Impressão digital #0062: DC Comics digital

Minha coluna no Caderno 2 desse domingo fala sobre o fato da DC ter dado um boot em sua cronologia – pra sobreviver na era digital. Será?

Dilema digital
Quadrinhos no século eletrônico

A encruzilhada digital é implacável. Indústrias estabelecidas no século 20 graças à cultura de massas penam, no novo século, para se adaptar a uma realidade que celebra a cultura do nicho. Mais que isso, numa cultura digital, em que tudo pode ser copiado e reproduzido sem que o autor tenha controle da distribuição, fica cada vez mais complicado gerir um negócio que lide com a produção de conteúdo feita para milhões de pessoas.

A indústria do disco sentiu isso na pele ao servir de boi de piranha digital quando assumiu o papel de primeiro antagonista da web e processou quem baixava MP3 sem pagar. Hollywood sente dolorosamente essa mudança, quando o download de filmes via torrent a obrigou a apostar em superproduções e em novas tecnologias, como as salas Imax e 3D. Emissoras de TV do mundo inteiro veem suas programações escoarem para fora da grade rumo ao YouTube.

Música, cinema e TV estão sempre nas notícias quando se fala nesse assunto, mas uma indústria que é a cara do século 20 e está quase sempre à margem dessa discussão vem penando para retomar sua importância na era digital: os quadrinhos.

E quando se fala em indústria dos quadrinhos, dois nomes se destacam: Marvel e DC, editoras que criaram o conceito de super-herói moderno. A primeira tem se mexido drasticamente para continuar relevante nos dias de hoje, principalmente longe das revistas. Seu principal feito foi se transformar em estúdio de cinema para levar seus personagens para um público que não lê páginas em papel. A Marvel também pulou no iPad na primeira hora, criando um dos aplicativos mais festejados logo que o tablet apareceu. Mas a conta ainda não fechou – e a Marvel continua em busca de alternativas para fazer suas histórias em quadrinhos sobreviverem no século 21.

Sua principal rival, a DC, começou a se mexer de verdade na semana passada, quando anunciou que iria zerar sua linha de super-heróis e recomeçar a contagem de suas revistas, todas com um novo número 1. Não é a primeira vez que a editora que inventou o Super-Homem e o Batman tenta isso. Nos anos 80, conseguiu reiniciar seu universo com a saga Crise nas Infinitas Terras, em que permitiu que seus heróis pudessem fazer sentido no fim do século passado.

O novo reinício mira no digital. Além dos novos números 1, a editora deverá publicar, digitalmente, as mesmas histórias exatamente no dia em que elas chegam às bancas. O preço deverá ser mais barato que o das versões impressas, pois a editora quer que seu novo público volte para o papel uma vez que sentir o gosto dos novos títulos online.

Mas isso pode dar bem errado, já que, assim, eles podem matar um de seus principais redutos, que são as lojas de quadrinho – como a música online fez com as tradicionais lojas de disco. A estratégia trará novos leitores se der certo. Mas se der errado, pode afugentar até os velhos. Ninguém disse que seria fácil.

Impressão digital #0061: 20 minutos de Super 8, de J.J. Abrams

Minha coluna no Caderno 2 de domingo foi sobre os 20 minutos de Super 8 que assisti na semana passada, mas depois eu esmiuço isso melhor por aqui.

Super 8 vem aí
J.J. Abrams ataca mais uma vez

J.J. Abrams ataca de novo. Nem bem encerrou em grande estilo a terceira temporada de um dos seriados que produz – Fringe – e anunciou o lançamento de nova série no ano que vem – Alcatraz, de novo em uma ilha –, o produtor de Lost começa a concentrar esforços em seu grande projeto de 2011: Super 8. É seu terceiro filme na direção e, mais do que isso, sua primeira parceria com um de seus ídolos, Steven Spielberg, que produz o filme.

Quando lançou o primeiro trailer no ano passado, em um minuto e meio de imagens, fãs de Abrams e Spielberg conseguiram achar pistas que uniam tanto as produções de J.J. quanto as de Steven.

