? Então a gente no modo avião, a gente ficava ‘será que isso tá certo?’. A gente arranhava, depois chegava na cidade, conferia no Google e não tinha nada a ver. E aí a gente ria e tudo mais. É uma música xodó, fiquei muito feliz com o resultado dessa música em espanhol. Eu acho que o Brasil é um tão isolado da América do Sul, seja pela língua, seja por questões culturais ou políticas, então acho que cantar em espanhol, me dá uma sensação de hermana, de sulamerica, de latinidade. Já viajei muito pela América do Sul, tive esse privilégio, essa sorte, então é uma canção eu me orgulho muito.”

“Abalos sísmicos”
“Eu quis fazer música com todos os integrantes da banda. Então tem música com o Arthur, sempre teve com ele. Aí dessa vez, eu quis fazer música com todos com o Lourenço, com o Thiago Rebello. E eu olhei para a Natália Carrera, que é a guitarrista e uma das produtoras do discos e a Martha V, que é a tecladista e backing vocal e falei ‘meninas, a gente tem que ter uma música!’. E uma dia, a Nat tava na dela, brincando com a guitarra na passagem de som e eu falei ‘o que é isso, o que é isso?’, com a anteninha ligada e comecei a gravar. E essa loucura toda de não ser cínica, nem ser irônica, de ser uma pessoa que sente muito, eu me abalo muito – chega a ser um pouco… eu fico meio exasperada, às vezes. Chega a ser uma questão na minha terapia, eu me afeto muito. E não pode ser – pode, claro, tudo pode, mas a gente também tem que se proteger, ficar forte. E eu falei ‘Martha, vamo aqui pensar numa loucura sobre alguém que se abala muito e aí faz daqui a letra, Nat, pensa aqui numa parte B, Marta pensa aqui numa parte C’. É uma canção sobre o poder que uma outra pessoa pode ter na sua vida, seja para o bem ou para o mal. Tem pessoas que passam na nossa vida e que dão uma devastada. É uma canção sobre como a gente não pode deixar isso acontecer. E é uma música que eu fiz com as meninas do grupo e eu amo muito muito muito essa canção. Eu me emociono. Eu gravei no estúdio e chorei muito gravando.”

“Salve Poseidon”
“É uma canção que Arthur chegou para mim e falou ‘amiga, eu tô aqui com uma melodia, umas frases, o que você acha?’. E eu falei ‘nossa, que delis, coisa maravilhosa’. E ele falou ‘vamos pensar em várias rimas com ão, com on’ e em algum avião da vida a gente foi brincando, pirando com isso. No meio da música tem um texto que eu falo do meu amor por coincidências, que elas nem existem, na verdade. A coincidência é um momento de conexão, na verdade. Ela não é ‘ahh, que coincidência!!!’. Não acho que seja isso. Acho que seja uma hora de ‘ahhh!’, de estalo, de arrepio, de confirmação. Então é uma música que eu tô achando delis no disco. E no final, eu ainda faço uma pequena homenagem à Fernanda Young. Que eu falo ‘I love you, forever Young’, porque nossa, eu sou muito apaixonada por ela. E é uma música e também uma ode a uma figura marítima misteriosa masculina. Amo Iemanjá, sou de Iemanjá, mas eu tava junto com o Arthur, que também é um ser do mar, a gente brinca muito de divã no mar, a gente sentiu que era o momento de fazer uma homenagem a uma figura mais masculina do mar. E saiu essa grande loucura.”

“Esse Filme que Passou Foi Bom”
“‘Esse filme que passou foi bom’ é uma música que eu fiz com o Lucas Vasconcellos que é meu ex-companheiro e ex-parceiro da banda Letuce. O Lucas é um excelente compositor, então sempre gosto de brincar de compor com ele e, um dia a gente se encontrou num estúdio, meio totalmente ‘redação tema livre’, a gente ainda estava sem saber sobre o que queremos falar. E eu falei ‘Caslu, acho que eu quero falar sobre morte’. Porque essa é uma questão que desde pequena permeia meus pensamentos, já que tudo é muito efêmero. Eu tô aqui, mas de repente eu posso ter um mal súbito, um ataque cardíaco e isso tudo me assusta muito, mas também me dá muita pulsão de viver a vida, à toda e aí o Lucas comprou a ideia. É uma música mórbida, engraçada e alegre – que é o que eu acho que é a vida. A vida é absolutamente mórbida e absolutamente hilária em alguns momentos. É uma canção meio misteriosa também, tem um arranjo meio Radiohead, triste e aí de repente ela vira quase um pagode – um pagode que a gente tenha feito, claro. Então ela ficou uma confusão muito doida, ainda é uma música muito doida para mim, mas eu tô adorando. Porque morrer pode ser passear. E não ter medo, ou ter medo, mas um medo saudável, um medo que te dá um tesão de querer viver mais.”

