Entre um disco e outro

Maria Beraldo encerrou sua temporada no Centro da Terra nesta segunda-feira convidando seus compadres Lello Bezerra e Marcelo Cabral para tocar músicas que ela compôs depois do lançamento de seu primeiro disco solo, Cavala, e entre canções feitas por encomenda para outros artistas e estudos de músicas que ainda estão tomando forma, ela burilou seus rascunhos e mostrou o rumo que seu próximo trabalho pode tomar. Algumas canções estão completas (como “Baleia” que escreveu para o Delta Estácio Blues de Juçara Marçal, completamente desconstruída, logo na abertura do show, e “Truco”, composta para o filme Regra 34, de Julia Murat, e a inédita “Ninfomaníaca”), outras estão sem letra (como uma que fez para uma série que pediram uma música “meio Clube da Esquina”), outras têm apenas um trecho e algumas são exercícios instrumentais. Entre as músicas, Maria foi explicando seus contextos e traçando um possível rumo em que elas podem se encontrar num futuro – álbum – próximo. Foi lindo.

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Maria Beraldo: Manguezal

Prazer enorme receber Maria Beraldo para sua temporada no Centro da Terra, que toma conta do palco do teatro do Sumaré a partir desta segunda-feira até o final de julho. Em Manguezal ela recebe chapas e comparsas em fusões de diferentes ecossistemas – daí o título da temporada, esta vegetação que funciona como palco para o encontro de águas, floras e faunas, que ela se refere como berçário do mar. A cada nova segunda ela recebe diferentes convidados para aproveitar o momento de transição entre seu disco de estreia e o próximo álbum, que vem burilando há tempos. Ela começa convidando a irmã Mariá Portugal para uma noite de improviso nessa primeira apresentação, dia 10, e na semana seguinte recebe a maravilhosa Josyara para um tributo a Cássia Eller, no dia 17. Depois, dia 24, ela envereda pelo pagode ao lado do compadre Rodrigo Campos e encerra a temporada no dia 31, reunindo os chapas Marcelo Cabral e Lello Bezerra para mostrar algumas canções inéditas. As apresentações acontecem sempre às 20h e os ingressos podem ser comprados antecipadamente neste link.

CFest: Balanço final

O C6Fest terminou neste domingo estabelecendo um novo padrão de realizar festivais de música em São Paulo. Conseguiu provar que é possível fazer um bom festival com boa estrutura e curadoria equilibrando-se entre o comercial e o pouco previsível trazendo tanto artistas novos e relevantes quanto nomes consagrados – e, principalmente, dissociar a ideia de festival de música estar atrelada a dia de perrengue, como o que fizeram os festivais realizados em São Paulo na última década. Obviamente a questão do preço extorsivo do ingresso é um ponto central nos poucos contras do evento: não bastasse ser caro pra cacete, só era permitido que se frequentasse um dos três palcos em que se realizavam os shows, algo que é uma irrealidade longe da vida de qualquer fã de música que não nasceu em berço de ouro. Eu mesmo já estava conformado em não ir caso não estivesse credenciado. Mas falo disso abaixo.  

Mergulho no próprio passado

Na primeira das duas terças em que Mestre Nico apresenta-se no Centro da Terra, ele aproveitou para repassar suas mais de três décadas dedicadas à música. Liderando seu quarteto Balanço da Manipueira, composto pelas percussões e vozes de Thalita Gava e Rafaella Nepomuceno e pela voz e sax de Júnior Kaboco, ele recebeu compadres de diferentes gerações, desde velhos parceiros como o violonista Edinho Almeida e os sopros de Gil Duarte quanto novos compadres como o guitarrista Lello Bezerra e Bb Jupteriano, que distorce, em fita de rolo, sons gravados previamente. Este material está sendo depurado para tornar-se o primeiro disco solo de Nico. E terça-feira que vem tem mais…