No mês passado, alguns veículos no exterior receberam caixinhas da Kodak com rolos de filmes que continham apenas alguns segundos de um misterioso comunicado confidencial do governo norte-americano. Fazia parte do início da estratégia de divulgação do filme. O curta tinha sido picotado em pedaços minúsculos e espalhado para diferentes lugares, na esperança de que os fãs reunissem esses trechos e chegassem à mensagem final.

E, durante o festival de Cannes deste ano, foram exibidos 20 minutos de Super 8, trecho que foi mostrado para a imprensa brasileira na semana passada – e que tive a oportunidade de assistir.

Em duas longas cenas, vemos uma turma de adolescentes brincando de fazer filme minutos antes de assistirmos ao mais espetacular acidente que já foi registrado no cinema. Se você é desses que reclama do alto barulho dos filmes atuais, essa cena não foi feita para você. Explosões grandiosas e pedaços de trem se retorcendo no ar garantem uma visão de cair o queixo de qualquer um que goste de filme de ação ou de catástrofe.

A outra cena mostra o bicho que fugiu do trem (que viria da mítica Área 51, onde teoricamente o governo dos EUA mantém informações sobre vida alienígena) atacando uma loja de conveniência em um posto de gasolina. Em dado momento, a câmera filma o reflexo do monstro no chão, que lembra o protagonista de Cloverfield, outro filme de J.J. Será que ele vai amarrar todas as pontas de sua obra?

Impressão digital #0060: Crítica musical e jornalismo cultural

Minha coluna no Caderno 2 desse domingo foi sobre o debate que participei na quinta passada.

Mudança inevitável
Crítica musical e internet

Na quinta-feira da semana passada, participei do 3.º Congresso Internacional de Jornalismo Cultural, evento que ocorreu no Sesc Vila Mariana e trouxe nomes como o cineasta alemão Werner Herzog, o filósofo esloveno Slavoj Zizek, a ensaísta norte-americana Camille Paglia e o escritor cubano Pedro Juan Gutiérrez. Estive em uma mesa cujo tema era A Produção Musical Contemporânea e a Crítica Especializada e, comigo, participavam os jornalistas Pablo Miyazawa, editor da versão brasileira da revista Rolling Stone, e Marcus Preto, do jornal Folha de S. Paulo, e o músico Zeca Baleiro.

Muitos podem estranhar a presença de um editor de um caderno de tecnologia – que é o que faço, caso alguém não saiba (edito o Link, publicado todas as segundas-feiras neste jornal) – em uma mesa que se propunha a discutir produção cultural e crítica musical, mas bastou o papo começar para perceber que não dá para dissociar o que está acontecendo tanto em termos de criação quanto de avaliação – artistas e críticos estão sendo igualmente afetados pelo impacto que as mídias digitais (não só a internet, mas principalmente ela) vêm causando em suas atividades.

Pablo falou da dificuldade em falar de lançamentos de discos numa época em que estes aparecem primeiro na internet e depois nas lojas – antes, até mesmo, de chegar aos jornalistas, que, em outros tempos, recebiam os álbuns previamente para que pudessem publicar suas matérias simultaneamente ao lançamento comercial. Zeca Baleiro concordou e disse que a melhor crítica musical feita no Brasil atualmente – e a pior – vem acontecendo longe dos jornais e sim em blogs.

Citei que tive a felicidade – ou melhor, a sorte – de cobrir música na época em que o Napster apareceu, em 1999. O primeiro programa de trocas de MP3 revolucionou a forma como consumimos música até hoje e em menos de um ano depois de seu lançamento, seus criadores já sentavam em bancos de tribunais sendo acusados de ter facilitado a pirataria.

