Marcelo D2, BNegão e Black Alien juntos em 2010

Infelizmente foi preciso que o Speed morresse para que os três voltassem ao mesmo palco, na madrugada da última sexta, com o Afrika Bambaataa nas picapes do Circo Voador. Mas isso só aumenta a expectativa em relação à volta do Planet Hemp. Vi lá no Cumbuca.

O ano do Emicida

E não dá pra falar em música brasileira atual sem citar o Emicida. Leandro Roque de Oliveira já não é novidade faz tempo, mas só consegui ver um show do cara no mês passado, dentro da noite que o Rômulo e as meninas da Alavanca tão fazendo ali no CB, nas quintas-feiras. Venho acompanhando a ascensão do cara há um tempinho (até já tinha pautado a Ana para fazer um Vida Digital com ele) e é interessante perceber como ele é a síntese da mudança de ares que aconteceu na década passada com o hip hop brasileiro, ao mesmo tempo em que também é um reflexo do que também aconteceu com a MPB.

No lugar da marra e da cara de mau dos Racionais MCs e seus contemporâneos gangsta, surge um rapper quase sambista, quase malandro, quase manhoso, cantando sobre pobreza, miséria e violência sem separá-las da rotina, da felicidade e da família. Sem o pesar arrastado de beats de funk, ele prefere ancorar-se no samba e resume uma evolução que aconteceu no rap nacional. E mais especificamente no que diz respeito ao MC – e é possível ouvir enfileirados na voz de Leandro nomes tão diferentes quanto Sabotage, Marcelo D2, De Leve, Max B.O., Kamau, Marechal, Rappin’ Hood e todos aqueles que orbitaram entre o Instituto e o Quinto Andar, a Trama e o festival Indie Hip Hop, entre mixtapes e MP3s.

Ao mesmo tempo é estúpido mantê-lo apenas sob o rótulo do hip hop. Suas referências não são tão universais quanto as de seus compadres do microfone e das picapes – ele prefere samplear referências brasileiras e citar Cartola, enchentes em São Paulo e a novela das oito em vez de repetir a mesma ladainha de gangues e guerra urbana do rap do século passado. Como aconteceu antes com Sabotage, ele regula o equilíbrio entre o sambista, o rapper e o cronista com exatidão, assumindo o papel de trovador que nenhum outro cantor ou músico brasileiro atual – presos demais às egotrips, a conceitos abstratos e à correria para pagar as contas para assumir esse papel – se dispõe.

E ele também é bom de conversa: rendeu um ótimo papo com o PAS, uma boa matéria sobre samba com o Werneck e uma boa entrevista feita pela Stefanie, além do perfil feito pela Ana pro Link. Sai clicando e vai lendo – se você não o conhece ainda, está passando da hora.

Speed (1973-2010)

Puta notícia de merda: mataram o Speed em Niterói. Apesar de conhecido por viver com o povo do Planet Hemp, a carreira do rapper carioca era mais paralela à da banda de Marcelo D2 e BNegão do que coadjuvante.

E o Bruno compilou algumas homenagens de amigos e rappers ao compadre recém-falecido:

@deeleve Speed faleceu. Nao tenho mais o q dizer.

@marcelodedois Muito triste e indignado , falei com o Gustavo e não consigo entender… Ele não merecia isso… + uma vida perdida assim… Valeu Speed. Speed foi o Cara que mais me incentivou a cantar… A força de vontade dele e a paixao pela musica sempre me impressionaram…

@zegon Alguem me fala que é mentira,acabo de acordar c/a noticia que o meu irmão Speedfreak foi assassinado,to ainda em choque preciso de 1 tempo. Quando começa a cair a ficha fica ainda mais dificil…

@emicida Descanse em paz speed…

@danielganjaman Estou muito triste! O Brasil perde mais um músico genial por conta da violência urbana. Descanse em paz, Speed. Sua vida foi muito intensa.

