O novo trailer de Stop Making Sense

E já que vínhamos falando dos Talking Heads, viram o trailer novo que a A24 preparou para o relançamento de Stop Making Sense, o filme que Jonathan Demme fez sobre a banda de Nova York ao vivo? Ainda não tem notícias sobre a vinda do filme para o Brasil, mas ia ser tão bom se pudéssemos ver por aqui…

Assista abaixo:  

Os Talking Heads voltam ao cinema

Não há nenhuma novidade sobre a possibilidade da nova versão do clássico Stop Making Sense – um dos melhores shows já registrados pelo cinema – chegar às telas brasileiras, mas o relançamento do filme que Jonathan Demme fez com os Talking Heads a partir de três shows que o grupo fez no Pantages Theater, em Hollywood, no mês de dezembro de 1983, está engatilhando uma versão deluxe do disco ao vivo. A nova edição, um vinil duplo que será lançado no mês que vem e já está em pré-venda, desenterra duas faixas que não entraram no disco original – “Cities” (ouça-a abaixo) e “Big Business / I Zimbra” – além de trazer um livro com 28 páginas que inclui fotos inéditas e comentários dos quatro integrantes da banda sobre a experiência. O baterista Chris Frantz comenta sobre a alegria de fazer estes shows no encarte: “Estou falando de alegria de verdade, consciente e transcendental. Estou falando sobre o que as pessoas do gospel do sul do país falam em ‘ficar feliz’, que quer dizer ‘ser preenchdio pelo Espírito’. Era o que acontecia com a gente todas as noites e, sentado atrás da bateria, reconhecia que também estava acontecendo com o público. A alegria era visível à minha frente e ao meu redor em todas as noites.” O vocalista David Byrne fala sobre como o disco aumentou o público da banda. “Como acontece com frequ~encia, as canções ganham mais energia quando são tocadas ao vivo e são inspiradas por estarmos em frente ao público. Em muitas formas, as versões são mais animadas que as gravações de estúdio, talvez por isso muita gente nos descobriu por esse disco”.

Ouça a nova faixa, a nova capa do disco e a ordem das músicas abaixo:  

O melhor filme de Demme? Stop Making Sense

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Show dos Talking Heads dirigido pelo recém-falecido Jonathan Demme também redefiniu o conceito de música com imagens – escrevi sobre isso no meu blog no UOL.

Jonathan Demme, cuja morte foi anunciada nesta quarta-feira, era um diretor de trajetória única na história do cinema. Foi cult e pop, célebre e desconhecido, comercial e alternativo, embora não tenha uma filmografia robusta para exibir. É autor de filmes importantes como Filadélfia e O Silêncio dos Inocentes ao mesmo tempo em que flerta com o trivial em comédias aparentemente leves (Totalmente Selvagem, Melvin e Howard e O Casamento de Rachel) ou com o meramente comercial (como o remake desnecessário – mas bem executado – de Sob o Domínio do Mal). Do ponto de vista estritamente cinematográfico, ele é um Ridley Scott menos comercial, um Ron Howard com voz própria, um Spielberg menor. Mas sua importância cresce quando vemos que sua relação com a cultura vai além do cinema e que ele é destes raros cineastas que entende tanto de cinema quanto de música.

Demme dirigiu videoclipes no início de sua carreira, como o de “The Perfect Kiss” do New Order, o da versão de “I Got You Babe” que o UB40 fez com a Chrissie Hynde nos anos 80 e o de “Streets of Philadelphia” de Bruce Springsteen, que trouxe para a trilha sonora de seu filme sobre Aids, o primeiro a tratar do assunto. Sua relação com a música seguiu nos anos seguintes, quando dirigiu uma trilogia de documentários com Neil Young (Neil Young: Heart of Gold, Neil Young Trunk Show e Neil Young Journeys), outro sobre o músico inglês Robyn Hitchcock e acompanhando a turnê do disco mais recente de Justin Timberlake, em seu último filme, Justin Timberlake + the Tennessee Kids, do ano passado.

E, claro, sua grande obra, Stop Making Sense, que também é o melhor registro em filme de uma banda ao vivo, gravado com os Talking Heads em 1984. É por O Silêncio dos Inocentes que Demme sempre será lembrado, principalmente por levar o grand slam do cinema comercial norte-americano ao ser dos raros filmes que ganharam os cinco prêmios principais do Oscar (melhor filme, melhor ator, melhor atriz, melhor diretor e melhor roteiro). A sombra da influência do filme que conta a história de um canibal elegante paira sobre nossa cultura pop até hoje – desde a sobriedade firme dos agentes do FBI depois da Clarice Starling de Jodie Foster até a violência gratuita e gráfica que permeia as principais obras norte-americanas deste século.