E ao mesmo tempo em que os autores do software eram processados, o Radiohead lançava seu quarto CD, que vinha sendo aguardado devido ao sucesso de seu antecessor, OK Computer. Só que, pela primeira vez na história, aconteceu um fenômeno novo: o disco apareceu na internet meses antes de ter sido lançado comercialmente. Sem refletir, a indústria cravou que o disco seria um fracasso de vendas, pois muitos dos fãs que comprariam o disco já o teriam em casa, em seus computadores, de graça. Para piorar, Kid A, o disco que havia vazado, era experimental e hermético. Mas a indústria errou – e o álbum foi um dos mais vendidos daquele ano, mesmo tendo aparecido gratuitamente antes de ser lançado.

As mudanças que vêm sendo impostas pela digitalização quase sempre são recebidas com ceticismo ou temor, sem que se pense em como os ouvintes – agentes culturais sem nome, mas tão importantes quanto a indústria, a crítica e o artista – vão recebê-las. Por isso, me sinto felizardo por ter começado a cobrir tecnologia a partir de mudanças que ocorreram na área cultural. E, assim, posso participar de uma mesa sobre crítica musical, mesmo que não exerça essa função.

Impressão digital #0059: Churrascão da gente diferenciada

Minha coluna de ontem no Caderno 2 foi sobre o tal churrascão diferenciado.

Churrascão diferenciado
Política, internet e Brasil

Começou com uma declaração infeliz. Em uma matéria sobre a mudança de uma futura estação do metrô em Higienópolis, na terça passada, 11, uma moradora disse apoiar a transferência da obra para longe do local imaginado originalmente (no coração do bairro de classe alta de São Paulo), pois assim livraria o bairro do que ela chamou de “gente diferenciada” – um eufemismo bisonho para falar que o bairro passaria a ser frequentado por pessoas de baixo poder aquisitivo. Pobres que, com o metrô, “invadiriam” um bairro rico.

A expressão “gente diferenciada” foi eleita como símbolo de um protesto contra a mudança da estação, que, como diversos vídeos engraçadinhos, links bizarros e polêmicas efêmeras, agitou a internet brasileira.

Em questão de horas, o assunto já estava causando discussões acaloradas no Facebook. Até que um dos participantes da maior rede social do mundo resolveu fazer uma gracinha e abriu um evento no site: o Churrascão da Gente Diferenciada. O Facebook permite que você abra páginas para a realização de eventos, assim é possível convidar os contatos virtuais através do site, ter alguma estimativa sobre quantas pessoas vão e encontrar, posteriormente, gente que esteve presente. Mas como nem tudo é sério no mundo das redes sociais no Brasil, uma das modinhas no Feice brasileiro é a criação de eventos fictícios, que servem apenas para brincar com determinadas notícias ou provocar algumas pessoas.

E assim nasceu o Churrascão da Gente Diferenciada, uma piada que programava para a tarde de ontem um enorme encontro farofeiro no coração do bairro grã-fino. Mas a brincadeira acertou em cheio – em pouco mais de 24 horas depois da criação do evento, ele já contava com quase 50 mil participantes. Claro que, sendo um evento fictício, não era preciso muita dedução para saber que os 50 mil inscritos não iriam de verdade. Mas muita gente passou a cogitar uma ação pública de verdade, transformando a brincadeira num protesto que, a caráter, teria um cardápio bem, como poderia dizer…, diferenciado.

E ao perceber que a piada havia tomado um rumo inesperado, os organizadores do “evento”, resolveram ser mais práticos e o transformaram em um ato de protesto com direito a arrecadação de agasalhos e alimentos e a participação de ONGs para a distribuição do que for reunido. O ato seria realizado às 14 h de ontem, na Praça Vilaboim, depois do fechamento desta coluna (na sexta), e pode sequer ter sido realizado. Ou pode ter virado uma festa. Ou uma confusão.

Mas, independentemente do que possa ter ocorrido, uma coisa é fato: aos poucos, e graças à internet, o brasileiro está aprendendo a protestar, se organizar, reivindicar seus direitos. Agora é só esperar a hora em que isso vai começar a funcionar sem que seja preciso uma piada.

Impressão digital #0058: Fringe

E a minha coluna deste domingo no Caderno 2 foi sobre o final da terceira temporada de Fringe – ou melhor, sobre a importância da ficção científica.