“Cry Something Awkward”
“Essa é uma vinhetinha, uma besteirinha, uma loucurinha. Uma maluquice da minha cabeça, de uma música que eu fiquei com ela andando, nessas viagens de turnê, no avião, você pensa uma coisa, anota, cria num lugar, cria melodia. É um entreato, um momento meio Frank Sinatra que eu tive, é uma letra muito pessoal, porque penso tudo aquilo. E penso que utilizei da língua inglesa só para ter artifícios de facilidade para dizer aquilo que eu queria, porque dizer aquilo tudo em português acho que ficaria muito… ‘ah’. Mas me utilizei da língua inglesa só para ficar mais ‘Sinatra Feelings’, mas é uma vinhetinha gostosinha, só para tocar seu coração.”

#CliMatias: O que fazer nestes dias de quarentena

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Uma das minhas primeiras decisões de ano novo foi matar o #CliMatias, hashtag que eu mantinha no Instagram como uma espécie de saudação do dia: uma foto do céu e uma frase que remetesse ao clima – seja interior ou exterior – do dia que começava. Matei a seção como parte da minha decisão de abandonar as redes sociais até o fim do ano, sacrificando o sacerdócio diário para me ver livre destas atualizações.

Mas veio a pandemia e com ela a necessidade de entrar em confinamento, uma autoquarentena voluntária para não esperar que as autoridades brasileiras comecem a tomar alguma providência. Aos poucos as pessoas têm se conscientizado que o problema é grave e resolvi criar um programa em vídeo – tanto no IGTV do Instagram quanto num segundo canal do YouTube – para dar dicas do que fazer nestes dias de isolamento social. As dicas vão desde livros, filmes, séries e discos para curtir no tempo livre como dicas para não enlouquecer ou cair em depressão uma vez recluso num mesmo ambiente. O programa é diário e vai ao ar sempre de manhã – e aqui neste mesmo post vou colocando as dicas do dia bem como os links para os itens que indico – além das sugestões dos convidados, que sempre tento trazer.

Assista a todos aqui.

Vida Fodona #628: Em tempo de quarentena

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É sério.

Letrux – “Vai Brotar”
Bruno Schiavo – “Havaianas Déja Vu”
Billie Elliot – “No Time to Die”
Talking Heads – “Life During Wartime”
Gal Costa – “Cultura e Civilização”
Walter Franco – “Partir do Alto / Animal Sentimental”
Pavement – “Gold Soundz”
Lulina – “Cantor Pop dos Sonhos”
Ana Frango Elétrico – “Torturadores”
Spoon – “Rhthm & Soul”
Jupiter Apple – “Exactly”
Ultramagnetic MCs – “Ease Back”
Kaytranada + Kali Uchis – “10%”
Isaac Hayes – “I’ll Never Fall In Love Again”
Pulp – “Dishes”
Massive Attack – “Dissolved Girl”

Letrux ♥ PJ Harvey

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Letícia se entrega ao tocar “The Dancer” sozinha ao piano, numa apresentação no ano passado aqui em São Paulo.

Dica do Giancarlo.

Vida Fodona #624: Pra continuar esse clima na manha

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E pra espantar esse frio bizarro.

Nightmares on Wax – “Morse”
Beta Band – “Squares”
Electrelane – “The Valleys”
Tops – “I Feel Alive”
Bruno Schiavo – “Orestes”
Vovô Bebê – “Saparada”
Coriky – “Clean Kill”
Napalm Death – “White Kross”
Kiko Dinucci – “Rastilho”
Jessy Lanza – “Lick In Heaven”
Thundercat + Steve Lacy + Steve Arrington – “Black Qualls”
Justin Timberlake + SZA- “The Other Side”
Desire – “Bizarre Love Triangle”
Nill – “Jive (Dro Remix)”
Tame Impala – “It Might Be Time”
Letrux – “Cinco Bombas Atômicas”

Vida Fodona #622: Astral tranquilo

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Domingo de sol.

