Grooveshark (2007–2015)

Grooveshark

Mais um serviço digital que desaparece de nossas rotinas: o Grooveshark foi responsável pela transição entre a era do download e a do streaming, mas sempre arriscou-se ao singrar os mares da pirataria ao mesmo tempo em que expandia seus recursos. No fim do mês passado recebeu a estocada fatal que obrigou a desligar seus servidores definitivamente e, provavelmente diminuir o preço da multa, assumir que erraram em um mea culpa publicado no que restou do serviço: a home do site.

grooveshark-dead

Triste.

Link – 17 de setembro de 2012

iPhone 5: Uma pausa na revoluçãoImpressão digital (Alexandre Matias): Sem Jobs, volta a ser uma empresa como as outras • Homem-objeto (Camilo Rocha): Velozes e tediosos • Tecnologia da desinformaçãoNo arranque (Filipe Serrano): Empresas brasileiras começam a se voltar para o exterior • Reino de engenheiros • O brasileiro que começou o Grooveshark

Impressão digital #0084: Música digital x lei

A coluna no 2 de domingo foi sobre o quanto a lei analógica ainda emperra a música digital.

Ameaças ao futuro
Grooveshark, Spotify e a lei

O anúncio oficial do lançamento do Google Music, serviço de distribuição de música do Google – que vinha sendo prometido há cinco anos, pelo menos –, não causou grande alarido, mas serve de rumo para refletir sobre o que está acontecendo.

Desde os LPs até os tocadores de MP3, a lógica para se ouvir uma música em um aparelho eraa mesma. Se antes carregávamos discos de vinil, fitas cassetes, pilhas de CDs ou CD-Rs queimados, numa versão mais recente, enchemos o iPod ou o celular de MP3. Apesar de isso parecer mais próximo da lógica digital, a prática ainda carrega resquícios do mundo da música analógica.

É preciso plugar o aparelho ao computador e esperar a transferência dos arquivos para o dispositivo. Mesmo que essa transferência aconteça sem cabos, ela segue a lógica de gravar uma fita cassete. Daí a importância do streaming. Você não precisa fazer nenhum download, basta apertar o play e ouvir.

A música está hospedada em algum servidor e é retransmitida para o aparelho em que você quer ouvir – seja portátil, seja um computador ouum aparelho de som de mesa – no instante em que você quiser. Ela não fica na memória do dispositivo e você não precisa deletar arquivos velhos para colocar outros novos. Mas esse sistema ainda não engatou. Seu principal rival é a lei, que funciona nos moldes analógicos.

Na semana passada, o Grooveshark começou a ver seu futuro sumir.O serviço online permite ouvir qualquer música de qualquer lugar do mundo, mas a gravadora Universal – uma das quatro que dominam o mercado fonográfico – resolveu engrossar. Entrou na justiça norte-americana contra o serviço, acusando-o de uso indevido de mais de 100 mil canções. E o site, que já foi expulso tanto da App Store da Apple quanto do Android Market do Google por infração de direitos autorais, pode estar com dias contados.

O Spotify, serviço semelhante e igualmente popular, sofreu, também na semana passada, uma baixa considerável, embora não através da justiça. O grupo STHoldings, que gere mais de 200 gravadoras independentes no Reino Unido, ameaçou tirar todo seu elenco do serviço, pois percebeu que o formato reduz o repasse de verbas para os artistas em outros tipos de comércio de música digital.

Dentro da porcentagem de músicas oferecidas via Spotify (que tem acordo com as quatro maiores gravadoras do mundo), a quantidade que a STHoldings representa é bem pequena. Mas a questão levantada pela notícia não diz respeito a infração de direitos autorais – e sim, à outra metade da equação: o repasse de valores aos artistas.

As questões em jogo envolvem muita gente: gravadoras, artistas, editoras de direitos autorais, empresários, rádios, novos serviços de distribuição e a legislação atual. Esta última, especificamente, pode definir os novos rumos para o futuro.

Depois eu falo um pouco mais sobre o Stop Online Piracy Act, um projeto de lei que está tramitando nos Estados Unidos e que pode determinar o futuro de quem escuta música (e assiste a filmes ou baixa aplicativos): ou o futuro digital realmente funcionará de forma livre e desimpedida (como nos mundos imaginados pelos rivais Facebook e Google) ou entramos num estado digital de vigilância constante em que a maioria dos ouvintes está fora da lei.

Impressão digital #0040: Música – de produto a serviço

E a minha última coluna do ano do Caderno 2 fala sobre como a cultura está deixando de ser produto para virar serviço – ao menos no que diz respeito ao mercado.

O digital inevitável
Cultura enquanto serviço

Você lembra como fazia, há dez anos, para ouvir um determinado artista que alguém tinha comentado? Era preciso esperar que o disco fosse lançado por alguma gravadora e, caso o artista fosse estrangeiro, torcer para que o álbum saísse no Brasil. Se a obra em questão fosse audiovisual – filme ou programa de TV – o processo era mais complexo, pois os lançamentos eram ainda mais escassos.

Dez anos dentro do século 21 e como é que um cidadão online descobre sobre determinado artista ou filme? O método mais simples e popular é o YouTube. O site de vídeos do Google tornou-se um imenso repositório de cultura que abriga trechos de shows, programas de TV, trailers de filmes, vídeos de gente filmando discos raros em vinil sendo tocados, artistas que se lançam primeiro em clipes e músicas que outros usuários sobem no site sem autorização dos autores.

Desde que o Google comprou o YouTube há a promessa de limpar o site de conteúdo autoral indevido. Filtros foram criados para detectar vídeos colocados à revelia de seus donos, parcerias foram feitas com estúdios de Hollywood e gravadoras multinacionais, mas o YouTube ainda segue uma imensa terra-sem-lei no que diz respeito a direitos autorais.

(A culpa dessa rixa entre a internet e os velhos produtores de conteúdo pode ser posta nas gravadoras majors que decidiram “resolver” o “problema” da música digital processando quem baixava MP3 sem autorização. Caso fizessem uma associação com o Napster, o primeiro software que permitiu o download digital em escala massiva, talvez hoje estivéssemos felizes por pagar por MP3 legais e de excelente qualidade musical. Mas divago.)

Além do YouTube, no entanto, há outras formas de se consumir conteúdo digital sem que isso necessariamente esteja associado a downloads ilegais. Mesmo porque boa parte dessas alternativas, como o YouTube, nem cogita a possibilidade de download. São serviços pagos por assinatura em que é possível se ouvir qualquer tipo de música, em qualquer computador, a qualquer hora.

São nomes estabelecidos na última década (como as redes da Apple, Sony, Microsoft e Nintendo) e novatos que já fazem muito barulho (como a locadora online Netflix ou os serviços de assinatura musical como Spotify e Grooveshark). Nenhum deles está disponível no Brasil, mas já são uma tendência sem volta: o conteúdo cultural em vez de ser estocado em lojas e prateleiras agora é reunido em HDs e servidores. Cultura, aos poucos, deixa de ser um produto para se tornar um serviço. E se isso já começou a mudar a forma esse consumo, vamos começar a ver como isso afeta a produção cultural. O digital inevitável irá, necessariamente, mudar conceitos como “disco”, “livro” e “filme” – novos artistas já estão fazendo isso. Os anos 10 estão só começando. Feliz 2011!