Realidades paralelas
Fringe e a ficção científica

Não tenho como falar do final da terceira temporada de Fringe pois esta coluna foi escrita horas antes da exibição de seu último episódio, The Day We Died, que foi ao ar na noite de sexta-feira, nos Estados Unidos. Também não vou entrar em detalhes que possam antecipar alguma revelação para alguém que está começando a assistir à série agora ou que a acompanha através da retransmissão feita no Brasil pelo canal pago Warner. Vou falar sobre Fringe, mas sem entregar o que está acontecendo na série agora. Pois o assunto de hoje não é o roteiro complexo que atordoa até quem cogita o impossível e o inusitado (temas, aliás, recorrentes na história).

Fringe é o seriado mais importante na TV hoje por explorar as fronteiras mais mirabolantes da ciência e da ficção científica. Logo na abertura somos bombardeados por uma nuvem de tags que apresentam termos considerados impossíveis pela ciência tradicional: teletransporte, precognição, psicocinese, clarividência, percepção extrassensorial, projeção astral, criogenia, mutação, universos paralelos. O termo “fringe” indica limite e quando se refere à ciência fala especificamente daquela que é ridicularizada ou desprezada pelo cânone tradicional.

Na série de J.J. Abrams, o mesmo criador de Lost, acompanhamos o cientista Walter Bishop (interpretado magistralmente por John Noble), que foi internado no meio dos anos 80 em uma instituição psiquiátrica e solto em nosso presente por ser a única pessoa que pode saber lidar com fenômenos estranhos que começaram a acontecer sem motivo aparente.

Acontece que alguns episódios se passam nos anos 80, e a abertura do seriado é magistralmente recriada como se ele fosse exibido naquela época. E os termos que surgem na tela são bem mais familiares a nós: computação pessoal, nanotecnologia, clonagem, cirurgia a laser, engenharia genética. Termos que poderiam ser encarados na época como ficção científica, mas que hoje são apenas ciência.

Eis a função do gênero: apontar os rumos para onde a ciência da vida real pode seguir. Não duvide se, em alguns anos, os termos da abertura de Fringe dos anos 10 se tornarem tão comuns quanto os dos episódios que se passam nos anos 80.

Impressão digital #0057: O DJ e as redes sociais

A minha coluna no Caderno 2 foi sobre o debate sobre música eletrônica e redes sociais que mediei no YouPix, semana passada.

O DJ e a internet
Redes sociais e vida noturna

No dia 2 de abril, a colunista do C2+Música Claudia Assef publicou o artigo A Música Eletrônica Cresceu Demais?, em que comentava que os hábitos noturnos de São Paulo haviam mudado e como a noite paulistana havia deixado de se importar com música. Conversando com Facundo Guerra, empresário da noite e dono de casas como o Lions e o Vegas, ela ouviu que “os clubes já não são mais templos de música. São extensões das redes sociais, ponto de encontro. O cara vai na boate pra encontrar aquela menina que ele cutucou no Facebook. A música virou trilha de fundo”. E com as redes sociais, o artigo correu sozinho pela internet, gerando comentários acalorados e discussões enfurecidas.

Foi o suficiente para que a publicitária Lalai Luna, que também produz festas, resolvesse entrar na discussão, incentivando-a. Lalai estava na curadoria de uma das áreas do festival YouPix, que cresce ano após ano e que pode ter fôlego para disputar com a Campus Party o título de principal evento de cultura digital do País. E resolveu convidar algumas pessoas para continuar a discussão iniciada nas páginas do caderno. Além da Claudia e de Facundo, Lalai também participou da mesa e chamou a blogueira e produtora de festas Flávia Durante, o produtor e publicitário Bruno Tozzini e o jornalista e DJ Camilo Rocha e este nada modesto missivista para mediar a mesa. O título da discussão era propositalmente polêmico – As redes sociais estão matando a música eletrônica? –, mas o debate fugiu de rusgas fáceis e a discussão chegou a alguns pontos interessantes, que resumo aqui.