Tame Impala – “Breath Deeper”
La Roux – “Automatic Driver”
Letrux – “Saúde”
Billie Eilish – “All the Good Girls Go to Hell”
Scott Walker – “The Old Man’s Back Again (Dedicated to the Neo-Stalinist Regime)”
Otto – “Soprei”
Kassin + 2 – “Tranquilo”
Jupiter Apple – “Welcome to the Shade”
Stereolab – “Spark Plug”
Chico Science + Nação Zumbi – “O Encontro de Isaac Asimov com Santos Dumont no Céu”
Spoon – “My Little Japanese Cigarette Case”
Holy Ghost – “Wait and See”
Fellini – “Chico Buarque Song”
Memory Tapes – “Green Light”
Céu – “A Nave Vai”
Rihanna – “James Joint”
Cure – “Meathook”
Red Hot Chili Peppers – “Apache Rose Peacock”

Letrux 2020: “O choro é livre – e que bom”

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Letícia aos poucos começa a revelar seu próximo álbum e adiantou para o jornal O Globo o título e a arte da capa: Letrux Aos Prantos é o nome do sucessor do ótimo Em Noite de Climão, que ela apresentou anunciando que “o choro é livre e que bom, pelo menos isso ainda nos é permitido. Sorte de quem chora, como eu”. A pintura que faz parte da capa – e não é a capa em si – foi feita por Maria Flexa a partir de uma foto feita por Victor Jobim: “Coloquei uma composição de Bach que me faz chorar desde criança e ele me fotografou”, explica a cantora carioca, que ainda antecipou participações de Lovefoxxx e Liniker no novo disco, que será lançado no dia 13 de março.

Como pede o clima intenso das faixas (“Tem de tudo, até samba. Um samba meio Twin Peaks, meio David Lynch, mas é um samba”, disse ao jornal), o disco não terá single de apresentação e chega todo de uma vez só.

Atualização (12 de fevereiro): Letícia finalmente revelou a capa de seu novo disco (ointura da Maria Flexa, foto Ana Alexandrino e arte gráfica de Pedro Colombo) e escreveu sobre o conceito por trás dela:

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Desde criança, choro com o concerto para 2 violinos em Ré menor do Bach. Meu pai tinha alguma coletânea de música clássica (mais tarde Thiago Vivas me ensinou que deveria ser coletânea barroca, risos). Eu amava dar play, ouvir tudo deitada na cama, e tinha a hora exata do pranto. Eu sentia o trajeto da lágrima inteiro dentro de mim e tinha o auge momento de botar pra fora. Passei anos sem ouvir, depois lembrei de tal obra magnânima e que alegria ela sempre existir. Quando fui no ateliê da Maria Flexa, pintora que fez o quadro, levei minha caixinha de som e convoquei Bach pra chorar na frente dela e do namorado, Victor Jobim, que me fotografou (analogicamente), chorando. Nunca tinha visto Maria nem Victor na vida. Mas chorei na frente deles. Choro um bocado. Sempre fui llorona. E sempre me foi permitido ser. “Menina não chora”. Isso não rolava. Isso nos era permitido. E eu aproveitei. Choro de tristeza, de raiva, de horror, de gozo, de saudade, de alegria. Choro com vídeos de superação, luto, bichinhos nascendo, bebês aprendendo algo. Choro de gargalhar (the lícia esse choro). Convoquei Ana Alexandrino minha fotógrafa de sempre, caprina, pra me registrar segurando esse quadro da Maria. O Climão teve aquele meu carão na capa. Aos prantos tenho outro rosto, em forma de pintura. Sou antiga, não posso evitar cronos pra mim. Já havia trabalhado com Pedro Colombo fazendo o clipe de Puro Disfarce. Pedro conseguiu reunir elementos dessa fotografia, desse quadro, desse álbum, dessas músicas, da minha água, e elaborar essa belíssima capa do próximo disco. Vestido Ateliê Guto Carvalhoneto, styling Luiz Wachelke.
E lá vou eu ouvir o concerto para 2 violinos em Ré menor. Recomendo.

E ainda linkou o tal concerto: “quem quiser chorar, 4:22 era a hora em que eu não sabia se estava viva”.