@Kamau_ Claudio Marcio aka Speed Freaks. Gênio Incompreendido mas nunca despercebido. Paz pra vc irmão.

@sopedradablog A Casa está de luto! R.I.P. Speed Freaks. http://bit.ly/cnjkTa

@McMaxBO Que maneira de acordar… R.I.P. Speed Freaks!

Speed foi um dos primeiros artistas brasileiros a acreditar no potencial da internet e fez vários discos para serem lançados direto online, sem pensar em gravadora, assessoria de imprensa, prensagem ou distribuição. Foi crucial no surgimento do Quinto Andar, coletivo de onde saíram De Leve, Castro, Marechal e outros nascidos em Niterói e que desequilibraram o hip hop brasileiro criando uma cena no Rio de Janeiro e na internet. A Wikipedia lista a seguinte discografia de Speed:

De Macaco (1996)
Expresso (2001)
Sangue Sob o Sol (2003)
Só o Começo (2006)
Meu Nome é Velocidade (2008)
De Volta No Jogo (2009)
Remixxx-Speedfreaks Featurings Vol. 1 (2009)

Ele deve ter mais discos que isso. Fora faixas soltas, de novo via Wikipedia, nas seguintes coletas:

No Major Babies (1993)
Baião de Vira Mundo (2000)
Hip Hop Rio (2001)
Revista Trip (2000-2003)
Penta Brasil (2003)
Brasil Muito Além (2008)

E deve ter muito mais faixa solta por aí. Alguém anima compilar tudo? Tenho certeza que ele curtiria – e pacas.

São Paulo is Burning

Lançada no aniversário de São Paulo deste ano, a coletânea São Paulo is Burning foi organizada pelo Rodrigo Brandão, do Mamelo Sound System, para o selo francês Tazart e reúne bambas do hip hop da primeira década do século na cidade, como Kamau, Contra Fluxo, Espião, Projeto Manada, Akin, Elo de Corrente, Prof. M.Stereo e o próprio Mamelo. Para baixar a compilação – ou apenas ouvi-la online – clique aqui.

Sete anos sem Sabotage

O blog Rap Nacional lembrou a data, que ocorreu um dia antes do aniversário de São Paulo em 2003.

Os 100 melhores discos dos anos 00: Vanguart / Marcelo D2

79) Vanguart (2007)

80) Marcelo D2 – À Procura da Batida Perfeita (2003)

Os 100 melhores discos dos anos 00: The Good, the Bad and the Queen / BNegão & os Seletores de Freqüência

83) The Good, the Bad and the Queen (2006)

84) BNegão & os Seletores de Freqüência – Enxugando Gelo (2003)

Os 100 melhores discos dos anos 00: Casino / Z’África Brasil

85) Casino – EP (2002)

86) Z’África Brasil – Tem Cor Age (2007)

Os 100 melhores discos dos anos 00: Black Alien / Quinto Andar

87) Black Alien – Babylon by Gus – Volume I (2004)

88) Quinto Andar – Piratão (2005)

E ainda tem o Mos Def no fim de semana…

Pois é, o cara é a atração principal da décima edição do Indie Hip Hop, que começou em 1999 com o nome de Du Loco, edição que trouxe o Bambaataa para chacoalhar o Brasil. De lá para cá, o festival já trouxe nomes como De La Soul, Jurassic 5, Talib Kweli, Lyrics Born, Blackalicious, entre outros medalhões do rap norte-americano atual, além de, claro, servir de palco para toda a geração pós-Racionais do hip hop brasileiro. Aumentando o próprio padrão a cada ano que se passa, o festival idealizado por Rodrigo Brandão (que fala mais sobre a iniciativa nessa entrevista que deu ao site Per Raps, no ano passado) agora chama ninguém menos que Mos Def, um dos maiores nomes do gênero atualmente. Mas diz que tem que correr, porque parece que os ingressos tão acabando – se é que já não acabaram…