Sim – a noite virou uma extensão das redes sociais. As pessoas estão realmente mais interessadas em “reencontrar” pessoalmente os amigos com quem passaram o dia conversando, seja no Twitter, via Gtalk, no Facebook ou pelo MSN. E não é que as pessoas deixaram de se interessar por música, mas é que elas querem ouvir músicas que já conhecem, daí um fenômeno recente – de uns dez anos para cá – do frequentador que pede música para o DJ, algo considerado profano nos tempos em que o DJ era o soberano da noite. Talvez isso ocorra porque as pessoas estão ouvindo menos rádio e encontram, na noite, uma alternativa à zona de conforto que era o rádio em seus dias de glória.

Acontece que o DJ está perdendo a importância vertical que tinha sobre a pista – algo que afetou qualquer área que tenha sido invadida pela internet. Do mesmo jeito que as indústrias da música, do cinema, dos games, das notícias, entre outras, a cultura noturna também foi afetada pela horizontalização imposta pela rede. Agora é hora de aprender a lidar com isso para seguir a história.

Impressão digital #0056: Aplicativos

E a minha coluna de ontem no 2 foi sobre aplicativos, antecipando o especial que fizemos nesta segunda-feira no Link…

Outros programas
Vivemos a era dos aplicativos

Houve um tempo em que dizia-se que o celular não era só um telefone móvel, mas também um dispositivo portátil de acesso à internet. Esse tempo já era. Estamos vivendo uma fase de transição que culmina com a extinção do computador pessoal, mas que começou justamente com a possibilidade de conectar um aparelho portátil à internet, inaugurado para as massas quando Steve Jobs apresentou o iPhone para o mundo, em janeiro de 2007.

O clichê que chamava o aparelho de “supertelefone da Apple” levava a crer que a revolução acontecia no hardware do celular, enquanto na verdade a grande novidade era seu sistema operacional, que funcionava online. Assim, seus programas ofereciam muito mais do que se fossem apenas instalados no próprio aparelho. Online, esses programinhas – chamados aplicativos – deixavam de fazer tarefas simples para ganhar funções impensáveis até mesmo para tradicionais programas de computador.

Fácil entender o porquê. Uma vez móvel, o aparelho ganhava qualidades impossíveis de serem aproveitadas num computador de mesa. Para começar, a mobilidade do aparelho permitia usar programas em que sua localização – e, portanto, de quem o usa – pudesse ter alguma utilidade. O mesmo pode ser dito aos sensores de movimento, que fazem o celular perceber se, por exemplo, você está o segurando com a tela na vertical ou horizontal. Una isso à câmera que filma e fotografa, microfone, sensores de luminosidade, a tela sensível ao toque e o fato de caber no bolso e, voilà, os programas de celular são muito melhores que seus companheiros dos velhos PCs.

Vivemos uma era em que o celular não é mais só um aparelho para fazer ligações ou conectar-se à internet. Com programas específicos, ele se metamorfoseia em todo tipo de ferramenta. Há aplicativos para achar o carro no estacionamento, que traçam o percurso que você precisa percorrer para chegar a algum lugar, que diz quais constelações estão acima de sua cabeça, que convertem medidas e moedas, que permitem edição de fotos e vídeos, entre um sem-número de opções.

A chegada dos tablets, que também usam esses aplicativos, e a popularização dos smartphones (celulares que acessam a rede) tornam esses programinhas cada vez mais onipresentes. E para quem quer saber por onde começar e quais os mais úteis e fúteis (afinal, lazer também está na agenda do celular móvel), basta ler a edição desta segunda do Link, o caderno de tecnologia e cultura digital do Estadão, que traz um guia para quem quer entrar nessa nova realidade móvel.

Impressão digital #0055: Rir na internet

Minha coluna de ontem no Caderno 2 foi sobre formas de rir por escrito, em tempos digitais.

“Kkkk”, “rs” ou “AHAHAH”?
Como é que você ri na internet?