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Um Brasil aos pedaços

Quando dedicou-se a visitar o repertório clássico – no limite do clichê – da música brasileira reconhecida no exterior em seu Brazliian Songbook, Marcela Lucatelli despedaçou símbolos da MPB como uma forma de confronto estético, iconoclastia que inevitavelmente tem natureza política. Isso muito pelo fato de que o projeto foi gravado com músicos do país em que Marcela reside há anos, a Dinamarca, cuja visão de nossa sonoridade é muito específica (e também no limite do clichê). Mas quando ela arregimentou um timaço de músicos brasileiros para reviver esta premissa no palco do Centro da Terra, nesta segunda-feira, a abordagem foi para um outro patamar. Livre dos clichês que permeiam o álbum – o pianinho bucólico, o violão percussivo com acordes dissonantes, a bateria segurando o beat no aro da caixa -, ela partiu do improviso livre ao lado de quatro jovens mestres nesta arte, todos eles mais do que escolados na música brasileira, mas parte desta. Marcelo Cabral, Rodrigo Campos, Alana Ananias e Lello Bezerra criaram um conjunto abstrato de ruído que em poucos momentos resvalava no que se reconhecia como clássico da música brasileira, deixando a hiperbólica apresentação vocal e cênica de Marcela como fio condutor desta sonoridade. Ela disseca versos e frases musicais com um ataque musical entre a violência e o escárnio, enquanto sua performance cênica, solta naquela teia de ruído tão bem tramada (ainda que ao acaso), relê estas canções entre o encanto e a ironia. À frente daqueles quatro cientistas do som, transmutou seu Songbook em ouro puro.

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Marcela Lucatelli: Brazilian Songbook

Quase chegando no final do mês, recebemos mais uma vez, no Centro da Terra, a cantora mineira Marcela Lucatelli para fazer a primeira apresentação de seu Brazilian Songbook em solo brasileiro. Residente há quase duas décadas na Dinamarca, ela estabeleceu-se como uma referência no canto de improviso livre na Europa e neste trabalho, ela viaja por clássicos da música brasileira, desconstruindo-os à medida em que embaralha as fronteiras entre samba, free jazz, musica pop, ópera, heavy metal e música experimental. Para montar este quebra-cabeças psíquico, ela conta com uma banda formada especialmente para esta ocasião, com Rodrigo Campos no cavaquinho, Lello Bezerra na guitarra, Marcelo Cabral no baixo e Alana Ananias na bateria, o que abre outras tantas dimensões nesta improvável equação. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda neste link.

Kiko Dinucci e um tributo à antiguitarra

Alguém anotou a placa do avião? Na primeira segunda-feira de sua temporada Pocas no Centro da Terra, Kiko Dinucci reuniu-se com Lello Bezerra e Guilherme Held para um encontro de antiguitarras, trabalhando seus instrumentos para muito além dos limites da melodia, da harmonia e do ritmo, explorando espaços sonoros com timbres elétricos quase sempre indomáveis, tudo assistido visualmente pelas intensas tintas de Gina Dinucci. E pensar que isso é só o começo…

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Kiko Dinucci: Pocas

Quem toma conta das segundas-feiras de maio no Centro da Terra é o compadre Kiko Dinucci, que vem com a temporada Pocas experimentar possibilidades que nunca havia cogitado. Na primeira delas, dia 9, ele convida Guilherme Held e Lelo Bezerra para uma noite só com guitarras, com a parte visual a cargo de sua irmã, Gina Dinucci. Na semana que vem seu comparsa é Gustavo Infante, que vai fazer loops analógicos a partir de trechos de violão tocados na hora por Kiko, enquanto Maria Cau Levy cuida das projeções. Na terceira segunda-feira, dia 23, ele tira o dia para cantar samba, sem tocar nada, deixando os instrumentos com Alfredo Castro, Xeina Barros e Henrique Araújo, além das intervenções de Bruno Buarque. E, na última segunda de maio, ele chama o Test e Negravat pra uma noite que promete muito barulho. As apresentações começam pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados aqui.

Os 75 melhores discos de 2019: 23) Lello Bezerra – Desde Até Então

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“Estrangeiro de todo lugar”

Sexta Trabalho Sujo #007: Lello Bezerra

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E pra encerrar o ano da #SextaTrabalhoSujo no Estúdio Bixiga, tenho o maior prazer em receber o guitarrista pernambucano Lello Bezerra, que acaba de lançar seu primeiro disco solo, Desde Até Então, fundindo sua guitarra frenética à bateria quebrada de Serginho Machado, criando fractais elétricos de solos e riffs que se misturam em paisagens sonoras aceleradíssimas (mais informações aqui). Vamos lá?