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Mas Stop Making Sense, o filme em que Demme filma um show dos Talking Heads em seu auge, é mais do que isso: é a obra-prima de Demme. Ele está sim contando uma história, a história não-verbal que é um show de rock. Vai desenvolvendo um crescendo literal ao colocar músico a músico no palco ao mesmo tempo em que mostra um show sendo montado no palco, com os instrumentos entrando pouco a pouco enquanto o palco também vai sendo montado. É como se o show fosse também o making of do show.

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Ele também encontra em David Byrne o ator perfeito para seus delírios visuais. O gestual de Byrne e seu olhar perdido, sua dança robótica e sua interação com o público (“alguém tem alguma pergunta?”, diz após o súbito fim de uma música) acompanhada de um groove pós-punk pesado, em que a edição e a forma como os músicos são mostrados acompanha o ritmo de perto. O ritmo do show é incessante e tanto a banda quanto seus convidados (o tecladista do Parliament-Funkadelic Bernie Worrell, o guitarrista dos Brothers Johnson Alex Weir, o percussionista Steve Scales e as vocalistas Lynn Mabry e Ednah Holt) não param de dançar um minuto. Sem contar os elementos de palco inventados pelo diretor junto com a banda, como os telões monocromáticos, o hoje clássico enorme paletó de David Byrne ou a inclusão de um abajur como objeto cênico – e parceiro de dança.

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Stop Making Sense é como o show reage a era do videoclipe, novidade comercial do mundo da música no início dos anos 80, mas também reposiciona o espectador de volta à plateia. Antes dele, filmes de shows clássicos – como o Last Waltz que Scorsese dirigiu para a The Band ou The Song Remains the Same do Led Zeppelin – colocam o espectador bem próximo da banda, criando uma cumplicidade inexistente em shows daquela proporção. São filmes que mostram o público como a banda o vê, uma situação que, de verdade, a audiência nunca irá passar. Demme posiciona a maioria de suas câmeras no público e assistimos ao show como se estivéssemos na plateia. E assim ele isola uma sensação que a maioria dos diretores de shows tenta recriar até hoje: a que realmente estamos assistindo a um show como se estivéssemos lá. Poucos diretores chegaram perto disso (Scorsese mesmo é um deles, principalmente no Shine a Light que filmou com os Stones), mas nenhum conseguiu de forma tão empolgante quando o falecido Johnathan Demme.

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Veja com seus próprios olhos:

Jonathan Demme (1943-2017)

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Mais do que um grande diretor, Jonathan Demme, que morreu nesta quarta, também foi um dos grandes diretores de vídeos musicais – em especial de um favorito pessoal, o impressionante Stop Making Sense, dos Talking Heads, que pode ser assistido na íntegra neste vídeo abaixo:

Grande perda.

Todo o show: Stop Making Sense, dos Talking Heads

Dezembro de 1983: Talking Heads no auge, David Byrne endiabrado, Jonathan Demme afiadíssimo, Hollywood – Stop Making Sense é um dos melhores filmes de música já feitos, ao ser encontrado na íntegra por acaso ao navegar pelo YouTube, pediu para ser revisto. O vídeo e o setlist seguem abaixo:

 

A jornada de Neil Young e o disco com o Crazy Horse

E o terceiro filme de Jonathan Demme com Neil Young – Journeys – finalmente deve ser lançado. O filme foi finalizado no ano passado e estreou no Festival de Toronto do ano passado, quando foi feita a entrevista abaixo com os dois:

É a terceira vez que o diretor do melhor show já filmado (Stop Making Sense, com os Talking Heads) aborda perfomances ao vivo do mestre canadense em menos de uma década – os outros filmes são Heart Of Gold de 2006 e Neil Young Trunk Show de 2009. Journeys registra a apresentação do velho Young em um local já clássico em sua história, o Massey Hall, em Toronto.

Foi no Massey Hall, num show de 1971 que virou disco décadas mais tarde, que ele apresentou, pela primeira vez, “Heart of Gold”, originalmente concebida como a parte final de “A Man Needs a Maid”. É um dos momentos mais bonitos de sua carreira:

E não é só essa a única novidade de Neil Young – Americana, o primeiro disco com seus compadres do Crazy Horse em quase dez anos, já está pronto para ser lançado e já pode ser ouvido na íntegra, olha só:

E além disso um outro disco com o Crazy Horse já estaria sendo gravado

OccupyWallStreet, por Jonathan Demme

O diretor de O Silêncio dos Inocentes e Stop Making Sense passou pelo Zuccotti Park e registrou o que viu:

E disse que seu curta é “um infomercial para o OccupyWallStreet, uma resposta dos cidadãos a algo importante. Não tenho agenda, mas sou entusiasta e apoio isso de forma tão passional, que essa é a minha forma de contribuir“. Via Flavorwire, dica do Ramon.