Como você ri na internet? A pergunta parece não ter sentido se pensarmos na pessoa que está utilizando a rede sendo vista do lado de fora. Mas, uma vez online, o sorriso, o riso e a gargalhada pouco têm de biológico e são traduzidos em versões por escrito – e, não custa lembrar que, mesmo com vídeo, áudio, animações e links, a internet ainda é um meio primordialmente escrito. Assim, em e-mails, bate-papos por MSN, comentários em blogs, redes sociais e onde mais a conversa por escrito possa ser travada informalmente, a informação que avisa que o interlocutor está rindo ou brincando é sempre uma palavra, um emoticon ou uma sigla.

No fim do mês passado, o tradicional dicionário britânico Oxford incluiu algumas dessas siglas em seu léxico. Termos como “LOL” (acrônimo em inglês para “laughing out loud”, que quer dizer “gargalhando”), “BFF” (“melhores amigos para sempre”), “OMG” (“Oh meu Deus!”) e IMHO ( “na minha humilde opinião”) já faziam parte do vocabulário inglês até mesmo antes de a internet existir, mas foram popularizados, consagrados e oficializados naquele idioma graças à sua onipresença no diálogo por escrito.

(Cabe um parêntese aqui: o fato de o texto por escrito não permitir inflexões emocionais é um dos principais fatores do uso desse tipo de recurso e, portanto, de sua popularização. É muito fácil confundir o que está sendo escrito por alguém do outro lado da tela. Sutilezas podem passar despercebidas se vierem escritas exatamente como se fala. Um simples emoticon – aquela carinha feita com dois pontos e um parêntese, por exemplo – já agiliza bastante o lado de quem lê.)

Mas em português, ou melhor dizendo, no Brasil, essas siglas não são tão comuns. Há até quem ria escrevendo “LOL” no fim da frase. Mas eles são poucos e, em geral, vêm de gente que é bilíngue ou tem hábitos digitais mais frequentes que a maioria das pessoas.

E é aí que volto à pergunta inicial do texto: como você ri na internet? Eu rio “AHAHA”, mas há quem ria “KKKK” ou usando apenas uma abreviatura pálida para o termo “risos” (“rs”). E essas palavras não entrarão para o Aurélio ou para o Houaiss tão cedo, como já sabemos da resistência dos linguistas da língua portuguesa a esse tipo de “invencionice”.

E há quem se comunique por escrito apenas usando esse tipo de linguagem. Uma das formas mais comuns de texto escrito na internet brasileira é tida como assassinato do idioma para os puristas. Batizado de “tiopês”, esse português mal escrito surgiu de erros de digitação comuns e da agilidade exigida pela conversa por escrito – o nome veio do excesso de vezes que a palavra “tipo” é escrita e, portanto, mal digitada (virando “tiop”). Consagrada por novos humoristas como Misto Eleazar e Cersibon, esse português tosco não é utilizado por gente que não sabe escrever – mas sim como código territorial, idioma próprio, para afugentar quem é de fora, funcionando como uma enorme piada interna. Como as formas de rir na internet também o são.

Impressão digital #0054: Chillwave

E minha coluna no 2 de ontem foi sobre música.

O som de 2011
Strokes? Melhor ir atrás do chillwave

O excesso de expectativa a respeito do novo disco dos Strokes só foi superado pelo excesso de frustração. Pudera: seu novo disco, Angles, apenas repete a velha fórmula de seus primeiros singles, já com 10 anos de idade, de requentar riffs pós-punk para uma geração acostumada a ouvir rock na pista de dança. Acostumada, diga-se, pelos próprios Strokes e pela geração que surgiu em sua esteira – nomes como White Stripes, Interpol, Rapture e outros grupos inspirados em bandas dos anos 80, como Joy Division, Cure e Television.

No início do século, aquele som fazia sentido. O rock havia se transformado num arremedo pasteurizado e corporativo do rock alternativo apresentado ao mundo pelo Nirvana. Era uma época em que a dance music e a música eletrônica haviam conseguido se firmar no mercado e que o hip hop dominava. Britney Spears estava começando e o N’Sync ainda existia. Guitarras faziam sentido naquela época.

Dez anos depois, não mais. Mas a geração que tinha 20 e poucos anos quando os Strokes surgiram não liga. E espera o novo disco da banda como se eles pudessem se reinventar ou, pior, recuperar o brilho de seus primeiros dias. Esqueça. O rock dos Strokes em 2011 faz tanto sentido quanto o rock corporativo de bandas como Coldplay, Muse e Travis – o rock que o mundo ouvia quando eles apareceram.

E o que faz sentido em 2011? Não há uma só resposta, mas, na minha opinião, nenhum tipo de música pop parece fazer mais sentido neste ano uma cena chamada… chillwave.

Embora seja rejeitado por seus principais nomes, o rótulo chillwave caracteriza-se por unir duas qualidades: uma é etária, a outra, tecnológica. A primeira diz respeito à idade de seus protagonistas. Jovens que nasceram nos anos 80, ouvindo dance music rasteira, de instrumentos sintéticos e texturas de plástico. Cresceram, gostando ou não, ouvindo esse tipo de som. E ao começar a compor seus trabalhos, recorreram à tal palheta de timbres para compor músicas, mas acabaram optando por outra abordagem. Em vez da dance music farofa, aquela sonoridade agora dava espaço para construções mais etéreas e líricas, quase zen. E, em vez de serem produzidas em grupo durante ensaios, esses artistas – quase sempre bandas de um homem só – usavam a solidão do quarto e o computador para compor.

Nomes como Memory Tapes, Ariel Pink e Neon Indian aos poucos começam a sair da obscuridade dos blogs de MP3 e ganhar um público maior. Tanto que o segundo disco de um desses artistas, Underneath the Pine do Toro y Moi, está sendo lançado no Brasil. E outro, Washed Out, teve seu melhor single (I Feel It All Around) transformado em abertura de seriado neste ano (o ótimo Portlandia). É um início tímido, mas é bem mais interessante do que tentar reviver os dias em que os Strokes importavam.

Impressão digital #0053: Curtir

Minha coluna no Caderno 2 essa semana foi sobre o “Curtir” do Google.

A guerra dos botões
Google copia “Curtir” do Facebook

O início de 2011 tem sido tenso para o Google. Nada que abale sua moral – atualmente. Mas uma série de acontecimentos mexeram com o site mais conhecido do mundo e não há dúvidas sobre o motivo dessas mudanças – chama-se Facebook. A rede social de Mark Zuckerberg não é apenas um Orkut global – mais do que ambiente digital de relacionamento pessoal, o “Feice” (como os brasileiros chamam o site) se tornou uma espécie de território seguro que abriga toda a internet.

As mudanças no Google começaram em fevereiro, quando seu CEO, Eric Schimdt, anunciou que deixaria o cargo em abril, ficando a vaga para Larry Page, um dos fundadores do site. No mesmo mês, o Google também se viu obrigado a mudar seu algoritmo de buscas, pois alguns sites conseguiam entender como trapacear o ranking de páginas oferecido a cada pesquisa, subindo degraus e figurando entre os primeiros resultados.
Na semana passada, o site apresentou mais uma novidade para melhorar suas buscas, um botão chamado “+1”. Após fazer uma busca sobre qualquer assunto e descobrir entre os primeiros resultados obtidos qual é o link que melhor se encaixa à pesquisa, basta clicar o “+1” para mostrar que o link é confiável e que alguém o recomendou.

Familiar? Demais. O botão “+1” é idêntico ao “Curtir” do Facebook, botãozinho mágico que ajudou o Feice a crescer ainda mais no segundo semestre de 2010. Mas por que o Google está copiando o Facebook?

A página inicial do Google pergunta para quem o visita o que ele quer da rede. Isso fazia sentido na virada do século. Hoje em dia, com a tonelada de informações que recebemos, não. Não queremos descobrir coisas novas. Nos anos 10 do século 21, queremos que nos digam o que vale a pena. Eis a sacada do Facebook, que, em vez de perguntar o que quer, oferece dicas de amigos. O Google tenta correr atrás, mas será que o “+ 1” pega?